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Responsabilidade civil ambiental na atividade do ecoturismo

6.4 CONCEITO DE POLUIÇÃO

7.2.5 Responsabilidade civil ambiental na atividade do ecoturismo

Para nos debruçarmos na questão da responsabilização civil por danos causados ao meio ambiente, primeiramente devemos salientar que esta modalidade de responsabilização no Direito Ambiental é regida principalmente pelo princípio do Poluidor-pagador, estabelecendo a responsabilização do tipo objetiva, pautada na teoria do risco integral, ambas já amplamente delineadas neste trabalho.

Machado (2003, p. 240), aborda a questão informando que:

A Convenção sobre responsabilidade civil dos danos resultantes de atividades perigosas para o meio ambiente, elaborada sob o patrocínio do Conselho da Europa, foi aberta para a assinatura dos países integrantes em Lugano, aos 21 de junho de 1993. Nos seus considerandos diz ser oportuno 'estabelecer neste domínio um regime de responsabilidade objetiva, levando em conta o princípio ‘poluidor-pagador’.

Em se tratando de matéria ambiental, não se poderia utilizar outra forma de responsabilização, que não a responsabilidade objetiva, pois, a responsabilidade subjetiva é insuficiente para regular a questão por deixar de oferecer uma resposta jurídica para a tutela de alguns direitos.

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Neste pensamento, no que tange a responsabilidade civil por danos ao meio ambiente ser objetiva, encontra-se justificativa para que assim seja procedido, ao ser levado em consideração que muitas vezes é impossível comprovar a intenção na conduta do agente poluidor.

Corroborando com este entendimento, Benjamin (1993, p. 238), atesta que:

O grau de complexidade da vida moderna e a interdependência crescente entre as pessoas, mormente nos grandes conglomerados urbanos, a exploração de recursos naturais e os processos de agigantamento das atividades empresariais, a sempre crescente participação do Estado quer na economia, quer atuando com vistas ao entendimento das necessidades públicas, tudo isso, e outra dezena de fatores que poderiam ser enumerados, concorrem ampliação de situações onde as pessoas eventualmente fossem lesadas, mas onde era impossível definir com precisão a culpa do agente causador do dano. Reconhecia-se a existência deste, reconhecia-se que alguém havia sido lesado, todavia permanecia a vítima indene pela impossibilidade de se apontar com segurança o requisito da culpa do agente.

A responsabilização civil do agente causador de danos ao meio ambiente deverá ser apreciada com base na teoria do risco integral, sendo que nestas relações se apresenta a responsabilidade objetiva, uma vez que, não pode ser apreciada subjetivamente a conduta do poluidor, mas, em razão do prejuízo causado ao homem e o meio ambiente, onde a atividade poluente resulta numa apropriação por parte do poluidor dos direitos de outros indivíduos, sendo estes direitos correspondentes ao meio ambiente como conjunto de um bem de natureza difusa.

Considerando-se a relevância do Direito Ambiental, não poderíamos vislumbrar a questão da responsabilização civil somente nos moldes do Direito Privado, fundado na conduta do agente em relação à culpabilidade para que se possa determinar a indenização ou reparação do meio afetado, uma vez que, devido ao aumento das atividades econômicas e a franca utilização dos recursos naturais pela fragilidade de controle de seu uso, observamos que tal situação exige um tratamento em que se observem os liames dos Direitos Difusos e Coletivos, e não pelos limites do Direito Privado e nem do Direito Público em sua essência.

A responsabilidade objetiva em matéria ambiental veio ser positivada com o advento da Lei 6938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e de Outras Providências, que, em seu art. 4º, VII, impõe ao poluidor e ao predador a

obrigação de reparar e, ou, indenizar os danos que viessem a ser causados, bem como, ao usuário de recursos ambientais com fins econômicos, uma contribuição pela utilização desses recursos, estabelecendo ainda, em seu art. 14, § 1º, que o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou à correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental, sujeitava o agente a diversas penalidades de ordem econômica e de restrição ao exercício de sua atividade, sem embargo da sua obrigação de indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade (BENJAMIN, 1993, p. 242).

Neste sentido, aufere Castro (2000, p. 242) que:

A primeira lei brasileira a cuidar, sistematicamente, da questão ecológica, foi a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (nº 6.938/81). Existiam, antes, preceitos isolados, com os quais se procurava alguma construção mais elaborada, como a própria referência à poluição, no âmbito do direito de vizinhança (arts. 554 e 584 do Código civil), ou mesmo leis especiais relativas à água, florestas, caça, pesca, mineração, saneamento, etc., e, posteriormente, convenções ratificadas pelo Brasil.

Assim, destacamos que o legislador quis, neste diploma, tratar da problemática do dano ambiental, ensejando por seu duplo prisma, como bem observa Benjamin (1993, p. 242), quando aufere que:

De espectro muito mais amplo, a lei que se examina veio a tratar da questão do dano ecológico sob o seu duplo prisma. Do dano causado ao meio ambiente e do dano suportado por particular, estabelecendo em qualquer caso a responsabilização do agente independente da existência de culpa.

Em relação ao dano ecológico, que em termos de responsabilização civil não podemos considerar a problemática apenas por considerações e circunstâncias atuais, mas também, sob o óbice de sua projeção, conforme se posiciona Castro (2000, p. 109), evidenciamos que:

Ainda que eventual perícia constate a ausência nociva imediata, há que se verificar a projeção do problema no tempo, sopesando as soluções, não se trata apenas de 10 ou 15 anos, e sim de direito constitucionalmente ressalvado a gerações futuras. A própria idéia de desenvolvimento sustentável tem aí seu alicerce (CASTRO, 2000, p. 109).

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Quanto aos pressupostos da responsabilização civil no Direito Ambiental, relacionamos três, que são: a ação ou omissão do agente, o evento danoso e a relação de causalidade.

Para ocorrer à responsabilização civil no Direito Ambiental, devemos evidenciar a presença de prejuízo constatado no meio ambiente, não somente através de uma destruição, mas quando esta por sua repetição e insistência venha a exceder a capacidade do meio de suportar os efeitos no limite de sua tolerância, ou ainda, da capacidade de eliminação e de reintrodução dos resíduos na esfera biológica, podendo ser, contudo, derivado de um único acontecimento e de cunho acidental, sendo que o reconhecimento deste caráter acidental da poluição não significa que ocorreu caso fortuito ou força maior, entretanto, ainda que tivesse ocorrido, não representaria isenção de responsabilização e nem a impossibilidade de se obter a reparação.

Ademais, para que se possa determinar a responsabilização civil por danos ao meio ambiente em razão da relação de causalidade, além do prejuízo a ser apurado, devemos estabelecer um nexo entre a sua ocorrência e a sua fonte de origem, sendo que, se existir somente um foco de origem, não haverá dificuldade para estabelecer a responsabilização, porém, havendo pluralidades de autores, traçar um liame causal, pode ser um pouco mais trabalhoso, mas não é tarefa impossível, uma vez que ocorre solidariedade entre os autores, conforme pensamento de. Benjamin (1993, p. 244):

[...] em conseqüência mesmo da irrelevância de existência de pluralidades de elementos poluidores, pode-se inferir que deve prevalecer entre eles o vínculo de solidariedade. É que uma das maiores dificuldades que se pode ter em ações relativas ao meio ambiente é exatamente determinar de quem partiu efetivamente a emissão que provocou o dano ambiental.

Não nos parece razoável que o fato de não podermos individualizar precisamente quanto cada agente poluidor poderia ser responsabilizado, seja motivo para não indenizar os danos causados, sendo que a solução estaria centrada na ligação de causalidade.

Resulta, conseqüentemente, neste sentido, uma relação de solidariedade entre todos os agentes poluidores, mesmo que seja alegado por parte dos mesmos

a não existência de nexo de causalidade entre a conduta isolada de cada poluidor e o seu resultado, devido aos múltiplos fatores atuando em conjunto, considerando-se inapta à conduta isolada de levar por si ao suposto dano.

Ocorre que a solidariedade não é presumida, conforme dispõe o artigo 265 do novo Código Civil, e, sendo utilizada nas questões ambientais, irá gerar responsabilização solidária a todos os agentes envolvidos na produção do dano, como bem observa Castro (2000, p. 113) ao afirmar que: “o Código Civil deixa patenteado que a solidariedade não se presume [...], pode-se objetar contra sua incidência nos males ecológicos, sob a assertiva de ausência de previsão expressa e nítida”.

A questão da solidariedade na responsabilização dos danos causados ao meio ambiente difere um pouco da conceituação tradicional em relação à sua aplicabilidade, uma vez que na primeira, a degradação e a ofensa ao bem jurídico ambiental são um processo contínuo no que tange aos danos ambientais, não havendo divisões isoladas.

Em relação as excludentes indenizatórias, devemos salientar que a imprevisibilidade relativa não exclui o agente poluidor de indenizar os prejuízos, sendo certo que o exigido por lei refere-se a precauções acima da média, analisando-se os benefícios da atividade e desenvolvimento de capacidade preventiva.

Neste sentido, salienta Castro (2000, p. 116) que:

No campo do meio ambiente, a inevitabilidade exclui a imputação se e enquanto presente todos os fatores positivos, como o saldo de benefícios efetivos da atividade, o cumprimento de todas as exigências, a busca do constante desenvolvimento tecnológico inovador, o exame das necessidades coletivas das populações, atual e futura.

Assim, concluímos que a lei age de forma a agravar plenamente o potencial imputação do poluidor e a exclusão da responsabilidade de reparar o dano, que somente se faz possível, ante a presença dos elementos positivos já referidos, cuja ótica dinâmica preceitua que a qualquer momento pode haver uma mudança.

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O enfoque da responsabilidade civil em razão da atividade do Ecoturismo se faz fundamental para a abordagem do tema principal deste trabalho, considerando que na atualidade, faz-se importante a preocupação com o meio ambiente no que tange a exploração de atividade econômica de forma sustentável, pois envolve a utilização do meio ambiente como fonte de renda e objeto principal da atividade, fazendo-se necessário delinear as peculiaridades deste tipo realização.

Nos tempos atuais, devido a grande evolução econômico-industrial por suas atividades, várias são as situações em que a presença do ente jurídico nesta relação de dano e reparação é uma constante, sendo fundamental sua presença em razão à realização de atividades alternativas como é o caso do Ecoturismo, que pode ser instrumento potencial para o alcance da preservação e conservação do meio ambiente desde que realizado de forma planejada e em respeitos as diretrizes ambientais.

Tal idéia corrobora com a máxima do desenvolvimento sustentável, não fugindo assim, do objeto de sua consecução, haja vista que o Ecoturismo alia preservação e conservação do meio ambiente com a exploração econômica.

Vale ressaltar que em matéria de responsabilidade civil ambiental, as regras valem para todos os tipos de atividades que resultem na interferência no meio ambiente e que vise a consecução de algum interesse, o qual, via de regra, se reporta ao interesse econômico, sendo certo que a responsabilização pode ser tanto da pessoa física, como da pessoa jurídica.

Sabemos que a responsabilização rege-se pela teoria do risco integral, ensejando a responsabilidade objetiva, porém, o que difere muitas vezes da situação fática, é a caracterização em relação ao agente causador e as proporções reais dos danos causados ao meio ambiente.

Os danos causados ao meio ambiente por várias atividades que não planejam ou que não se preocupam em mitigar os riscos ambientais, em suma, causam um impacto muito grave ao meio ambiente, ficando difícil determinar, em alguns casos, a amplitude dos danos causados ao equilíbrio ecológico, em que, o fato do Direito Ambiental tutelar direito difuso, muitas vezes torna complexo

determinar e individualizar quem e o que deverá ser indenizado, porém, não temos tal missão como sendo uma tarefa impossível.

Em determinados casos, face à natureza do dano causado ao meio ambiente, a pessoa jurídica é obrigada, além de desembolsar quantia vultuosa a título de indenização, é, principalmente, obrigado a reparar o dano causado ao meio ambiente, isto quando possível, visando diminuir ou cessar os efeitos da degradação.

Contudo, salienta-se que o tipo de reparação supramencionada, ou seja, a denominada reparação específica ou “in natura” são as que devem ser observadas em primeiro plano, tendo em vista a importância do bem ambiental para toda a coletividade, e a outra, denominada pecuniária, somente é observada a posteriori, ressaltando-se, entretanto, que pode haver cumulação das duas.

Em nosso ordenamento jurídico, a responsabilização civil ambiental está prevista no artigo 225, § 3º da Constituição Federal, sendo certo que neste contexto inserem-se também os empreendedores da atividade do Ecoturismo, devendo estes se aterem às normas infraconstitucionais que regem todo o ordenamento, já que tal atividade típica de consumo, não se difere de nenhuma outra atividade existente na ordem legal.

Podemos assim definir, conforme já explicitado no tópico que trata da responsabilização ambiental de um modo geral, que haverá a responsabilização solidária entre todos os entes poluidores, uma vez que, o fato de não se poder individualizar proporcionalmente quanto cada agente poluidor deverá ser responsabilizado em razão de suas atividade, não deverá ser motivo para que não seja imputada a responsabilização dos entes de personificação física ou jurídica, pois, como já delineado, a responsabilidade solidária não se presume.

Assim, ao estipularmos políticas públicas sérias, metas e regramentos para o desenvolvimento da atividade do Ecoturismo, estaremos proporcionando a possibilidade de se aliar desenvolvimento e preservação do meio ambiente, e, se não agirmos de forma a impedir fatores contribuintes para a degradação ambiental, como por exemplo as atividades ilegais como o tráfico de animais silvestres, ao

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menos estaremos contribuindo consideravelmente para que tal quadro seja diminuído.

Certo é que, havendo ofensa ao bem jurídico ambiental pela falta desse planejamento, deverá ser responsabilizado o ente poluidor, dependendo da repercussão social, na esfera civil, sem prejuízo da responsabilização penal e administrativa, sendo possível, como sabido, sua cumulação.

Destarte, ao utilizarmos princípios como da Educação Ambiental, estaremos disseminando a conscientização ecológica no sentido da proteção do meio ambiente, em que a demonstração de que o incentivo da prática de atos lesivos ao meio ambiente somente tem a trazer prejuízos as populações sócio-econômicas mais carentes, sendo certo que a conservação e preservação ambiental trará muitos benefícios oriundos de práticas sadias como o desenvolvimento da atividade denominada Ecoturismo.

A grande questão que se encarna deve-se à necessidade de preservação e conservação do meio ambiente para que possamos atingir o objetivo destacado pela atividade do Ecoturismo, que é o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental. Assim, resulta possível alcançar tais objetivos, quando efetivamos a utilização racional e planejada dos recursos turísticos e naturais, envolvendo numa dada região todos os entes relacionados com a atividade mencionada, ou seja, população local, entes públicos, sociedade civil organizada e comunidade em geral.

Deste modo, como a atividade do Ecoturismo deve ser efetivada através de um planejamento ambiental, tendo em vista que desenvolve uma atividade econômica típica de consumo, não se pode admitir que esta se desenvolva de forma meramente empírica e sem um planejamento técnico-científico.

Se tal prática ocorrer sem a observância deste planejamento técnico- científico, resultará em danos ao objeto maior para sua consecução: o progresso econômico e social através da utilização racional e sustentável dos recursos ambientais. Desse modo, deverá ser imputada a responsabilização ambiental para todos os entes que não observarem as normas do conjunto jurídico ambiental.