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Capítulo 5 – Conclusão, desafios e trabalho futuro

5.1 Principais conclusões

A população em geral está cada vez mais informada no que toca aos serviços de saúde e, por isso, mais exigente também. Isto, aliado à pressão que os sistemas de saúde sofrem para reduzirem os custos e para se tornarem mais eficientes, leva à necessidade da adoção de um método de gestão que otimize o SNS: o lean thinking. O lean thinking é uma metodologia de gestão que se refere à procura pela melhoria contínua através da redução de desperdícios, que é conseguida através da aplicação de princípios, técnicas e ferramentas lean. Este método de gestão é cada vez mais utilizado e aplicado na indústria e serviços em geral, representando uma mais valia. A aplicação da metodologia lean thinking na saúde, denominada de lean healthcare, é recente, no entanto já provou que a sua aplicação nos sistemas de saúde é bastante benéfica, nomeadamente para os hospitais e respetivos serviços.

Nesta dissertação foi estudado o serviço do bloco operatório do CHTMAD. Segundo Kuhn (1996), citado por (Pereira, 2014), um bloco operatório “é um negócio, considerando que o produto deste serviço, numa forma empresarial e fabril, é o ato cirúrgico”. O bloco operatório e a sua gestão representam, graças às suas características únicas, um dos serviços mais comple- xos de um hospital.

Esta investigação teve como objetivo identificar e analisar problemas, relacionados com a gestão cirúrgica, que afetam a eficiência do bloco operatório do CHTMAD, utilizando o lean

thinking como método de apoio.

Os princípios lean thinking, estudados no capítulo 2, foram aplicados neste caso de es- tudo ao longo da investigação.

Um dos primeiros passos foi conhecer melhor o sistema a estudar, e efetuar a identifi-

cação das partes interessadas (stakeholders). Neste caso em particular temos: a) Sistema

Nacional de Saúde (SNS) e um dos atuais problemas – longas listas de espera para cirurgia; b) O centro hospitalar que tem recursos para a realização das cirurgias e onde o estudo foi reali- zado, o CHTMAD; c) O paciente, que é o cliente final da cadeia de valor estudada e que precisa ver a cirurgia necessitada realizada dentro dos limites do TMRG.

Outro passo importante foi a definição de valor, ou seja, o que é que os stakeholders valorizam: a) O SNS pretende reduzir as listas de espera; b) O CHTMAD quer otimizar os recursos presentes no centro hospitalar; c) O paciente quer ver a cirurgia realizada de forma a

obter melhor qualidade de vida e saúde.

A identificação da cadeia de valor surge com o estudo do percurso do paciente, desde que este recebe a informação de que necessita de um ato cirúrgico até à realização deste (no caso de ter sido efetuado em regime ambulatório) ou até à saída do internamento.

Para o estudo do fluxo de valor foram estudados indicadores de produtividade (médias dos tempos cirúrgicos, médias dos tempos de espera para cirurgia, taxa de cancelamento, pro- dutividade e taxa de utilização) que permitiram perceber se a gestão do bloco operatório está a ser efetuada de forma a torná-lo mais eficiente e eficaz.

O estudo da cadeia e fluxo de valor permitiu a identificação dos desperdícios e o reco- nhecimento de oportunidades de melhoria. A otimização do fluxo de valor, conseguida através da utilização de ferramentas lean, leva à estabilidade e à normalização requeridas pelo sistema

pull.

Este trabalho utilizou uma metodologia de investigação de estudo de caso usando o PDCA e utilizando ferramentas como o VSM e os 5W, e recolha e tratamento de dados estatís- ticos. Focou-se na fase P (Plan) do ciclo PDCA, mais especificamente na análise do problema. Começou pela representação do estado atual do serviço do BO e, para tal efeito, foi utilizada a ferramenta de diagnóstico lean, value stream mapping. Desta forma, foi possível obter uma visão geral do panorama atual da gestão do BO, que por sua vez permitiu o diagnóstico de problemas associados ao serviço de cirurgia, mostrando desta forma a importância de estudar o processo a as suas variantes intensamente. A seguir foi analisada a eficiência do BO através de indicadores de produtividade como a taxa de ocupação, taxa de cancelamento e produtividade cirúrgica. O tempo médio das listas de espera, assim como a capacidade do bloco de efetuar as cirurgias em espera até ao final do ano, também foram, adicionalmente abordados.

Uma das dificuldades deste trabalho foi a identificação do problema que foi sendo mo- dificado ao longo do tempo e consoante o tratamento dos dados cedidos pelo CHTMAD. Os problemas identificados apresentaram-se complexos e estão interligados, tanto devido às equi- pas multidisciplinares que constituem o BO, como pelos recursos materiais ou até pela diversi- dade de atos cirúrgicos realizados.

Ao fim de uma longa análise de registos cirúrgicos, verificaram-se duas situações que estão a pôr em causa a eficiência do BO: a produtividade cirúrgica que se apresentou negativa para todas as especialidades em estudo e a lista de espera para cirurgia. Valores negativos na

produtividade significam que os atos cirúrgicos realizados no ano de 2018, foram mais demo- rados quando comparados com os anos anteriores. Estes valores negativos podem estar relaci- onados com o facto de a duração do ato cirúrgico ser considerado um fator determinante para o cálculo da produtividade, mas que depende de vários fatores: o estado clínico do utente, o pro- cedimento e a experiência do cirurgião que realiza a cirurgia.

Em relação às listas de espera, há todo um conjunto de variáveis (relatadas no subcapí- tulo 3.1.4.6.1) que tornam este problema muito complexo e desafiante quando se procura propor alguma melhoria. Com os cálculos do tempo de espera médio para cirurgia foi possível verificar o estado na LIC no hospital de Vila Real. Foi também possível apurar que Ortopedia é a espe- cialidade com maior procura e a que tem menos tempo de espera, onde houve a superação do TMRG para 0,23% de doentes muito prioritários, 2,79% de doentes prioritários e 37,48% de doentes com prioridade normal. Já a especialidade de Urologia mostrou ser a especialidade com menor procura e com maior tempo de espera em média contando com 5,2% de doentes priori- tários a ultrapassar o TMRG e 49,72% de doentes com prioridade normal na mesma situação.

Foram também realizados cálculos adicionais que foram efetuados para perceber se as especialidades em estudo têm condições para intervencionar todos os doentes inscritos em LIC, à data de recolha da lista, 21 de agosto, tendo em conta a alocação de tempos operatórios para cada especialidade. Os resultados mostraram que apenas Ortopedia não tem tempos operatórios suficientes para intervencionar todos os doentes inscritos, no entanto, uma solução para este problema pode ser a produção adicional. Ortopedia conta com 3 tempos operatórios semanais para a realização de produção adicional e, se forem utilizados, também é possível intervencionar todos os pacientes em espera.

De facto, têm sido efetuados esforços para combater este problema, exemplo disso é a implementação do SIGIC que conseguiu reduzir a dimensão das listas de espera para cirurgia, no entanto, não é suficiente e as listas de espera continuam a ser um dos maiores problemas do Serviço Nacional de Saúde e, por isso, é mandatário implementar medidas que combatam este problema.

Com esta dissertação também se pretendia apresentar uma proposta de melhoria para a seriação dos pacientes inscritos na lista de espera. Esta proposta, que se incluiria na fase Plan do ciclo PDCA, não foi concretizada devido ao facto da recolha e a análise dos dados terem levado um tempo superior ao estimado e, por isso, os objetivos desta tese tiveram que ser redu- zidos à análise da situação.