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REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE O PERCURSO DE AQUISIÇÃO DE

Com este capítulo pretendo analisar de forma crítica o processo de aquisição de Competências Comuns do Enfermeiro Especialista (Regulamento n.º 122/2011) nos diferentes domínios, bem como as competências de mestre em enfermagem (Decre- to-Lei n.º 74/2006, de 24 de março).

Tendo em conta a análise do processo de desenvolvimento de competências das pessoas nas organizações, proposto por Le Boterf (1995) citado por Fleury & Fleury (2001), à exceção do conhecimento teórico, todos os tipos de conhecimento necessitam da experiência profissional para o seu desenvolvimento. Seguindo a mesma linha de pensamento, também Benner (2001) considera as práticas clínicas um eixo estruturante para a consolidação do saber, salientando a importância do saber adquirido através da experiência. É esta sabedoria que vem da prática, que permite ao enfermeiro perito reconhecer precocemente as alterações fisiológicas subtis, decidir e agir a partir de uma situação global, sem perder tempo, nem preo- cupar-se com considerações inúteis, não dando atenção a pormenores, nem a re- gras formais (Benner, 2001).

Tendo em conta os pressupostos do Modelo Dreyfus, utilizado por Benner (2001), considero ter atingido o nível de proficiente. Julgo ter adquirido competências que me permitem avaliar cada situação de forma global, articulando com experiên- cias anteriores e recorrendo a máximas, tendo evoluído no processo de tomada de decisão. Com o tempo e a vivência de novas experiências pretendo amadurecer os conhecimentos adquiridos e alcançar o nível de perita.

5.1. Competências comuns do enfermeiro especialista

Ancorada nestes pressupostos concretizei as atividades mencionadas no capítu- lo anterior, o que possibilitou o desenvolvimento de Competências Comuns do En- fermeiro Especialista nos seguintes domínios:

Responsabilidade profissional, ética e legal: Neste domínio atingi as com- petências do mesmo, ao desenvolver estratégias de resolução de problemas em parceria com a PI, capacitando as pessoas idosas e seus cuidadores a autogerirem alterações previsíveis. Baseei os processos de tomada de decisão no conhecimento científico disponível e na experiência, promovendo simultaneamente práticas de cui-

dados que respeitassem os direitos humanos e as responsabilidades profissionais. Procurei gerir de forma adequada, em conjunto com a equipa, as situações que, de alguma forma, poderiam comprometer a segurança, a dignidade ou a privacidade da pessoa, adotando nomeadamente uma conduta antecipatória face às necessidades identificadas e preventivas, intervindo sobre os fatores de riscos. Justifiquei perante a equipa e a própria Comissão de Ética para a Saúde da ARSLVT a necessidade de implementar um instrumento de avaliação de risco de violência, tendo demonstrado possuir um corpo de conhecimento no domínio ético-deontológico relativamente às questões colocadas.

Melhoria da qualidade: Neste domínio atingi as competências do mesmo, na medida em que, através do diagnóstico da situação: identifiquei as oportunidades; estabeleci as prioridades; selecionei as estratégias de melhoria que passaram pela implementação dos programas de formação junto da equipa de saúde e das AAD, promovendo a incorporação dos conhecimentos na área da qualidade na prestação de cuidados; e elaborei, em colaboração com a equipa, um guia orientador de boas práticas. Por outro lado, colaborei com o projeto da ECCI/ECSCP – “Formar para Cuidar”, articulando com outras instituições, tendo comunicado as avaliações das atividades realizadas à responsável da UCC.

Gestão de cuidados: Neste domínio atingi as competências do mesmo, atra- vés da prestação de cuidados à PI e família, apoiada nos conhecimentos científicos e nos modelos teóricos de enfermagem, com especial relevância para o Modelo de Sistemas (Neuman & Fawcett, 2011) e o modelo de intervenção à PI – Modelo de Parceria (Gomes, 2009, 2013). Nas reuniões semanais de discussão dos casos co- laborei nas decisões da equipa interdisciplinar, disponibilizei assessoria aos enfer- meiros e à equipa, e comprometi-me em participar na formação organizada pela EPVA sobre as questões da violência.

Aprendizagens profissionais: Neste domínio atingi as competências do mesmo, na medida em que as reflexões, baseadas nas leituras, orientações tutoriais e registos reflexivos, contribuíram para o autoconhecimento e para a identificação das áreas de enfoque, que necessitavam de maior aprofundamento, a fim de funda- mentar a prática clínica com sólidos e válidos padrões de conhecimento. A pesquisa realizada permitiu desenvolver a capacidade de utilizar as tecnologias de informação e aperfeiçoar métodos de pesquisa adequados à investigação. Atuei como facilitado- ra nos processos de aprendizagem, uma vez que intervi de forma oportuna como formadora em contexto de trabalho; realizei o diagnóstico das necessidades formati-

vas através da aplicação dos questionários; concebi e geri um programa de forma- ção, favorecendo a aprendizagem, a destreza nas intervenções e o desenvolvimento de competências, não só dos enfermeiros como dos restantes elementos da equipa, tendo sido realizadas avaliações das formações.

5.2. Competências de mestre em enfermagem

As atividades atrás mencionadas permitiram do mesmo modo desenvolver as competências de mestre, segundo os descritores de Dublin, que passo a citar:

Ser capaz de aplicar os conhecimentos e compreensão e as capacidades

de resolução de problemas em situações novas e não familiares, em contextos mais alargados (ou multidisciplinares) relacionados com a área de enferma- gem. Através do estudo de caso procurei demonstrar a capacidade de mobilizar os

conhecimentos específicos de um modelo de intervenção na PI, para um cuidado que se quer centrado na pessoa. Por outro lado, tendo a preocupação em mobilizar os profissionais da equipa interdisciplinar para a procura de soluções criativas (ca- pacidade de liderança), contribui para potencializar os esforços e multiplicar os resul- tados na área da prevenção da violência contra a PI. As reuniões com diversos inter- locutores da comunidade (representante da APAV, agentes da PSP, diretoras técni- cas das IPSS) permitiram desenvolver o conhecimento das intervenções realizadas por outras estruturas, que não a saúde, e a compreensão das limitações que sentem no terreno. A construção, quer do fluxograma quer do guia orientador, permitiu mobi- lizar a equipa para uma construção conjunta, contribuindo para que esta elaborasse novos mapas cognitivos, através da compreensão do que estava a ocorrer no ambi- ente externo e interno da mesma, recriando novos comportamentos. Isto possibilitou que a equipa, hoje, esteja mais desperta para intervir de forma preventiva sobre os fatores de risco e tenha acessível a informação que lhe permite apoiar a sua inter- venção no conhecimento científico disponível. As mudanças, porém, levam tempo… No entanto, todo este trabalho de construção do fluxograma e posteriormente do guia orientador foi sentido pela equipa como um trabalho de sucesso que se preten- de que seja divulgado para todo o ACES. Refletindo sobre as estratégias implemen- tadas, hoje teria optado por construir adicionalmente um suporte informativo de bol- so com as questões de abordagem geral, os fatores de risco, e sinais e sintomas mais frequentes, a ser entregue a todos os elementos da equipa.

Possuir a capacidade de integrar os conhecimentos e lidar com ques-

tões complexas e formular juízos com informação incompleta ou limitada, mas que incluam uma reflexão sobre as responsabilidades sociais e éticas relacio- nadas com a aplicação dos seus conhecimentos e juízos. Através das diversas

reflexões, resultantes das inquietações pessoais, procurei não só apresentar os co- nhecimentos adquiridos como formulei juízos, existindo a preocupação em incluir as implicações éticas e socais. Canário (2007) refere que “aquilo que o profissional faz não é determinado, principalmente, por aquilo que ele sabe, mas sim por aquilo que ele é” (Canário, 2007, p. 7) e o que ele é, é o conjunto da sua personalidade, seus recursos afetivos e cognitivos. Para poder ter um bom desempenho é necessário recriar os saberes anteriores, contextualizando-os. “É neste processo que também se situa a noção do profissional reflexivo” (Canário, 2007, p. 7). O desenvolvimento de competências só é possível através de uma prática reflexiva que sistematicamen- te avalia a qualidade dos cuidados de enfermagem prestados.

Ser capaz de comunicar as conclusões e os conhecimentos e o raciocí-

nio que as suportam, de forma clara e sem ambiguidades, a públicos especiali- zados e não especializados. As formações realizadas às AAD e à ECCI/ECSCP,

bem como a participação nas atividades de divulgação do trabalho realizado, permi- tiram-me: atuar como dinamizadora na incorporação de novos conhecimentos de enfermagem e das diferentes disciplinas, na área da violência contra a PI; interpre- tar, analisar, organizar e, sobretudo, divulgar os dados provenientes da evidência científica; discutir as implicações da investigação, contribuindo para uma melhor prá- tica cuidativa, com ganhos relevantes para a saúde dos cidadãos, nomeadamente das PI. Permitiram-me ainda desenvolver competências para comunicar para um público abrangente, especializado e não especializado, de forma clara.

Possuir competências de aprendizagem que permitam uma aprendiza-

gem ao longo da vida de modo essencialmente auto direcionado ou autónomo.

O período dos estágios, face à necessidade de fundamentar a prática com a evidên- cia científica disponível, e o período de reflexão e elaboração do presente relatório, para fundamentar as aprendizagens e competências do enfermeiro especialista e mestre, exigiram, não só o desenvolvimento de competências relativas ao domínio das tecnologias de informação, mas também o desenvolvimento de competências relativas aos métodos de pesquisa adequados a um estudo aprofundado sobre um tema. Estas competências permitiram consolidar os conhecimentos necessários para desenvolver uma aprendizagem que se quer se seja autónoma e ao longo da vida.