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Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC)

Capítulo 3 – Caso de estudo e metodologia

3.1 Contexto

3.2.3 Apresentação do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro

3.2.4.6 Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC)

O Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC) é um sistema de re- gulação da atividade relativa a utentes propostos para cirurgia e a utentes operados, assente em princípios de equidade no acesso ao tratamento cirúrgico, transparência dos processos de gestão e responsabilização dos utentes e dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), e dos

estabelecimentos de saúde que contratam e convencionam com aquele a prestação de cuidados de saúde aos seus beneficiários (Saúde, 2008). A criação do SIGIC teve como finalidade a re- gulação de toda a atividade cirúrgica programada convencional e de ambulatório, e a inclusão de todas as etapas do processo de gestão do utente. Atualmente, os hospitais são obrigados a efetuar o registo dos respetivos doentes com indicação para cirurgia (Penedo et al., 2015). De- pois de registada, a informação é transferida para o Sistema Informático de Gestão da Lista de Inscritos para Cirurgia (SIGLIC), centralizado na Administração Central do Sistema de Saúde, I. P. (ACSS) (Saúde, 2008). Com a implementação destas normas, o SIGIC pretende reduzir o tempo de espera, garantir a equidade do acesso, promover a eficiência do sistema através da otimização da gestão da Lista de Inscritos para Cirurgia e dos recursos afetos, e garantir a qua- lidade e a transparência da informação (ACSS, 2019).

O SIGIC abrange toda a atividade cirúrgica programada realizada a utentes do SNS, seja ela efetuada nos hospitais públicos ou nos hospitais privados e do setor social que tenham con- tratos de convenção ou acordos de cooperação com o SNS para a realização de atividade cirúr- gica (SNS, 2018).

3.2.4.6.1 Lista de Inscritos para Cirurgia (LIC)

A existência de listas de espera para cirurgia deve-se ao desfasamento entre a intensi- dade da procura e a capacidade do sistema de saúde na resolução desses pedidos. Desta maneira, constituem um dos maiores problemas para o Ministério da Saúde e, por isso, ao longo dos últimos anos tem sido várias as medidas implementadas para reduzir as listas de espera para cirurgia (Barros, 2008).

Em Portugal, e na maior parte dos países da Organização para a Cooperação e Desen- volvimento Económico (OCDE), não é possível operar um paciente imediatamente ou numa data especifica que foi determinada como ideal, tanto pelo paciente como pelo médico. O paci- ente tem que ficar em lista de espera, a aguardar o agendamento da cirurgia e, por norma, o tempo de espera não cumpre os limites clinicamente aceitáveis, ou seja, o Tempo Máximo de Resposta Garantido (TMRG) (CESifo, 2010).

Uma das causas que pode levar ao aumento das listas de espera está relacionada com os avanços da tecnologia cirúrgica e anestésica, que levam ao aumento do alcance, segurança e da eficiência dos procedimentos cirúrgicos oferecidos pelos sistemas de saúde que, por sua vez, levam ao aumento da procura de intervenções cirúrgicas (Barros, 2008). Por outro lado, temos

a incapacidade dos serviços de saúde em dar resposta ao aumento da procura por cirurgias. Quando o tempo de espera atinge os 75% (prioridade 1) ou 50% (prioridade 2 e 3) do TMRG, é automaticamente emitido um vale cirurgia que permite que o paciente seja interven- cionado noutro hospital, seja ele privado ou social. Em caso de indisponibilidade de hospitais no distrito de residência do utente, é emitido um vale cirurgia para todos os hospitais disponíveis (ACSS, 2011c).

A Lista de Inscritos para Cirurgia (LIC) define-se como o conjunto das inscrições dos utentes que aguardam a realização de uma intervenção cirúrgica, independentemente da neces- sidade de internamento ou do tipo de anestesia utilizada, proposta e validada por médicos es- pecialistas num hospital do SNS ou numa instituição do setor privado ou do sector social que contratou com aquele Serviço a prestação de cuidados aos seus beneficiários e para a realização da qual esses mesmos utentes já deram o seu consentimento expresso (Saúde, 2008).

São incluídos na LIC todos os utentes dos hospitais do SNS e os utentes beneficiários desde serviço referenciados para os estabelecimentos de saúde do setor privado e do setor pu- blico (Saúde, 2008). Os utentes devem ainda cumprir os seguintes critérios de inclusão (ACSS, 2011b):

a) Utentes que aguardam a realização de um procedimento cirúrgico para o qual o ser- viço/unidade funcional prevê a utilização de recursos físicos e afetos à cirurgia progra- mada;

b) Utentes em situação de urgência diferida, dispensando-se as formalidades que não pu- derem ser efetuadas previamente por motivos clínicos;

c) Utentes que aguardam a realização de uma pequena cirurgia para o qual o hospital pre- veem utilizar os recursos adstritos à cirurgia programada;

d) Só podem inscrever utentes em LIC serviços que disponham de capacidade técnica para realizar os procedimentos cirúrgicos propostos.

Não são incluídos na LIC (ACSS, 2011b):

a) Utentes propostos para pequenas cirurgias (excetuando os casos devidamente justifica- dos em que sejam indispensáveis a anestesia geral ou loco-regional e a utilização do bloco operatório);

b) Utentes propostos para procedimentos cirúrgicos a realizar fora do bloco operatório de cirurgia convencional ou ambulatória;

c) Procedimentos efetuados por técnicos que não médicos com especialidade cirúrgica; d) Técnicas de diagnóstico que sejam realizadas no Bloco Operatório.

Segundo o Regulamento do SIGIC, ordenação dos episódios cirúrgicos para agenda- mento deve ser efetuada tenho em conta dois critérios (ACSS, 2011c):

• Prioridade – O nível de prioridade é estabelecido pelo médico especialista de acordo com a doença e problemas associados, patologia de base, gravidade, impacto na espe- rança de vida, na autonomia, na qualidade de vida do utente, velocidade de progressão e tempo de exposição à doença;

• Antiguidade na LIC – Quando existem episódios cirúrgicos agendados, com o mesmo nível de prioridade, é selecionado em primeiro lugar o utente com tempo de espera ofi- cial superior.

O tempo de espera corresponde ao número de dias decorridos entre o momento em que é proposta uma intervenção cirúrgica pelo médico especialista e o momento do ato cirúrgico. O cálculo do tempo de espera é essencial para determinar a antiguidade do utente e assim ordenar corretamente a LIC, de acordo com a prioridade e patologia (ACSS, 2011c).

O tempo médio de espera, equação (1), é obtido através do somatório dos tempos de espera dos utentes inscritos na LIC dividido pelo número total de doentes inscritos (Saúde, 2008):

𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎 = ∑ 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑝𝑒𝑟𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑢𝑡𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑖𝑛𝑠𝑐𝑟𝑖𝑡𝑜𝑠 𝑛𝑎 𝐿𝐼𝐶

𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑑𝑜𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑖𝑛𝑠𝑐𝑟𝑖𝑡𝑜𝑠 (1)

As cirurgias programadas são ainda classificadas de acordo com o nível prioridade. O agendamento das mesmas deve ser efetuado de forma a cumprir o Tempo Máximo de Resposta Garantido (TMRG) (Diário da República, 2017):

• Urgências diferidas (nível 4) devem ser concretizadas até 72 horas após o primeiro con- tacto com a instituição;

• Cirurgias muito prioritárias (nível 3) devem ser realizadas até 15 dias após indicação cirúrgica;

• Cirurgias prioritárias (nível 2) devem ser realizadas até 45 dias após indicação cirúrgica;

• Cirurgias com prioridade normal (nível 1) devem ser realizadas até 180 dias após indi- cação cirúrgica.

A implementação do SIGIC em 2005 e a existência do TMRG melhorou a articulação do bloco operatório com os serviços cirúrgicos, agilizou a agendamento cirúrgico e diminuiu a taxa de cancelamentos (Penedo et al., 2015).