• Nenhum resultado encontrado

3 ABORDAGENS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Pressupostos teóricos e abordagem metodológica

A realização da pesquisa social deve ter pressupostos quanto à natureza do mundo social e da forma como este será investigado. Ao pesquisador cabe indicar seus pressupostos sobre os aspectos ontológicos do fenômeno estudado, a natureza epistemológica do fenômeno, a natureza humana, a sua relação com o ambiente e, por fim, a natureza metodológica com a qual o fenômeno é investigado (Burrel & Morgan, 1982).

A pesquisa realizada teve como escopo geral responder uma questão central: as Relações

de Trabalho em sua dimensão coletiva fazem parte das preocupações da Gestão de Recursos Humanos no que refere à sua governança em organizações privadas no Brasil? Para tanto, foram buscados elementos na Teoria Econômica Neoinstitucional —

de forma específica —, na Teoria de Custos de Transação, bem como nas abordagens que tratam da Gestão de Recursos Humanos e das Relações de Trabalho.

Do ponto de vista ontológico, este estudo trata das organizações privadas e com fins lucrativos no Brasil. Estas organizações fazem parte do sistema brasileiro de relações do trabalho e, por meio de suas políticas e práticas de sua GRH, contratam seus funcionários no âmbito individual e coletivo sob as condicionantes institucionais propostas aqui a partir do mercado de trabalho e também de um ator específico, os sindicatos. Um grupo de gestores dessas organizações também foi alcançado pela pesquisa.

O pressuposto é que a dimensão institucional desse ambiente externo deveria afetar a GRH das organizações. Da interação entre GRH e suas condicionantes externas, supõem-se ainda a existência de vínculos importantes sobre as relações de trabalho tanto no âmbito individual quanto no coletivo da contratação dos trabalhadores. Do lado de dentro das organizações, estão os recursos disponíveis e o retorno desejado pelos gestores e, a partir daí, a governança criada para tratar dos recursos humanos, considerando individualmente os trabalhadores ou coletivamente conforme a ação articulada pelos sindicatos.

Um resultado esperado com o estudo é um conhecimento maior a respeito da gestão dessas organizações. De modo mais específico, é verificada a forma como as relações de emprego são tratadas pela GRH das organizações em termos de sua governança. Conforme a abordagem teórica definida para a pesquisa, as relações de trabalho e a GRH integram-se em um sistema dentro do qual as organizações constituem estruturas de governança orientadas por custos de transação, focadas na contratação de seus funcionários. Nesta abordagem, a governança responde a fatores institucionais, como a legislação trabalhista, a cultura de negócios do país e ao próprio mercado de trabalho (Marsden, 2004).

Do ponto de vista epistemológico, Buchanan e Bryman (2009) identificam que, no campo da pesquisa organizacional, há três tendências importantes: seu alargamento temático, o perfil multiparadigmático e a inventividade metodológica. Para os autores, as escolhas metodológicas vêm sendo crescentemente pautadas por condições contextuais das próprias pesquisa. Tal situação recomenda a adoção de padrões mais flexíveis e pragmáticos nas escolhas metodológicas, assinalando sua crescente aceitação acadêmica (D. A. Buchanan & Bryman, 2009).

Em termos epistemológicos, a abordagem aplicada deve abrir espaço para a verificação de conhecimentos mais relacionados às políticas e práticas das organizações registradas de modo objetivo. Neste sentido, em parte deste trabalho, oriundo da abordagem econômica anteriormente compilada, prevalece o paradigma funcionalista, dado que o pressuposto é de que o comportamento humano é delimitado contextualmente pelo mundo real em relações sociais verificáveis (Morgan, 2005). Nesta parte do trabalho, foi realizada uma pesquisa quantitativa.

Porém, em outra parte, também se registra, de modo complementar, o recurso ao paradigma interpretativo. Neste marco epistemológico, a realidade é tomada como socialmente construída, e não como ocultadora de regras a serem descobertas. Conforme Morgan, o “... paradigma interpretativista é baseado na visão de que o mundo [...] é um produto da experiência subjetiva e intersubjetiva dos indivíduos [...]” O teórico social tenta entender como as múltiplas realidades compartilhadas surgem, se

sustentam e se modificam” (Morgan, 2005). Nesta outra parte do trabalho, foi feita uma pesquisa qualitativa.

A utilização mista e combinada de pesquisas quantitativas e quantitativas em um mesmo estudo traz potencialmente oportunidades para levantamentos mais ricos e mais achados do que o uso de apenas uma delas (D. A. Buchanan & Bryman, 2009) (Easterby-Smith, Mark Thorpe & Lowe, 1999). Neste aspecto, enquanto na pesquisa qualitativa, há maior preocupação com relação às perguntas “como” e “por que”, a pesquisa quantitativa busca saber “com que frequência” e “quantos”. Desta forma, se, dentro das pesquisas quantitativas, é necessária uma fundamentação conceitual válida, e se nas qualitativas, quase sempre há necessidade de se compreenderem fenômenos sociais, é provável que o uso combinado de ambas seja frutífero para novos achados (Malina, Norreklit, & Selto, 2011).

Na Administração — um dos campos das Ciências Sociais Aplicadas —, dependendo das propriedades do objeto a ser estudado, é possível buscar apoio em técnicas quantitativas (D. A. Buchanan & Bryman, 2009). Neste estudo, a disponibilidade de dados quantitativos a respeito de políticas e práticas e GRH em grupo expressivo de organizações que atuam no Brasil foi fundamental para a inclusão da pesquisa quantitativa no estudo. Conforme Malhotra (2012), na sua concepção, esse tipo de pesquisa tem como objetivo “quantificar os dados e generalizar os resultados da amostra para a população de interesse”. Ela procura trabalhar com um volume representativo de casos, por meio de uma coleta estrutura de dados e análise estatística (Malhotra, 2012). A pesquisa quantitativa dá importância à precisão das informações utilizadas para a análise. Como um de seus pontos positivos, as pesquisas quantitativas podem promover uma cobertura abrangente de situações, de modo a poupar tempo e outros recursos vis-

a-vis o montante de informações levantadas. Uma desvantagem da pesquisa quantitativa

está na sua menor contribuição para a compreensão de processos ou sobre a importância que as pessoas atribuem às ações (Easterby-Smith, Mark Thorpe & Lowe, 1999).

Na parte qualitativa do estudo, também há interesse em obter informações sobre as políticas e práticas das organizações, filtradas pela opinião de seus gestores, por meio de

levantamento qualitativo. Aqui a intenção é aprofundar o conhecimento sobre as organizações pesquisadas a partir da experiência de indivíduos envolvidos em sua gestão.

As pesquisas qualitativas cabem na linha interpretativa, pois se envolvem com as crenças, percepções, sentimentos e valores dos indivíduos. O comportamento desses indivíduos tem sempre um sentido, um significado que não se dá a conhecer de modo imediato, precisando ser desvelado (Alves-Mazzotti, 1999).

A pesquisa qualitativa tem como pontos positivos o seu vínculo com a base local dos fatos, a riqueza de informação e o caráter holístico desta. Normalmente, ela é indicada para descobrir e explorar novas áreas. Especialmente no interesse deste trabalho, a pesquisa qualitativa é bastante útil para complementar, explicar, iluminar ou reinterpretar dados quantitativos (Miles & Huberman, 1994). Uma desvantagem da pesquisa qualitativa é que sua coleta de dados pode levar muito tempo e a análise pode ser muito difícil pela quantidade de aspectos factuais envolvidos (Easterby-Smith, Mark Thorpe & Lowe, 1999).

Para Godoy, constam ainda como características importantes da pesquisa qualitativa o seu caráter descritivo, e o papel do pesquisador como instrumento na busca do significado que as pessoas dão às coisas (Godoy, 1995). Deste modo, ela é útil neste trabalho para a compreensão da relação entre a GRH, o mercado de trabalho e as relações de trabalho. Em meio a esses conceitos coexistem diversas variáveis que interagem entre si.

A pesquisa realizada teve finalidade descritiva. Conforme Selltiz et al. (1975), as pesquisas descritivas objetivam:

“... apresentar precisamente as características de uma situação ou grupo, ou indivíduo específico (com ou sem hipóteses específicas a respeito da natureza de tais características); verificar a frequência com que algo ocorre ou que está ligado a alguma outra coisa (geralmente, mas não sempre com uma hipótese inicial específica)” (Selttiz et al., 1975)

Nas pesquisas descritivas, o foco está em conhecer o objeto do estudo (a comunidade, por exemplo), descrevendo com exatidão os fatos e fenômenos de determinada realidade (Triviños, 1987). Por meio de pesquisas descritivas, pode-se buscar a existência de associações entre as variáveis pesquisadas (Gil, 2011). Em seu aspecto quantitativo, a pesquisa realizada neste estudo foi de desenho transversal único, ou seja, houve uma “coleta de informações de uma dada amostra de elementos de uma população somente uma vez” (Malhotra, 2012).

Fiel ao seu caráter “multimétodo”, a pesquisa também se qualifica como exploratória. Conforme Malhotra (2012), o objetivo de uma pesquisa exploratória é “oferecer discernimento e compreensão” sobre um fenômeno. Ela normalmente é flexível e não estruturada em seu processo e trabalha com amostras pequenas e não representativas (Malhotra, 2012). A pesquisa exploratória “proporciona uma visão geral, de tipo aproximativo” e é realizada quando “o tema escolhido é pouco explorado, sendo difícil a formulação de hipóteses precisas e operacionalizáveis” (Gil, 2011). Para Selltiz, na pesquisa exploratória, a “... principal acentuação refere-se à descoberta de ideias e intuições” o que a liga a novas possibilidades de pesquisa (Selttiz et al., 1975). Em seu âmbito exploratório, a estudo realizado recorreu a grupos de foco da forma mais adiante explanada.

A realidade da GRH em organizações, unidade de análise deste trabalho, já é pesquisada há algum tempo no Brasil. Porém, no conjunto de estudos existentes, são bem poucos os que tratam as Relações de Trabalho. Adicionalmente, na pesquisa existente, se reconhece a demanda por novas abordagens teóricas e metodológicas para seu desenvolvimento. Por esses motivos, a pesquisa realizada desenhou-se como descritiva, mas também exploratória.