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Prevalência das justificações apresentadas para o caráter imoral das transgressões morais

Capítulo 2 – Estudos empíricos

1. Procedimentos estatísticos e resultados relativos à análise de prevalências

1.2. Prevalência das competências de distinção entre moral e convencional

1.2.1. Prevalência das justificações apresentadas para o caráter imoral das transgressões morais

Neste seguimento foram também avaliadas as respostas dadas pelos indivíduos para justificar o motivo de uma transgressão moral ser considerada inaceitável, e as quais foram organizadas de acordo com seis categorias, como foi observado na literatura (Blair, 1995). Primeiramente apresenta-se uma avaliação considerando a amostra total, de forma a verificar quais as justificações mais prevalecentes numa análise história a história. Seguidamente observa-se como as justificações se apresentam para os três grupos formados (os que distinguem o que é moral e o que é convencional, os que não fazem esta distinção, e os que não demonstram clareza nesta tarefa), de acordo com uma avaliação global das quatro histórias morais.

1.2.1.1. Justificações de acordo com a amostra total

Na primeira história (uma criança a bater noutra criança), o número de alunos com resposta classificada como “bem-estar dos outros” foi igual a 121 (31,8%), e com “referências normativas” foi o equivalente a 128 (33,7%). Verificam-se ainda 3 casos com referência à falta de educação (0,8%), e 1 caso (0,3%) com referência à “repetição do comportamento no futuro”. Existem 127 (33,4%) com “outras respostas”. Relembramos que o “bem-estar dos outros” engloba respostas que considerem o poder magoar, o provocar danos físicos ou psicológicos nos outros, as “referências normativas” reúnem justificações como a não permissão do ato por este ir contra as leis, a “falta de educação” refere-se a respostas considerando a indelicadeza e impertinência do ato, e a “repetição do comportamento no futuro” enquadra respostas que refiram que um ato imoral realizado numa fase precoce da vida, repetir-se-á no futuro e, possivelmente, com maior gravidade. “Outras respostas” são as que não se enquadram em nenhum dos critérios previamente definidos.

Quanto à história 2 (uma criança a derrubar outra criança), 132 dos casos (36,3%) tiveram respostas classificadas como “referências normativas”, 111 (30,5%) como “bem-estar dos outros”, 110 (30,2%) como “outras respostas”, e 11 (3%) como “falta de educação”.

Na história 3 (uma criança a destruir o piano da escola), a maioria das respostas foi classificada como “referências normativas” (46,4%), 17 (4,7%) tiveram resposta codificada como “falta de educação”, 173 (48,3%) como “outras respostas”, observando-se ainda a

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referência à “repetição do comportamento no futuro” e a “afirmações de desordem”, isto é, a desordem e os danos materiais causados pelo ato (0,3% respetivamente).

Relativamente à quarta história (uma criança a tirar a mochila de outra criança), a maior parte das respostas apresenta-se como “referências normativas” (61,8%), existindo 33 (9,3%) respostas codificadas como “bem-estar dos outros”, 6 (1,7%) como “repetição do comportamento no futuro” e “falta de educação”, e 90 (25,5%) como “outras respostas” (ver tabela 10).

Tabela 10

Frequência das Justificações da Amostra para as Quatro Histórias Morais

Respostas História 1 História 2 História 3 História 4

n (%) n (%) n (%) n (%)

Bem-estar dos outros 121 (31,8%) 111 (30,5%) 0 (0,0%) 33 (9,3%)

Referências normativas 128 (33,7%) 132 (36,3%) 166 (46,4%) 218 (61,8%) Afirmações de desordem 0 (0,0%) 0 (0,0%) 1 (0,3%) 0 (0,0%) Repetição do comportamento no futuro 1 (0,3%) 0 (0,0%) 1 (0,3%) 6 (1,7%) Falta de educação 3 (0,8%) 11 (3,0%) 17 (4,7%) 6 (1,7%) Outras respostas 127 (33,4%) 110 (30,2%) 173 (48,3%) 90 (25,5%) Total 380 (100%) 364 (100%) 358 (100%) 353 (100%)

1.2.1.2. Justificações de acordo com os três grupos (os que distinguem moral e convencional, os que não fazem a distinção, e os que não demonstram clareza na tarefa)

Os dados revelam, de uma forma geral, uma maior facilidade de justificação da gravidade de uma transgressão moral por parte do grupo capaz de fazer a distinção entre o que é moral e o que é convencional.

Observa-se que o grupo que não distingue moral e convencional apresenta percentagens baixas de referências ao “bem-estar dos outros” e de “referências normativas” (9,5%), sendo estes dos critérios mais prevalecentes para as quatro histórias morais entre a população que

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faz a distinção entre moral e convencional (18,4% e 45,7% respetivamente). De igual modo, neste último grupo, observa-se a presença de critérios, que não se encontram entre o outro grupo, como “falta de educação” (2,8%), “afirmações de desordem” (0,1%), e “repetição do comportamento no futuro” (0,6%).

Apresentando uma prevalência para as 4 histórias morais de 81% no grupo com dificuldades de distinção entre moral e convencional, e de 32,5% para o grupo sem dificuldades a este nível, encontra-se ainda o critério “outras respostas”, com respostas que não pertenciam a nenhum dos domínios identificados.

Relativamente ao grupo que não apresenta clareza na tarefa de distinção entre moral e convencional, os critérios mais prevalecentes são o “bem-estar dos outros” (28%), “referências normativas” (16%), verificando-se 56% de “outras respostas” (ver tabela 11).

Tabela 11

Frequência das Justificações por Grupo nas Histórias Morais

Respostas

Os que não distinguem

Ausência de

clareza na tarefa Os que distinguem

% % %

Bem-estar dos outros 9,5% 28,0% 18,4%

Referências normativas 9,5% 16,0% 45,7% Afirmações de desordem 0,0% 0,0% 0,1% Repetição do comportamento no futuro 0,0% 0,0% 0,6% Falta de educação 0,0% 0,0% 2,8% Outras respostas 81,0% 56,0% 32,5% Total 100% 100% 100%

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Resumidamente podemos observar, relativamente ao estudo da prevalência dos indicadores de traços de psicopatia por género, que a percentagem de adolescentes que pontua alto no IPY é superior nos rapazes. Quanto à prevalência dos indicadores de traços de psicopatia por idades, é entre os jovens com 15 anos que a prevalência de YPI alto é superior, e a percentagem de adolescentes com YPI baixo é superior no escalão dos 12 anos. Acrescenta-se que a prevalência de pontuações altas no YPI é ligeiramente maior entre os estudantes do ensino regular, e os anos de escolaridade com pontuações superiores no YPI são o 7º, 9º e 10º ano.

Uma relação estatisticamente significativa foi encontrada entre os indicadores de traços de psicopatia quanto ao género e à idade.

Quanto ao estudo da prevalência da capacidade de distinção entre moral e convencional por género, observa-se que esta capacidade é superior entre as raparigas. De acordo com as idades, os jovens com 13 e 14 anos apresentam maiores capacidades na tarefa de distinção entre moral e convencional, e comprometimentos na realização da tarefa são observados maioritariamente entre os 16 anos. A capacidade de distinção entre moral e convencional tendo em consideração o tipo de ensino, é equivalente. Quanto ao ano de escolaridade, verifica-se que os alunos do 5º, 6º, 11º e 12º ano apresentam maior capacidade de realização da tarefa.

Uma relação estatisticamente significativa quanto à capacidade de distinção entre moral e convencional foi encontrada apenas para o género.

Relativamente às justificações dadas para o caráter imoral das transgressões, os dados mostram uma maior facilidade de justificação da gravidade de uma transgressão moral por parte do grupo capaz de fazer a distinção entre o que é moral e o que é convencional, sendo que este grupo faz mais referência ao bem-estar dos outros que o grupo que não faz a distinção.

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2. Procedimentos estatísticos e resultados relativos à análise da relação entre traços de