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Primeira etapa: observação participante nas comunidades quilombolas na área

5 METODOLOGIA

5.3 Procedimentos para realização da pesquisa

5.3.1 Primeira etapa: observação participante nas comunidades quilombolas na área

Nós temos dois territórios que fazem parte da pesquisa e optamos por iniciá-la nas comunidades quilombolas: Castainho e Estivas, devido a nossa inserção já existente nessas comunidades e alguns eventos que estavam acontecendo nas mesmas, que coincidiram com o início da pesquisa de campo, a exemplo do Encontro de mulheres quilombolas da região.

A observação participante se refere ao processo em que os membros da comunidade estudada concordam com a presença do/a pesquisador/a entre eles/as. O/a observador/a participante deve criar meios para ser aceito/a no contexto da pesquisa (o que pode significar aspectos diferentes em termos de comportamento, modos de viver). É importante nesse tipo de pesquisa, que o/a pesquisador/a realize suas ações de acordo com o funcionamento do local estudado, mesmo que isso signifique sair do proposto no roteiro planejado (FLICK, 2009).

Para realizarmos as observações, estivemos presentes nos diversos espaços das comunidades, não traçamos um planejamento linear para as observações, os caminhos foram sendo construídos durante o processo da pesquisa. Foram registrados no diário de campo as conversas e observações realizadas, fizemos registro de tudo que foi possível através da escrita, de áudio, e de algumas fotografias. Este material foi muito importante para a compreensão das situações de desigualdades e resistência vivenciadas pelos/as jovens nos diferentes contextos.

Concordamos com Cardona, Cordeiro e Brasilino (2014, p.129) quando as mesmas ressaltam que, no campo da Psicologia Social, a observação é uma estratégia metodológica que “oferece a possibilidade de contribuir para a compreensão da vida das pessoas [...].Possibilita também ao/a estudioso/a que ele/a assuma posturas críticas que deem visibilidade às inequidades, desigualdades ou mesmo a construção de propostas conjuntas de ação”.

No presente estudo consideramos a importância da realização de uma leitura etnográfica das comunidades quilombolas e da periferia urbana, para conhecermos como as pessoas constroem e dinamizam os processos sociais e seus modos de vida, sobretudo nos grupos que estudamos, que têm especificidades que se diferenciam de outros grupos da sociedade. Neste sentido, consideramos que essa pesquisa se situa no rol de trabalhos em que o/a pesquisador/a desenvolve o estudo porque “está envolvido/a na trama das trocas

cotidianas e das interações sociais. Dessa forma a pesquisa é fruto de contextos dialógicos específicos nos quais tanto o/a pesquisador/a quanto os/as participantes se desenvolvem e negociam suas visões de mundo” (CORDEIRO, 2004, p.53).

- Observar, escutar, registrar: os significados do diário de campo...

Ressalto aqui a importância da construção de um diário de campo, além do registro de cenas observadas, das conversas realizadas, das questões que me inquietavam, como eu estava me sentindo, para depois serem tecidas reflexões e que foram muito importantes para pensarmos o processo da pesquisa, na escola quando os/as alunos estavam nas salas de aula, os/as funcionários/as cada um/a em suas atividades, eu fazia as anotações do que havia observado, das conversas com os/as jovens, com os/as profissionais, e fui percebendo que o caderno e a ação de anotar, era também uma forma de aproximar-se das pessoas no campo. Alguns e algumas profissionais, o pessoal da limpeza, do refeitório ou secretaria, às vezes, passavam e diziam: “está aí nas anotações né?” Mas nunca perguntaram o que eu anotava. Já alguns e algumas estudantes que passavam no corredor nesses momentos, ao me verem fazendo as anotações, o caderninho despertava curiosidade. E alguns perguntavam da pesquisa, como era, para que eu estava fazendo, o que eu anotava?

Quando fomos pensar no diário, nesse processo da pesquisa, lembramos do que diz Medrado, Spink e Méllo (2014, p. 278) sobre diários, e concordamos com os autores e a autora que o diário é um atuante “com ele e nele a pesquisa começa a ter certa fluidez, à medida que o pesquisador dialoga com esse diário, construindo relatos, dúvidas, impressões que produzem o que nominamos de pesquisa. Esse companheirismo rompe com o binarismo sujeito-objeto”. Assim o diário faz parte da própria ação de pesquisar.

- Caminhos percorridos nas comunidades quilombolas

“Fazendo pesquisa desse jeito? Aqui sentada, conversando?” (Moradora da comunidade Estivas). O que significa voltar ao campo de pesquisa e pesquisar novamente? A pesquisa nas comunidades quilombolas iniciou bem antes da minha inserção no campo, aconteceu em 2010 e 2013 para fins da construção do TCC da graduação e da dissertação de mestrado respectivamente, e de lá para o presente ano (2018), as vivências no campo, as informações construídas vêm sendo refletidas. Voltar ao campo propriamente dito e realizar uma nova

pesquisa traz muito a ser pensando, experienciado, vivido. Por que retornar para lá? Como estranhar o familiar em um campo de pesquisa que não é novo? Como eu seria recebida pelos/as moradores? Essas e tantas outras indagações surgiram no processo da pesquisa. Ao mesmo tempo em que eu refletia sobre essas questões, o feminismo possibilitou que eu pensasse que a experiência é algo singular, que não se repete. As experiências dos/as jovens foram consideradas dessa forma, e meu encontro com eles/as também, como algo singular.

Penso que os/as jovens puderam refletir sobre algumas de suas experiências durante a pesquisa e eu fui me constituindo também cada vez que me angustiava, me indignava com as situações de desamparo e de desigualdades que incidem sobre muitos/as jovens, e me alegrava ao ver que, em meio as dificuldades, alguns/mas têm encontrado formas de traçarem seus projetos de vida.

A observação nunca é neutra e nem desejávamos que fosse. Os caminhos para ter acesso às pessoas e aos lugares é feito a partir de escolhas, há muitas possibilidades para organizar e desenvolver a observação em uma pesquisa (CARDONA; CORDEIRO; BRASILINO, 2014). Comecei a partir de alguns contatos com jovens que eu já conhecia e alguns e algumas profissionais que atuam nas localidades estudadas. Assim, no período que estive nas comunidades, pude participar de várias atividades e tive muitas conversas com os/as moradores/as de diferentes idades, e com os/as profissionais. Vale ressaltar que consideramos as conversas protagonistas relevantes na produção de nossas informações, como “um passo importante para a valorização dos lugares de vivências, de alteridade, de diversidade, de diálogo e de encontro”. (BATISTA; BERNARDES; MENEGON, 2014, p. 100).

Iniciamos acima as reflexões sobre a observação participante com a fala de uma quilombola. Em uma das visitas à comunidade, fiquei sentada em frente a uma casa conversando com duas moradoras que eu já conhecia, pouco tempo depois chega outra e fala: “oi mulher, eu lembro de você. Estás fazendo o que por aqui?” Falei que estava fazendo uma pesquisa na comunidade, foi quando a mesma proferiu: “Fazendo pesquisa desse jeito? Aqui sentada, conversando?” Esse incômodo que o/a pesquisador/a causa foi algo que pude perceber em alguns momentos, principalmente nessa primeira etapa da pesquisa em que eu ficava nos lugares conversando com as pessoas. Que pesquisa é essa, sem questionário na mão, sem material nenhum, conversando, andando pelos lugares?

Os/as profissionais da Residência de Saúde no Campo, que no período da pesquisa eram a primeira turma dessa residência e estavam concluindo os trabalhos, também auxiliaram minha participação em algumas atividades que os/as mesmos/as estavam

realizando, a exemplo do I Encontro de mulheres quilombolas da região. Organizado por um grupo de mulheres quilombolas que foi formado através de uma das residentes, com o objetivo de que se fortalecessem e construíssem formas de terem uma geração de renda, e discutissem sobre os processos de ser mulher nas comunidades.

Pude participar de algumas das reuniões do grupo das mulheres quilombolas, que elas colocaram o nome de Mulheres Guerreiras Quilombolas, e da organização do evento mencionado acima, em que elas foram as protagonistas e falaram sobre suas lutas, dificuldades e resistências. O evento foi fechado só para a participação das quilombolas da região. Fui apresentada às mulheres pela residente, embora já tivesse realizado pesquisas nas comunidades, muitas eu não conhecia. Elas logo aceitaram minha participação. Mas a sensação era que para algumas das mulheres eu era a de fora, uma intrusa que estava lá só para observar. Outras se aproximavam de mim e conversávamos um pouco no início e nos fins das reuniões.

Nesses dias, em que estava em contato com as mulheres, também estive em outros espaços das comunidades, na Unidade de Saúde da Família - USF, onde conheci várias pessoas, encontrei outras já conhecidas e presenciei algumas das dificuldades dos/as quilombolas no que se refere aos cuidados com a saúde. Muitos/as reclamaram do atendimento médico, que o profissional chega tarde, vai embora logo. Em outros momentos, os/as moradores/as também fizeram queixas sobre forma de funcionamento da USF. Estive também na escola de Castainho que funciona até o 9º ano, e pude conversar com a sua gestora, que falou de algumas dificuldades enfrentadas, mas também o que têm feito para lidar com os problemas.

Realizei algumas visitas às comunidades nos finais de semana que tiveram jogos no campo de futebol e fui também aos bares nesse período. Fui acompanhada por algumas jovens quilombolas. De fato, como os/as moradores/as falam, aos domingos a comunidade é bem movimentada, em frente às casas alguns grupos ficam sentados conversando, grupos que têm homens, mulheres, de diferentes idades, alguns e algumas bebendo. Muitos/as jovens vão ao campo assistir os jogos e antes mesmo destes acabarem, em um bar próximo ao campo, chegam muitos/as jovens e adultos, que ficam por lá dançando e bebendo.

Em conversa com uma jovem quilombola que é estudante universitária, quando falei que a pesquisa seria com os/as jovens, ela comentou que sempre teve vontade de fazer algo para contribuir com os/as mesmos/as, porque quando pensa em perspectiva de futuro, indaga que futuro eles/as podem ter? A mesma relatou que: “na comunidade não tem nada que seja diretamente para os/as jovens, aí vão para os bares, as meninas muito novas e umas na

prostituição saem com os homens que chegam lá de carro e moto”. Afirmou que olha para a comunidade sem muita esperança, porque os problemas de lá são muitos, e só vê os jovens nas drogas e na prostituição.

A jovem a que referimos acima fez alusão à prostituição, e isso nos chamou a atenção, pois muitas são adolescentes que estão nessa situação. Sendo assim, não podemos olhar para esse fato como prostituição, que seria adequado para mulheres maiores de 18 anos, e sim como exploração sexual. Entende-se por exploração sexual a violação aos direitos da criança e do adolescente, resulta de relações assimétricas de poder consolidadas em uma cultura adultocêntrica que impacta nas suas dignidades e cidadanias. As situações de pobreza, a violência intra e extrafamiliar são frequentemente apontadas como fundamentais para que os/as adolescentes se tornem mais expostos aos riscos da violência sexual e de outros tantos tipos de violação de direitos, mas esses não são determinantes, um conjunto de fatores podem estar presentes em situações de exploração sexual. As múltiplas e complexas questões envolvidas na violação de direitos, somadas aos recortes de gênero, raça e etnia, ampliam o grau de vulnerabilidade a que algumas crianças e adolescentes estarão expostas (SILVA; NETO; VIANA, 2018). Isso requer um olhar atencioso para essas práticas nesse contexto. A maioria das famílias recebe o bolsa família e vivem com uma renda muito pequena, e um dos problemas é a questão do território. As famílias estão crescendo, as fazendas aos arredores também, algumas usando o território das comunidades, e fica muito difícil para os/as agricultores/as, pois sem terra, não tem onde plantar. E mesmo as comunidades já reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares, ainda precisam conquistar a documentação de posse da terra de algumas localidades.

Em conversa com algumas profissionais, as mesmas falaram que percebem a existência de um racismo institucional com as comunidades, porque as pessoas da cidade, profissionais/gestores fazem tudo de modo que dificulta o acesso da população aos serviços. A comunidade não tem transporte público, só tem um ônibus disponibilizado pela prefeitura para os/as estudantes. A maioria trabalha na agricultura, principal fonte de renda, mas com os períodos de seca fica tudo muito difícil e isso tem implicações na saúde do/a trabalhador. As residentes ressaltaram que o alcoolismo é muito grande na comunidade, “a vida é tão difícil que é o escape também da população, a bebida e o jogo de baralho e de bozó”, em algumas casas, as pessoas se reúnem e jogam apostado.

Pude frequentar vários lugares nas comunidades: a Unidade de Saúde, o Centro de Referência da Assistência Social - CRAS, a Escola de Castainho e a Escola de Estivas, o campo de futebol em Estivas, o bar em Estivas, a casa onde acontecem os jogos de baralho

entre as mulheres, a casa de alguns/mas moradores/as. Nesse período, muitas foram as conversas com as crianças, jovens, adultos e idosos quilombolas e profissionais da área urbana que atuam nas comunidades. Pudemos observar as dificuldades referentes aos cuidados com a saúde, para dar continuidade ao processo de escolarização, o uso abusivo de álcool, a violência contra a mulher, as dificuldades para os/as jovens conseguirem um emprego, a falta de segurança, entre outras questões que os/as mesmos/as relataram. E vimos também à busca por parte de alguns/mas por melhorias para as comunidades, a luta das mulheres para dar conta dos afazeres domésticos e comercializarem os produtos da agricultura nas feiras da cidade, a resistência dos/as jovens que têm se deslocado até a cidade e buscado realizar seus projetos de vida pela via dos estudos.

Foi possível observar algumas mudanças nas comunidades de quando estive lá pela primeira vez, em 2010, para o momento que iniciei essa pesquisa em 2016, existe um maior quantitativo de casas, devido ao Programa Nacional de Habitação Rural, que é uma modalidade do Programa Minha Casa, Minha Vida, voltado para a população que vive no campo como os agricultores familiares e trabalhadores rurais, e entre os beneficiários estão as comunidades quilombolas. A comunidade conta agora também com um local onde funciona o CRAS, antes o mesmo funcionava na cidade, os/as profissionais faziam um trabalho itinerante e os/as moradores/as se deslocavam até a cidade para resolverem suas demandas.

Os/as jovens quilombolas em nossas conversas relataram como é a vida na comunidade, as dificuldades que enfrentam, os projetos de futuro que possuem, o que gostariam que melhorasse na localidade que moram. Alguns falaram também sobre problemas familiares relacionados ao uso abusivo de álcool, relações agressivas de membros da família. Mas pudemos ver que em meio às situações difíceis enfrentadas, muitos acreditam que podem melhorar as condições de vida que possuem, para isso uns/mas têm estudado, outros/as trabalhado ou no período da pesquisa estavam à procura de um emprego. Alguns/mas afirmaram que estão satisfeitos com a vida que possuem, gostam do lugar que moram, de ir à feira vender os produtos que a família planta. Uns/mas falaram das festas, que gostam muito, de música, dança, outros da igreja, os/as que gostam de ir à cidade. Com isso observamos a diversidade da juventude nas comunidades.

- O que observei na área urbana

“Quando você for fazer alguma coisa dessa pesquisa, me chama”. (Estudante – escola – área urbana).

Na área urbana realizamos a observação em uma escola, o intuito da observação foi que essa funcionasse como porta de entrada para nos aproximarmos dos/as jovens, das vivências juvenis destes/as, e junto aos/as mesmos/as fazermos visitas para conhecermos as experiências da juventude em áreas da periferia.

Durante todos os dias, de segunda à sexta, no período de dois meses, eu ia à escola pela manhã e ficava nos corredores e próximo ao refeitório. Nos dois dias que os/as estudantes almoçavam na escola, eu ficava com eles/as no horário do almoço também. Inicialmente fiquei, muitas vezes, sentada próximo ao refeitório, de fato só observando e sendo observada. Alguns estudantes, às vezes, se dirigiam a mim e perguntavam se eu estava trabalhando na escola. Em alguns momentos as/os funcionários/as dos serviços gerais sentavam perto de mim e ficavam conversando, forneciam algumas informações sobre a escola, e sobre alguns/mas estudantes. Em outros momentos passei a circular também pelo pátio e pelos corredores durante os intervalos, parava onde estavam alguns grupinhos de estudantes, alguns só com mulheres, outros só com homens e os mistos, e me apresentava, falava da pesquisa que estava sendo realizada na escola sobre questões relacionadas à juventude, o modo de vida, as dificuldades enfrentadas, os projetos de vida e assim começávamos a conversar.

Aos poucos fui conhecendo os/as estudantes e quando eles/as me viam sentada próximo ao refeitório, lugar que fiquei na maioria dos dias de modo estratégico, (porque lá passavam quase todos/as os/as estudantes e dava para ter uma visão de parte do pátio por onde as pessoas circulavam), alguns/mas falavam comigo, principalmente as jovens, me cumprimentavam com abraços, perguntavam como estava a pesquisa, algumas e alguns se ofereciam para participar, diziam: “quando você for fazer alguma coisa dessa pesquisa me chama”, perguntavam como seria a pesquisa, para que eu iria fazer esse trabalho. Porque para eles/as não tinha começado ainda, já que eu estava só por lá conversando e observando.

Essas questões foram importantes para pensarmos o fazer pesquisa, como é visto e considerado pelos/as participantes, esse estranhamento em relação a mim que dizia estar fazendo uma pesquisa, mas estava por lá, conversando, sentada, observando, e que também aconteceu nas comunidades quilombolas como já referimos acima. Isso nos diz o quanto a visão de pesquisa para as pessoas ainda é baseada naqueles moldes do/a pesquisador/a com um questionário e uma prancheta na mão, fazendo perguntas às pessoas. Nesses momentos, eu considerava importante explicar que a pesquisa teria outras etapas, e eu estava conhecendo as pessoas, os lugares, o que os/as jovens da comunidade ou os/as da cidade fazem, os interesses, as experiências.

Nesse período que estive na escola pude perceber que o racismo acontece de forma muito velada naquele contexto, como acontece na sociedade de modo geral, tanto que alguns e algumas estudantes em nossas conversas informais disseram não existir racismo na escola, e quando conheci os alunos/as negros/as esses/as relataram situações que sofreram. Um racismo interseccionado com classe, gênero e local de moradia (território), a exemplo do que aconteceu com as estudantes negras, que moram no Manoel Chéu (bairro estigmatizado na cidade, como lugar perigoso e violento) e não tem condições de, durante a semana, diversificar o sapato. Elas relataram que, por diversas vezes, foram alvo de situações em que eram olhadas, e as outras estudantes comentavam porque as mesmas estavam todos os dias na escola usando o mesmo sapato. Relataram ainda, que tem muito preconceito na escola com quem mora na Cohab III, no Manoel Chéu, e no conjunto Residencial Manoel Camelo. Esses bairros são da periferia, mas não são localizados próximos um ao outro.

As desigualdades de gênero também puderam ser observadas nos discursos dos/as jovens, e a homofobia, alguns e algumas faziam questão de dizer que na escola têm muitos gays e lésbicas, e não esconderam que têm preconceito. Outros/as relatavam que não concordam com as situações que presenciam. A discussão sobre sexualidade e diversidade sexual na escola é bem ausente pelo que percebi nas conversas que tive com os/as alunos/as. Em uma dessas, uma jovem relatou: “eu não tenho preconceito com os gays e as lésbicas que têm aqui na escola, mas não gosto de ficar perto, se eles estiverem em um lugar, e eu puder não ficar perto, eu acho melhor”. Pudemos perceber como essas questões são vivenciadas pelos/as jovens, os gays e as lésbicas são vistos como pessoas que é melhor não chegar perto, a homossexualidade como algo errado. Fui surpreendida durante as observações pela