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Principais Regras de Controle da Solvência das Seguradoras

2 EVOLUÇÃO DO MERCADO BRASILEIRO DE SEGUROS

2.3 Principais Regras de Controle da Solvência das Seguradoras

Em decorrência da sua característica econômica social e pelo fato de ser uma formadora de poupança interna, a regulamentação da atividade seguradora no Brasil tem aumentado significativamente. Na realidade, o rígido controle e a forte regulamentação que o setor enfrenta são proporcionais ao malefício que poderia ser causado pela falência de uma ou mais empresas desse setor.

Como o principal negócio dessas companhias é assumir os riscos de seus clientes, elas estão em direta exposição aos mais diversos riscos do mercado, e nesse negócio ganha a companhia que melhor equilibrar sua carteira de produtos (riscos e ganhos). Conforme destaca Rodrigues (2008), para que qualquer seguradora possa ingressar e permanecer autorizada a atuar no país, deve se submeter às regras de controle da solidez econômico-financeira estabelecida pelos órgãos regulamentadores Brasil, dentre as quais se destacam:

Capital Mínimo: Resolução CNSP n◦ 178 de 17 de dezembro de 2007, alterada pela

Resolução CNSP n◦ 200 de 16 de dezembro de 2008 e revogada pela Resolução CNSP n◦ 227 de 6 de dezembro de 2010.

Margem de Solvência: Resolução CNSP n◦ 8 de julho de 1989, alterada pela Resolução

n◦ 55 de 3 de setembro de 2001.

Passivo não Operacional: Lei n◦ 10.190 de 14 de fevereiro de 2001 que aprovou a

Medida Provisória n◦ 1.719 de 13 de outubro de 1998.

Provisões Técnicas: Resolução CNSP n◦ 120 de 24 de dezembro de 2004, revogada pela

Resolução n◦162 de dezembro de 2006, que foi alterada pelas Resoluções CNSP n◦ 181 de 17 de dezembro de 2007, n◦ 195 de 16 de dezembro de 2008 e n◦ 204 de 28 de maio de 2009.

Ativos Garantidores das Provisões Técnicas: Resoluções CMN n◦ 3308 de 31 de agosto

de 2005 e n◦ 3358 de 31 de março de 2006.

2.3.1 Capital Mínimo

A Resolução CNSP n◦. 178/07, alterada pela Resolução n◦. CNSP 200/2008, dispõe sobre o capital mínimo requerido para autorização e funcionamento das sociedades seguradoras, capitalização e as entidades abertas de previdência complementar.

Conforme determina o Art. 6º, “As sociedades seguradoras deverão apresentar, quando do encerramento de seus balancetes mensais, patrimônio líquido ajustado maior ou igual ao capital mínimo requerido”, o qual é o equivalente à soma da parcela fixa do capital base de R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais), com o capital adicional, cujo montante varia de acordo com as regiões (unidades da federação) que se pretendem operar, conforme demonstrado na Tabela 9. Para operar em todo o país, por exemplo, o capital mínimo é de R$ 15.000.000,00 (quinze milhões de reais), sendo R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais) da parcela fixa acrescidos de R$ 13.800.000,00 (treze milhões e oitocentos mil reais) da parcela variável.

Tabela 9 - Valor da Parcela Variável do Capital Mínimo Região Estados

Parcela variável (em Reais)

1 AM, PA, AC, RR, AP, RO 120.000,00 2 PI, MA, CE 120.000,00 3 PE, RN, PB, AL 180.000,00 4 SE, BA 180.000,00 5 GO, DF, TO, MT, MS 600.000,00 6 RJ, ES, MG 2.800.000,00 7 SP 8.800.000,00 8 PR, SC, RS 1.000.000,00 Total 13.800.000,00 Fonte: Resolução CNSP 178/2007

Caso seja apurada insuficiência de patrimônio líquido ajustado - PLA, a qual é aferida em relação ao maior dos valores entre margem de solvência e o capital mínimo requerido, é requerido à seguradora:

a) Apresentar plano corretivo de solvência visando a recomposição da sua solvência quando a insuficiência do seu PLA em relação ao capital mínimo for de até 30% ou,

b) Apresentar plano de recuperação de solvência, acompanhado de novo plano de negócios e nota técnica atuarial, para correção dos problemas que ocasionaram a insuficiência de PLA, se a insuficiência for de 30% a 50% do capital mínimo.

Contudo, se a insuficiência de PLA for de 50% a 70%, a SUSEP determinará o regime especial de fiscalização de direção-fiscal, conforme dispõe o art. 89 do Decreto-Lei no. 73/66. Para adaptação e adequação da insuficiência de PLA aferida pelas seguradoras no mês de janeiro de 2008, ou seja, logo após a promulgação da referida resolução, foi concedido pela SUSEP prazo de quatro anos, da seguinte forma: 15%, em até 1 ano; 40%, em até dois anos; 70%, em até três anos e 100%, até quatro anos.

2.3.2 Margem de Solvência

A Resolução CNSP n◦ 8 de julho de 1989, alterada pela Resolução CNSP n◦ 55 de 3 de setembro de 2001, estabeleceu os fundamentos e critérios de cálculo da margem de solvência

para as seguradoras, que corresponderá a suficiência do Ativo Líquido para cobrir montante igual ou maior que os seguintes valores:

a) 0,20 vezes do total da receita líquida de prêmios emitidos dos últimos doze meses; b) 0,33 vezes a média anual do total dos sinistros retidos dos últimos trinta e seis meses. Em caso de insuficiência de ativo líquido para sua cobertura, a seguradora deve propor a SUSEP um plano de recuperação de forma a suprir a margem de solvência, no prazo máximo de 150 dias, contado da data de encerramento de suas demonstrações financeiras semestrais, bem como estará sujeita a um programa de fiscalização especial conduzido pela SUSEP.

2.3.3 Passivo não Operacional

O procedimento de apuração do passivo não operacional aprovado pela Lei n◦10.190/2001 visa garantir a continuidade da estabilidade econômica financeira das sociedades seguradoras, para tal estabelece que:

a) O patrimônio das seguradoras não poderá ser inferior ao Passivo não Operacional, e nem ao montante mínimo da sua margem de solvência;

b) Para o passivo não operacional deverá ser considerado o valor das obrigações não cobertas por bens garantidores, os quais são ativos vinculados ao montante das provisões técnicas utilizados como garantia e lastro frente às obrigações futuras.

Em suma, entende-se por passivo não operacional, o valor total do passivo da Seguradora, desconsiderando o valor das provisões técnicas, sendo que o valor resultante não pode ser superior ao seu patrimônio líquido.

2.3.4 Provisões Técnicas

Outro tópico relevante tanto do ponto de vista do mercado segurador quanto dos órgãos legisladores e fiscalizadores é a questão das provisões técnicas, uma vez que as mesmas

possuem a finalidade de garantir os pagamentos futuros pelos riscos assumidos pela Seguradora. Por isso, é de suma importância que as provisões técnicas sejam devidamente calculadas, pois se forem sub-dimensionadas comprometem a solvência da Seguradora; por outro lado, em caso de superdimensionadas acabam afetando os resultados da mesma.

Para Castiglione (1997), as provisões técnicas têm por objetivo garantir o pagamento de ocorrências futuras, não permitindo que a parcela destinada para cobertura dos riscos assumidos pela seja consumido antes do término da vigência.

Segundo Silva, (2002, apud. Standerski & Kravec, 1979), a provisão técnica é uma provisão obrigatória e, por isso, é uma conta do passivo, porque representa um compromisso futuro a ser cumprido quer a seguradora tenha lucro ou não.

Para normatizar os critérios de constituição das provisões técnicas, foi editada a Resolução CNSP n◦. 120 de 24 de dezembro de 2004, revogada pela Resolução n◦162 de dezembro de 2006 que foi alterada pelas Resoluções CNSP n◦. 181 de 17 de dezembro de 2007, n◦ 195 de 16 de dezembro de 2008 e n◦ 204 de 28 de maio de 2009.

Com base nas referidas resoluções, as principais provisões técnicas a serem constituídas nas sociedades seguradoras são:

Provisão de Prêmios Não Ganhos – PPNG:

Segundo Figueiredo, “a PPNG representa a parcela do prêmio correspondente ao período do risco ainda não decorrido” (FIGUEIREDO, 1997, p. 62). Esta é calculada "pro rata dia", levando-se em consideração as datas de início e fim de vigência do risco e a seguinte fórmula:

PPNG = Período de risco a decorrer x Prêmio comercial retido Período total de cobertura de risco

“O prêmio comercial retido representa o valor recebido ou a receber do segurado (valor do prêmio emitido, pago à vista ou parcelado), nas operações de seguro direto ou de congêneres, nas operações de cosseguro aceito, líquido de cancelamentos e restituições, e de parcelas de prêmios transferidas a terceiros em operações de cosseguro e/ou de resseguro”. (RODRIGUES, 2008, p. 94).

Provisão de Insuficiência de Prêmios - PIP:

De acordo com Silva, a “PIP é um complemento à PPNG na situação em que o montante desta não seja suficiente para cobrir as obrigações futuras dos contratos de seguros vigentes, tais como indenizações, comercialização, despesas administrativas, dentre outras.” (SILVA, 2002, p. 57). É calculada de acordo com a nota técnica enviada à SUSEP.

Provisão Complementar de Prêmios – PCP

Deve ser constituída segundo as normas fixadas pela Resolução CNSP no. 162/06, alterada pelas Resoluções CNSP no. 181/07 e 195/08, calculada "pro rata dia", tomando por base as datas de início e fim de vigência do risco e o prêmio comercial retido, e o seu valor será a diferença, se positiva, entre a média da soma dos valores apurados diariamente no mês de constituição e a PPNG constituída, considerando todos os riscos vigentes, emitidos ou não.

Provisão de Sinistros Ocorridos e Não Avisados – IBNR (Incurred But Not Reported)

Responsável pela cobertura dos sinistros ocorridos e ainda não avisados. É calculada de acordo com notas técnicas enviadas à SUSEP, sendo que a estimativa deve ser baseada da base histórica de sinistralidade da seguradora de, no mínimo, um exercício completo.

Provisão de Sinistros a Liquidar – PSL:

Segundo Silva, a PSL “representa o montante de estimativa dos sinistros ocorridos e já avisados, mas ainda não pagos, deduzidas as parcelas relativas à recuperação de cosseguros e/ou resseguros cedidos.” (SILVA, 2002, p. 58). Essa provisão deve ser

segregada contabilmente em Administrativa ou Judicial. É calculada de acordo com nota técnica enviada à SUSEP; todavia, a metodologia a ser desenvolvida deve considerar a data de aviso do sinistro para fins de registro por parte da seguradora.

Cabe destacar que as seguradoras devem encaminhar à SUSEP a nota técnica atuarial contendo a metodologia de cálculo de cada provisão para análise e arquivamento antes do início da constituição.

Para as seguradoras que não possuem nota técnica atuarial aprovada pela SUSEP, é requerida a adoção dos critérios estabelecidos na legislação vigente estabelecidas pelo órgão regulador.

2.3.5 Ativos Garantidores das Provisões Técnicas

Conforme mencionado, as provisões técnicas devem se mantidas em conformidade com os critérios estabelecidos pelo CNSP. Por outro lado, os artigos 28 e 29 do Decreto-lei no. 73/66 determinam que os investimentos, que garantem tais provisões, devem ser aplicados de acordo com as diretrizes das Resoluções CMN n◦. 3.308/05 e n◦. 3358/06, no intuito de garantir remuneração adequada, segurança e liquidez. Estas Resoluções definem os limites de investimentos em cada segmento (renda fixa, renda variável e imóvel), bem como os critérios de diversificação a serem seguidos pelas sociedades seguradoras.

Segundo Silva, “as provisões técnicas, desde que corretamente constituídas, devem ser cobertas por investimentos que garantam o trimônio: segurança, rentabilidade e liquidez.” (SILVA, 1999, p. 59).

Desta forma, todas as seguradoras devem se preocupar com o gerenciamento dos ativos garantidores, objetivando realizar aplicações rentáveis, seguras e de fácil conversão, em conformidade com a legislação vigente e as políticas internas.

Em virtude da natureza de seu negócio, as Seguradoras mantêm ativos investidos, praticamente na sua totalidade, em aplicações financeiras, em títulos públicos e depósitos bancários a prazo, cujos rendimentos são atrelados, basicamente, a taxa SELIC e o CDI

(Certificado de Depósito Interbancário) e propiciam uma fonte significativa de receitas. Comparando-se as taxas de SELIC e CDI com as taxas efetivas de inflação no Brasil relativo ao período de 1999 a 2008, conforme demonstrado na tabela a seguir, nota-se o quanto as seguradoras obtiveram de spread financeiro e, consequentemente, ganhos financeiros com a aplicação de seus ativos no mercado financeiro brasileiro.

Tabela 10 - Inflação x Selic x CDI no Período de 1999 a 2008 Ano

Inflação Efetiva

(IPCA % a.a.) Selic (% a.a.) CDI (% a.a.)

1999 8,94 23,02 22,64 2000 5,97 16,19 16,09 2001 7,67 16,08 16,03 2002 12,53 17,66 17,60 2003 9,30 21,16 21,10 2004 7,60 15,14 15,07 2005 5,69 17,56 17,52 2006 3,14 14,13 14,09 2007 4,46 11,25 11,22 2008 5,90 11,82 11,73 Média 7,12 16,40 16,31

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