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8.3 ECOTURISMO NO BRASIL

9.1.12 Princípio do desenvolvimento sustentável

Este princípio redunda num dos mais importantes para tutela jurisdicional ambiental, guardando extrema identidade decorrente do artigo 225 da CF/88, que em decorrência do que se extrai de uma de suas partes, aduz que o Poder Público em razão do meio ambiente deve “[...] preservá-lo para as presentes e futuras gerações [...]”.

Neste diapasão, procurou o legislador constituinte evidenciar mais este princípio norteador da política ambiental brasileira, que é o do desenvolvimento sustentado, importando dizer sucintamente, que a idéia nos remete à possibilidade de alcançarmos o desenvolvimento de forma harmônica com a proteção ambiental, por serem ambos direitos que se complementam em prol de todos.

Já vimos que o Estado possuía a necessidade de se reorganizar, motivo que o levou a valer-se dos ditames da justiça social e simultaneamente de se desfazer do ultrapassado liberalismo (laissez-faire, laissez-passer), que se tornou inoperante ante o fenômeno denominado de revolução das massas, indo, contudo, além, pois o mesmo contribuiu para o deslinde de uma situação que caminhava para um anarquismo econômico.

A nova realidade encontrada face à transformação social, política, econômica e tecnológica experimentada pelo mundo desde o início do século XIX, levou à necessidade de se implementar um modelo Estatal intervencionista que deveria possuir apenas a finalidade de reequilibrar o mercado econômico, pois esse era o modelo que se mostrava mais adequado e efetivo, e assim, justo, tendo em vista que resulta numa sociedade eminentemente pluralista, no exato sentido que prescinde do seu conceito individualista.

Destacamos que se tratava de mudanças estruturais na sociedade. Tínhamos uma sociedade de modelo liberal que focava unidimensionalmente o indivíduo, revestido de conotação privada, apolítica e contraposta ao Estado monopolizador do político, que foi sucedida por uma “sociedade pluralista”, cujo cerne, a partir de então, seria, ao invés do indivíduo, grupos de origem como partidos políticos, associações econômicas, culturais, religiosas e sindicatos, ou seja, formar-se-ia por grupos revestidos de dimensão pública.

Neste sentido, houve a manutenção entre si, das múltiplas relações de concorrência ou de complementaridade em razão de uma máquina estatal que não mais pertence unicamente o poder político. Por um lado, percebeu-se que as denominadas sociedades de classes do século XIX havia sido substituídas por uma sociedade cujas classes, ou não mais existiam, ou perderam sua importância na nova estrutura pluralista social.

Na nova ordem experimentada, não se pode mais dissociar a estreita relação entre a Constituição do Estado e a Constituição Econômica, em que se percebe que a forma de capitalismo extraída do século XIX representava, em sua essência, a forma liberal do estado burguês que se caracterizava por se apresentar desprovido de função econômica e, observado no que tange sua estrutura interna, a proeminência do legislativo sobre o executivo, cuja forma econômica do capitalismo monopolista contemporâneo representa o “estado social” amplamente intervencionista na economia, ou seja, reluz num modelo cuja função econômica se destaca em relação às demais funções.

Conclui-se então, que a noção e conceito de desenvolvimento, inicialmente formados num Estado Liberal, já não mais podem ser alicerçados numa sociedade moderna, ante o fato de que, atualmente não é mais adversa a noção de desenvolvimento, o papel ativo do Estado na tutela ao meio ambiente, tendo em vista que, decorrente da mutação trazida pelo novo conceito, a proteção do meio ambiente e o fenômeno desenvolvimentista, encaixa-se no contexto à livre iniciativa, convergindo num objetivo comum por representarem interesses convergentes entre si.

Assim, tendo em vista a necessidade de um planejamento que objetive um desenvolvimento social e econômico, com ênfase na correta utilização dos recursos naturais e na busca de um equilíbrio entre estes fatores, temos que:

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A busca e a conquista de ‘um ponto de equilíbrio’ entre o desenvolvimento social, crescimento econômico e a utilização dos recursos naturais exigem um adequado planejamento territorial que tenha em conta os limites da sua sustentabilidade. O critério do desenvolvimento sustentável deve valer tanto para o território nacional na sua totalidade, áreas urbanas e rurais, como para a sociedade, para o povo, respeitadas as necessidades culturais e criativas do país (FIORILLO; RODRIGUES, 1997, p. 118).

Neste sentido, evidenciamos que o princípio do Desenvolvimento Sustentável está enraizado em todo Estado Democrático de Direito, cuja percepção é focada de forma global em várias nações, como é o caso da Constituição Portuguesa em razão de seu ordenamento jurídico, fazendo referência ao mesmo no sentido de que:

O princípio constitucional do desenvolvimento sustentável obriga assim à ‘fundamentação ecológica’ das decisões jurídicas de desenvolvimento econômico, estabelecendo a necessidade de ponderar tanto os benefícios de natureza econômica como os prejuízos de natureza ecológica de uma determinada medida, afastando por inconstitucionalidade a tomada de decisões insuportavelmente gravosas para o ambiente (SILVA, 2002, p. 73).

Extraímos do contexto de desenvolvimento sustentável que a metodologia utilizada para definição dos parâmetros de sustentabilidade encontra-se alicerçada nos princípios da teoria de sistemas, considerando a inter-relação das partes, bem como, destas com o todo, somando-se ainda, seus fluxos de entrada e saída, o que nos remete à análise tradicional dos processos econômicos, considerando a dimensão territorial como suporte físico concreto, juntamente com os recursos ambientais ou os resíduos decorrentes de sua exploração.

Podemos ainda auferir que sendo observada uma sociedade sem limites em razão do exercício das atividades produtivas, ou seja, sem que houvesse regras que limitassem a livre concorrência e a livre iniciativa, o resultado de tal situação seria o caos ambiental, com máxima certeza, sendo a situação totalmente indesejada, inclusive pelos próprios responsáveis pelo crescimento da economia.

Observamos mais uma vez, que nossa Constituição possui cunho eminentemente vanguardista com vistas ao progresso, no exato momento em que adotou um sistema de desenvolvimento sustentado, consagrando-o em seu artigo 225, repetindo o conceito de desenvolvimento sustentado definido pela Comissão

Mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento da seguinte forma: “o desenvolvimento que atende as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das futuras gerações atenderem as suas próprias necessidades” (FIORILLO; RODRIGUES, 1997, p. 118).

Ademais, podemos ainda afirmar que tal conceito, numa acepção mais completa, política desenvolvimentista, é evidenciado no artigo 170 da CF/88, no exato sentido que estabelece que:

[...] a ordem econômica, fundada na livre iniciativa (sistema de produção capitalista) e valorização do trabalho humano (limite ao capitalismo selvagem) deverá regrar-se pelos ditames de justiça social, devendo, para tanto, seguir alguns princípios, entre eles o contido no inciso VI: a defesa do meio ambiente (FIORILLO; RODRIGUES, 1997, p. 119).

Pelo evidenciado, podemos afirmar que a recepção do princípio do desenvolvimento sustentável em nossa ordem jurídica tem por escopo limitar o exercício da livre concorrência e da livre iniciativa, porém, sem obstar o crescimento econômico voltado aos interesses sociais, caso o mesmo ocorra em observância da necessidade da preservação do meio ambiente, visando garantir a própria qualidade de vida das gerações presentes, sem prejuízo das futuras, como bem observa os professores Fiorillo e Rodrigues:

Se assim fosse elencado pelo legislador constituinte, ou seja, livre concorrência e defesa do meio ambiente caminhando lado a lado para o alcance da ordem econômica voltada para a justiça social, é porque este princípios, em última análise, convergem entre si. Acentua-se aí, a adoção ao desenvolvimento sustentado, com o fim de preservar o hoje e o amanhã (gerações futuras) (FIORILLO; RODRIGUES, 1997, p. 110).

A atividade do Ecoturismo deve se desenvolver com base nos ditames do princípio do desenvolvimento sustentável, uma vez que resulta no objeto de sua principal função econômica, em decorrência da preservação do meio ambiente e do mínimo impacto ambiental, e, alcança-se com isso o desenvolvimento da região onde é difundida a prática do turismo ecológico.

Podemos afirmar que dentre as premissas da atividade do Ecoturismo, em observância à necessidade de preservação e conservação do meio ambiente de

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forma eqüitativa para as presentes e futuras gerações, está também promover o desenvolvimento de forma sustentável, principalmente na região onde se realiza a atividade.

Observa-se que

o Ecoturismo é uma tendência em termos de turismo mundial que aponta para o uso sustentável de atrativos no meio ambiente e nas manifestações culturais, devemos ter em conta que somente teremos condições de sustentabilidade caso haja harmonia e equilíbrio no ‘diálogo’ entre os seguintes fatores: resultado econômico, mínimos impactos ambientais e culturais, satisfação do ecoturista (visitante, cliente, usuário) e da comunidade (visitada)25.

Finalmente é válido ressaltar que o princípio do desenvolvimento sustentável, além das premissas de ordem ambiental, também age em razão das relações de consumo, principalmente na atividade do Ecoturismo, tendo em vista que, observando-se o contexto do artigo 225, caput, conjuntamente com o artigo 170, ambos da CF/88, extraímos que as atividades econômicas, cujos contextos nos remete ao turismo ecológico como atividade típica de consumo, somente será possível ser realizada, caso seja desenvolvida com base na responsabilidade social, devendo se desenvolver de forma racional, planejada e sustentável, sob pena de ofender sua essência principiológica constitucional.