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Apesar da temática envolvendo a responsabilização civil ter alcançado uma consideração mais abrangente, mister se faz ressaltar a responsabilidade no âmbito penal, o que nos permite afirmar que a ilicitude não é uma peculiaridade do Direito Penal, uma vez que configura uma contrariedade entre a conduta e a norma jurídica, podendo ter por este motivo, lugar em qualquer ramo do Direito.

As considerações em relação ao ilícito penal devem ser taxadas tendo em vista, exclusivamente, as normas jurídicas, que impõem o dever violado pelo agente infrator atendendo aos critérios de conveniência ou de oportunidade, ligados intimamente ao interesse da sociedade e do Estado com variação em relação ao tempo e ao espaço.

Podemos dizer que as condutas consideradas mais graves, aquelas que atingem bens sociais de maior relevância, são as sancionadas pela lei penal,

concluindo-se que para o direito penal é considerado apenas o ilícito de maior gravidade objetiva ou o que afeta mais diretamente o interesse público, passando assim o ilícito penal por repercutir com maior alarde na esfera social.

Em nosso ordenamento jurídico, a responsabilidade penal ambiental vem regulada via de regra pela Lei 9.605/98 que disciplina os crimes ambientais, vindo a consagrar o disposto no artigo 225, §3º da CF/88 estando ainda em consonância com o que prevê o artigo 5º, XLI da Carta Maior.

Tal medida pretendia tutelar de forma mais efetiva o meio ambiente na esfera penal, sistematizando as incidências dos crimes ambientais em um único diploma, prevendo ainda, de forma inovadora, a responsabilização penal da pessoa jurídica, tendo tal diploma sofrido algumas críticas por parte dos doutrinadores pátrios sobre vários dos seus aspectos.

Indiscutível é a assertiva de que a tutela ambiental constitui-se num interesse fundamental da sociedade e o direito penal não pode se manter afastado da realidade social, que por constituir uma necessidade social, deve acompanhar as constantes evoluções sociais, tecnológicas e científicas.

Isso não significa, no entanto, que se proceda a uma profunda criminalização de condutas que afetem o meio ambiente, devendo ser realizada uma análise criteriosa, criminalizando apenas os atos de grande e significativa relevância.

Devemos observar, dentro de nosso ordenamento, a concepção de dois tipos existentes de crimes: o crime de perigo e o de desobediência, ressaltando-se que nesta matéria a maioria dos tipos penais configura crimes de mera conduta, muitas vezes com a observância de mera desobediência às prescrições administrativas.

Quanto à responsabilização ao crime de perigo de dano nas infrações ambientais, consideremos que se apresenta mais eficaz, uma vez que basta ocorrer à possibilidade de dano.

Já no delito de desobediência, devemos nos atentar para a inobservância das prescrições emanadas das autoridades administrativas, considerando-se ainda, que existirá o crime quando observada exposição a perigo a mencionada destinação

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natural pelo agente infrator, bem como, resta caracterizada a ilicitude do ato praticado delito de natureza culposa merece consideração especial em se tratando de matéria ambiental, como bem salienta o Benjamin (1993, p. 312), ao evidenciar que: “a figura do delito culposo em matéria ambiental merece destaque especial, uma vez que, apesar de ocorrer com certa freqüência, é previsto apenas em alguns poucos dispositivos da legislação penal”.

Estas considerações devem ser levadas em conta, pois, apesar da forma culposa dos delitos contra o meio ambiente serem mais freqüentes do que a dolosa, tendo em vista ser aquela produzida por imprudência, imperícia, negligência, ou ainda, inobservância de regulamentos, ordens, ou outras medidas do tipo, o fato de sua previsão estar restrita a alguns poucos dispositivos legais, leva à necessidade de uma profunda reformulação da legislação neste campo.

Observa-se que as sanções penais previstas na legislação vigente para os delitos contra o meio-ambiente são as privativas de liberdade, restritivas de direito e pecuniárias, ou seja, todas aquelas previstas no Código Penal, devendo ainda ser explicitado que o delinqüente comum muito se diferencia da figura do agente infrator nos delitos ambientais, uma vez que o autor de uma infração ambiental, via de regra, não é um elemento perigoso, pois, como podemos observar a exceção em razão de crimes como o tráfico de animais silvestres, a maior parte dos envolvidos é pessoas pertencentes a classes sociais menos favorecidas e que são usadas por uma minoria que se beneficia com o objeto da prática ilícita.

Deste modo, não é a maioria que necessita ser submetida a um afastamento do convívio social, embora, deva-se ressaltar, que, se submetido à pena privativa de liberdade, deverá atender uma de suas finalidades, que é a ressocialização, ou seja, a recuperação do indivíduo infrator, mas que se torna duvidosa, tendo em vista os aspectos sociais de nossa nação.

Em relação à responsabilidade penal da pessoa jurídica, consideramos tratar-se de uma matéria complexa e controvertida, que até a pouco tempo não tinha a mínima aceitação no direito pátrio, e ainda reflete muitas críticas, porém, tendo em vista o aumento das atividades realizadas por entes de personalidade jurídica que agridem o meio ambiente, torna-se quase impossível estabelecer a autoria do

agente, motivo pelo qual começou a ser aceito a responsabilização da pessoa jurídica sob o prisma penal.

A crítica maior feita em relação a responsabilidade penal da pessoa jurídica, reporta-se ao fato de que muitos doutrinadores não aceitam ser possível tal responsabilização sem a presença do substractum humano, alegando ser condição sine qua non, mas, apesar das severas críticas, tal inovação trouxe uma maior efetividade na tutela do direito ambiental e maior segurança social.

Neste sentido, bem observa Benjamin (1993, p. 314), ao afirmar que: “No Brasil, o grande passo foi dado pela CF/88, que em seu art. 225, § 3º, estabeleceu que ‘as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio-ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais’”.

Em relação à aplicação de sanções em razão das infrações das pessoas jurídicas, devemos considerar, num primeiro plano, as condutas criminosas, atentando-se inicialmente para algumas características que envolvem a infração, devendo ficar demonstrado que a mesma foi praticada face ao interesse da sociedade, empresa ou ente despersonalizado, bem como, deve ficar evidenciado que a infração foi praticada no âmbito de suas atividades, e, ainda, observada a condição de que o ilícito tenha sido praticado com o auxílio ou adesão do poderio da pessoa coletiva.

Por fim, em relação às sanções penais, considera-se como cabíveis e adequadas: as multas, a privação de direitos e vantagens, as interdições de atividades bem como a publicação de sentenças.