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Primeira tese de sustentação – a dupla jornada de trabalho feminino

Com relação a esse item de análise, subsistem aqueles que apoiam a proposição de que a mulher tira proveito dessa concessão legislativa tendo em vista a sua condição social de dona do lar, de cuidadora do ambiente familiar, executando, além do trabalho comercial, o trabalho caseiro, no zelo de seus filhos e nas tarefas domésticas, necessitando aposentar-se mais cedo tendo em vista o desgaste de sua energia, ao longo de sua vida com essa dupla jornada de trabalho.

Nas palavras de Taysa Silva Santos, no III Simpósio Mineiro de Assistentes Sociais44:

Partindo desse pressuposto, cabe ressaltar que, apesar dos diversos espaços conquistados, a condição da mulher ainda é permeada por estigmas provindos de uma sociedade fundamentalizada no patriarcado, cujos vestígios contemporâneos podem ser vistos no reducionismo e naturalização da mulher à esfera privada, ou seja, ao âmbito domestico, do lar. Desse modo, se torna relevante problematizar a condição de subalternidade ainda vivida por mulheres, principalmente no que se refere à relação dual de trabalho, tendo em vista que além de trabalhar na esfera privada que consiste em ser uma multiplicidade de afazeres [entenda-se como o lar], trabalha também na esfera pública [entenda-se como fora do lar].

De fato, o que se constata é uma maior presença do público feminino no tempo dedicado aos afazeres domésticos. Segundo notícia do Jornal Hoje45, o homem está mais presente no trabalho fora de casa, enquanto a mulher o supera dentro de casa:

De acordo com o IBGE, os homens realmente passam mais tempo trabalhando fora de casa, a jornada masculina, em média, é maior que a feminina em seis horas.No trabalho informal, essa diferença é ainda maior: nove horas.

Mas a pesquisa mostra que se contarmos a dupla jornada, as mulheres acabam trabalhando bem mais. Em 2011, elas gastavam em média, 27 horas semanais nos serviços de casa. Duas vezes e meia mais tempo do que os homens que dedicavam 11 horas para essas atividades.

Nessa seara de perspectiva, algumas observações e pensamentos sobre o tema foram feitos, como, por exemplo, o exposto pelo jornalista Fábio Giambiagi46, que opinou:

44

Disponível em: <http://www.cress-

mg.org.br/arquivos/simposio/A%20CONDI%C3%87%C3%83O%20FEMININA%20DUPLA%20JORNA DA%20DE%20TRABALHO.pdf > Acesso: 26 dez. 2013.

45

Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2012/11/ibge-divulga-analise-das- condicoes-de-vida-dos-brasileiros.html > Acesso em 26 dez. 2013.

46

Disponível em: <http://www.trela.com.br/arquivo/a-aposentadoria-das-mulheres> Acesso em: 22 dez. 2013.

A regra geral - e, por mais injusta que ela seja, é a realidade concreta do mundo em que vivemos - é que quase sempre é a mãe, e não o pai, a encarregada da maior parte das tarefas domésticas, o que faz que se fale tanto da denominada “dupla jornada de trabalho”. Trata-se de um problema que, por maiores que tenham sido a transformações sociais ligadas ao aumento da presença feminina no mercado de trabalho, nenhuma sociedade conseguiu ainda resolver a contento. Exatamente por essa razão, entendo - e digo isto na tríplice condição de homem, marido e pai - que há razões aceitáveis para que haja algum tipo de diferenciação por gênero na matéria aqui tratada.

Porém, o que se deve levar em consideração é que a Previdência Social, como um serviço público de retribuição das contribuições vertidas em forma de benefícios, no presente caso o benefício da aposentadoria, não pode seguir uma linha indicadora de diretrizes pautada em tradições sociais. Tem o objetivo primordial de resguardar o trabalhador quando este não mais pode produzir, dando conforto em seu período de inatividade. O período vivenciado fora do labor do obreiro não deve servir de parâmetro para conduzir o período contributivo, porque diz respeito à disposição familiar optada. A entrada no mercado de trabalho da mulher, tão batalhada, não pode perder o seu caminho de igualdade (como se vivenciou nas revogações legais dos dispositivos da CLT dedicado a sua proteção especial). Isso porque, uma vez encorajando as mulheres a contribuírem menos tempo ao Fundo, ocasionarão um ônus de tempo aos homens em se manterem e se consolidarem como trabalhadores interessantes aos olhos do mercado.

Além disso, a saúde feminina não pode ser entendida como abalada ao se cumprir a dupla jornada a ponto de ensejar menor tempo contributivo. Nesse diapasão, ao mesmo tempo que, em sua maioria, cumprem com os afazeres domésticos, também passam menor quantidade de tempo no trabalho externo à residência.

Independentemente das discussões que penetram no mérito de energia despendida em cada uma das duas atividades, o que se tem por certo consiste em sua maior expectativa de vida, o que abala esse argumento de início. Ademais, os níveis de degradação física, psicológica e biológica só devem ser mensurados enquanto no período trabalhado, como se observa acertadamente nas diferenças protetivas despendidas aos trabalhadores enquadrados nas atividades penosas,

insalubres e perigosas47. Estes possuem, a nosso ver, correto apoio pela aposentadoria especial, bem como os professores, por terem, ao longo de seu período laborativo, reconhecida degradação das cordas vocais e, por vezes, insalubridade.

Como já colocado, quando as políticas públicas são usadas para reduzir as desigualdades sociais, devem atacar o problema em sua raiz, o que não se figura presente no caso em tela.

Em síntese, o que deveria se procurar para solucionar o problema da dupla jornada feminina são políticas voltadas para uma reeducação na organização familiar, mais adequada para o dia-a-dia vivido das famílias modernas. Além disso, os investimentos públicos em cuidados às crianças podem ser uma boa ajuda. Orienta a socióloga Bila Sorj48, em notícia:

Uma divisão mais equitativa com os homens, com os companheiros, com os parceiros, né! De alguma maneira que eles participem mais das tarefas domésticas. A outra são as políticas públicas. É um investimento público, principalmente, na ampliação do acesso a creches e pré-escolas e das escolas a tempo integral.

Dessa forma, o problema da dupla jornada não deve ser argumento válido para se debruçar sobre essa forma desigual de contagem de tempo para a

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Nas carvoarias volantes, os trabalhadores moram ou ficam alojados próximos aos fornos, em instalações improvisadas, cobertas por lonas, dormem em catres e não dispõem de condições mínimas de higiene e saneamento básico. As exigências físicas decorrem das condições de trabalho e do esforço muscular despendido. Os deslocamentos são numerosos e exigem movimentos coordenados dos membros superiores e inferiores; posturas penosas, com torção e flexão do tronco; movimentos repetitivos e uso de força para o transporte manual da carga. É importante destacar que o esforço físico se dá em condições de desconforto térmico. O trabalhador leva 41 minutos e 24 segundos para completar a tarefa, transportando cerca 7.357kg. Muitos trabalhos científicos têm destacado que, em queimadas de biomassa, a combustão incompleta resulta na formação de substâncias potencialmente tóxicas, tais como monóxido de carbono, amônia e metano, entre outros, sendo que o material fino, contendo partículas menores ou iguais a 10 mm (PM10) (partículas inaláveis), é o poluente que apresenta maior toxicidade e que tem sido mais estudado. Ele é constituído em seu maior percentual (94%) por partículas finas e ultrafinas, ou seja, partículas que atingem as porções mais profundas do sistema respiratório, transpõem a barreira epitelial, atingem o interstício pulmonar e são responsáveis pelo desencadeamento de doenças graves. HESS, Sônia.

Riscos à Saúde do Trabalhador, na produção de carvão vegetal em carvoarias, no Brasil. Disponível

em: <http://www.riosvivos.org.br/arquivos/1357514940.pdf > Acesso em: 29 dez. 2013.

48

Disponível em: <http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2012/11/ibge-divulga-analise-das- condicoes-de-vida-dos-brasileiros.html > Acesso em 22 nov. 2013.

aposentadoria, uma vez que não retrata bem o cenário corrente em relação à proteção social do trabalho.