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3 REFRERENCIAL TEÓRICO

3.6 MODELO DO CTG

3.6.1 Primeiro caso manutenção rodovias em Edmonton

Em 2009, o governo da cidade de Edmonton (Canadá) assumiu o compromisso de utilizar a tecnologia para tornar as suas informações mais abertas, transparentes e acessíveis através do lançamento de um catálogo de dados abertos. Devido ao seu clima, a cidade tem pouco tempo para construir e preservar estradas. Dessa forma, essa atividade sempre foi uma preocupação para seus governos e população. Na época propícia para tais atividades, o governo liberava informações para a população sobre essas obras, visando oferecer melhores condições para que a sociedade pudesse planejar suas ações. Entretanto, comunicar eventuais mudanças nas obras era um processo lento e de difícil atualização (repasse para a sociedade sobre essas ocorrências).

A partir da situação acima, ficou claro para os governantes que liberar essas informações em formato aberto, usando os recursos das TICs, poderia trazer vantagens para os governos e para a sociedade. Entre as vantagens visualizadas, como uma maior

e mais ágil oferta de informação para a sociedade, esta poderia recorrer menos ao governo, através de telefonemas e outras formas de consultas sobre as obras (liberando internamente membros do governo para outras atividades). Outra vantagem seria que a sociedade poderia programar melhor seus deslocamentos com prévio e maior conhecimento sobre as obras e seus respectivos problemas ou estágios.

Ainda com relação às possíveis vantagens, a sociedade com melhores informações poderia melhorar a qualidade de suas decisões, aliando a isso um aumento na confiança no governo, aumentando a reputação desse, podendo facilitar a melhoria dos serviços prestados. Dessa maneira, foi desenvolvida uma plataforma que apresenta informações dos projetos de construções e manutenções em formato aberto.

Os meios de comunicação rapidamente divulgaram a proposta, com reportagens em jornais e outros veículos. Esse fato chamou atenção de um desenvolvedor (profissional que desenvolve software) local, que, a partir dessas informações, criou um aplicativo para dispositivos móveis (telefones e outros). Esse desenvolvedor adicionou a capacidade de mapas interativos, nos quais o usuário clicando em um ponto (marcado com uma obra) obtém mais informações sobre o projeto que está sendo desenvolvido (que obra está sendo desenvolvida).

Esse desenvolvedor informou que seu trabalho foi bastante facilitado pela qualidade dos dados e metadados disponibilizados originalmente pelo governo. Como resultado desses esforços e das novas ferramentas/aplicativos, o uso desses dados aumentou substancialmente. Esse fato reforça a importância da informação estar disponível e de forma adequada, oferecendo-se a oportunidade de melhorar sua usabilidade e utilidade.

O caso demonstra como os órgãos públicos devem pensar as capacidades de gerar valor com suas informações, a partir de seus interesses e interesses da sociedade. O caso ilustra como a agência pública pode responder aos novos meios de acesso à informação e uso e também se concentra sobre as capacidades da agência, ou seja, as práticas de gestão de dados, como selecionar os dados a serem disponibilizados, bem como sobre o papel de um desenvolvedor de aplicativo externo (membro da sociedade) e dos meios de comunicação.

3.6.2 Segundo caso – inspeções restaurantes Nova Iorque

Na cidade de Nova Iorque, até 1999, os resultados das inspeções (sobre condições de higiene) nos restaurantes estavam disponíveis para os consumidores em local físico no próprio restaurante. Nessa data, foi desenvolvido um aplicativo que disponibilizou esses dados também na Internet. Esse fato despertou tanta atenção do público que o servidor (equipamento com os dados disponíveis na Internet) com esses dados, pelo grande número de acesso, ficou indisponível (sobrecarregado) já no primeiro dia. Após esse fato (divulgação via Internet), os restaurantes passaram a exigir inspeções mais constantes, especialmente em casos negativos, pela maior exposição que a Internet possibilitava.

O governo tinha uma quantidade grande de informações à disposição, ou seja, resultados das inspeções de higiene nos restaurantes. Quando resolveu abrir essas informações para o público (via Internet), pode-se comprovar a mudança de comportamento dos atores nesse contexto. Embora as informações, obviamente, já existissem antes da Internet, com a utilização dessa uma nova dinâmica foi implementada.

Entretanto, para publicar essas informações, o governo teve que realizar alguns esforços, os quais variam conforme algumas particularidades, tais como legislação, tecnologias disponíveis, capacidades dos atores governamentais, trabalhos a serem realizados com a informação, entre outros. O governo esperava criar valor público ao tornar a informação disponível, esperava criar valor ao informar o público sobre a sua segurança e saúde quanto a comer em um restaurante, garantindo requisitos básicos de higiene em cada estabelecimento.

Durante o ano de 2009, uma nova rodada de esforços foi necessária para disponibilizar essa informação em formato aberto, ou seja, para ser processada e legível por máquina; dessa forma, apta a ser usada em diferentes aplicações. O objetivo maior, nessa ocasião, era possibilitar a utilização das informações em dispositivos móveis. Novamente esses esforços foram afetados pelas mesmas particularidades citadas no parágrafo anterior. Pode-se supor que, em 2009, a maior aptidão da sociedade (em relação a 1999) para

acessar e trabalhar com novos recursos tecnológicos pode ter impulsionado esse processo e exigido maiores esforços.

Esse processo (realizado em 2009), que disponibilizou informações em formato aberto, proporcionou novos desdobramentos ao contexto, basicamente pelos seguintes motivos desenvolvedores ofertaram aplicativos que possibilitaram uma maior interação entre a sociedade e esses sistemas, especialmente pelo uso das redes sociais; esse processo resultou em um intenso feedback entre sociedade, restaurantes e associação dos restaurantes, que passaram a exigir mais velocidade do governo nas inspeções, retroalimentando todo o sistema. Dessa forma, todos os atores foram pressionados.

Interessante ressaltar que, de forma paralela a esses esforços, para abrir essas informações, o Departamento de Inspeção alterou o sistema de classificação dos restaurantes, que passaram a receber as letras A, B ou C, como “notas”, e uma nova exigência de colocar essas notas na frente do restaurante (fixado em portas e janelas). Esse fato também impactou fortemente o contexto, gerando reclamações dos restaurantes e de sua associação de classe. Todos estes fatos tornaram intensas as relações e a troca de informações nesse contexto.

Esses processos de feedback exigem esforços maiores e mais qualificados de todos os atores desse processo. No caso dos restaurantes, uma maior pressão pública, de parte dos consumidores, por mais acesso às informações, exigiu mudança de postura nos restaurantes, que passaram a demandar maior qualidade e agilidade nos processos de inspeções. Esses processos, além de mais ágeis, tiveram que trabalhar com informações mais contextualizadas que fizessem mais sentido (que fossem úteis) tanto para os restaurantes como para os clientes, exigindo mudanças internas em processos dos governos.

Os processos de feedback criaram novas possibilidades para melhorar a validade das informações, tanto no tipo de informação a ser apresentada quanto com relação ao seu formato, pelos esforços realizados visando melhor contextualizar a informação. Esses esforços se refletiram desde a etapa de captura (quando da realização da inspeção) até a etapa de disponibilização e utilização da informação pela sociedade, em seus mais diferentes momentos e interesses.

3.6.3 Descrição do modelo contexto, dinâmica e recursos.

A partir dos casos relatados nos tópicos 3.6.1 e 3.6.2, percebe-se que nos últimos anos ocorreram (e estão ocorrendo) grandes mudanças no acesso às informações governamentais. Primeiramente com o advento da Internet e, de forma mais recente, com a maior abertura das informações. Pode-se imaginar que também houve uma mudança na “aptidão” para usar essas informações com os novos recursos tecnológicos. Esses fatores exigem mais esforços políticos, técnicos, legislativos, entre outros.

Quando se aborda o tema abertura de informações, as maiores atenções se concentram nos esforços técnicos. Esse fato desconsidera os demais aspectos, também importantes, que entre outros fatores fornecem qualidade de contexto para a informação. Esse procedimento fatalmente limita o potencial de valor que poderia ser criado por essas iniciativas. Ao abrir as informações, para que essas sejam legíveis por máquinas, novas dificuldades começam a ser percebidas, tais como fornecer junto à informação metadados com qualidade suficiente para que essas informações se tornem úteis.

Nos casos citados se formou um sistema dinâmico quando dos processos de abertura dos dados. Esse fato remete à constatação de que existe uma dinâmica de atividades que permite a identificação dos fatores potencialmente importantes, tais como o contexto da informação e das políticas governamentais que podem influenciar o processo de abertura. O envolvimento das partes interessadas é determinante para melhorar as possibilidades de criação de valor público por meio desse processo de abertura.

Os autores do modelo definem políticas públicas de informação como o conjunto de interessados, fontes de dados, fluxos de informação e relações de governança envolvidas no fornecimento e uso de fontes de dados do governo e não governamentais. Os dados não governamentais devem ser considerados, pois a sociedade pode agregar dados aos sistemas advindos de processos de abertura de dados governamentais. A seguir, descreve-se o modelo proposto para um processo de abertura de informações.

Existem os profissionais do governo que trabalham para abrir os dados. São parte de um grupo de interessados que podem influenciar a forma como os dados são adquiridos, acessados e utilizados. Estes podem influenciar os acontecimentos em uma política de informação. A presença deles representa um entendimento de que a abertura de dados envolve diretamente a gestão interna de sistemas de tecnologia e informação do governo, bem como as partes externas interessadas, que são os produtores e/ou consumidores de dados. Os interessados externos representam outras fontes de influência, vinculadas ao contexto institucional. Iniciativas de dados abertos podem perturbar o papel tradicional do governo como 'titular' ou „proprietário' dos dados. É preciso repensar o papel do governo em relação a todo o conjunto dos interessados.

Contexto e Dinâmica

O contexto refere-se aos atores e seus interesses dentro dos governos na definição da política pública de disponibilização e acesso aos dados, ou seja, como estes são adquiridos, compreendidos e utilizados para o governo e a sociedade. Também fazem parte do contexto os atores externos aos governos (sociedade).

A dinâmica são as atividades desenvolvidas que produzem e percebem o impacto da criação de valor pelo uso da informação. Reflete mudanças ao longo do tempo a partir de novas tecnologias, interesses, atores, problemas e padrões de interação, resultando em novas práticas, políticas e formas de expressar o valor gerado. Para os autores do modelo, os usuários, ou atores, podem ser divididos em dois grupos, primários e secundários, conforme os papéis que desempenham.

Componentes primários de uma política de informações: ambiente informacional, fonte de dados primários, recursos de dados primários, provedores de dados primários e usuários primários.

Ambiente informacional: múltiplos contextos de onde os dados são extraídos, trabalhados e posteriormente disponibilizados.

Fontes primárias de dados: são os funcionários (ou servidores) públicos que interagem com o ambiente informacional e trabalham com os dados originais. Eles realizam essa

atividade como parte dos programas de governo, processos ou para o desenvolvimento de relatórios. Esses dados são inseridos nos sistemas de informação dos governos.

Recursos de dados primários: são as ferramentas ou interfaces desenvolvidas para viabilizar as atividades das fontes primárias de dados. Inclui softwares, redes, plataformas e arranjos organizacionais necessários.

Provedores de dados primários: são as agências governamentais com autoridade e responsabilidade para criar e manter as fontes de dados primários e recursos de dados primários. São os agentes dos governos que devem criar as políticas necessárias para manter essas atividades.

Usuários primários: são as pessoas ou grupos (dentro ou fora do governo) para os quais foram criadas as políticas pelos provedores de dados primários.

Componentes secundários de uma política de informações: usuários secundários, fontes de dados secundários, recursos de dados secundários e provedores de dados secundários.

Usuários secundários: são as pessoas ou grupos que querem utilizar os mesmos dados dos usuários primários, mas com finalidades diferentes desses usuários.

Fontes de dados secundários: dados que vêm de fontes externas ao governo. Podem ser comentários de mídia social, dados de sensores ou outros tipos de informações.

Recursos de dados secundários: são as ferramentas ou interfaces desenvolvidas para viabilizar as atividades das fontes de dados secundários. Incluem softwares, redes, plataformas e arranjos organizacionais necessários; como exemplo, a criação de aplicativos para dispositivos móveis.

Provedores de dados secundários: são as pessoas ou grupos que adquirem os dados do governo ou de fontes de dados secundários e redistribuem esses dados de forma modificada, de modo que possa criar benefícios ou impactos adicionais.

Os autores justificam o modelo pela dinâmica necessária em projetos de abertura de dados. Os maiores desafios na implementação de iniciativas de dados governamentais abertos surgem devido às múltiplas interações entre os atores, fluxos das informações, tecnologias e interesses. Ao definir o problema da abertura de dados governamentais de forma dinâmica, é dada ênfase à forma como os processos e as relações mudam com o tempo.

Os dois casos demonstraram claramente como o desenvolvimento tecnológico rápido e imprevisível e as inconstantes relações nos ambientes sociais e organizacionais mudam com o tempo. Para acompanhar e responder a essas mudanças é necessário prover

feedback, que tende a equilibrar o sistema, visando proporcionar criação de valor para

os interessados.

Pertinência deste tópico – modelo do CTG - para o trabalho A utilização deste tópico é justificada pelos seguintes fatores:

a) relatar casos nos quais a abertura de informações por parte dos governos possibilitou novas interações entre governos e sociedade e reais benefícios; e b) demonstrar um modelo de atores e atividades proposto para iniciativas de