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As principais políticas de Segurança Pública brasileira e a violação da dignidade da pessoa humana

4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA NO BRASIL

4.1 As principais políticas de Segurança Pública brasileira e a violação da dignidade da pessoa humana

Na contemporaneidade, o Estado busca constantemente reestruturar-se a fim de satisfazer as necessidades de uma sociedade dinâmica. Nesse constante processo civilizatório, surge a necessidade da manutenção da Segurança Pública, a fim de que se garanta o pleno exercício da cidadania. No atual paradigma de sistema capitalista, o Estado desempenha a função de garantidor da Segurança Pública, concretizando-se através do controle social exercido por mecanismos jurídicos e aparatos institucionais.

De acordo com Adorno, a Segurança Pública consiste em um processo articulado, que se caracteriza através da interdependência institucional e social. No que tange às políticas de Segurança Pública, estas são definidas e instituídas por mecanismos e estratégias de controle social, por meio das quais ocorre o enfrentamento da violência e da criminalidade através de ferramentas que se utilizam da punição por excelência341.

Sobre o tema, Bengochea leciona que a segurança da sociedade é condição essencial

341 ADORNO, S.Bordini. A gestão urbana do medo e da insegurança: violência, crime e justiça penal na

sociedade brasileira contemporânea. Tese (apresentada como exigência parcial para o Concurso de Livre- Docência em Ciências Humanas) – Departamento de Sociologia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 1996. p. 282.

para o exercício dos direitos e garantias dispostos no texto Constitucional. A fim de ser efetivada a Segurança Pública, é necessário que o Estado forneça meios estruturais através de seus órgãos de segurança, para a efetivação e promoção da Segurança Pública, a fim de satisfazer as demandas sociais. Essas instituições ou órgãos estatais são incumbidos de promover e de garantir a segurança da sociedade através de ações coercitivas utilizando-se do controle social. Esse conjunto de ações denomina-se de Sistema de Segurança Pública, o que consiste em um conjunto de ações traçadas em planos e em programas que têm por escopo a promoção da Segurança Pública em sua forma individual e coletiva342.

Em um contexto de um Estado neoliberal e globalizado, em que o aspecto econômico é uma de suas principais características, esse fator acaba sendo responsável por profundas mudanças na estrutura do Estado em sua forma de se organizar politicamente. No que tange à Segurança Pública, o ente estatal acaba substituindo o Estado Social por um Estado Penal, justificando essa conduta como resposta aos perigos produzidos por aqueles que não estão inseridos nesta nova ordem social343. Esses mecanismos apresentam hábeis instrumentos de controle social e racial, bem como desempenham uma seletividade sociorracial, uma vez que passam a excluir a classe pobre da política assistencialista passando a exercer uma política de mero encarceramento. O Estado, dessa forma, possui um total controle da classe economicamente hipossuficiente344.

Passetti leciona sobre os efeitos da globalização, com relação às segregações, que “por Estado penalizador, os estudos e pesquisas procuram mostrar as dimensões atuais dos efeitos da globalização nas segregações, confinamentos e extermínios de populações pobres, adulta, juvenil e infantil”345. Segundo Wacquant, o que ocorre é um processo de criminalização da classe hipossuficiente, tipificando-se criminalmente as condutas da classe pobre que se encontra à mercê da miséria. De acordo com o autor, esse paradigma de exclusão se relaciona diretamente com a “insegurança social gerada em toda parte pela dessocialização do trabalho assalariado, o recuo das proteções coletivas e a mercantilização das relações humanas”346.

Nesse contexto, Wacquant evidencia o surgimento do Estado Penal, como consequência da ruína das relações econômicas e sociais de produção e das melindrosas formas de trabalho, situações estas ditadas por um Estado Neoliberal, o qual se interessa apenas em atender aos

342 BENGOCHEA, J. L. et al. A transição de uma polícia de controle para uma polícia cidadã. Revista São

Paulo em Perspectiva, v. 18, n. 1, 2004. p. 119-131.

343 PASSETTI, E. Anarquismos e sociedade de controle. São Paulo: Cortez, 2003. p. 134. 344 WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi. op cit, 2011, p. 41.

345 PASSETTI, E. op cit, 2003, p. 170. 346 WACQUANT, L. op cit, 2001. p.13.

ditames do mercado. Nas palavras de Wacquant:

Em tais condições, desenvolver o Estado penal para responder às desordens suscitadas pela desregulamentação da economia, pela dessocialização do trabalho assalariado e pela pauperização relativa e absoluta de amplos contingentes do proletariado urbano, aumentando os meios, a amplitude e a intensidade da intervenção do aparelho policial e judiciário, equivale a (r)estabelecer uma verdadeira ‘ditadura sobre os pobres’347.

Nesse cenário, percebe-se um fortalecimento das relações mercantis que passam a gerir as relações sociais, ocasionando um enfraquecimento do Estado, ou seja, a economia passa a ditar as regras. Essa gestão de controle dos mecanismos sociais se dá de forma simultânea com o recrudescimento do direito penal, uma vez que este passa a penalizar condutas da classe pobre a fim de fortalecer a relação de poder que exerce sobre eles. A consequência disso é um Estado menos intervencionista para a classe mais rica, de modo a permitir um aumento em larga escala do lucro da exploração do mercado de consumo, em detrimento dos pobres. Já em relação à classe pobre, o Estado passa a exercer um controle exacerbado através de um Estado penal348. Nesse diapasão, o Estado, ao recrudescer o direito penal por intermédio de um processo expansivo, passa a reprimir a classe pobre através da “institucionalização de processos de criminalização de segmentos sociais, excluídos das possibilidades oferecidas pelo mercado, como forma de dar respostas aos anseios da sociedade em geral”, corroborando para que o Estado privilegie apenas os detentores do capital, os quais são intitulados “donos do poder”, num total prejuízo aos Direitos Humanos e à Dignidade da Pessoa Humana, uma vez que tal paradigma de um Estado Neoliberal serve apenas aos ricos detentores do capital e aos manipuladores da economia, em um total contrassenso à função que o Estado deveria desempenhar. Nesse sentido, surge um Estado para a classe pobre com menos assistencialismo e com uma maior vigilância. Já para os ricos, o Estado acaba agindo em conluio, exercendo cada vez menos controle sobre a classe detentora de capital. Desse modo, surge uma penalização direcionada aos mais frágeis do sistema capitalista349.

Nesse processo de democratização que ocorre no Brasil contemporâneo, mesmo já se passando duas décadas após a ditadura militar, percebe-se que poucas foram as mudanças ocorridas na seara da Segurança Pública. Permanece o Estado penalizador arraigado na institucionalização da criminalização da classe pobre. Sob a fachada de um Estado democrático, no qual o conceito de democracia fica apenas na teoria, percebe-se que o Estado vive um forte

347 WACQUANT, L. op cit, 2001. p.10. 348 WACQUANT, L. op cit, 2001. p.10.

349 CARVALHO. Vilobaldo de.; SILVA, Maria do Rosário de Fátima. Política de Segurança Pública no Brasil:

paradigma de autoritarismo disfarçado. De acordo com Adorno:

No Brasil, a reconstrução da sociedade e do Estado democráticos, após 20 anos do regime autoritário, não foi suficientemente profunda para conter o arbítrio das agências responsáveis pelo controle da ordem pública. Não obstante as mudanças dos padrões emergentes de criminalidade urbana violenta, as políticas de segurança e justiça criminal, formuladas e implementadas pelos governos democráticos, não se diferenciaram grosso modo daquelas adotadas pelo regime autoritário. A despeito dos avanços e conquistas obtidos nos últimos anos, traços do passado autoritário revelam- se resistentes às mudanças em direção ao Estado democrático de Direito350.

Após a queda do regime militar, surge um novo paradigma de governo denominado democrático. Nesse processo de transição da ditadura, a democracia enfrenta um grande obstáculo: manter a Segurança Pública e resolver o problema da insegurança das cidades, utilizando-se de seus órgãos de Segurança Pública sem ferir os princípios democráticos. A dificuldade da promoção da Segurança Pública é solucionar esses conflitos sem se utilizar de técnicas empregadas no tempo da ditadura militar, as quais não respeitam os Direitos Humanos e a Dignidade da Pessoa Humana. A Constituição de 1988 deixou a desejar no que tange à construção de uma política de Segurança Pública voltada a obedecer aos princípios de um Estado Republicano, haja vista que os órgãos responsáveis pela promoção da Segurança Pública não agiram de imediato de forma conjunta com o corpo social na construção democrática de uma política de Segurança Pública capaz de dar uma resposta eficaz aos conflitos sociais do país sem desrespeitar os Direitos Humanos351.

Nesse ínterim, Pereira destaca os interesses e as contradições peculiares às relações de povo e de governo na construção da política de Segurança Pública:

Trata-se, pois, a política pública, de uma estratégia de ação, pensada, planejada e avaliada, guiada por uma racionalidade coletiva na qual tanto o Estado como a sociedade desempenham papéis ativos. Eis porque o estudo da política pública é também o estudo do Estado em ação (Meny e Toenig) nas suas permanentes relações de reciprocidade e antagonismo com a sociedade, a qual constitui o espaço privilegiado das classes sociais352.

Percebe-se que à medida que a sociedade se organiza através de instituições representativas permite uma maior representatividade frente ao Estado. A sociedade organizada

350 ADORNO, S. op cit, 1996. p. 233.

351 CARVALHO. Vilobaldo de. E SILVA, Maria do Rosário de Fátima. Op cit, 2011. p.61.

352 PEREIRA, P. A. P. Discussões conceituais sobre política social como política pública e de direito de

cidadania. In: BOSCHETTI, I. (Org.). Política social no capitalismo: tendências contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2009. p. 96.

possui um maior poder de barganha, e de forma conjunta com o ente estatal passam a desenvolver políticas de Segurança Pública com maior eficiência voltada para a realidade social. Passando a entender a Política Pública como algo a ser pensado e a ser planejado e constantemente avaliado de forma conjunta entre sociedade e Estado, uma vez que ambos desempenham papéis ativos em um contexto social. Haja vista que a matéria de Política Pública deve ser tradada com maior relevância entre Estado e sociedade, desenvolvendo relações de empatia e reciprocidade353.

De acordo com Farah, as Políticas Públicas desenvolvidas pelo Brasil nos anos 1980, tinham como principais características a centralização de suas decisões, as quais delineavam as políticas de Segurança Pública Nacional, bem como toda questão financeira centralizada. Também ocorria uma fragmentação institucional pelo caráter setorial, e a principal característica desta política de Segurança Pública era a exclusão por completo da sociedade civil na participação da criação e da elaboração de políticas ou programas de Segurança Pública354.

Para o bom funcionamento das políticas de Segurança Pública, faz-se necessário o envolvimento de diversas esferas governamentais, bem como dos poderes da República Federativa. Portanto, cabe ao Poder Executivo toda a parte da gestão e o planejamento de forma conjunta com a sociedade, a fim de desenvolver políticas de Segurança Pública que visem a prevenir e a reprimir a criminalidade355, a violência, bem como a execução penal, de forma que não se firam os Direitos Humanos e tampouco a Dignidade da Pessoa Humana. Já o Poder Judiciário fica incumbido de assegurar o devido processo legal e a aplicação da legislação vigente aos delitos cometidos dentro de sua jurisdição356. Fica a encargo do Poder Legislativo a criação de leis357, as quais sejam eficazes ao funcionamento adequado do sistema de justiça criminal, bem como em consonância à dignidade da pessoa humana e ao respeito aos direitos humanos.

Embora a Constituição Federal de 1988 tenha desenvolvido sistemas de Segurança Pública em que se estabelecem responsabilidades legais ao Estado a fim de promover a Segurança Pública de forma individual e coletiva, no Brasil, entretanto, essas políticas de

353 PEREIRA, P. A. P. op cit, 2009. p. 96

354 FARAH, M. F. dos S. Parcerias, novos arranjos institucionais e políticas públicas no nível local de

governo. In: FERRAREZI, E.; SARAIVA, E. (Org.). Políticas públicas, Brasília: ENAP, 2006. (Coletânea, v. 2). p. 189 e 190.

355 CARVALHO. Vilobaldo de.; SILVA, Maria do Rosário de Fátima. Op cit, 2011. p.62..

356 LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. 13 ed. rev. Atual. E ampl. São Paulo: Saraiva, 2009.

p. 713.

Segurança Pública são impróprias para a realidade social. Segundo Sapori, não há eficácia na forma de planejar, monitorar e avaliar os resultados obtidos no combate à criminalidade, muito menos um emprego eficiente do erário Público na promoção da Segurança Pública. Tanto na esfera Federal quanto na Estadual, as políticas de Segurança Pública dos últimos 20 anos se resumem em dar resposta tão somente a acontecimentos imediatistas de conflitos de ordem pública, não tratando o problema em sua origem358. Nas palavras de Sapori:

Planejamento, monitoramento, avaliação de resultados, gasto eficiente dos recursos financeiros não têm sido procedimentos usuais nas ações de combate à criminalidade, seja no executivo federal, seja nos executivos estaduais. Desse ponto de vista, a história das políticas de segurança pública na sociedade brasileira nas duas últimas décadas se resume a uma série de intervenções governamentais espasmódicas, meramente reativas, voltadas para a solução imediata de crises que assolam a ordem pública359.

Sob uma ótica mais humanista, a Segurança Pública deveria ser entendida como um processo “sistêmico e otimizado” em que a sociedade e o Estado de forma conjunta desenvolvam ações de políticas públicas, as quais busquem certificar a proteção dos Direitos Humanos estendendo-os a toda a coletividade. Desse modo, ocorrerá uma justiça mais equânime em sua forma de agir, haja vista que esta justiça teria por escopo a recuperação e tratamento de todos aqueles que em algum momento acabaram por violar a lei. Esse processo de recuperação respeitaria a cidadania de todos e promoveria a dignidade da pessoa humana360. De acordo com Bengochea:

A segurança pública é um processo sistêmico e otimizado que envolve um conjunto de ações públicas e comunitárias, visando assegurar a proteção do indivíduo e da coletividade e a ampliação da justiça da punição, recuperação e tratamento dos que violam a lei, garantindo direitos e cidadania a todos. Um processo sistêmico porque envolve, num mesmo cenário, um conjunto de conhecimentos e ferramentas de competência dos poderes constituídos e ao alcance da comunidade organizada, interagindo e compartilhando visão, compromissos e objetivos comuns; e otimizado porque depende de decisões rápidas e de resultados imediatos361.

Nesse panorama, percebe-se que, a fim de que haja uma maior eficácia nas ações governamentais no combate à violência e à criminalidade, deve haver uma cooperação entre sociedade e Estado. Desse modo serão desenvolvidas políticas de Segurança Pública que dizem

358 SAPORI, L. F. Segurança pública no Brasil: desafios e perspectivas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. p.

109.

359 SAPORI, L. F. op cit, 2007. p. 109.

360 BENGOCHEA, J. L. et al. A transição de uma polícia de controle para uma polícia cidadã. Revista São

Paulo em Perspectiva, v. 18, n. 1, 2004. p. 119-121.

respeito à realidade fática social com a observância aos Direitos Humanos e à Dignidade da Pessoa Humana. O tema Segurança Pública somente passou a ser debatido como “dever do Estado e responsabilidade de todos”, após uma década da promulgação da “Constituição Cidadã”. Nessa ocasião, as políticas de Segurança Pública passaram a ser compreendidas sob o prisma de uma sociedade Republicana, a qual está pautada na proteção dos Direito Humanos e na Dignidade da Pessoa Humana. Nesse diapasão, no ano de 2000, cria-se o Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP). Sete anos mais tarde é criado o então Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), os quais trazem novas luzes aos problemas relacionados à Segurança Pública362.

Após a influência exercida pela Conferência Mundial de Direitos Humanos, ocorrida em Viena no ano de 1993, o então Presidente Fernando Henrique Cardoso cria, no ano de 1996, o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH). Esse programa passou por algumas otimizações e, no ano 2000, foi instituído o II Programa Nacional de Direitos Humanos, ocorrido após a IV conferência Nacional de Direitos Humanos de 1999. O objetivo do novo programa era demonstrar uma reorganização da gestão em Segurança Pública. Já no ano de 1995, o Governo Federal cria a Secretaria de Planejamento de Ações Nacionais de Segurança Pública (Seplanseg), a qual se encontra na seara do Ministério da Justiça. Entretanto, no ano de 1998, essa secretaria é modificada para Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), e seu escopo era funcionar de forma conjunta com todos os Estados pertencentes à Federação, como se cada um desses fosse uma engrenagem com o objetivo de implementar a política nacional de Segurança Pública em todo o território nacional. A instituição da Senasp, pertencente ao órgão do Executivo, teve o condão de melhorar os sistemas de gerenciamento administrativo no que tange à Segurança Pública Nacional. Desse esforço, surge o Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP). Esse plano evoca-se ao combate da violência no país, agindo primordialmente nas áreas com maiores conflitos sociais e com maior criminalidade. Outra finalidade deste plano é a otimização das ações do órgão de Segurança Pública de modo que passem a respeitar os Direitos Humanos e a Dignidade da Pessoa Humana363.

Lopes considera o Plano Nacional de Segurança Pública como a primeira política nacional e democrática em Segurança Pública. Política essa que é voltada ao incentivo tecnológico e ao aperfeiçoamento da sistemática de integração na qual as políticas de Segurança Pública agem em consonância com a sociedade. Nas palavras do autor:

362 CARVALHO. Vilobaldo de.; E SILVA, Maria do Rosário de Fátima. Op cit, 2011. p.62. 363 CARVALHO. Vilobaldo de.; E SILVA, Maria do Rosário de Fátima. Op cit, 2011. p.62 e 63.

O Plano Nacional de Segurança Pública de 2000 é considerado a primeira política nacional e democrática de segurança focada no estímulo à inovação tecnológica; alude ao aperfeiçoamento do sistema de segurança pública através da integração de políticas de segurança, sociais e ações comunitárias, com a qual se pretende a definição de uma nova segurança pública e, sobretudo, uma novidade em democracia364.

Evidentemente que o uso de novas tecnologias contribui significativamente no auxílio à Segurança Pública, uma vez que torna mais eficaz suas ações. Nesse ínterim, o uso de tecnologias de ponta recomendadas pelo PNSP é entendido como tática de ação. O PNSP traça uma nova “doxa” em Segurança Pública, por meio da qual procura a repressão e a prevenção a todo e qualquer tipo de criminalidade ocorrida em território nacional. A fim de angariar recursos financeiros para custear o PNSP, no mesmo ano em que este é criado, surge o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP). Mas apesar desses volumosos investimentos financeiros e avanços tecnológicos em Segurança Pública, não se garantiram resultados satisfatórios. Nesse entendimento, Fernando Salla aduz:

O Plano Nacional de Segurança Pública [...] compreendia 124 ações distribuídas em 15 compromissos que estavam voltadas para áreas diversas como o combate ao narcotráfico e ao crime organizado; o desarmamento; a capacitação profissional; e o reaparelhamento das polícias, a atualização da legislação sobre segurança pública, a redução da violência urbana e o aperfeiçoamento do sistema penitenciário. Uma novidade é que no plano, além dessas iniciativas na área específica de segurança, eram propostas diversas ações na esfera das políticas sociais. O plano, no entanto, não fixava os recursos nem as metas para ações. Ao mesmo tempo, não estavam estabelecidos quais seriam os mecanismos de gestão, acompanhamento e avaliação do plano365.

Nesse contexto, embora o PNSP compreendesse 124 ações e 15 compromissos voltados para as mais diversas áreas ao combate ao narcotráfico e ao crime organizado em especial, mesmo com todo o reaparelhamento das polícias e programas que combatessem a violência das cidades, tratava-se de um plano inócuo, haja vista não possuir metas a serem alcançadas por suas ações. O plano também não dispunha de fixação dos recursos destinados às referidas ações e, além disso, era operacionalmente desajustado, tendo em vista que os mecanismos de gestão não estavam estabelecidos. O plano também não passava por avaliações periódicas a fim de atestar sua eficiência e eficácia. Nesse sentido, percebe-se que o PNSP demonstrou poucos avanços práticos, e um total fracasso em seus objetivos 366.

364 LOPES, E. Política e segurança pública: uma vontade de sujeição. Rio de Janeiro: Contraponto, 2009. p.

29.

365 SALLA, F. Os impasses da democracia brasileira: o balanço de uma década de políticas para as prisões

no Brasil. Revista Lusotopie, Paris, v. 10, 2003. p. 430.

Nesse segmento, Adorno leciona que as políticas de Segurança Públicas não estão conseguindo conter o crescimento da criminalidade, das violações dos Direito Humanos e da violência de modo geral. Nas palavras do autor:

As políticas públicas de segurança, justiça e penitenciárias não têm contido o crescimento dos crimes, das graves violações dos direitos humanos e da violência em