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APÊNDICE 07. Paisagem urbana e patrimônio natural e cultural

1.8. Previsão de impactos ambientais

A introdução das ideias e métodos de previsão de impactos de grandes projetos ocorreu, no Brasil, no final da década de 70 e início dos anos 80, em decorrência da exigência de realização de estudos de impactos ambientais para o financiamento de projetos2 pelos organismos financiadores internacionais, como o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento - BIRD e o Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID. Contudo, considerando a ausência de normas próprias quanto à metodologia de avaliação de impactos no Brasil, os estudos eram elaborados segundo as normas das agências internacionais.

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Por exemplo, as usinas hidrelétricas de Sobradinho-BA, Tucuruí (PA) e o terminal porto-ferroviário Ponta da Madeira (MA).

49 No início da década de 80, devido às pressões do Banco Mundial, os Estudos de Impacto Ambiental foram legalmente institucionalizados3. Porém, segundo AB‟SABER (2006, p. 24), ocorreu “[...] uma corrida de consultores mal preparados na direção dos estudos de impactos, criando distorções numa área de trabalho que exige conhecimento e interdisciplinaridade, a par de independência e honestidade”.

A despeito das críticas quanto à qualidade e eficácia dos Estudos de Impacto Ambiental, é indiscutível a importância de sua aplicação. Conforme Ab‟Saber (2006), a previsão de impactos, operação técnico- científica essencialmente multidisciplinar, consiste no ato de pensar as consequências de ações futuras e exigir as necessárias mudanças. A previsão de impactos, segundo o referido autor, é capaz de revelar o nível de esclarecimento da sociedade em relação à capacidade de antever a organização espacial de seu território.

A previsão de impacto é também um indicador da força da pressão social em relação ao adequado uso dos instrumentos legais, “[...] significa aplicar uma vacina contra as resultantes de um uso incorreto de tecnologias ou falsas argumentações. Trata-se de uma espécie de antídoto para os desvarios do capitalismo selvagem [...] (AB‟SABER, 2006, p. 28)”.

Para Fonteles (2004), qualquer projeto de caráter econômico, político, social ou cultural deve levar em conta o impacto ambiental e seus reflexos na qualidade de vida das populações. Segundo o referido autor, para o atendimento das exigências ecológicas, “[...] o Estado deve privilegiar valores coletivos em vez de reforçar o individualismo paternalista, de um poder que faz concessões e presta favores aos seus „subordinados‟[...] (FONTELES, 2004, p. 60)”.

A importância da previsão de impactos no meio ambiente urbano, por sua vez, ainda precisa ser reconhecida. Os efeitos das ações realizadas dentro do complexo ecossistema urbano são, muitas vezes, contrários à intuição. A percepção de fenômenos naturais isolados, ignorando que se trata de um processo em andamento, resulta em medidas dispendiosas e, muitas vezes, ineficazes. A resolução de uma questão isoladamente, na

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Por meio da Resolução n° 001, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA.

tentativa de minimizar riscos naturais menores, pode ser perigosa, já que, por não atingir o seu cerne, pode ensejar a ocorrência de novos e imprevistos problemas. (SPIRN, 1995).

Considerando que as cidades são sistemas intrincados, a ação em uma parte do sistema interfere em muitas outras e pode, ainda, induzir novas mudanças. Dessa forma, constata-se que muitos dos problemas ambientais são consequências imprevistas de outras atividades aparentemente não relacionadas. Somente por meio do conhecimento das dinâmicas do sistema urbano é possível identificar as ligações reais e potenciais das suas partes, de maneira que os resultados das ações tornem-se mais previsíveis. (SPIRN, 1995).

Destaque-se, ainda, que o efeito cumulativo de muitas mudanças isoladas é muitas vezes maior do que a sua soma. Dificilmente é considerada a interferência de um projeto no ambiente da cidade como um todo e seus efeitos cumulativos. Também não se considera, geralmente, que determinados problemas enfrentados poderiam ser resolvidos com mais eficiência por uma intervenção em outra localidade. Além disso, os problemas, como a poluição da água e do ar, enchentes, contaminação do solo, dentre outros, na maioria das vezes são tratados separadamente, por especialistas e instituições com delegações restritas. Verifica-se, assim, que as tentativas desentrosadas para resolver problemas definidos de forma parcial são um desperdício em relação aos custos e riscos. (SPIRN, 1995).

Jacobs (2001) alerta para o “efeito borboleta”, isto é, pequenos eventos podem produzir efeitos desproporcionalmente amplos.

A dificuldade é que qualquer variável pode afetar uma ou mais variáveis, as quais podem então afetar as outras, inclusive a variável que iniciou o processo, emaranhando o complexo de causas e efeitos em redes complicadíssimas. Esses problemas, não sendo lineares e simples, não são suscetíveis de experimentos reducionistas; seu conteúdo não pode ser separado em fragmentos artificiais utilizáveis.[...] (JACOBS, 2001, p. 163). Nesse sentido, a estratégia de avaliação e gestão de impactos ambientais deve contemplar múltiplos instrumentos e variadas formas de atuação. Segundo Moraes (2007, p. 229): “Deve-se acatar os ensinamentos

51 acumulados pela experiência e exercitar o experimentalismo, não temendo tanto o abandono de práticas mal sucedidas quanto à alocação da inovação total do praticado”. Há muito para aprender com o estudo de caso de soluções bem-sucedidas de problemas do meio ambiente urbano, importando que tais dados sejam coletados e se tornem acessíveis. Geralmente, os muitos exemplos são desconhecidos até mesmo pela maioria dos planejadores e urbanistas, inclusive pelos funcionários públicos dos governos municipais, estaduais e federal. Os problemas locais mais prementes devem ser identificados, bem como armazenados os dados necessários para o tratamento desses problemas. Tais informações servirão de subsídio para a apreciação dos efeitos cumulativos das ações individuais. Somente assim é possível explorar as oportunidades em sua totalidade, avaliar realisticamente os custos de ações alternativas, prever algumas das eventuais consequências desastrosas e realizar integralmente potenciais soluções de múltiplas utilizações. (SPIRN, 1995).

O conhecimento generalizado na natureza urbana permite soluções mais abrangentes. As técnicas de modelagem de sistemas e os métodos de manuseio de informação contemporâneos facilitam soluções integrais e de múltiplos propósitos, mas precisam ser mais exploradas e utilizadas. (SPIRN, 1995).