• Nenhum resultado encontrado

Relações entre a Biopolítica e o Biopoder com os Direitos Humanos no campo das políticas de Segurança Pública

3 A BIOPOLÍTICA E A SEGURANÇA PÚBLICA

3.2 Relações entre a Biopolítica e o Biopoder com os Direitos Humanos no campo das políticas de Segurança Pública

Foucault, em sua obra “História da sexualidade I: a vontade de saber”, discorre sobre a maneira pela qual a vida entra na sociedade, bem como a forma por meio da qual o Estado passa a conduzir a vida dos seres humanos através do poder biopolítico (biopoder), surgindo com isso um direito de “fazer morrer e deixar viver”289, o que constitui o genuíno símbolo do poder estatal. Exercendo seu direito de matar, voltando-se a um direito de fazer viver e deixar morrer, contribui-se para transfiguração na seara do direito, ocasionando a transição da soberania a um sistema biopolítico.

Retomando as lições foucaultianas, Agamben salienta:

À luz dessas considerações precedentes, entre as duas fórmulas insinua-se uma terceira, que define o caráter mais específico da biopolítica do século XX: já não fazer morrer, nem fazer viver, mas fazer sobreviver. Nem a vida nem a morte, mas a produção de uma sobrevivência modulável e virtualmente infinita constitui a tarefa decisiva do biopoder em nosso tempo290.

O direito de vida e morte característico do poder soberano perpetua-se ao longo do tempo. Este direito possui sua gênese na patria potestà, oriundo do direito Romano, em que o

289 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 145.

pai da família romana dispunha do direito a vida de seus descendentes, bem como de seus escravos, sendo lícito tirar-lhes a vida: aquele que dá a vida tem o poder de retirá-la. Surge, assim, o direito de fazer morrer ou deixar viver291. Este direito de vida e morte é uma característica que marca o poder do soberano. Entretanto, o direito de dispor do poder de fazer morrer ou deixar viver não é absoluto, uma vez que só se aplica este direito no caso em que o soberano se encontre ameaçado em sua própria existência292. Seria o caso de responder às ameaças provindas de inimigos ou situações hostis em que o soberano, a fim de se proteger, legitima suas ações em um direito de guerra, podendo convocar todos aqueles que estão sob sua tutela para que saia em defesa do Estado, expondo-se diretamente à morte, passando a exercer sobre seus súditos uma espécie de direito “indireto de vida e morte”. Entretanto, no caso de um súdito cometer um delito infringindo a lei, é lícito ao soberano dispor sobre a vida deste indivíduo, passando a exercer um poder de morte sobre este indivíduo, tolhendo a vida como forma de castigo293.

Nesse sentido Foucault leciona:

Encarando nestes termos, o direito de vida e morte já não é um privilégio absoluto: é condicionado à defesa do soberano e à sua sobrevivência enquanto tal. seria o caso de concebê-lo, como Hobbes, como a transposição para o príncipe do direito que todos possuiriam, no estado de natureza, de defender sua própria vida à custa da morte dos outros? Ou deve-se ver nele um direito específico que aparece com a formação deste ser jurídico novo que é o soberano? De qualquer modo, o direito de vida e morte, sob esta forma moderna, relativa e limitada, como também sob sua forma antiga e absoluta, é um direito assimétrico. O soberano só exerce, no caso, seu direito sobre a vida, exercendo seu direito de matar ou contendo-o; só marca seu poder de vida pela morte que tem condições de exigir. O direito que é formulado como “de vida e morte” é, de fato, o direito de causar a morte ou de deixar viver294.

Percebe-se que o poder de fazer morrer ou deixar viver era o símbolo do soberano. Esse poder era empregado como forma de confiscar a vida dos súditos, mesmo que isso significasse o derramamento de seu sangue. Poderia o soberano confiscar produtos, trabalho, bens, tempo, corpos e, inclusive, a vida de todos os que estão sob sua tutela295.

Estes mecanismos de poder, a partir da época clássica, no Ocidente, começam a sofrer mutações. O confisco passa a ser apenas uma peça desse mecanismo de poder, surgindo outros tais como a vigilância, o aumento das forças e sua organização, tornando-as completamente manipuláveis. Em razão disso, “o direito de morte tenderá a se deslocar ou, pelo menos, a se

291 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014. p. 145. 292 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 145. 293 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 145. 294 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, 145 e 146. 295 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 146.

apoiar nas exigências de um poder que gere a vida e a se ordenar em função de seus reclamos”296.

Sobre o tema, Foucault sustenta:

Essa morte, que se fundamentava no direito do soberano se defender ou pedir que o defendessem, vai aparecer como o simples reverso do direito do corpo social de garantir sua própria vida, mantê-la ou desenvolvê-la. Contudo, jamais as guerras foram tão sangrentas como a partir do século XIX e nunca, guardadas as proporções, os regimes haviam, até então, praticado tais holocaustos em suas próprias populações. Mas esse formidável poder de morte – e talvez seja o que lhe empresta uma parte da força e do cinismo com que levou tão longe seus próprios limites – apresenta-se agora como o complemento de um poder que se exerce, positivamente, sobre a vida, que empreende sua gestão, sua majoração, sua multiplicação, o exercício, sobre ela, de controles precisos e regulações de conjuntos. As guerras já não se travam em nome do soberano a ser defendido; travam-se em nome da existência de todos, populações inteiras são levadas à destruição mútua em nome da necessidade de viver297.

Diante desse contexto de vida e morte, percebe-se que os massacres tornaram-se essenciais à gestão da vida. O que está em jogo é a sobrevivência dos “corpos e da raça”. Inúmeros regimes de governo passaram a travar guerras, o que resultou em uma grande mortandade à humanidade. O poder de levar uma nação à morte é inversamente proporcional à outra nação preservar sua vida. Esta técnica de guerra sustenta-se sob o alicerce de uma legítima defesa, em que matar justifica-se em prol da sobrevivência. Este princípio de matar em nome da vida passou a ser adotado pelos Estados. Entretanto, esta razão de existência não é mais jurídica, mas passou a ter um cunho biológico, devido à percepção de que “o poder se situa e exerce ao nível da vida, da espécie, da raça e dos fenômenos maciços de população”298.

Nesse diapasão, a pena de morte por um longo período é estabelecida como demonstração de poder do soberano. Constituía-se como uma resposta do soberano a todos os que iam de encontro aos seus anseios, lei ou que fossem consideradas hostis. Entretanto, no momento em que o poder passou a governar a vida, ocorreu uma mudança nessa lógica de fazer morrer, passando a uma lógica de deixar viver em razão do poder do soberano. Há de se observar que a mudança da lógica de fazer morrer para deixar viver, nada tem a ver com sentimentos humanitários: é puramente uma lógica voltada ao exercício do poder soberano ao ser biológico299.

Nesse entendimento Foucault fundamenta:

296 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 146. 297 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 147. 298 FOUCAUT, Michel op cit, 2014, p. 147 e 148. 299 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 148.

De que modo um poder viria a exercer sua mais altas prerrogativas e causar a morte se o seu papel mais importante é o de garantir, sustentar, reforçar, multiplicar a vida e pô-la em ordem? Para um poder deste tipo, a pena capital é, ao mesmo tempo, o limite, o escândalo e a contradição. Daí o fato de que não se pôde mantê-la a não ser invocando, nem tanto a enormidade do crime quanto a monstruosidade do criminoso, sua incorrigibilidade e a salvaguarda da sociedade. São mortos legitimamente aqueles que constituem uma espécie de perigo biológico para os outros300.

Nesse ínterim, com o advento do biopoder, “pode-se dizer que o velho direito de causar a morte ou deixar viver foi substituído por um poder de causar a vida ou devolver à morte”. Este fenômeno da passagem da morte a um novo paradigma que agora é a própria vida. Somente o Estado possui o direito de fazer morrer ou deixar morrer301.

Este poder sobre a vida e a morte que surgiu no século XVII tem como objeto o corpo. Como se este fosse uma máquina de produção. Um ser adestrado cujas capacidades são aumentadas extraindo-se suas aptidões e forças, fazendo com que aumente sua “utilidade e docilidade”, de modo a contribuir para a sua completa integração a estes sistemas de controles de forma eficaz e voltada à economia, caracterizada como a “anátomo-política do corpo humano”302.

O segundo poder o qual surgiu no século XVIII focou-se sobre o corpo-espécie. Conforme Foucault:

No corpo transplantado pela mecânica do ser vivo e como suporte dos processos biológicos: a proliferação, os nascimentos e a mortalidade, o nível de saúde, a duração da vida, a longevidade, com todas as condições que podem fazê-los variar; tais processos são assumidos mediante toda uma série de intervenções e controles reguladores: uma biopolítica da população. As disciplinas do corpo e as regulações da população constituem os dois pólos em tomo dos quais se desenvolveu a organização do poder sobre a vida. A instalação – durante a época clássica, desta grande tecnologia de duas faces – anatômica e biológica, individualizante especificante, voltada para os desempenhos do corpo e encarando os processos da vida – caracteriza um poder cuja função mais elevada já não é mais matar, mas investir sobre a vida, de cima a baixo303.

O poder de morte, que outrora era característica do poder soberano, agora aparece sob outro paradigma, sendo este o da administração dos corpos através de uma “gestão calculista da vida”. Essa gestão se concretiza através das disciplinas em suas diversas modalidades, tais como “escolas, colégios, casernas, ateliês, práticas políticas, natalidade, longevidade, saúde, habitação, migração”, técnicas estas as quais tem por escopo a sujeição e o controle da

300 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 148. 301 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 148. 302 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 148. 303 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 150.

população. Surge, assim, a “era do biopoder”304.

O biopoder teve um importante papel para o desenvolvimento do capitalismo, uma vez que através do controle dos corpos, os quais tem por escopo a produção, ocorreu um ajustamento deste com os fenômenos dos processos econômicos305.

O capitalismo, por sua vez, exige cada vez mais do corpo humano. É necessário um aumento constantemente de seus esforços, utilidade, e docilidade, a fim de que mais se produza. Para que este corpo corresponda às expectativas do capitalismo, são necessários métodos que aumentem significativamente suas aptidões, o que só é possível através dos “grandes aparelhos de Estado, como instituições de poder”, o que por sua vez garante a preservação da produtividade dos corpos dóceis em larga escala306.

Esse processo da majoração das aptidões dos corpos só é possível através da utilização das técnicas de poder, as quais estão presentes em várias instituições como: “família, exército, escola, polícia, medicina individual, ou na coletividade”. Estas técnicas agem em prol dos processos econômicos. Estes fatores contribuem para a preservação do capitalismo. Além disso, se utilizam de técnicas de segregação e hierarquização social, o que por sua vez passa a garantir o domínio do poder hegemónico. Resultado disso é a acumulação de capital pelos detentores do poder, os quais exploram as forças dos corpos dóceis, sua produtividade ao máximo, visando ao lucro, havendo uma distribuição desproporcional de riquezas, o que só é possível através do exercício do biopoder307. Todo este investimento sobre o corpo foi indispensável ao desenvolvimento do capitalismo naquele momento308.

Outro reflexo do desenvolvimento do biopoder é atividade em que a norma se relaciona com o sistema jurídico da lei. Neste sentido Foucault leciona:

A lei não pode deixar de ser armada, e sua arma por excelência é a morte; aos que a transgridem, ela responde, pelo menos como último recurso, com essa ameaça absoluta. A lei sempre se refere ao gladio. Mas um poder que tem a tarefa de se encarregar da vida terá necessidade de mecanismos contínuos, reguladores e corretivos. Já não se trata de pôr a morte em ação no campo da soberania, mas de distribuir os vivos em um domínio de valor e utilidade. Um poder dessa natureza tem de qualificar, medir, avaliar, hierarquizar, mais do que se manifestar em seu fausto mortífero; não tem que traçar a linha que separa os súditos obedientes dos inimigos do soberano, opera distribuições em torno da norma. Não quero dizer que a lei se apague ou que as instituições de justiça tendam a desaparecer; mas que a lei funciona cada vez mais como norma, e que a instituição judiciária se integra cada vez mais num contínuo de aparelhos (médicos, administrativos etc.) cujas funções são sobretudo

304 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 150 e 151. 305 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 151 e 152. 306 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 152. 307 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 152. 308 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 152.

reguladoras309.

“Uma sociedade normalizadora é o efeito histórico de uma tecnologia de poder centrada na vida”310. Ao se fazer alusão às sociedades que se tem conhecimento tendo por parâmetro o Século XVIII, percebe-se um retrocesso jurídico, uma vez que toda legislação, seja ela a própria Constituição, a partir da Revolução Francesa, bem como os códigos elaborados ou aqueles que já passaram por uma reforma, ou qualquer processo legislativo, é a forma que se estabelece um sistema no qual os indivíduos são moldados e passam a aderir a esta sistemática substancialmente normalizadora311.

Com relação a esta biopolítica e bioporder, do século XIX, as resistências em desfavor destes poderes encontram-se centrada precisamente naquilo que mais se busca o domínio, ou seja, a própria vida do ser humano enquanto ser vivente. Estas resistências se operam anteriormente ao século XIX, através de grandes batalhas, lutas, revoltas, dentre outras formas de resistências, as quais evidenciam a este “sistema geral de poder”. O que se busca não é a efetivação de um direito arcaico, mas o reestabelecimento da vida como um objeto em si mesmo, o que se concretiza través da satisfação das suas necessidades fundamentais, a essência concreta do ser humano, a concretização de suas virtualidades e a de completude do possível312. Utópico ou não, a busca por esta plenitude de virtualidades em prol do ser vivente, opera-se então um processo de luta, o qual é concreto e tem como escopo voltar-se contra o sistema que busca controlar a vida do ser humano através de técnicas sistemáticas de biopoder e de biopolítica313. A vida se tornou por excelência objeto de disputas políticas, sendo esta muito mais que um direito do homem, indo de encontro à biopolítica e ao biopoder os quais buscam sua sustentação através de ratificações de direito314.

Nesse sentido Foucault destaca que:

O “direito” à vida, ao corpo, à saúde, à felicidade, à satisfação das necessidades, o “direito”, acima de todas as opressões ou “alienações”, de encontrar o que se é e tudo o que se pode ser, esse “direito” tão incompreensível para o sistema jurídico clássico, foi a réplica política a todos esses novos procedimentos de poder que, por sua vez, também não fazem parte do direito tradicional da soberania315.

309 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 155 e 156. 310 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 156. 311 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 156. 312 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 157. 313 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 156. 314 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 156. 315 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 157.

Esta maneira na qual a vida entra na sociedade, assim como a maneira pela qual o Estado passa a conduzir a vida dos seres humanos através do poder biopolítico e biopoder, faz surgir um direito no qual se é lícito causar a morte ou simplesmente deixar que viva. Este símbolo constitui o genuíno poder estatal316. O Estado passou a exercê-lo em nome da Segurança Pública, justificando práticas preventivas que, por sua vez, compreendem um paradigma de Segurança Pública. Ao se fazer uma correlação entre tais práticas de Segurança Pública e os Direitos Humanos, levando em conta os princípios democráticos, percebe-se um paradigma de autoritarismo político e social317. Uma vez que o Estado, ao exercer seu direito de matar, volta-se a um direito de fazer viver e deixar morrer, contribuindo assim para transfiguração na seara do direito, ocasionando a transição da soberania a um sistema biopolítico318.

Segundo Agamben, estes apontamentos correlacionados à biopolítica e ao biopoder passam a definir o caráter mais pontual da biopolítica do século XX: aqui já não se busca fazer morrer, nem se fazer viver, mas se busca a sobrevivência do indivíduo. Produzindo meramente uma espécie de sobrevivência a qual é perfeitamente modulável pelo sistema biopolítico o que por sua vez constitui o escopo do biopoder contemporaneamente319.

A fim de que se compreenda a relação existente entre a Segurança Pública sob o prisma dos Direitos Humanos, se faz necessário o entendimento do que é Segurança Pública. Em uma definição de Segurança Pública mais clássica, são aquelas que dão destaque as instituições policiais, que tem por escopo a preservação da ordem pública, a garantia do patrimônio, e a promoção de segurança ao cidadão. Estas percepções dogmáticas encontram respaldo usualmente na legislação vigente, tal como o Código Penal, Código de Processo Penal, dentre outros, os que por sua vez se compreendem como instrumentos jurídicos totalmente obsoletos, uma vez que não são eficazes nem adequados na contemporaneidade320.

Nesse diapasão, Oliveira sustenta que o conceito de segurança deve ser compreendido como uma maneira de proteger as liberdades individuais, não implicando na exclusão das garantias de segurança do Estado contemporâneo, podendo se afirmar que a Segurança Pública é dotada de uma conotação de correlação entre a ordem social e a ordem política. Nesse sentido, o Estado possui legitimidade para fazer o uso da força, uma vez que é responsável pela

316 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 145.

317 DIAS, Lúcia Lemos. A política de segurança pública entre o monopólio legítimo da força e os Direitos

Humanos: A experiência da Paraíba no pós 1988. Tese de Doutorado. Recife, 2010, p. 66.

318 FOUCAUT, Michel. op cit, 2014, p. 145.

319 AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e o testemunho, p. 155. 320 DIAS, Lúcia Lemos. op cit, 2010, p. 66.

promoção da segurança de todos os seus súditos, incumbindo-lhe a intermediação entre estes indivíduos321. Entretanto, o Estado deve ficar sob o crivo da legalidade, de acordo com o jurista alemão Feuerbach, o qual imortalizou o princípio da legalidade com o jargão “nulla poena sine

lege e nullum crimen sine poena legali”322. O Estado deve ficar restrito à legalidade, buscando

respaldo na legislação vigente em seu território de abrangência, não podendo agir a seu bel prazer e muito menos criminalizar condutas as quais não são previstas pela legislação vigente anteriormente à sua consumação323.

Com relação a uma noção da ordem social em uma perspectiva voltada à Segurança Pública, passa adquirir uma conotação de tranquilidade pública e a garantida de ordem pública e política. Nesse sentido Fernandes passa a lecionar:

A ordem social estabelecida constitui o fundamento da segurança individual e a segurança coletiva é garantia do respeito a vida intima, pela vida privada e pela vida pública. Por isso, o poder político, a sociedade civil e os cidadãos desenvolvem um esforço conjunto para preservar a ordem social, como condição indispensável ao exercício dos direitos do homem e das liberdades fundamentais324.

Nesse diapasão nota-se um equilíbrio entre o monopólio da Segurança Pública, os costumes, as leis, e os Direitos Humanos. A fim de se alcançar os objetivos da preservação da ordem social sem desrespeitar os Direitos Humanos, o Estado procura se utilizar dos meios necessários para atingir os objetivos de construir uma sociedade centrada na paz social e estabilidade da ordem pública325.

Nesse contexto de Segurança Pública se percebe a instituição do monopólio da violência estatal, uma vez que o Estado é a único que possui a legitimidade para agir em nome de todos, tomando como preceito, a fim de garantir esta suposta segurança, à liberdade dos indivíduos. Neste diapasão, o Estado passa a encontrar limites no princípio Constitucional da Legalidade, uma vez que só deve agir enquanto houver previsão legal. A fim de aplicabilidade, se leva em conta a existência real de fatores sociológicos, com isso surge uma associação na qual se vincula o conceito de segurança ao de paz pública ou até mesmo da ordem pública. Este conceito de