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3 REFRERENCIAL TEÓRICO

3.3 TEORIA DAS REDES INTERORGANIZACIONAIS

Conforme citado durante abordagem da cadeia de valor duas ou mais organizações podem interagir para entregarem seus produtos ou serviços para o mercado. Para diversos autores, entre os quais Castells (2003) e Tapscott e Willians (2006), quando isso acontece são formadas redes. A formação de redes é essencial para que uma organização consiga se integrar às novas exigências competitivas, numa economia marcada pela importância da tecnologia, informação e conhecimento. Conforme Dawes (2005), entender os conceitos e desafios das redes é importante para a compreensão das organizações públicas e para o desempenho e perspectivas do uso das tecnologias pelos governos.

Um projeto de DGA pode ser estabelecido por um governo, ou até mesmo por organizações da sociedade. Em ambos os casos, pode envolver diversos órgãos/níveis/segmentos de um mesmo governo ou de diversos governos, além de diversas organizações da sociedade. Um exemplo dessa interação é o portal de dados do governo federal brasileiro, que disponibiliza dados de outros governos (estaduais, municipais e outros órgãos). Dessa forma, é estabelecida interação entre diversos governos, o que pode abranger diversos segmentos da sociedade.

Realizar análise das relações entre organizações é uma tarefa complexa, especialmente em ambientes de relações heterogêneas (exemplo: que envolvam organizações públicas e privadas). A complexidade torna-se ainda maior quando cada organização participante, tem interesses e vínculos diversos e pode participar simultaneamente de diversas redes. Essa é uma das características de relacionamentos interorganizacionais que devem ser dinâmicos, pois mudam com o tempo e tem como principal objetivo promover a interação entre as organizações.

Para Fountain (2001), Balestrin e Vargas (2002), o interesse pelo estudo das relações interorganizacionais pode ser justificado por diversos fatores, tais como: novas formas de organizações e o impacto causado pela adoção das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC), que viabiliza maior interação entre as organizações. Segundo esses autores, as novas TICs tornam ainda mais complexo o relacionamento entre as organizações e o gerenciamento das redes que podem ser formadas a partir dessas novas tecnologias. Um conceito que caracteriza as relações interorganizacionais é encontrado em Oliver (1990), quando afirma que relações interorganizacionais são transações relativamente constantes, fluxos e ligações que ocorrem entre e no meio de uma ou mais organizações em seus respectivos ambientes.

Para Marcon e Moinet (2001), a institucionalização de uma rede depende da combinação e ocorrência de três elementos fundamentais para que essas possam, de fato, acontecer no mundo real das organizações. Pelas características de dados governamentais abertos, expostas em tópicos anteriores deste trabalho, entende-se que estes (DGA) possuem as características citadas pelos autores como necessárias para configurar uma rede de organizações. Estas características são:

 recursos disponíveis ou objetos para a troca (informações, conhecimentos e insumos), que constituem a base da rede;

 infraestrutura informacional e procedural que designa o conjunto de regras de funcionamento e ética que devem ser observados entre usuários da rede; e

 infraestrutura física e tecnológica que compõe os meios práticos de ação, tais como orçamento, local, material, comunicação, conexão e equipamentos tecnológicos, entre outros.

As organizações podem ter vantagens ao participarem de redes. Observando as vantagens – quadro 10 - pode-se perceber que em redes de DGA todas essas podem estar presentes. Essa afirmação é realizada conforme a abordagem realizada sobre o tema no capítulo dois. DGA pressupõem compartilhamento de informações e conhecimento, capacidade de produtos ou serviços inovativos. As organizações podem fazer uso das vantagens de fluidez, possibilidades de economia, aprendizagem e também buscarem legitimação e status através de sua atuação.

Quadro 10 – Vantagens das organizações ao participarem de redes.

Vantagens Descrição – Características

Fluidez Capacidade de flexibilidade e adaptabilidade das redes interorganizacionais. Essas redes se adaptam melhor às novas dimensões/exigências do ambiente. Finalidade Expressa a razão de ser (finalidade) das dimensões política, cientifica, econômica,

cultural e social. Significa os objetos que são/serão comercializados na rede. Possibilidade de

economias Participar de uma rede pode reduzir a dispersão de esforços e permitir um ganho de produtividade e eficiência. Aprendizagem As condições de aprendizagem no contexto das redes são potencializadas pela

capacidade e experiência dos demais participantes da rede.

Legitimação e Status Quando existe na rede um parceiro que possui um status considerado maior que os demais, outros participantes podem ter benefícios ao estarem vinculados a esse participante. Esses benefícios podem ser econômicos, de crescimento organizacional, entre outros.

Fonte: Adaptado de Marcon e Moinet (2001) e Podolny e Page (1998).

Segundo Miles e Snow (1992), as formas de coordenação podem influenciar as tipologias das redes. Essas formas de coordenação podem aparecer das seguintes maneiras:

 rede estável, quando a coordenação é especializada, central e com desenvolvimento de atividades em integração vertical;

 rede dinâmica, quando a coordenação é desempenhada de forma central, mas as alianças são temporárias e a integração é horizontal; e

 rede interna, quando as organizações participantes da rede fazem parte de uma organização maior e compartilham recursos, visando maximizar o desenvolvimento de suas atividades.

Com relação aos arranjos e formas de coordenação, Grandori e Soda (1995) propõem uma classificação da rede, conforme os parâmetros de formalização e mecanismos de coordenação, que são os seguintes tipos de redes:

 sociais, redes informais, sendo o principal objetivo a troca de bens sociais (prestígio, amizade e outros). Esse tipo de rede se manifesta especialmente nas relações pessoais ou para compartilhamento de informações visando benefícios econômicos;  burocráticas, redes formalizadas, embora o grau de formalização possa ser variável, pode englobar redes sociais; podem ter coordenação centralizada ou descentralizada; e

 proprietárias, são as formalizadas e têm no uso da propriedade de direitos o incentivo à cooperação; quanto à coordenação, também podem ser centralizadas ou descentralizadas.

É importante analisar as formas de coordenação e arranjos dos relacionamentos. Entretanto, não menos importante é identificar que fatores sustentam as relações que se estabelecem em redes interorganizacionais. Nesse sentido, basicamente duas grandes vertentes (aspectos) são apontados como capazes de sustentarem essas relações. São os aspectos motivadores e os aspectos facilitadores.

Aspectos Motivacionais e/ou motivadores

Oliver (1990) aborda algumas contingências que podem determinar e sustentar os relacionamentos e cita como aspectos motivacionais a necessidade, assimetria, reciprocidade, eficiência, estabilidade e legitimação, descritas abaixo.

Necessidade: ocorre porque as organizações têm necessidade de interagir com as demais, sejam por razões comerciais, legais ou de outras fontes. Cita-se como exemplo

que uma organização pode aliar-se a outra para atuar, devido à primeira não deter alguma certificação exigida através de legislação.

Assimetria ou poder sobre as demais: uma organização pode exercer poder sobre as demais, especialmente quando outras dependem dessa organização. Esse poder é exercido através de capacidades competitivas ou propriedades de recursos.

Reciprocidade: de forma diferente ao aspecto anterior, a reciprocidade está relacionada com a cooperação e colaboração entre as organizações como forma de alcançarem objetivos comuns.

Eficiência: ocorre quando duas ou mais organizações cooperam em busca de mais eficiência, que pode ser alcançada por diversas formas, tais como: redução de custos, aumento de produtividade, entre outras fontes. Para o autor, um exemplo típico desse relacionamento são os casos de terceirização.

Estabilidade: em ambientes de constante incerteza, as organizações podem buscar maior participação em redes como forma de buscar e manter maior estabilidade e previsibilidade.

Legitimação: organizações também podem formar redes buscando legitimar sua atuação através de seus parceiros, ou seja, pela reputação desses. Outra forma de legitimar sua participação no mercado é por meio da utilização de normas e procedimentos aceitos como suporte ou condutores de processos eficientes.

Aspectos Facilitadores

Cox (2004), Williamson (2005), Parkhe (1998) e Grandori (1997) abordam algumas contingências que podem determinar e sustentar os relacionamentos e citam como aspectos facilitadores o poder, a governança, a confiança, a reputação, a troca de informações e os ativos específicos, que estão descritos abaixo.

Poder: sempre que uma organização participa de uma rede ou relacionamento deve estar consciente de seu efetivo posicionamento nessa rede. O poder da organização pode ser

mensurado por alguns fatores, tais como sua independência com relação aos fornecedores, seu posicionamento estratégico, entre outros fatores.

Governança: através desse conceito as organizações participantes buscam resolver eventuais conflitos que possam surgir, especialmente em ambientes complexos.

Confiança: é um termo que reflete uma convicção de que a outra parte não explorará suas vulnerabilidades e não usará de oportunismo. A confiança é necessária quando o risco, a vulnerabilidade do negócio, é maior que os ganhos econômicos advindos do relacionamento. A confiança está diretamente relacionada às expectativas com relação às ações dos parceiros.

Reputação: está relacionada, indiretamente, com a confiança, pois uma das formas de estabelecermos confiança é através da reputação entre os parceiros. Reputação é estabelecida através de uma série de comportamentos passados; quanto mais bem sucedidas as atitudes, melhor a reputação.

Troca de Informações: esse é um fator fundamental para duas ou mais organizações estabelecerem um relacionamento. Uma eficiente troca de informações facilita outros aspectos, como a confiança e a governança. Esse processo ocorrendo de forma eficiente também proporciona melhor utilização de recursos.

Ativos Específicos: em uma relação denominam-se de ativos específicos os investimentos realizados pelos parceiros para a concretização dessa relação. Esses investimentos podem ser em tecnologia, processos, recursos humanos e outros. Quanto mais um parceiro realiza investimentos em uma relação, mais ele incentiva os demais parceiros, facilitando o desenvolvimento dessa relação.

Entende-se pertinente a utilização das redes interorganizacionais neste trabalho pela sua importância na nova economia no processo de criação de valor. Porter (1996) reconhece que a vantagem competitiva está em conectar, e não simplesmente colecionar atividades que sustentem valor. Para Nohria (1997), estudar as redes permite compreender as relações entre os atores, às diferenças que se estabelecem entre as organizações, os comportamentos e as decisões dos atores.

Diversas são as análises e abordagens possíveis acerca de redes interorganizacionais. Neste trabalho serão utilizadas abordagens com relação aos fatores facilitadores e motivadores, que podem contribuir (apoiar) com esses relacionamentos. Esses fatores estão descritos, de forma resumida, nos quadros 11 e 12.

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Quadro 11 – Fatores motivacionais - redes interorganizacionais.

Fator Descrição – Características

Necessidade Quando as organizações têm necessidade em interagir com as demais, sejam por razões comerciais, legais ou de outras fontes.

Assimetria Ocorre quando uma organização exerce poder sobre as demais, especialmente quando outras dependem dessa organização. Esse poder é exercido através de capacidades competitivas ou propriedades de recursos.

Reciprocidade Está relacionada com a cooperação e colaboração entre as organizações, como forma de alcançarem objetivos comuns.

Eficiência Quando duas ou mais organizações cooperam em busca de mais eficiência. Estabilidade Em ambientes de constante incerteza as organizações podem buscar maior

participação em redes como forma de buscar e manter maior estabilidade.

Legitimação Quando uma organização busca legitimar sua atuação através de seus parceiros, ou seja, pela reputação deles. Outra forma de legitimar sua participação no mercado é através da utilização de normas e procedimentos aceitos como suporte e condutores de processos eficientes.

Fonte: Adaptado de Oliver (1990).

Quadro 12 – Fatores facilitadores - redes interorganizacionais.

Fator Descrição – Características

Poder Quando uma organização participa de uma rede ou relacionamento, deve estar consciente de seu efetivo posicionamento nessa rede. O poder da organização pode ser mensurado por alguns fatores, tais como sua independência em relação a seus fornecedores e seu posicionamento estratégico na rede.

Governança As organizações participantes buscam resolver eventuais conflitos que possam surgir, especialmente em ambientes complexos.

Confiança A confiança é necessária quando o risco, a vulnerabilidade do negócio, é maior que os ganhos econômicos advindos do relacionamento. A confiança está diretamente relacionada às expectativas com relação às ações dos parceiros. Reputação Reputação é estabelecida mediante uma série de comportamentos passados.

Quanto mais bem sucedidas as atitudes, melhor a reputação e até mesmo pela procura de determinados parceiros.

Troca de informações Fator fundamental para duas ou mais organizações estabelecerem um relacionamento. Uma eficiente troca de informações facilita outros aspectos, como a confiança e a governança. Esse processo ocorrendo de forma eficiente também proporciona melhor utilização de recursos e acesso a mercados e demais parceiros.

Ativos específicos São os investimentos realizados pelos parceiros para a concretização da mesma. Esses investimentos podem ser em tecnologia, processos, recursos humanos e outros. Quanto mais um parceiro realiza investimentos em uma relação, mais ele incentiva os demais parceiros, facilitando o desenvolvimento da relação.

Pertinência deste tópico – redes interorganizacionais - para o trabalho A utilização deste tópico é justificada pelos seguintes fatores:

a) aborda a importância de analisarmos as relações entre as organizações sobre o enfoque das redes interorganizacionais;

b) projetos de DGA apresentam diversas características aderentes às redes interorganizacionais;

c) oferece elementos para a análise destas relações; e

d) seus elementos (aspectos facilitadores e motivadores) ofereceram suporte para as análises da primeira etapa do trabalho.