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4.7 RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR DECORRENTE DE

4.7.3 Responsabilidade Civil Objetiva do Empregador

O acidente do trabalho é o evento danoso que resulta no exercício do trabalho, provocando no empregado, direta ou indiretamente, lesão corporal, pertubação funcional ou doença que determine morte, perda total ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. 296

Uma parcela da doutrina no tocante a responsabilidade objetiva ou teoria do risco defende a inteira aplicação em acidente do trabalho da disposição contida no art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal, em consonância com o art. 927, parágrafo único atribuindo ao empregador o dever de indenizar o dano decorrente de acidente de trabalho. 297

O art. 927 parágrafo único preconiza: Art. 927.

Parágrafo único: Haverá obrigação de reparar dano, independentemente de culpa, nos casos específicos em lei, ou quando a atividade normalmente

293

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 461. 294

ROSSAGNESI, Reinaldo César; PONTE, Antonio Carlos da. Meio ambiente de trabalho e a

garantia constitucional da redução dos riscos de acidentes. São Paulo: LTR, 2004, p. 88.

295 ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Responsabilidade civil do empregador e acidente de trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 39.

296

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 17. ed. aum. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 433.

297 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para os direitos de outrem. 298

Assim Mauro César de Souza entende: O novo Código civil de 2002 normatiza a responsabilidade civil decorrente do acidente do trabalho, de subjetiva para objetiva, adotando a teoria do risco do trabalho.299

Logo, o parágrafo único do art. 927 do Código Civil afasta a regra geral do inciso XXVIII do art. 7° da Constituição Federal que consagra a responsabilidade subjetiva, mas apenas traz situação especial de responsabilidade objetiva, perfeitamente justificável a exemplo de outras leis esparsas. 300

Sebastião Geraldo afirma que o preceito consagrado no inciso XXVIII do art. 7° é que cabe a indenização por reparação civil independente dos direitos acidentários. 301

Reforçando este entendimento o art. 121 da Lei n. 8.213/91 somente estabeleceu a responsabilidade genérica em caso de acidente do trabalho ao postular o pagamento pela previdência social, das prestações por acidente do trabalho não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de outrem. 302

Portanto a norma em vigor leva a concluir que todas as espécies de responsabilidade, inclusive a responsabilidade objetiva, pode ser aplicadas na ocorrência de acidente do trabalho. 303

Respaldo na tese do conflito entre uma norma geral superior (art. 7°, XXVIII, da CF) e uma norma inferior (art. 927, parágrafo único), uma parcela da doutrina entende que num primeiro momento a responsabilidade do empregador é subjetiva, ora é objetiva a responsabilidade do empregador. 304

298 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 10 fev. 2009.

299

SOUZA, Mauro César Martins de. Responsabilidade civil decorrente de acidente do trabalho: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Agá Júris, 2000, p. 200.

300 DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Responsabilidade civil no direito do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 253.

301

OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

ocupacional. 4. ed. rev, e ampl. São Paulo: LTr, 2008, p. 102.

302 ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Responsabilidade civil do empregador e acidente de trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 43.

303

OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença

ocupacional. 4. ed. rev, e ampl. São Paulo: LTr, 2008, p. 103.

304 MELO, Nehemias Domingos de. Dano moral: problemática do cabimento à fixação do Quantum. São Paulo: Juares de Oliveira, 2004, p. 266.

Ainda podemos considerar que o juiz poderá entender pela responsabilidade objetiva se aplicar o princípio geral de interpretação mais favorável ao empregado, um dos ditames do Direito do Trabalho. 305

Portanto, havendo pluralidade de normas, com vigência simultânea, aplicáveis à mesma situação jurídica, deve-se optar pela mais favorável ao trabalhador.306

Assim, podemos considerar que o juiz poderá entender pela responsabilidade objetiva se aplicar o princípio geral de interpretação mais favorável ao empregado, um dos ditames do Direito do Trabalho. 307

Respalda-se no princípio da proteção o fundamento para possibilidade de aplicação da regra contida no parágrafo único do art. 927 do Código Civil ao empregador que cause dano ao empregado vítima de acidente do trabalho. 308

Com a entrada em vigor da Constituição de 1988 um grande avanço no que se refere se refere á responsabilidade civil do empregador instalou-se no mundo jurídico, e correntes favoráveis a aplicação da responsabilidade objetiva passam a ganhar cada vez mais espaço no cenário brasileiro. 309

Dentre os doutrinadores favoráveis a teoria da responsabilidade objetiva em acidente do trabalho ressalta-se os ensinamentos de Cléber Lúcio de Almeida

Somando-se o que estabelece o artigo 225, parágrafo 3°, com o disposto nos artigos 7°, XXII e XXVIII, 21, XXII, c, da carta magna, o que se conclui é que, o empregador responde pela reparação dos danos sofridos pelo trabalhador pelo só fato de sua atividade, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho e equipamentos cujo uso exige, colocar em risco sua segurança, vida, saúde e integridade física e moral. 310

Partindo da premissa preconizada podemos afirmar que muito embora o texto constitucional seja expresso no art. 7°, XXVIII, quanto ao dever de indenizar do empregador, quando incorrer em dolo ou culpa é necessário que a referida norma

305

TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Método, 2008, p. 459.

306

PLÁ RODRIGUES, Américo. Princípios de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1978, p. 268-277. 307

TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das obrigações e responsabilidade civil. 3. ed. São Paulo: Método, 2008, p. 267.

308 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do trabalho e responsabilidade civil do empregador. São Paulo: LTr, 2006, p. 65-66.

309

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 9. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 267.

310 ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Responsabilidade civil do empregador e acidente de trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 66.

seja interpretada de maneira mais abrangente com o objetivo de preservar a saúde do trabalho, bem como a redução da incidência de acidentes do trabalho.311

Nas palavras de José Antunes Varela a responsabilidade objetiva avança na doutrina por se reconhecer que:

[...] constituirá [...] um estímulo eficaz ao aperfeiçoamento da empresa, tendente a diminuir o número e a gravidade dos riscos na prestação do trabalho, bem como a segurar os empregados contra os acidentes do trabalho a que comumente se encontram expostos. 312

Carlos Roberto Gonçalves313 assevera que os novos rumos da responsabilidade civil caminham no sentido de considerar objetiva a responsabilidade das empresas pelos danos causados aos empregados, cabendo somente a prova do dano e do nexo causal.

Compartilhando mesmo entendimento Anderson Schereiber:

As dificuldades de demonstração da culpa, tomada em sentido moral e psicológico, exacerbaram-se com o desenvolvimento industrial e tecnológico, ensejador de danos anônimos cuja culposa imputação ao empreendedor exigia das vítimas uma verdadeira probatio diabólica. O resultado disso é que a imensa maioria dos danos permanecia irresarcida, fato que gerou a reação dos tribunais e da doutrina, que passaram a buscar na linguagem dos códigos, ou mesmo à revelia deles, presunções de culpa.Tais presunções, inicialmente relativas, foram se convertendo em presunções absolutas, irreversíveis, que acabaram por manter certos setores da atividade privada apenas nominalmente sob o manto da responsabilidade subjetiva. Paralelamente, desenvolveu-se a teoria do risco com novo fundamento da responsabilidade civil, dando ensejo à responsabilidade objetiva, adotada pelo legislador em hipótes particulares. Foi somente em um momento posterior que a responsabilidade objetiva veio a ser incorporada como cláusula geral aplicável às atividades de risco, a exemplo do que se vê do art. 927, parágrafo único, do Código Civil brasileiro. Com isto, a responsabilidade objetiva perdeu, a um só tempo, a conotação excepcional e o caráter ex lege que lhe vinham tradicionalmente atribuídos. Atualmente, um exame abrangente das diversas hipóteses de responsabilidade objetivas existentes em cada ordenamento jurídico revela, em muitos deles, o seu destacamento da própria noção de risco e a sua afirmação como simples responsabilidade independente de culpa. 314

As hipóteses de aplicação acerca do tema de responsabilidade civil objetiva em acidente do trabalho ainda não possuem um posicionamento firmado

311

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 9. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 267.

312 VARELA, João Matos de. Das obrigações em geral. 10. ed. Coimbra: Almedina, 2000, p. 633- 634.

313

GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 509-510.

314 SCHREIBER, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil: da erosão dos filtros da reparação à diluição dos danos. São Paulo: Atlas, 2007, p. 237-238.

dos Tribunais do Trabalho, contudo somente tempo e com a força criativa da doutrina poderão apontar qual o entendimento que deverá prevalecer. 315

Por fim temos que o entendimento de responsabilidade objetiva à relação do trabalho é crescente na doutrina e na jurisprudência. 316

4.8 POSICIONAMENTO DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO E DO