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Prestação de cuidados à pessoa idosa e família, nos diferentes contextos

4. IMPLEMENTAÇÃO DAS ATIVIDADES E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1. Desenvolvimento de competências de mestre e especialista em enfermagem

4.1.2. Prestação de cuidados à pessoa idosa e família, nos diferentes contextos

Relativamente à prestação de cuidados procurei no meu agir seguir algumas linhas orientadoras, nomeadamente no que se refere às tomadas de decisões éticas, utilizan- do estratégias de resolução de problemas, desenvolvidas em parceria com a PI e o cuidador. Procurei basear o juízo no conhecimento e na experiência adquirida, nos princípios e valores da PI, e nas normas deontológicas. Assegurei a confidencialidade e a segurança da informação escrita e oral adquirida enquanto profissional e procurei promover o respeito pelo direito da PI à informação. Sendo a tomada de decisão um exercício de autonomia do próprio, foi minha preocupação ao longo do estágio promo- ver esse direito. Como evidenciei no estudo de caso (Apêndice XXIII), a Sra. E pôde escolher o que era melhor para ela, sendo assegurado que o cuidado era mantido, apesar do confronto de diferentes valores. Importa salientar que deontologicamente o enfermeiro encontra-se obrigado ao “dever de cuidado” (Fernandes, 2010, p. 212). Es- te dever opõe-se ao abandono da pessoa, mesmo em condições adversas de presta- ção de cuidados, obrigando o enfermeiro a encontrar sempre um cuidado adaptado à exigência ética do momento (Fernandes, 2010). Outro aspeto importante na minha prá- tica incluiu o cuidado em antecipar as necessidades, prevenindo, identificando e inter- vindo sobre os riscos, capacitando as pessoas para autogerirem alterações previsíveis. Em concreto, na ECCI/ECSCP tive oportunidade de realizar a avaliação multidi- mensional e de prestar cuidados à PI e família em diferentes situações: suspeita de violência; doença terminal; fase do luto; PI diabéticas sem adesão à terapêutica; e PI com síndrome demencial. Participei em conferências familiares2, em reuniões de equipa e em reuniões com diversos elementos da comunidade (representantes da segurança social, diretoras técnicas de IPSS, agentes da Polícia de Segurança Pú- blica, membros da APAV, elementos da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal). As reuniões, realizadas semanalmente, constituíram momentos de avaliação dos cuidados prestados, permitindo em equipa interdisciplinar redefinir as estratégias de intervenção, sobretudo nos casos considerados problemáticos. Possibilitaram ainda

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Conferência familiar é uma forma estruturada de intervenção familiar que permite ao doente e familiares e equipa de saúde, em conjunto, elaborar e hierarquizar problemas, discutir diferentes op- ções de resolução das situações e estabelecer consensos, decisões e planos (Guarda, Galvão & Gonçalves, 2010)

um espaço de partilha de sentimentos e dificuldades, para além de permitirem a passagem de informação pertinente a toda a equipa.

Ao longo deste percurso, fui sendo acompanhada pelos diferentes elementos da equipa, muitos deles peritos em áreas muito específicas (pé diabético, luto e ostomi- as), o que constituiu uma mais-valia. As experiências decorrentes das visitas domici- liárias foram ainda mais enriquecedoras, pelo facto de ter sido possível discutir as situações com os colegas, entre cada visita que realizava. Zabala & Arnau (2010) referem que para que a aprendizagem seja significativa e relevante, é necessário que esse novo conteúdo seja significativo para o aluno e essa condição cumpre-se quando esse conteúdo é apresentado a partir da sua funcionalidade. E isso aconte- ceu numerosas vezes. Por outro lado, esta análise e discussão da nossa interven- ção, próxima do acontecimento, tiveram especial relevância para o meu desenvolvi- mento enquanto pessoa e profissional.

No contexto da SUG, tendo em conta que a PI pode permanecer muitas horas no serviço de urgência, e que essas horas podem ser fatais (Nolan, 2009), o meu papel passou por detetar e prevenir as grandes síndromes geriátricas. O instrumento SPICES (acrónimo de Sleep disorders, Problems with eating or feeding, Incontinen- ce, Confusion, Evidence of falls, Skin breakdown) de Fulmer (2007) orientou-me pa- ra as condições mais comuns na PI hospitalizada, que requerem a intervenção de enfermagem e são elas: perturbações do sono; problemas relacionados com a ali- mentação; incontinência; confusão; quedas; e úlceras de pressão (Fulmer, 2007).

Tomei consciência que a avaliação multidimensional da PI é essencial, porque suporta o plano de cuidados individual e permite programar a alta para o domicílio em segurança (Alonso et al., 2018), reduzindo as readmissões nos serviços de urgência e a institucionalização das PI com alto risco (Graf, Zekry, Giannelli, Michel & Chevallley, 2010). Face à dinâmica de rapidez exigida neste contexto, questionei-me sobre a pos- sibilidade de haver tempo e espaço para se realizar a avaliação multidimensional. O resultado desta reflexão encontra-se no apêndice XXV. Constatei que a avaliação multidimensional, por ser consumidora de tempo, deveria ser antecedida de um ras- treio, aplicando por exemplo o Identification of Seniors At Risk (ISAR), o que permitiria identificar o grupo de PI com maior risco de declínio funcional e de desenvolver outros efeitos adversos em saúde (Samaras et al., 2010). O ISAR é um instrumento breve, de fácil aplicação, validado para a população portuguesa por Tavares, Sá-Couto, Boltz & Capezuti (2017) com a designação de “Identificação da Pessoa Idosa de Risco – IPIR” (Tavares, 2012). Além destes, existem outros instrumentos disponíveis como o

Score Hospitalier d’Evaluation du Risque de Perte d’Autonomie (SHERPA), ou o Run- ciman, Rowland, Triage Risk Stratification Tool (TRST) (Graf et al., 2010).

Na minha intervenção procurei ter um papel relevante na comunicação com as PI e os seus cuidadores, no assegurar um ambiente com menos stressores e mais segu- ro, e na continuidade dos cuidados através da articulação com os CSP. A adoção do Modelo de Parceria (Gomes, 2009, 2013) ajudou-me a operacionalizar o processo de cuidados centrado na PI e na família, através dos atributos inerentes a cada uma das suas fases e dos pressupostos necessários para a construção da relação de parceria.

Decorrente da atividade assistencial, efetuei registos de enfermagem. Conside- rados como um meio privilegiado de comunicação entre os diferentes elementos da equipa multidisciplinar, que demonstram a individualidade dos cuidados e permitem a continuidade dos mesmos, estes registos possuem, simultaneamente, um valor legal e também possibilitam a avaliação da qualidade dos cuidados prestados (Pot- ter & Perry, 2006 citados por Silvestre, 2012; Akhu-Zaheya, Al-Maaitah & Hani, 2017). Procurei que os meus registos fossem reflexo das intervenções e das toma- das de decisão, fundamentadas na autonomia e na responsabilidade profissional, contribuindo para a credibilidade da enfermagem enquanto disciplina científica.

4.2. Desenvolvimento de competências das equipas de enfermagem