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3.3 JD-R THEORY: RECURSOS PESSOAIS E DO TRABALHO

3.3.2 Recursos Pessoais Encontrados na Literatura

A literatura apresenta alguns autores que investigaram as relações entre recursos pessoais e engajamento no trabalho (Xanthopoulou et al., 2007; Karatepe & Olugbade, 2009; Tims et al., 2011; Smith et al., 2011; Barkhuizen, Rothmann, & Van De Vijver, 2014; Shahpouri, Namdari; & Abedi, 2016; Van Wingerden, Derks, & Bakker, 2017). Os recursos pessoais encontrados são descritos a seguir.

Xanthopoulou et al. (2007) examinaram o papel de três recursos pessoais (autoeficácia, autoestima baseada na organização e otimismo) na previsão do engajamento no trabalho. Os resultados mostraram que os funcionários engajados são altamente autoeficazes e acreditam que são capazes de atender as demandas que enfrentam em uma ampla gama de contextos. Além disso, os trabalhadores engajados tendem a acreditar que geralmente terão bons resultados na vida (otimistas) e acreditam que podem satisfazer suas necessidades participando de funções dentro da organização (autoestima baseada na organização). Assim, a autoeficácia, a autoestima baseada na organização e o otimismo dão uma contribuição única para explicar a variação no engajamento no trabalho ao longo do tempo, além do impacto dos recursos do trabalho e níveis anteriores de engajamento.

Já em um ambiente de projetos, Dolfi e Andrews (2007) analisaram o otimismo dos gerentes de projeto e se o otimismo permitiria aos gerentes de projeto superar os impedimentos associados ao ambiente de trabalho. Assim, por meio de um survey online com 858 gerentes de projetos, foi verificado que o otimismo nos gerentes de projetos é um atributo importante, já que apenas 7% dos otimistas na pesquisa classificaram seu ambiente de trabalho como negativo, enquanto 60% dos pessimistas classificaram seu ambiente de trabalho negativamente. Um segundo achado foi que a experiência no ambiente de trabalho pode afetar o nível de otimismo. Para Dolfi e Andrews (2007), esses achados sugerem que o otimismo pode ser aprendido, mesmo em um ambiente de trabalho desfavorável.

Karatepe e Olugbade (2009) desenvolveram e testaram um modelo de pesquisa que previa os impactos do trabalho (suporte de supervisor) e recursos pessoais (traços de competitividade e autoeficácia) no engajamento do trabalho. Os resultados demonstraram que os traços de competitividade mediaram mais as três dimensões do engajamento do trabalho (vigor, absorção e dedicação) do que a autoeficácia. Foi visto que as características de competitividade melhoraram os sentimentos de vigor, dedicação e absorção dos empregados, enquanto a autoeficácia influenciou significativa e positivamente apenas a absorção.

Em outra pesquisa, Xanthopoulou, Bakker, Demerouti e Schaufeli (2009) examinaram as relações entre recursos do trabalho, recursos pessoais e engajamento no trabalho. O estudo foi realizado entre 163 funcionários, que foram acompanhados durante um período de 18 meses. As análises e modelagem de equações estruturais indicaram que os recursos pessoais (autoeficácia, autoestima baseada na organização e otimismo) têm relação positiva com o engajamento no trabalho. Além disso, foi verificada reciprocidade entre os aspectos estudados, em que além da relação recíproca entre recursos e engajamento no trabalho, observou-se que os recursos profissionais e pessoais também estavam relacionados entre si.

Simbula et al. (2011) utilizaram uma amostra de professores italianos para verificar como recursos do trabalho, a autoeficácia e o engajamento no trabalho estão relacionados ao longo do tempo. Os resultados da análise de modelagem de equações estruturais mostraram relações recíprocas entre os recursos do trabalho, a autoeficácia e o engajamento no trabalho. Isso implica que, quando os professores percebem a possibilidade de desenvolver novas habilidades para auxiliar os alunos em seu aprendizado, sentem-se apoiados por seus colegas e pela diretoria da escola, e são autoeficazes, o que contribui para serem mais engajados.

No contexto da Tecnologia da Informação (TI), Smith e colaboradores (Smith et al., 2011) verificaram como as habilidades de um gerente de projetos de TI, especialmente otimismo e estresse, podem afetar o sucesso do projeto. A partir de uma análise qualitativa foram identificados vários temas de otimismo dos gerentes de projeto que influenciaram fortemente o sucesso do projeto de TI. Além disso, foi observado que o sucesso dos projetos foi influenciado positiva e negativamente pelo estresse. Os autores concluíram que os gerentes de projeto de TI deveriam ter um grau de otimismo positivo, mas realista, baseado em um plano de projeto bem aceito para melhorar as chances de sucesso no projeto.

Tims et al. (2011) verificaram se líderes transformacionais aumentam o engajamento no trabalho diário de seus seguidores considerando o estímulo de dois recursos pessoais: autoeficácia e otimismo. Os resultados indicaram que a o estilo de liderança transformacional não teve efeito na autoeficácia. Entretanto, foi observado que o otimismo medeia completamente a relação entre a liderança transformacional e o engajamento do trabalho em um dia. Assim, nos dias em que o líder aplica mais evidentemente os valores do estilo transformacional (inspirando, motivando e prestando especial atenção às necessidades dos funcionários), ele melhora o otimismo dos funcionários.

Guglielmi, Simbula, Schaufeli e Depolo (2012) exploraram os papéis das demandas e recursos pessoais no modelo JD-R entre diretores de escolas. Foi utilizado a modelagem de

equações estruturais para verificar a hipótese de que a autoeficácia constituía um recurso pessoal que tem impacto positivo nos recursos do trabalho, o que, por sua vez, tem impacto positivo no engajamento no trabalho. Os resultados demonstraram que as demandas de trabalho mediaram a relação entre workaholism e burnout, enquanto os recursos de trabalho mediaram a relação entre autoeficácia, engajamento no trabalho e burnout.

Barkhuizen et al. (2014) investigaram as relações entre otimismo, demandas do trabalho, recursos do trabalho, burnout, engajamento no trabalho, problemas de saúde e comprometimento organizacional de acadêmicos sul-africanos em instituições de ensino superior. Foi utilizada uma amostra aleatórias de 595 acadêmicos de instituições de ensino superior sul-africanas. Os resultados confirmaram que as demandas de trabalho e a falta de recursos do trabalho contribuíram para o burnout, enquanto os recursos do trabalho contribuíram para o engajamento. O otimismo teve um forte efeito direto na percepção dos recursos do trabalho, bem como fortes efeitos indiretos (através de recursos do trabalho) em burnout, engajamento no trabalho, problemas de saúde e comprometimento organizacional.

Na área da saúde, Shahpouri et al. (2016) investigaram o efeito de recursos de trabalho e recursos pessoais na intenção de rotatividade como mediador do engajamento no trabalho entre enfermeiras. Os resultados indicaram correlação da resiliência, do otimismo e da autoeficácia no engajamento do trabalho, e o efeito negativo do engajamento no trabalho na intenção de rotatividade.

Huang, Wang e You (2016) analisaram se o efeito da carga de trabalho na exaustão emocional (processo de comprometimento da saúde) e apoio social na despersonalização (processo de motivação) poderia ser mediado por recursos pessoais (autoeficácia, autoestima e otimismo). Os resultados da análise de múltiplas mediações mostraram efeito indireto total significativo da carga de trabalho na exaustão emocional (processo de comprometimento da saúde) e apoio social na despersonalização (processo de motivação) através da autoeficácia, autoestima e otimismo. Também foi observado que das três variáveis de recursos pessoais, a autoestima e o otimismo são os mediadores significativos para o processo de comprometimento da saúde, enquanto apenas o otimismo é o mediador significativo para o processo de motivação. Van Wingerden et al. (2017)examinaram o impacto das intervenções organizacionais no engajamento e desempenho no trabalho. Baseado no modelo JD-R, foi analisada a hipótese de que uma intervenção de recursos pessoais e uma intervenção de job crafting teriam um impacto positivo no engajamento e no desempenho do trabalho. Para aumentar os recursos pessoais, foram realizados exercícios para aumentar os níveis de esperança, otimismo,

autoeficácia e resiliência dos participantes. Os resultados mostraram que a intervenção de recursos pessoais teve um efeito causal positivo no engajamento no trabalho. Além disso, a intervenção conjunta de recursos pessoais e do trabalho teve um impacto positivo na autoavaliação do desempenho no trabalho.

A Tabela 6 resume os recursos pessoais encontrados na literatura. Nesta Tabela também são descritas as definições dos recursos pessoais utilizadas pelos autores dos trabalhos identificados e na última coluna são listadas as respectivas referências.

Tabela 6. Recursos pessoais encontrados na literatura

Recursos Pessoais Definições Referências

Autoeficácia Acreditar que é capaz de atender as demandas que enfrentam em uma ampla gama de contextos.

Xanthopoulou et al. (2007), Karatepe e Olugbade (2009), Xanthopoulou et al. (2009), Simbula et al. (2011), Tims et al. (2011), Guglielmi et al. (2012), Shahpouri et al. (2016), Huang et al. (2016),

Van Wingerden et al. (2017). Autoestima/

Autoestima baseada na organização

Refere-se a uma avaliação positiva do seu valor, significado e capacidade como pessoa.

Acreditar que suas necessidades podem ser satisfeitas participando de funções dentro da organização.

Xanthopoulou et al. (2007), Xanthopoulou et al. (2009) Huang et al. (2016). Esperança

Pode ser definida como um estado motivacional que é a consequência de se considerar metas claras para a vida.

Shahpouri et al. (2016), Van Wingerden et al. (2017).

Otimismo

Acreditar que geralmente terão bons resultados na vida. Gerar expectativas positivas para os resultados, e esses resultados são considerados fatores estáveis, gerais e internos. Xanthopoulou et al. (2007), Dolfi e Andrews (2007), Xanthopoulou et al. (2009), Tims et al. (2011), Smith et al. (2011), Barkhuizen et al. (2014), Shahpouri et al. (2016). Huang et al. (2016),

Van Wingerden et al. (2017). Resiliência Capacidade de um indivíduo enfrentar e superar dificuldades, crescer com elas e seguir em frente ainda

mais forte.

Shahpouri et al. (2016) Van Wingerden et al. (2017). Traços de

competitividade

Ter prazer na competição interpessoal, desejo de

vencer e ser melhor do que os outros. Karatepe e Olugbade (2009). Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Em suma, a literatura mostra que os trabalhadores engajados possuem recursos pessoais, incluindo otimismo, autoeficácia, autoestima, resiliência, esperança e traços de competitividade, que os ajuda a controlar e impactar com sucesso seu ambiente de trabalho e a alcançar sucesso profissional. Assim, estes estudos dão suporte à literatura sobre a JD-R Theory

que destaca o papel que os recursos pessoais desempenham no burnout e no engajamento no trabalho.

Dessa maneira, ressalta-se o alcance do objetivo específico de identificar os recursos pessoais e do trabalho estudados pela literatura no âmbito da JD-R Theory. Destaca-se que os procedimentos de revisão sistemática da literatura proposto por Koller et al. (2014) mostraram- se adequados e permitiram o mapeamento dos recursos pessoais e do trabalho na literatura.

Baseado nesses achados da literatura, o próximo capítulo apresentará o modelo teórico da pesquisa e como os recursos pessoais e do trabalho mapeados neste capítulo serão utilizados dentro da proposta de pesquisa desta tese.

4 MODELO TEÓRICO DA PESQUISA

Neste capítulo serão apresentadas as hipóteses da pesquisa, a operacionalização dos objetivos geral e específicos e o modelo de equações estruturais proposto para avaliação das hipóteses. Segundo a JD-R, os recursos do trabalho são os preditores mais importantes da satisfação, da motivação e do engajamento no trabalho (Bakker & Demerouti, 2013). Desse modo, considerando os benefícios inerentes à gestão visual descritos na Tabela 3, o modelo de gestão visual de projetos LCC será avaliado como um mediador de recursos do trabalho e se tais recursos promovem o engajamento da equipe de projeto no tocante ao construto vigor, absorção e dedicação.