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APÊNDICE 07. Paisagem urbana e patrimônio natural e cultural

1.9. Princípios da prevenção e da precaução

Os instrumentos precursores do Estudo de Impacto Ambiental foram criados com base nos princípios da prevenção e da precaução (SANT‟ANNA, 2007). Conforme o Princípio 15 da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que aconteceu no Rio de Janeiro em 1992 (ECO92): “De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”.

legislação brasileira por meio da ratificação, pelo Congresso Nacional, do instrumento legislativo elaborado na ECO/92. Quanto ao princípio da prevenção, a referida autora alega que, embora não tenha sido previsto na legislação nacional de forma expressa, foi consagrado pela doutrina. É preciso ressaltar que as expressões prevenção e precaução são muitas vezes utilizadas sem distinção quanto ao seu significado. Entretanto, embora os princípios da prevenção e precaução, aplicados ao direito ambiental, tenham ambos a finalidade de priorizar as medidas que evitem as agressões ao ambiente, convém distingui-los.

Conforme Milaré (2007, p. 766-767), aplica-se o princípio da prevenção “[...] quando o perigo é certo e quando se tem elementos seguros para afirmar que uma determinada atividade é efetivamente perigosa” e o princípio da precaução, por sua vez, “[...] quando a informação científica é insuficiente, inconclusiva ou incerta e haja indicações de que os possíveis efeitos sobre o ambiente, a saúde das pessoas ou dos animais ou a proteção vegetal possam ser potencialmente perigosos e incompatíveis com o nível de proteção escolhido”. A prevenção, portanto, refere-se aos riscos ou impactos já conhecidos e a precaução aos riscos ou impactos desconhecidos.

Dessa forma, e ciente dos riscos que certa atividade pode ocasionar ao meio ambiente é possível invocar o princípio da prevenção para exigir a adoção de medidas preventivas ou para decidir pela não instalação da atividade. E, no caso de incerteza quanto aos riscos da atividade, mesmo após a realização dos estudos necessários para tentar dimensionar tais riscos, a implementação da atividade pode ser inviabilizada com base no princípio da precaução (ATTANASIO JUNIOR; ATTANASIO, 2004). Attanasio Junior e Attanasio (2004) destacam três elementos que caracterizam o princípio da precaução:

[...] o reconhecimento de que determinado produto, técnica ou empreendimento envolve algum risco potencial; o reconhecimento de que existem incertezas científicas sobre os impactos imediatos ou futuros relacionados à implantação de determinado empreendimento ou uso de determinado produto ou técnica e a necessidade de agir adotando-se medidas de precaução.

CAPÍTULO 2

ESTUDOS DE IMPACTO DE VIZINHANÇA: CONTEÚDO E METODOLOGIA

O art. 182 da Constituição Federal dispõe que a política urbana, a ser executada pelo Poder Público Municipal, tem como finalidade ordenar o pleno desenvolvimento da função social da propriedade e das funções da cidade, de forma a garantir o bem estar de seus habitantes. O mencionado artigo estabelece, ainda, que o Plano Diretor é o instrumento básico da política urbana e que a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências expressas no plano diretor.

Para que uma propriedade cumpra sua função social, sua utilização deve ser socialmente justa, de maneira que o interesse geral prevaleça sobre o individual (OLIVEIRA FILHO, 2007). Milaré (2007) preconiza que o exercício do direito de propriedade vinculado ao atendimento de uma função social condiciona-o ao interesse social, não apenas econômico, mas também ambiental.

A formulação de regras é necessária não apenas para ordenar a cidade, mas também garantir a preservação do ambiente urbano como um bem único e coletivo, não mais individual (VIZZOTTO; PRESTES, 2009).

As funções ambientais, de participação democrática dos cidadãos, do desenvolvimento de ações para a implementação do direito à moradia, do aproveitamento adequado do solo urbano, entre outros, integram as funções sociais da cidade identificadas e que devem orientar a execução da política urbana (VIZZOTTO; PRESTES, 2009, p. 36).

A inclusão da questão ambiental na regulamentação da política urbana, cujo propósito é impedir a realização de intervenções danosas ao meio ambiente, representa um grande avanço, já que a Constituição Federal, ao tratar do meio ambiente, desconsiderou os aspectos relativos à cidade.

e 183 da Constituição Federal, estabelece as diretrizes gerais da política urbana. Conforme o artigo 2°, I, do Estatuto da Cidade, a garantia do direito a cidades sustentáveis compreende o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações.

Mesmo antes da Lei 10.257 de 2001, o Estudo de Impacto de Vizinhança já era utilizado, com diferentes nomes, como instrumento de gestão ambiental urbana em algumas cidades brasileiras, demonstrando a preocupação existente no meio técnico com relação à forma e instrumentos de avaliação de impactos em áreas urbanas. Contudo, tal preocupação somente se disseminou após a aprovação da Lei 10.257/2001.

Verifica-se, portanto, que o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), instrumento da política urbana previsto no Estatuto da Cidade, possui grande relevância para a gestão do território. O EIV favorece a transparência do processo de licenciamento dos projetos de significativo impacto no meio ambiente urbano ao regulamentar os procedimentos a serem respeitados e ao vincular os responsáveis técnicos às análises urbanas efetuadas. “O Estudo de Impacto de Vizinhança compreende a identificação, valoração (se possível), e análise dos impactos de vizinhança previstos para uma determinada proposta de ocupação urbana.” (LOLLO; RÖHM, 2007, p. 100).

Embora represente um grande avanço na regulamentação dos procedimentos de licenciamento de projetos de impacto no meio ambiente urbano, o EIV ainda é um instrumento em construção e muito pouco exigido. A falta de regulamentação municipal tem sido utilizada constantemente como justificativa para a sua não aplicação, visto que, diferentemente do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), os procedimentos e conteúdos exigidos para o EIV são definidos pelo Poder Público Municipal, conforme as diretrizes gerais estabelecidas no Estatuto da Cidade.

A exigência de elaboração do EIV, em conformidade com o princípio da precaução, é de suma importância para a tomada de decisão acerca da viabilidade ou não de um empreendimento, visto que a eventual adequação aos índices urbanísticos e ao zoneamento estabelecido na

55 legislação municipal não é suficiente para evitar possíveis danos ao meio ambiente urbano.

Portanto, durante o procedimento de licenciamento, a avaliação dos impactos a serem ocasionados por um determinado empreendimento, bem como a capacidade de suporte do meio ambiente impactado, são fundamentais para uma gestão sustentável das cidades.

Esta relação da cidade com o empreendimento e do empreendimento com a cidade, está para além do cumprimento da disciplina urbanística da propriedade. Isto porque, além de condicionar a propriedade ao conteúdo da lei e impor deveres, avalia os impactos da atividade e do empreendimento especificamente, podendo, inclusive, motivadamente, entender pela impossibilidade de utilização da propriedade na forma pretendida (VIZZOTTO; PRESTES, 2009, p. 123).

2.1. As categorias de análise do Estudo de Impacto de Vizinhança