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4 SEGURANÇA JURÍDICA E LEGALIDADE TRIBUTÁRIA

4.1 Princípio da segurança jurídica

A Constituição, com seus princípios, mantém o Estado de Direito.

Tudo que diz respeito ao poder de tributar está posto na Carta Magna, a qual traça a rígida delimitação das competências, com os princípios que o legislador deve observar, impedindo abusos e arbitrariedade por parte do Estado, conferindo direitos fundamentais ao contribuinte.

A Constituição assegura a propriedade privada como um princípio geral, uma garantia inerente ao estado de direito. Por isso, conclui Roque Antonio Carrazza46 que a ação de tributar é uma exceção ao princípio constitucional que protege a propriedade privada. Em vista disso e considerando que o tributo é exigido em decorrência da lei, independente da vontade do contribuinte, fundando- se no poder de império do Estado, é que a Constituição disciplinou tão rigorosamente o ato de tributar.

Com essa rigidez, confere-se segurança jurídica. E, para que essa segurança jurídica seja efetivamente observada, o constituinte fez questão de relacionar vários outros princípios, cuja função é, primordialmente, assegurar esse sobreprincípio. A proibição de utilizar tributo com efeito de confisco é um claro exemplo disso, pois impede que a tributação, por via indireta, acabe violando o direito de propriedade, ultrapassando os limites que foram postos.

A legalidade é outro princípio que existe para conferir segurança jurídica aos contribuintes. A Administração só pode agir nos limites do que a lei autorizou: tudo o que não estiver admitido em lei, para a administração fazer, está proibido.

O princípio da segurança jurídica ajuda a promover os valores supremos da sociedade. Trata-se de um princípio (ou sobreprincípio) implícito, mas que o

46 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 26. ed. São

ordenamento jurídico sempre milita no sentido de fazê-lo valer. Tal princípio inspira a edição e a boa aplicação das leis, dos decretos, das portarias, das sentenças, dos atos administrativos etc.

Para que haja segurança, são indispensáveis, portanto, os princípios da certeza e da igualdade. Uma das funções mais importantes do Direito é conferir certezas para as incertezas das relações sociais, retirando do campo de atuação do Estado e dos particulares qualquer resquício de arbítrio. O Direito vem a ser a imputação de efeitos a determinados atos, de modo que qualquer dos destinatários tenha elementos suficientes para conhecer antecipadamente as consequências provenientes dos seus atos.

Ainda, para que haja certeza, necessária a preservação do direito adquirido, da coisa julgada e do ato jurídico perfeito, conferindo aos cidadãos a denominada “garantia do passado”, alcançando a irretroatividade do direito.

Conclui-se, assim, que a segurança jurídica se equivale à confiança que as pessoas devem ter no direito. Portanto, os princípios da segurança jurídica e da proteção à confiança afiguram-se como elementos constitutivos do Estado de Direito.

Desse modo, o princípio da segurança jurídica submete o exercício da competência tributária às próprias determinações do ordenamento, permitindo que as pessoas conheçam previamente as possíveis consequências jurídicas relativas aos fatos a que derem causa.

O princípio da segurança jurídica é princípio-mor da Constituição da República. Todos os demais princípios se convergem a ele. Em se ferindo qualquer dos princípios constitucionais, estar-se-á ferindo o princípio da segurança jurídica.

4.1.1 O princípio da segurança jurídica e o direito tributário

Com relação ao direito tributário, vige o princípio da estrita legalidade, segundo o qual o legislador deve traçar uma ação-tipo (abstrata) descritora do fato

que, ocorrido no mundo fenomênico, acarretará no nascimento do tributo (art. 105, I, da Constituição).

A lei que cria o tributo deve descrever todos os elementos essenciais da norma jurídica tributária, em obediência ao princípio da tipicidade tributária. Assim, estando ausente um dos critérios da regra-matriz de incidência, não há que se falar em tributo.

Tácio Lacerda Gama47, ao lecionar sobre a competência tributária e os princípios, assevera que princípio é

[…] enunciado normativo que integra a estrutura de uma norma de competência, compondo-lhe o sentido, seja no antecedente, seja no consequente, veiculando valores ou limites objetivos, ampliando ou restringindo os seus âmbitos de validade.

Dessa forma, o princípio da tipicidade tributária não pode vir a ser considerado mais relevante que o da legalidade tributária. Ambos se relacionam e se coimplicam.

A segurança jurídica com seu objetivo de proteção à confiança leva ao princípio da tipicidade fechada, em matéria tributária, proibindo o livre arbítrio fazendário, bem como o emprego de analogia para fins de exigência tributária.

A segurança jurídica leva ao exclusivismo, sendo proibidas normas extensivas, indeterminadas ou, como Nuno de Sá Gomes48 denomina, normas elásticas ou de borracha.

A segurança jurídica exige que a lei tributária seja estritamente interpretada, não sendo passíveis de interpretação extensiva ou analógica, protegendo os contribuintes do arbítrio e do abuso de poder fazendário.

Desse modo, o princípio da segurança jurídica impede que o aplicador e o intérprete acabem indo além do conteúdo propriamente dito das leis tributárias.

47 GAMA, Tácio Lacerda. Contribuição de intervenção no domínio econômico. São Paulo:

Quartier Latin, 2003, p. 142.

48 GOMES, Nuno. Estudos Sobre a Segurança Jurídica na Tributação e as Garantias dos