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A respeito do dano moral decorrente do acidente do trabalho há uma grande discussão na doutrina acerca de qual seria o prazo prescricional a ser adotado.

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BRASIL. Emenda Constitucional n. 45, de 08 de dezembro de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/ Emc/emc45.htm>. Acesso em: 20 abr. 2009, grifo nosso.

150 PÍTSICA. Dano moral trabalhista. Florianópolis: OAB/SC, 2007, p. 70. 151

LEITE, Carlos Henrique Bezzera. Curso de direito processual do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 186.

152 MARTINS, Pinto, Sérgio. Dano moral decorrente do contrato de trabalho. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008, p. 125.

O professor Raimundo Simão Melo153 assevera:

Há pelo menos quatro correntes sobre o prazo prescricional para as pretensões reparatórias acidentárias em face do empregador.

A primeira corrente sustenta a imprescritibilidade de tais pretensões, uma vez que decorrem as mesmas de danos aos direitos da personalidade, que são caracteristicamente imprescritíveis.

Para a segunda corrente, os prazos são de cinco e de dois anos, previstos no inciso XXIX do art. 7º, da Constituição Federal, para os créditos trabalhistas.

Para a terceira corrente, aplica-se o prazo prescricional de três anos, do art. 206, parágrafo 3º, inciso V do Código Civil, para a pretensão de reparação civil.

Finalmente, a quarta corrente sustenta ser aplicável o prazo genérico de dez anos, previsto do art. 205 do Código Civil, para as pretensões sem prazo específico fixado na lei.

Portanto para melhor compreensão acerca do posicionamento de cada uma destas doutrinas imprescindível uma breve apreciação dos argumentos defendidos por cada uma dessas correntes.

A primeira corrente sustenta que ação de dano moral decorrente de acidente do trabalho é imprescritível alegando que tais pretensões decorrem de danos ao direito de personalidade, assim são irrenunciáveis e não sujeitos á prescrição, tendo como fundamento o art. 11 do Código Civil de 2002 que diz: com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.

Filiado a esta corrente deparamos com os ensinamentos de Jorge Luiz Souto Maior:

Se não há previsão da prescrição da ação para efeitos de acidente do trabalho em nenhuma norma do ordenamento jurídico, há que se entender ser ela imprescritível, até porque os danos á personalidade humana, no contexto da dinâmica das relações hierarquizadas do modelo de produção capitalista, no qual o ser humano é transformado em força de trabalho, não devem mesmo prescrever.154

Em sentido contrário Raimundo Simão Melo155:

Não obstante sustente a primeira corrente entendimento mais favorável à proteção do direito fundamental à integridade física/psíquica, ainda não consegui me convencer do seu acerto, porque a imprescritibilidade dos direitos da personalidade diz respeito, como me parece, ao exercício desses direitos, que jamais prescrevem. O que prescreve é a pretensão à

153 MELO, Raimundo Simão de. Prescrição nas ações acidentárias. Anamatra. Disponível em: <http://www1.anamatra.org.br/>. Acesso em: 10 jun. 2009.

154

MAIOR, Jorge Luiz Souto. A Prescrição do direito de ação para pleitear indenização por dano moral e material decorrente de acidente do trabalho. Anamatra. Disponível em: <http://ww1.anamatra.org.br>. Acesso em: 20 maio 2009.

155 MELO, Raimundo Simão de. Prescrição nas ações acidentárias. Anamatra. Disponível em: <http://www1.anamatra.org.br/>. Acesso em: 10 jun. 2009, grifo do autor.

reparação individual dos danos causados às vitimas, como na espécie em comento.

A segunda corrente entende que o prazo prescricional a ser aplicado é o prazo trabalhista previsto no art. 7°, XXIX da Constituição Federal Brasileira. 156

Neste caminho comenta Estevão Mallet 157:

[...] Se a pretensão é trabalhista, se a controvérsia envolve empregado e empregador, se a competência para julgamento da causa é da Justiça do Trabalho, a prescrição é e só pode ser a trabalhista, do art. 7° do inciso XXIX, da Constituição, e não a prescrição civil, de 20 anos no antigo código, e de 3 anos, no novo.Não importa que a responsabilidade civil seja assunto disciplinado no Código Civil. O que importa é que a pretensão é trabalhista, porque decorre diretamente do contrato de trabalho. Não se pode dizer, de outro lado, que a regra especial de prescrição do Direito Civil prevalece ante a regra do Direito do Trabalho. O art. 7, inciso XXIX, da Constituição disciplinou o prazo prescricional trabalhista, sem estabelecer exceções. Ademais, norma geral constitucional não tem sua aplicabilidade comprometida por norma geral especial de legislação ordinária.

Na mesma linha comenta Alexandre Belmonte158:

O dano moral é de natureza civil quando não decorre da relação de emprego. É de cunho trabalhista quando o sofrimento intimo é causado a uma das partes do contrato de emprego pela outra, como decorrência do vínculo empregatício. Realmente, o Direito do Trabalho tem por fim tutelar o relacionamento existente ou ocorrido entre empregado e empregador, especialmente quanto ás questões ínsitas ou decorrentes da relação de emprego.

Perante os argumentos apresentados por esta corrente entende-se que o prazo prescricional nas ações trabalhistas é o previsto no art. 7°, XXIX, da Constituição Federal, pois se trata de crédito decorrente da relação de trabalho. 159

Já terceira corrente sustenta que o prazo prescricional a ser aplicado nas ações acidentárias deve ser o art. 206, § 3°, V, do Código Civil, mesmo que a competência para o julgamento seja da Justiça do trabalho. 160

Segundo Sebastião Geraldo de Oliveira:

Argumentam os defensores dessa corrente que o acidente do trabalho representa uma ocorrência extraordinária, alheia á expectativa normal do empregado e á execução regular do contrato de trabalho. Assim, a vítima

156

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 10 fev. 2009.

157

MALLET, Estevão. O Novo código civil e o direito do trabalho. In: DALLEGRAVE NETO, José Affonso; GUNTHIER, Luiz Eduardo (Coord.). O Impacto do novo código civil no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2003, p. 62.

158 BELMONTE, Alexandre Agra. Instituições civis no direito do trabalho. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 491.

159

SILVA, Homero Batista Mateus da. Estudo crítico da prescrição trabalhista. São Paulo: LTr, 1999, p. 41.

160 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

está postulando a reparação dos danos pessoais sofridos e não dos créditos trabalhistas propriamente ditos.161

Nesse sentido Martinez Dal Col, os prazos a serem adotados devem ser os do Código Civil, visto que:

Os danos oriundos do acidente do trabalho não se inserem no conceito de créditos resultantes das relações de trabalho. Pelo contrário.Trata-se de gravames pessoais sofridos em decorrência de fatores que desequilibram o desempenho normal do trabalho e constituem anomalia em face das relações de trabalho.162

Pelo exposto o que se conclui que embora o fato tenha acontecido no seio de uma relação de trabalho ou emprego, o prazo a ser aplicado é de três anos previsto no inciso V do art. 206 do Código Civil de 2002.163

Finalmente deparamos com a quarta corrente que entende a reparação por dano moral decorrente de acidente do trabalho não é um crédito trabalhista e tampouco crédito de reparação civil stricto sensu, envolvendo dano patrimonial material. 164

Ainda complementa Raimundo Simão de Melo165 filiado a esta doutrina que:

No caso dos acidentes do trabalho, os danos causados são pessoais, com prejuízo á vida, á saúde física e/ou psíquica, á imagem, á intimidade etc. do cidadão trabalhador, porquanto assegura a Constituição Federal, como fundamentos da República do Brasil e da livre iniciativa, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho, o trabalho com qualidade e o respeito ao meio ambiente (art. 1° e 170), além de assegurar a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.

Portanto, se não se trata de natureza trabalhista e nem civil e, como não existe qualquer dispositivo legal regulando de outra forma o prazo de prescrição para as pretensões decorrentes, por exclusão aplica-se o prazo geral de 10 anos, como previsto no art. 205 do Código Civil. O Código Civil está sendo aplicado, repita-se, não porque se trata de uma pretensão de reparação civil no sentido estrito, mas porque é a lei civil que socorre nos casos de omissão regulatória sobre a prescrição do Direito Brasileiro.

161

OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

ocupacional. 4. ed. rev, e ampl. São Paulo: LTr, 2008, p. 341-342.

162

DAL COL, Helder Martinez. A Prescrição nas ações indenizatórias por acidente do trabalho no Código Civil de 2002. Revista RT, V. 93, n. 821, mar. 2004, p. 13.

163 LIMA FILHO, Francisco das C. Dignidade humana: prescrição da ação de danos morais em acidente do trabalho. Consultor Jurídico. Disponível em: <http://www.conjur.estadao.com.br/static/text/40506, 1>. Acesso em: 20 maio 2009.

164

MELO, Nehemias Domingos de. Dano moral: problemática do cabimento à fixação do Quantum. São Paulo: Juares de Oliveira, 2004, p. 462.

165 MELO, Nehemias Domingos de. Dano moral: problemática do cabimento à fixação do Quantum. São Paulo: Juares de Oliveira, 2004, p. 462, grifo nosso.

Sobre á aplicação do prazo previsto no art. 205 do Código Civil assevera Sebastião Geraldo de Oliveira que:

Corroborando o entendimento com dessa corrente, por ocasião da 1° Jornada de Direito Material e Processual do Trabalho, realizada em Brasília, em dezembro de 2007, foi aprovado o Enunciado n° 45, com o seguinte teor: ’Responsabilidade civil. Acidente do trabalho. Prescrição. A prescrição da indenização por danos materiais ou morais resultantes do acidente do trabalho é de 10 anos, nos termos do art. 205, ou de 20 anos observados o art. 2.028 do Código Civil de 2002.166

Por fim, preconiza esta corrente doutrinária que o prazo prescricional aplicável é do art. 205 do Código Civil de 2002.