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Primeiro Momento: Decisões em Favor do Contribuinte

1 POSICIONAMENTO METODOLÓGICO: METODOLOGIA

4.3 Primeiro Momento: Decisões em Favor do Contribuinte

A substituição tributária criada pela Lei nº 8.540/1992 trouxe os frigoríficos para o centro da discussão, pois essas empresas se insurgiram contra a cobrança, especial por considerá-la inconstitucional.

Isso se deu porque o produtor rural que não exerce suas atividades em regime de economia familiar, justamente por ser empregador, possui folha de pagamento. Sendo assim, este sujeito podia contribuir – e efetivamente assim o fazia – com base no art. 195, inciso I, da CF, ou seja, no percentual de 20% sobre a folha de pagamento;

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BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: de 5 de outubro de

1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/

Portanto, se este sujeito possuía folha de pagamentos, não se justificaria o tratamento diferenciado a fim de contribuir sobre o resultado da produção (hipótese de incidência prevista no §8º do art. 195 da CF exclusivamente para o produtor rural pessoa física sem empregados);

É nesse aspecto que se argumentou a ocorrência de bis in idem, posto que este contribuinte sofria exação sobre a folha (art. 195, inciso I da CF/88 cc Art. 22 da Lei de Custeio no percentual de 20%) e ao mesmo tempo foi obrigado a contribuir sobre o resultado da venda (art. 195,§8º da CF/88 cc art. 25 da Lei de Custeio após a nova redação de 1992).

Nas demandas em que foi discutida essa questão, a Fazenda Nacional se defendia dizendo que ao empregador rural pessoa física a tributação sobre a receita proveniente da venda (art. 25 da Lei de Custeio após a reforma de 1992) não encontrava sua hipótese de incidência no art. 195 §8ª, mas sim no art. 195, inciso I, na expressão “faturamento”, defendendo que receita bruta e faturamento seria a mesma coisa.

Acontece que a jurisprudência do STF já era pacífica nesta época no sentido de que receita bruta e faturamento não são o mesmo conceito, razão pela qual no RE 363.852 MG ficou decidido que a hipótese de incidência do art. 25 da Lei de Custeio com a redação de 1992 não tinha previsão no art. 195 inciso I e nem no art. 195 §8º.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO - PRESSUPOSTO ESPECÍFICO - VIOLÊNCIA À CONSTITUIÇÃO - ANÁLISE - CONCLUSÃO. Porque o Supremo, na análise da violência à Constituição, adota entendimento quanto à matéria de fundo do extraordinário, a conclusão a que chega deságua, conforme sempre sustentou a melhor doutrina - José Carlos Barbosa Moreira -, em provimento ou desprovimento do recurso, sendo impróprias as nomenclaturas conhecimento e não conhecimento. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL - COMERCIALIZAÇÃO DE BOVINOS - PRODUTORES RURAIS PESSOAS NATURAIS - SUB-ROGAÇÃO - LEI Nº 8.212/91 - ARTIGO 195, INCISO I, DA CARTA FEDERAL - PERÍODO ANTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20/98 - UNICIDADE DE INCIDÊNCIA - EXCEÇÕES - COFINS E CONTRIBUIÇÃO

SOCIAL - PRECEDENTE - INEXISTÊNCIA DE LEI

COMPLEMENTAR. Ante o texto constitucional, não subsiste a obrigação tributária sub-rogada do adquirente, presente a venda de bovinos por produtores rurais, pessoas naturais, prevista nos artigos 12, incisos V e VII, 25, incisos I e II, e 30, inciso IV, da Lei nº

8.212/91, com as redações decorrentes das Leis nº 8.540/92 e nº 9.528/97. Aplicação de leis no tempo - considerações.99

Portanto, era uma nova hipótese de incidência, acontece que uma nova hipótese tinha que observar o comando do art. 195 §4º, que exigia criação por lei complementar, como sua instituição se deu por lei ordinária declarou-se a inconstitucionalidade formal. No mesmo julgamento o STF entendeu que havia bis in idem e violação da isonomia, portanto, inconstitucionalidade material.

O RE 363.852 MG não tinha repercussão geral. Esse efeito só veio a surgir com um RE 596.177 julgado em 2011, que simplesmente repetiu a integralidade do RE 363.852 MG. Frise-se: o RE 363.852 MG se debruçou sobre a inconstitucionalidade formal e material, mas o RE de 2011 só questionava a inconstitucionalidade formal.

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL PREVIDENCIÁRIA. EMPREGADOR RURAL PESSOA FÍSICA. INCIDÊNCIA SOBRE A COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO. ART. 25 DA LEI 8.212/1991, NA REDAÇÃO DADA PELO ART. 1º DA LEI 8.540/1992. INCONSTITUCIONALIDADE. I – Ofensa ao art. 150, II, da CF em virtude da exigência de dupla contribuição caso o produtor rural seja empregador. II – Necessidade de lei complementar para a instituição de nova fonte de custeio para a seguridade social. III – RE conhecido e provido para reconhecer a inconstitucionalidade do art. 1º da Lei 8.540/1992, aplicando-se aos casos semelhantes o disposto no art. 543-B do CPC.100 (sem

destaque no original)

A ementa do RE de 2011 acabou sendo publicada citando tanto a inconstitucionalidade formal (item II) como a material (item I, destacado acima), por isso a Fazenda Nacional opôs Embargos de Declaração, que foram providos no sentido de pronunciar apenas a inconstitucionalidade formal.

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário - Pressuposto Específico - Violência à Constituição - Análise - Conclusão. nº RE 363852. Relator: Ministro Marco Aurélio. Dje. Brasília,

DF, 02 de fevereiro de 2010. v. 13, n. 74, p. 41-69. Disponível em:

<http://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/>. Acesso em: 15 jun. 2018.

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Constitucional. Tributário. Contribuição Social Previdenciária. Empregador Rural Pessoa Física. Incidência Sobre a Comercialização da Produção. Art. 25 da Lei 8.212/1991, na Redação Dada Pelo Art. 1º da Lei 8.540/1992. Inconstitucionalidade. nº RE 596177. Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI. Brasília, DF, 01 de agosto de 2011. Dje.

Brasília, 29 ago. 2011. v. 101, n. 916, p. 653-662. Disponível em:

Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO

EXTRAORDINÁRIO. FUNDAMENTO NÃO ADMITIDO NO

DESLINDE DA CAUSA DEVE SER EXCLUÍDO DA EMENTA DO ACÓRDÃO. IMPOSSIBILIDADE DA ANÁLISE DE MATÉRIA QUE

NÃO FOI ADEQUADAMENTE ALEGADA NO RECURSO

EXTRAORDINÁRIO NEM TEVE SUA REPERCUSSÃO GERAL

RECONHECIDA. INEXISTÊNCIA DE OBSCURIDADE,

CONTRADIÇÃO OU OMISSÃO EM DECISÃO QUE CITA EXPRESSAMENTE O DISPOSITIVO LEGAL CONSIDERADO INCONSTITUCIONAL. I – Por não ter servido de fundamento para a conclusão do acórdão embargado, exclui-se da ementa a seguinte assertiva: “Ofensa ao art. 150, II, da CF em virtude da exigência de dupla contribuição caso o produtor rural seja empregador”(fl. 260). II – A constitucionalidade da tributação com base na Lei 10.256/2001 não foi analisada nem teve repercussão geral reconhecida. III – Inexiste obscuridade, contradição ou omissão em decisão que indica expressamente os dispositivos considerados inconstitucionais. IV – Embargos parcialmente acolhidos, sem alteração do resultado.101 (sem destaque no original)

Assim, no resultado do julgamento, somente a inconstitucionalidade formal teve repercussão geral.