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Para coleta dos dados, foi realizado um survey eletrônico de corte transversal. Para tanto, foi elaborado um instrumento de mensuração em formato de questionário. Sua construção se deu, em grande parte, a partir de outros instrumentos e escalas encontradas em estudos

anteriores sobre o tema. Esses instrumentos foram mapeados na seção 4.1 do Capítulo 4, que tratou da operacionalização das variáveis.

Um instrumento de coleta adequado é aquele que captura dados observáveis que representam realmente os conceitos ou as variáveis que o pesquisador definiu para mensurar

(Grinnell, Unrau, & Williams, 2009). Sampieri et al. (2013) ainda acrescentam que todo instrumento de coleta de dados deve se preocupar com três requisitos essenciais: confiabilidade, validade e objetividade. A confiabilidade se refere ao grau em que sua aplicação se refeita em uma mesma amostra reproduza resultados iguais, ou seja, é o grau em que um instrumento produz resultados consistentes e coerentes. A validade se refere ao grau em que um instrumento realmente mensure a variável que se pretende medir. A objetividade se refere ao grau em que o instrumento é sensível à influência dos vieses e tendências dos pesquisadores que o aplicam, quantificam e interpretam (Sampieri et al., 2013).

Assim, para que seja possível capturar os dados de forma fidedigna, foram analisados vários questionários disponíveis na literatura e avaliado sua adequação quanto ao contexto da gestão de projetos, bem como o conteúdo e o formato das perguntas. Nesse sentido, o questionário elaborado para este estudo foi estruturado em quatro partes: A, B, C e D. O questionário completo está disponível no Apêndice A.

Na Parte A, é realizado um breve perfil do respondente contendo o gênero, o tempo de experiência em gerenciamento de projetos, a área de formação acadêmica, o tipo de organização em que trabalha e a função que desempenha nela.

A Parte B aborda os recursos pessoais. Nesta parte também foram utilizados vários instrumentos de coleta identificados na literatura para elaboração das questões. Foi utilizada a mesma estratégia adotada nas questões dos recursos do trabalho, ou seja, optou-se por elaborar no máximo dois itens para cada variável, a fim de viabilizar sua operacionalização, mas sempre considerando a confiabilidade e a validade de cada item.

Em relação à autoeficácia, foi utilizado uma compilação de itens de três questionários diferentes: GSE, Occupational Self-efficacy Scale e NGSE. Alguns itens possuem redações parecidas e foram compilados do seguinte modo: “ao enfrentar tarefas difíceis, tenho certeza de que as realizarei” e “quando me deparo com um problema, geralmente consigo encontrar várias soluções”.

No tocante à autoestima, o questionário utilizado por Pierce et al. (1989) foi readequado em uma questão a partir do conceito de autoestima, a saber: “valorizo minhas habilidades, conhecimentos e atitudes, bem como acredito que posso fazer a diferença”.

Para os itens relacionados à esperança e ao otimismo, foram utilizados o PsyCap apresentado por Luthans et al. (2007) e o LOT-R, formulando as seguintes questões: “tenho esperança em relação ao futuro, acredito que as coisas sempre irão melhorar” relacionado à esperança, e “em situações difíceis, espero sempre o melhor” e “no geral, espero que mais coisas boas do que más aconteçam comigo” para mensurar o otimismo.

No tocante à resiliência, foram utilizados itens das questões utilizadas por Nguyen e Nguyen (2012) e Block e Kremen (1996) e adaptados da seguinte forma: “após lidar com problemas ou mudanças difíceis e situações adversas, eu tenho alta capacidade de superação e me recupero rapidamente”.

No item sobre traços de competitividade, foi utilizada uma adaptação de três questões propostas por Brown et al. (1998), ficando dois itens com a seguinte redação: “eu gosto de trabalhar e me esforço mais em situações que envolvem a competição com os outros” e “para mim é importante ter um desempenho melhor que os outros em uma tarefa”.

A Parte C aborda os recursos do trabalho. Nesta parte, foram utilizados vários instrumentos identificados na literatura para elaboração das questões. Optou-se por elaborar no máximo dois itens para cada variável para deixar o questionário o menor possível para viabilizar sua aplicação. A seguir serão descritas o processo de construção de cada item.

Para mensurar a autonomia, foram utilizados três itens do QEEW e dois do JCQ. O item “tenho autonomia para realizar minhas atividades do projeto, posso decidir como e quando meu trabalho será executado” foi baseado em questões do QEEW que tratam da independência e do controle no trabalho e em outros dois do JCQ que abordam a autonomia no trabalho.

Em relação ao apoio psicossocial dos colegas, foram utilizados dois itens presentes nos três instrumentos utilizados pela literatura: o JCQ, o QEEW e o FOCUS. Estas duas questões foram simplificadas em uma com a seguinte redação: “posso contar com a ajuda dos membros da equipe do projeto, caso eu encontre dificuldades nas minhas atividades”.

No tocante ao feedback de desempenho, foi utilizado itens relativo ao feedback do JCQ, ficando com a seguinte redação: “recebo informações suficientes sobre o andamento e o cumprimento das minhas atividades ou pacotes de trabalho”.

Para mensuração da variável “orientação do supervisor” foram simplificados itens dos quatro instrumentos utilizados pela literatura (JCQ, LMX, QEEW e Beehr et al., 1990), resultando no seguinte texto: “permite que o gerente do projeto coordene efetivamente as tarefas e atividades da equipe e faça com que as pessoas trabalhem juntas”.

Quanto à oportunidade para desenvolvimento profissional, também foi utilizado todos os instrumentos mapeados para elaborar dois itens que refletem o que se pretende medir: “oferece oportunidade de utilizar minhas competências técnicas e pessoais” e “permite que eu aprenda coisas novas”. Na redação dessas questões foi utilizada dois itens que apareciam em todos os questionários, a saber: Bakker et al. (2003), QEEW e PWSQ.

A Parte D aborda o engajamento no trabalho a partir da utilização da Escala de Utrecht de 17 itens (UWES-17). A UWES-17 contém seis itens de vigor, cinco de dedicação e seis de absorção e sua utilização para fins acadêmicos é permitida e incentivada pelo próprio autor do instrumento. A Tabela 13 apresenta na íntegra as dezessete questões da UWES organizadas de acordo com cada variável do construto.

Tabela 13. Itens da UWES-17

Variáveis do construto de

engajamento no trabalho Itens da UWES-17

Vigor

1. Em meu trabalho, sinto-me repleto (cheio) de energia. 2. No trabalho, sinto-me com força e vigor (vitalidade).

3. Quando me levanto pela manhã, tenho vontade de ir trabalhar. 4. Posso continuar trabalhando por longos períodos de tempo. 5. Em meu trabalho, sou uma pessoa mentalmente resiliente (versátil). 6. No trabalho, sou persistente mesmo quando as coisas não vão bem. Dedicação

1. Eu acho que o trabalho que realizo é cheio de significado e propósito. 2. Estou entusiasmado com o meu trabalho.

3. Meu trabalho me inspira.

4. Estou orgulhoso com o trabalho que realizo. 5. Para mim meu trabalho é desafiador.

Absorção

1. O “tempo voa” quando estou trabalhando.

2. Quando estou trabalhando, esqueço tudo o que se passa ao meu redor. 3. Sinto-me feliz quando trabalho intensamente.

4. Sinto-me envolvido com o trabalho que faço. 5. “Deixo-me levar” pelo meu trabalho. 6. É difícil desligar-me do trabalho. Fonte: Adaptado de Schaufeli e Bakker (2003).

A redação de algumas questões foi adaptada para se adequar melhor ao contexto do uso do LCC e da gestão de projetos. No final da parte D, também foram incluídas mais duas questões para mensurar a percepção sobre o nível de engajamento que o LCC promove no indivíduo e na equipe do projeto, totalizando dezenove questões.

A Tabela 14 apresenta um resumo da estrutura do questionário e o questionário na íntegra está disponível no Apêndice A.

Tabela 14. Estrutura do questionário

Parte Conteúdo Questionários utilizados como referência de itens Quant.

A Perfil do respondente Elaborado pelo autor. 5

B Recursos Pessoais

GSE, Occupational Self-efficacy Scale, NGSE, Pierce et al. (1989), PsyCap, LOT-R, Nguyen e Nguyen (2012), Block e Kremen (1996) e Brown et al. (1998).

9 C Recursos do Trabalho FOCUS, JCQ, LMX, QEEW, Beehr et al. (1990), Bakker et al. (2003) e PWSQ. 7 D Engajamento no Trabalho e LCC UWES-17 e mais dois itens elaborados pelo autor. 19

Total de questões 40

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Todas as questões das Partes B, C e D foram medidas por meio de uma escala do tipo Likert. Na escala de Likert (1932), os respondentes escolhem somente um dos pontos fixos estipulados na linha, a partir de cinco categorias, partindo de “discordo totalmente” até “concordo totalmente”. Entretanto, não existe um consenso do número ideal de itens para se utilizar em escalas do tipo Likert (Dalmoro & Vieira, 2014). Segundo Campbell (1988), a complexidade inerente ao tamanho da escala do tipo Likert ocorre porque, conforme aumenta o número de pontos, maior a complexidade de escolha do respondente e a distinção entre cada opção de resposta.

Visando sanar a falta de consenso quanto à quantidade de pontos, Leung (2011) comparou as propriedades psicométricas de escalas do tipo Likert de quatro, cinco, seis e onze pontos. Os resultados indicaram que ter mais pontos de escala reduz a assimetria. Nas análises, a escala de onze pontos, que varia de zero a dez, obteve a menor curtose e está mais próxima da normal. Também foi observado que apenas as escalas de seis e onze pontos seguiram distribuições normais das estatísticas de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk. Leung (2011) sugere o uso de uma escala de onze pontos à medida que aumenta a sensibilidade e está mais próxima do nível de intervalo de escala e normalidade.

Já Awang, Afthanorhan e Mamat (2016) compararam o desempenho de duas categorias de escalas do tipo Likert de cinco e dez pontos. No estudo foram utilizadas a mesma amostra e os mesmos sujeitos de pesquisa para entender a diferença real entre essas duas escalas usando modelagem de equações estruturais. Os resultados indicaram que o uso de uma escala do tipo Likert de dez pontos se adequa melhor para as análises baseadas em Modelagem de Equações Estruturais. Segundo Awang et al. (2016), tanto a medida quanto os modelos estruturais podem ser avaliados com uma escala de dez pontos, pois se espera mais sucesso na determinação da validade de construto.

Assim, considerando-se que foi utilizada a modelagem de equações estruturais nesta tese, optou-se por utilizar uma escala do tipo Likert de dez pontos, que varia entre um e dez, conforme sugerido por Awang et al. (2016). Além disso, a escala de dez pontos está bem próxima da escala de onze pontos apontada por Leung (2011).

Também é recomendado a realização de um estudo piloto para obtenção de dados primários por meio de questionário. Este estudo serve para testar a eficácia e as condições de aplicação do instrumento, sendo aplicado a um pequeno grupo que apresente as mesmas características da população pesquisada (Sampieri et al., 2013). Desse modo, foi realizado um estudo piloto com cinco profissionais certificados para avaliar as condições de aplicação do questionário proposto. Após ajustes provenientes desse pré-teste, foi realizada a aplicação do questionário. A pesquisa foi realizada no período de 3 a 24 de junho de 2019 com o auxílio do Google Formulário e encaminhada para os respondentes por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp.

Inicialmente, o questionário foi disponibilizado em um grupo do aplicativo de mensagens WhatsApp em que se encontram todos os profissionais certificados no LCC. Após uma semana de aplicação foram obtidas 37 respostas, o que levou a adotar a estratégia de enviar o questionário em conversas privadas para garantir a amostra mínima. Com isso, foi possível coletar um total de 98respostas atendendo à amostra mínima de 97 para realização das análises garantindo 95% de nível de confiança. Assim, a aplicação dos questionários obteve uma taxa de resposta de aproximadamente 76%.

Em relação aos aspectos éticos na pesquisa, foram observadas as recomendações de Creswell (2010) onde se deve informar aos respondentes o objetivo do estudo, garantindo a participação voluntária e o anonimato. Outras questões éticas observadas estão relacionadas à autenticidade, no tocante a execução de todos os procedimentos propostos, à indicação das fontes consultadas e à veracidade dos dados coletados (Prodanov & Freitas, 2013).