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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.2 Teoria Institucional Clássica

No campo da Economia, a Teoria Institucional posicionou-se como alternativa à visão de sociedade dividida por classes da análise marxista e ao enfoque predominantemente individualista da Teoria Neoclássica (Ramos, 2012). Por meio da contextualização histórica, a Teoria Institucional se propunha a aprofundar suas análises a respeito dos fenômenos estudados em vez de tentar estabelecer leis econômicas gerais, com poder explicativo amplo em termos de tempo e lugar. Neste sentido, passam a ser importantes aspectos específicos de cada sociedade, que, oriundos de seus respectivos desenvolvimentos históricos, sociais e econômicos, poderiam ser identificados como suas instituições na forma de suas leis, costumes e organismos.

Quanto ao seu próprio contexto de surgimento, a Teoria Institucional surgiu na Alemanha nas últimas décadas do século XIX entre economistas descontentes com o desenvolvimento teórico neoclássico mais ortodoxo observado na Inglaterra. Nesse período, economistas alemães institucionalistas deram suporte a políticas públicas pioneiras, como seguro contra acidentes de trabalho, seguro desemprego e proteção do Estado para pessoas mais velhas (B. E. Kaufman, 2010a). Kaufman reporta que, a partir de 1880, vinda primeiramente da Alemanha e posteriormente da Inglaterra, a Teoria Econômica Institucional alcançou os Estados Unidos, tendo a Universidade de Wisconsin como seu principal ponto de chegada.

Entre as principais propostas teóricas da Teoria Institucional, encontram-se a sua perspectiva holística (ou seja, mais abrangente em seu escopo de análise que a Teoria Neoclássica tradicional), a abordagem evolutiva (ou seja, preocupada com a transformação da economia e sociedade), a rejeição da ideia de equilíbrio normal, — possibilidade de que exista cooperação e formação de grupos mas também ocorra choque de interesses entre grupos na sociedade e na economia — e, por fim, uma concepção de que a dimensão psicológica do ser humano contém maior complexidade que a visão simplista de prazer-reforço típica Teoria Neoclássica. Entre os institucionalistas, a ênfase de sua análise recai sobre as instituições. Para eles, o Estado

— uma dessas instituições — tem um papel a cumprir, inclusive com possibilidades de realizar reformas econômicas e sociais (Brue, 2005).

Um de seus autores foi Karl Polanyi (1886-1964), filósofo e economista húngaro que atuou academicamente na Inglaterra, Canadá e Estados Unidos e focou seus estudos nas diferenças de interesses entre os grupos sociais. Polanyi se inclui na perspectiva crítica institucional à Economia Neoclássica e ao seu corolário político, o liberalismo. Para ele, dentro de uma perspectiva histórica, as sociedades se defendem dos rigores impostos ou exigidos pelas mudanças reclamadas pelo funcionamento dos mercados por meio da criação ou sustentação de instituições (Polanyi, 2012). O autor estuda o Reino Unido e outros países europeus ao longo do século XIX e aponta que a legislação trabalhista ou de cunho social, as restrições ao comércio internacional e a criação de Bancos Centrais nos diversos países são exemplos de desenvolvimento institucional para defesa de partes mais fracas da sociedade ou do próprio mercado. Nesses casos, os atores sociais levantaram linhas de defesa para proteger, respectivamente, o homem como força de trabalho, o setor agrícola como setor fragilizado no comércio internacional e o próprio sistema produtivo, como vítima potencial do mau funcionamento do sistema bancário. Polanyi diz que não pretende realizar um trabalho histórico em busca de “... uma sequência convincente de acontecimentos importantes, mas uma explicação da sua orientação em termos de instituições humanas” (Polanyi, 2012). Esta explicação, ao dar atenção às especificidades institucionais de cada país, abriu caminho para a realização de estudos comparativos internacionais, como aqueles encontrados no campo de estudo das Variedades de Capitalismo, cujos autores também agregaram contribuições do marxismo e do estruturalismo francês (Wood, Psychogios, Szamosi, & Collings, 2012) (Souza, 2014).

Nos Estados Unidos, dois dos primeiros e principais autores da chamada Economia Institucional Clássica foram Thorstein Veblen (1880-1960) e John Commons (1862- 1945). Veblen, com perfil pessoal contestador, entendia que as estruturas sociais evoluem de modo assemelhado a um processo natural. Nesse processo, as instituições conservadoras do status quo e as instituições mais dinâmicas, engendradas sob influência do avanço tecnológico, conflitam. As primeiras — associadas neste aspecto aos empresários já estabelecidos no mercado —, empenhadas em manter suas fontes de

ganho intactas, e as segundas em busca de mudanças, tanto por razões tecnológicas quanto sociais (Brue, 2005) (Galbraith, 1989). Decorre daí que, mais do que esperar fenômenos se repetirem indefinidamente até o ponto de equilíbrio de mercado, como previsto na abordagem neoclássica, é importante para a análise econômica o estudo das condições institucionais e das forças sociais ara a compreensão de sua dinâmica.

Commons, por sua vez, define a “instituição” como uma “ação coletiva no controle, liberação e expansão da ação individual. A ação coletiva varia de desorganizada aos muitos grupos de interesses organizados, como a família, as empresas, a associação comercial, o sindicato, o banco central e o Estado” (J. R. Commons, 1931). O ponto em comum em todos os exemplos de Commons é que, em maior ou menor proporção, eles controlam, liberam e/ou expandem a ação individual por meio da ação coletiva.

Para Commons, a unidade econômica de investigação é a “transação” sendo que o conflito, a dependência e a ordem são seus três elementos constituintes. O direito de propriedade é um dos fundamentos da Teoria Institucional, posto que, nas transações, ocorre a transferência legal do controle das coisas (J. R. Commons, 1934). Commons dedicou muito de sua produção a um tipo específico de transação, a relação de trabalho e isso é de interesse desta tese.

A linha de questionamento aberta pela Teoria Institucional Clássica desdobrou-se por diversos caminhos teóricos. Em seu ramo mais antigo, encontram-se: a) as Relações Industriais ou o Sistema de Relações Industriais (SRI) e, a partir das Relações de Emprego, o Sistema de Relações de Emprego (SER); b) a Teoria Neoinstitucional e, dentro dela, a Teoria dos Custos de Transação.