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Terceira etapa: entrevistas semiestruturadas com os/as jovens de ambos os

5 METODOLOGIA

5.3 Procedimentos para realização da pesquisa

5.3.3 Terceira etapa: entrevistas semiestruturadas com os/as jovens de ambos os

Nessa etapa realizamos entrevistas semiestruturadas com o intuito de conhecermos melhor as experiências individuais dos/as jovens relacionadas com os usos de álcool. Nas oficinas, algo que nos chamou atenção enquanto experiências comuns vivenciadas por ambos os grupos foi o uso de álcool realizado pelos/as próprios/as jovens ou familiares e pessoas de suas redes de convívio. Mas observamos que geralmente os/as jovens se referiam as experiências de terceiros e falavam pouco sobre como os/as mesmos têm se relacionado com essas substâncias. Percebemos que as experiências relacionadas à ingestão de bebidas alcoólicas diziam de outras questões vivenciadas pelos/as mesmos/as e que as entrevistas poderiam ser um espaço/momento para que eles/as falassem sobre essas experiências,

pudessem ser ouvidos/as. Dessa forma, consideramos importante, nas entrevistas, contemplarmos questões específicas sobre o uso de bebidas alcoólicas.

Realizamos 8 entrevistas semiestruturadas, 4 nas comunidades, 3 mulheres jovens e 1 homem jovem e, 4 entrevistas na área urbana, com 2 mulheres jovens e 2 homens jovens. Nas comunidades as entrevistas foram realizadas nas casas dos/as jovens, na área urbana, duas aconteceram na escola e as outras duas em uma praça localizada próximo a escola. Os dois jovens que foram entrevistados na praça não estudam na escola e foram indicados por amigas que são da escola. Assim entramos em contato com os mesmos e marcamos o local e data da entrevista.

A escolha do uso de entrevistas semiestruturadas advém do fato de que esta é uma técnica privilegiada de comunicação que combina perguntas fechadas e abertas, em que o/a entrevistado/a tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada (MINAYO, 2008). Iniciamos a entrevista questionando aspectos socioeconômicos, idade, estado civil, cor da pele, se trabalha, estuda, entre outras questões. Após esse breve conhecimento, seguimos com as perguntas que foram elaboradas (roteiro em apêndice) para compreender as questões deste estudo pensando nas experiências juvenis nos diferentes contextos.

A seguir, pode se observar nos quadros 3 e 4, o perfil do/as participantes das entrevistas da área urbana e da área rural-quilombola. Usamos nomes fictícios para representar os/as jovens e preservar a identidade dos/as mesmos/as.

Quadro 3- Participantes da área urbana Participantes Sexo Idade Cor: auto

declarada

Escol. Estado civil Renda familiar

Contexto social

Valentina F 17 Amarela 3ª ano Solteira R$900,00 Mora com a mãe e o irmão. Pretende fazer um curso superior. Trabalha esporadicamente. Faz uso de bebidas alcoólicas desde os 12 anos. Relatou as situações enfrentadas devido ao uso abusivo de álcool realizado pelo pai. E os problemas enfrentados pela juventude, falta de segurança e emprego. Amora F 17 Parda 3º ano Solteira R$900,00 Mora com os pais e a irmã.

Pretende fazer um curso de nível superior. Faz uso de álcool desde os 15 anos. Relatou casos de alcoolismo na família. Quanto aos problemas enfrentados pela juventude, relatou a gravidez na adolescência e as drogas.

Diogo M 17 Moreno 3º ano Solteiro R$900,00 Mora com a mãe e o irmão. Faz um curso técnico e pretende conseguir algum trabalho. Faz uso de álcool desde os 13 anos. Falou da falta do que fazer, de cursos, que quando surgem são com poucas vagas. Pedro M 18 Moreno 2º ano Solteiro R$900,00 Mora com a mãe e dois

irmãos. Não pretende fazer curso superior, quer terminar o ensino médio e conseguir um emprego. Faz uso de álcool desde os 13 anos. Relatou casos de alcoolismo na família. E quanto às dificuldades enfrentadas pela juventude, falou sobre a falta de emprego.

Quadro 4 - Participantes da área rural quilombolas Participantes Sexo Idade Cor

autodeclarada Escolaridade Estado civil Renda familiar Contexto social

Zaila F 21 Negra 3º ano Solteira R$900,00 Mora com a mãe e as irmãs. Pretende fazer um curso superior. Trabalha na feira. Faz uso de álcool desde os 14 anos. Relatou o envolvimento dos jovens com as drogas e a falta de trabalho para os mesmos. Amara F 23 Preta 3º ano Solteira R$800,00 Mora com a mãe, a filha e

as irmãs. Não pretende estudar, pois alega não ter mais “cabeça pra isso”. Trabalha na feira e está satisfeita com o trabalho. Faz uso de álcool desde os 18 anos. Diz que os/as jovens enfrentam a falta de trabalho e as drogas. Niara F 23 Preta 6ª série Solteira R$200,00 Mora com a filha. Parou

os estudos e alega que deu preguiça, não pretende voltar. Não trabalha, faz “uns bicos” quando aparece e recebe o Bolsa Família. Faz uso de álcool desde os 14 anos. Falou sobre a falta de emprego que é o principal problema enfrentado pelos jovens.

Akil M 18 Moreno 5ª série Solteiro R$500,00 Mora com a esposa e o filho. Foi expulso da escola porque foi pego cheirando loló, não pretende voltar a estudar. Trabalha quando aparece algo como ajudante de pedreiro. Faz uso de álcool desde os 12 anos. E disse que o principal problema enfrentado pelos jovens é a questão financeira.

Alguns e algumas dos/as jovens entrevistados não participaram das oficinas, conforme já referimos acima, os conhecemos durante o período das observações, e não estiveram nas mesmas por não estudarem na escola da área urbana. E os/as da área rural por motivos diversos, trabalhavam ou estudavam e não tinham disponibilidade, entre outros. Mas quando olhamos para os quadros acima, observamos que o perfil é semelhante aos/as que participaram. Na área urbana a não declaração em ser negro/a diferente das comunidades quilombolas, em que 3 dos/as entrevistados/as se afirmaram como negros/as, as dificuldades enfrentadas devido a situação socioeconômica, e durante as entrevistas os/as jovens se referiram também que as dificuldades enfrentadas por eles/as é algo vivenciado por outros/as jovens que conhecem: o desemprego, a falta de segurança, o envolvimento de alguns/mas com as drogas, entre outras questões.

Pudemos observar também que entre os/as jovens entrevistados/as tanto nas comunidades quanto na área urbana, só uma jovem afirmou morar com a mãe e o pai, o que nos fez pensar nas famílias chefiadas por mulheres, em que a carga de trabalho e de responsabilidade é grande para as mesmas. Isto ainda nos lembrou a solidão da mulher negra e as dificuldades que essas encontram para manterem um relacionamento estável, pois, muitas vezes, a raça/cor interseccionada com a classe é um fator que dificulta o matrimônio.

A realização das entrevistas, as oficinas e a observação participante permitiu que este estudo se desenvolvesse em um contexto intersubjetivo, com foco na relação estabelecida entre pesquisadora e participantes, pautada no aprofundamento de conteúdos relativos ao tema da pesquisa. As entrevistas foram áudio gravadas e, tanto as entrevistas quanto as oficinas foram transcritas na íntegra pela pesquisadora.