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Abordagem Sistêmica Ciclo de Causalidade

2.3.4.1 Princípios do modelo competitivo

Seguindo o modelo proposto por Pires (2001), a introdução teórica feita até o momento serve para abstrair e caracterizar os três princípios fundamentais do modelo de desenvolvimento em questão:

a competitividade é sistêmica , ou seja, fruto da interdependência de diversos fatores. Com isso, as regiões mais competitivas são aquelas onde os atores regionais possuem uma percepção ampliada da sua situação competitiva, identificando problemas comuns e agindo de forma integrada para a sua solução. Este é o principio sistêmico;

a competição é, cada vez mais, uma atividade territorializada, ou seja, a grande resposta à globalização é a regionalização. Para tanto, cada região competitiva elenca uma determinada estratégia especifica de competição, baseada em suas vocações regionais, em sua identidade regional. Esta especialização, em torno de pontos diferenciados da situação competitiva regional, é o principio distintivo;

a grande diferença competitiva que existe entre as diferentes regiões do globo se dá fundamentalmente em termos de quantidade de capital social, ou da capacidade da população da região em resolver, de forma endógena, seus problemas. Para que os atores regionais cheguem ao entendimento da melhor estratégia regional, integram esforços em problemas comuns e acham as

soluções mais efetivas ao seu contexto. É preciso reforçar o terceiro princípio do método, o principio endógeno.

2.3.4.2 Abordagens e métodos do modelo competitivo

A abordagem a seguir trata da identificação dos métodos que serão utilizados na metodologia elaborada, apresentada no próximo capítulo. Esta identificação parte dos estudos de Pires (2001) cuja análise é oriunda do Instituto de Desenvolvimento Alemão, considerados pioneiros na abordagem sistêmica da competitividade, utilizando quatro níveis de entendimento da situação competitiva de uma região. Estes quatro níveis são:

Nível Micro - representa as empresas e as redes de empresas, e como estas estão organizadas para se tornarem mais competitivas. Como elementos fundamentais do nível micro estão os determinantes internos - tecnológicos e organizacionais da capacidade competitiva das empresas, assim como as externalidades criadas pela formação de redes de empresas;

Nível Meso - aborda as instituições e as políticas específicas para o desenvolvimento regional. Neste nível, cabe destacar as políticas e instituições dedicadas, de forma especifica, à criação de vantagens competitivas. Este é o campo por excelência para as iniciativas locais e regionais que visam reforçar a competitividade, por meio da dotação de infra-estrutura, das iniciativas voltadas para a qualificação e treinamento de mão-de-obra, para geração e difusão de tecnologia, por exemplo;

Nível Macro - aborda as condições econômicas gerais, os principais condicionantes da competitividade sistêmica que são a estabilidade e previsibilidade das condições macroeconômicas;

Nível Meta - engloba as variáveis mais lentas na competitividade, como as estruturas sócio-culturais e a capacidade dos atores regionais formularem visões estratégicas. No caso o determinante fundamental é o consenso básico em torno da necessidade e da desejabilidade do desenvolvimento industrial e da integração competitiva aos mercados.

Não havendo consenso entre os atores sociais e políticos quanto a esses pontos, as políticas adotadas nos níveis macro e meso tenderão a ser errôneas, e as empresas tenderão a adotar posturas defensivas para se protegerem e reagirem rapidamente ás mudanças de regras. É neste último nível (meta) que mais se destaca a importância das características culturais e dos mecanismos sociais e políticos que contribuem para fortalecer a vocação de uma sociedade para a formação de consensos.

2.3.4.2.1 O nível meta competitivo

Em termos de estratégias e de organização dos recursos do território, principalmente a partir da relação entre o setor público (o governo em suas três categorias) e o setor privado, este nível caracteriza-se pela governância. É neste nível que se observa até que ponto a sociedade está preparada para gerenciar seu desenvolvimento econômico-social. Dessa forma procura-se:

um maior consenso social sobre uma política econômica dirigida ao mercado nacional e internacional;

um padrão básico de organização jurídica, política, econômica e social que permita aglutinar as forças dos atores, potencializar as vantagens nacionais de inovação, de crescimento econômico e de competitividade, e por em curso processos sociais de aprendizagem e comunicação;

disposição e capacidade de implementar uma estratégia de médio e longo prazo com objetivo de desenvolvimento tecnológico e industrial orientado à competitividade.

O perfil de poder clássico do governo central sofre alteração, como órgão interventor e "gerador" maior de desenvolvimento de uma região e de um país.

"A retirada do Estado da economia e de muitas funções sociais pressupõe que outras forças privadas assumirão os papéis ou a humanidade será tomada pelo caos. O pressuposto é de que organizações espontâneas possam assumir os papéis" (Casarotto e Pires, 1998, p. 19).

Há uma série de funções que poderiam ser desempenhadas pelo governo central no sentido de dar as condições ambientais e estruturais para o desenvolvimento endógeno regional. Este é o principal motivo para a criação do nível meta competitivo, visto que usualmente, em termos econômicos, utiliza-se apenas os níveis macro e micro competitivos.

"Isso não significa que o sucesso de uma região depende da sua história, o que levaria a conclusão errônea de que as políticas de intervenção são inúteis em áreas que já não sejam uma promessa econômica. Nós acreditamos que é possível estabelecer um ambiente produtivo pela estimulação das forças locais a criar um contexto institucional local que seja provedor de externalidades comuns a todas as empresas" (Bianchi, 1996, p. 14).

A seguir tem-se o alicerce conceitual do nível meta-competitivo:

a) O Pacto Territorial – constitui um dos conceitos mais importante do nível meta competitivo, pois representa a formação de um consenso entre os atores regionais a cerca do rumo de ação a ser tomado.

"Entende-se por pacto territorial o encontro, em um contexto orgânico comum, dos setores de natureza diferente (administrações, instituições de serviço, associações etc.) atuantes no território, com o objetivo de tornar mais eficazes as políticas de desenvolvimento" (Casarotto e Pires, 1998, p.98).

Segundo Casarotto e Pires (1998), um pacto territorial, para ser eficaz e não se resumir exclusivamente em um evento político deve ter os seguintes requisitos:

deve mobilizar os diversos atores em torno de uma idéia "guia";

deve poder contar com empenho destes atores desde a fase de elaboração dos projetos de desenvolvimento (processo endógeno);

deve definir um projeto que seja orientado ao desenvolvimento das atividades produtivas de um território e que tenha prazo definido de duração;

deve prever a "criação" de uma estrutura gerenciadora que expresse o acordo e a união dos atores envolvidos, e que possa acompanhar e avaliar os projetos desenvolvidos, divulgando seus resultados (governância do processo);

deve evitar que existam muitas iniciativas divergentes, para não desagregar os esforços dos atores locais (acumular capital social);

deve assegurar um alto nível de entendimento entre as instituições;

deve evitar que as ações sejam estipuladas excessivamente de "cima para baixo";

deve melhorar a base de informação, para que os projetos e os atores possam compartilhar um profundo conhecimento da situação local (modelo mental compartilhado).

Dentro deste contexto, é imprescindível o processo de aperfeiçoamento das instituições de apoio competitivo existentes. É essencial a mudança na cultura e na forma de ação destas instituições, por meio de uma profunda análise de sua missão, sob a ótica de longo prazo, para que possam se tornar catalisadores do processo de desenvolvimento nas suas regiões.

"A existência de comunidades interligadas com um sistema de valores comum facilita a confiança e as atitudes cooperativas, o que torna possível a colaboração, a troca de informações, e reduz as potenciais fontes de conflito" (Galvão e Vasconcelos, 1999, p. 09).

Sobre o quadro institucional brasileiro Fleury e Fleury (1995) ponderam que dificilmente poderíamos qualificar hoje como sistêmico, o que revela fraca articulação entre os elementos que comporiam um sistema nacional de inovação. A própria designação de "ilhas de excelência" caracterizando as empresas líderes, empresas que se destacam num contexto sombrio de desarticulações e conservadorismo, atesta este fato.

O desafio colocado, de acelerar este processo de aprendizagem e inovação, depende, e muito, da reintegração e rearticulação entre as partes. Atestando sem dúvida o fato de que o quadro institucional brasileiro está muito longe dos conceitos discutidos sobre pacto territorial.

b) As Agências de Desenvolvimento – também considerado como importante elemento para caracterizar o nível meta competitivo, as Agências de Desenvolvimento nos últimos anos tem proliferado, principalmente na Europa, uma nova forma institucional que objetiva preencher as lacunas políticas e técnicas deixadas, em nível local e regional, pela geografia política orientadora da criação e operação das instituições tradicionais existentes num território. As Agências de Desenvolvimento Regional (ADRs) são, talvez, um dos principais frutos do pacto territorial na Europa, servindo de mecanismo de governância regional.

Segundo Brito e Bonelli (1997), embora seja difícil apresentar uma definição precisa para o que sejam as Agências de Desenvolvimento Regional (ADR), pode-se propor uma aproximação que englobe a maioria delas: organismos criados para auxiliar a promoção do desenvolvimento de uma zona territorial determinada, contando para isso com instrumentos diversos e, principalmente, com um nível apreciável de autonomia.

As ADRs tem funcionado como órgão principal de articulação (governância), tanto em nível político quanto técnico. Em nível político servem como plataforma isenta para a efetivação do pacto territorial, e de nível técnico garantem a criação de uma base comum de conhecimento sobre a situação regional.

Segundo Pires (2001), para que isso aconteça, agência tem que estar inserida na vida econômica, social e cultural da região, ou seja, ela deverá ter a função de um observatório, que necessita de:

uma compreensão profunda dos problemas e potenciais de um território; uma forte habilidade de trabalhar com (não de trabalhar para) as estruturas

econômicas, culturais, sociais e políticas já existentes na região;

um padrão de intervenção realmente concreto e operacional, de modo que seu trabalho possa ser reconhecido como útil e importante, econômica e

socialmente, dando estimulo à criação de novos empregos, novas oportunidades e novas soluções;

mobilizar os recursos financeiros, públicos e/ou privados, necessários à sua estrutura básica e à implementação de novos projetos;

ter autonomia e a independência necessária para tomar as suas próprias decisões no contexto regional interinstitucional.

Pires (2001) salienta que estas instituições intermediárias de governância, responsáveis pela consolidação do pacto territorial e de um plano estratégico regional, podem ter outras denominações. No caso brasileiro, por exemplo, esta função pode ser tomada por algumas instituições intermediarias já existentes no contexto competitivo, bastando para isso um reordenamento da sua missão e das suas ações.

"... uma Agência de Desenvolvimento Regional (ADR) é uma plataforma técnico-institucional de caráter eminentemente operativo, que realiza a identificação de problemas de desenvolvimento setorial ou promove projetos que tendem a otimizar as soluções em função do(s) problema(s) identificado(s), sem nunca esquecer a permanente avaliação dos mesmos" (Soares, 1998, p. 12). c) O conceito de "Triple Helix" e o papel da universidade – a governância mais efetiva do território passa pela ação tripla integrada entre universidades/institutos de pesquisa, governo e meio empresarial que tem sido de fundamental importância nas regiões mais desenvolvidas, sendo fundamentada pelo conceito de "Triple Helix", ou hélice tripla.

"O conceito de "triple helix" ou hélice tripla é fundamental no trabalho conjunto entre universidades/institutos de pesquisa, governo e meio empresarial pelo mesmo objetivo - o de alavancar o desenvolvimento sócio-econômico e científico, nas esferas locais, regionais e nacionais" (Quelhas, 2001, p. 01).

A universidade e os institutos de pesquisa, sem dúvida, são parceiros importantes no processo, cada vez mais importantes para o desenvolvimento econômico, que é a inovação. A formação de sistemas locais de inovações e pesquisas são uma das características das regiões mais desenvolvidas, é o que Porter (1997) chama de "chusters" maduros. Nesta situação, tanto as universidades, quanto os institutos de

pesquisa são "dedicados" para a área de conhecimento no qual a região é especializada. É necessário que as universidades e os institutos de pesquisa, existentes sejam importante centro difusor de conhecimento em nível mundial. Para tanto, estas instituições de apoio competitivo, particularmente importante precisam dedicar sua estrutura, direcionando seus projetos, para o trabalho em conjunto com o tecido empresarial e governo local, que no Brasil ainda não apresenta uma coordenação ideal.

2.3.4.2.2 O nível meso competitivo

O nível meso competitivo caracteriza-se pela governância em nível local e regional, onde surgem novas formas competitivas no entrelaçamento dos elementos citados no nível meta competitivo.

Nesta estrutura, onde se busca a integração entre instituições de apoio e empresas, todo o processo é coordenado por um fórum de desenvolvimento local, o que equivale às agências de desenvolvimento. A coordenação do Fórum Local de Desenvolvimento é chamado de governância, pois permite a articulação efetiva entre os atores. Desta articulação surgem uma série de outras instituições intermediárias, de atuação mais específica, que suprem paulatinamente as deficiências estratégicas e competitivas das empresas da região. Desta forma, o Fórum ou a Agência terá estreita relação com os mecanismos de articulação, sendo a ação articulada destes mecanismos que caracterizará o nível meso competitivo.

A governância é executada por um conjunto de instituições que passam a discutir de forma integrada a competitividade do seu ambiente empresarial.

A seguir tem-se o provável resultados de tais ações: a) Formação de Consórcios

Constituem um dos primeiros resultados práticos do pacto territorial e do acúmulo de capital social entre as PMEs de uma região.

“As histórias sobre consórcios, relatadas anteriormente, mostram o quanto de seu desenvolvimento depende diretamente da iniciativa das empresas.

Intervenção pública, pelo contrário, possui um papel marginal, particularmente durante as fases iniciais” (Bertini, 1997, p.11).

Os consórcios possuem a função básica de desempenhar tarefas importantes à competitividade local, que não podem ser desempenhadas pelas empresas de forma isolada, principalmente em ambientes com grande número de micro e pequenas empresas.

Segundo Casarotto e Pires (1998), pode-se citar os seguintes serviços prestados pelos consórcios às empresas:

Informações: cenários, mercados, competidores, tecnologia, investidores, pesquisas.

Qualidade e inovação tecnológica: coordenação da cadeia produtiva, formação, consultorias.

Suporte financeiro: fontes de financiamento e gestão financeira. Promoção territorial: campanhas de marketing, participação em feiras. Atração de investimentos externos.

Suporte gerencial. b) Centros de Serviços

Além dos consórcios, existem outros agrupamentos com fins específicos como: centros catalisadores de tecnologia, os observatórios econômicos e as cooperativas de créditos, como no caso da Itália, constituindo um estágio mais avançado do nível meta competitivo. Os consórcios de primeiro grau terão maiores chances de sucessos e integrados a estes mecanismos associativos mais evoluídos (Casarotto e Pires, 1998).

“Esta sinergia poderá resultar, por exemplo, na instituição de centros de serviços voltados para o controle da qualidade, monitoramento das tendências tecnológicas e do design a nível mundial, promoção comercial, formação de recursos humanos, articulação institucional, etc., constituindo assim os chamados fatores “de eficiência coletiva”, e levando a uma mobilização de esforços que extrapola muito o âmbito das empresas individualmente, e coloca a indústria em um patamar mais elevado de competitividade” (CNI, 1998, p.10).

“O que nós temos visto é que são estes centros especializados de serviços que atuam como pontos de referência para a indústria e, então, contribuem para a criação de relações de cooperação entre as empresas, e entre estas e as organizações. Estes centros de serviços ajudam as empresas oferecendo suporte em áreas onde estas pequenas empresas não poderiam atuar de forma isolada” (Bianchi, 1996, p.66).

Os Centros de Serviços são considerados instrumentos oriundos do pacto territorial consolidado e das experiências colaborativas bem sucedidas como a formação de consórcios, onde os atores percebendo a competitividade local e regional de forma sistêmica, começam a implementar ações de “adensamento da cadeia produtiva”, trazendo instituições especializadas em funções secundárias e de apoio competitivo que reforcem a função produtiva principal fomentando mais ainda a capacidade competitiva regional. Todo este movimento é que irá gerar os centros de serviços.

2.4 Conclusão

Este capítulo constituiu o arcabouço teórico da presente pesquisa na forma da evolução do pensamento sobre o desenvolvimento, a partir de uma análise do antigo e do novo. A sua construção traz o conflito existente entre crescer e desenvolver, mostrando que o pensamento econômico convencional não tem oferecido respostas plausíveis à saúde dos ecossistemas biológicos que servem de suporte à economia, e sua política de desenvolvimento, não atingiu o proposto original, pois além da deficiência econômica persistir, outras como o desenvolvimento sustentável passa a incorporar as necessidades municipais pelas agressões sociais e ambientais ocasionadas.

A ciência econômica convencional não considera a base ecológica do sistema econômico, dentro de seu arcabouço analítico, levando assim à crença no crescimento ilimitado. A idéia de sustentabilidade, por sua vez, implica em uma limitação definida nas possibilidades de crescimento.

Assim, mesmo que o conceito de desenvolvimento sustentável ofereça diretriz, mas não um modelo, sua verdade principal é que o progresso econômico, o progresso social e a gestão sadia dos recursos ambientais devem ocorrer no mesmo ritmo. Querer atingir o primeiro alvo ignorando o segundo é destruir a base de todo o progresso.

CAPÍTULO 3 TURISMO