• Nenhum resultado encontrado

3.5 As novas formas de acesso

3.5.1 Processo de Avaliação Seriada (PAS)

Observa-se em algumas IES do país uma forma de acesso diferenciada, realizada em todo o período que acompanha o candidato ao longo do ensino médio:

o Programa de Avaliação Seriada (PAS), popularmente chamado de “Vestibular Seriado”.

Nesse sistema, o aluno faz as provas no final de cada ano durante as três séries do ensino médio e a quantidade de vagas a serem preenchidas pela avaliação seriada é definida por cada IES. O estudante terá, em vez de um período curto de provas, o intervalo de um ano entre as avaliações e, portanto, mais condições de se preparar para melhorar a nota em caso de ter apresentado desempenho não satisfatório em uma das provas, evitando o estresse associado ao vestibular. (VESTIBULAR SERIADO, 2011)

As provas do PAS diferenciam-se das provas do vestibular tradicional, já que os conteúdos não são cumulativos, ou seja, as questões da primeira etapa são de assuntos da primeira série, as do segundo exame exige conhecimentos adquiridos na segunda série, e a terceira e última etapa abrange o programa somente da terceira série, além da prova de redação. Com as notas das três provas, obtém-se a média final que classificará o candidato para concorrer ao curso escolhido apenas no último ano do PAS. (VESTIBULAR SERIADO, 2011)

Schlichting, Soares e Bianchetti (2004, p. 116) atribuem ao vestibular seriado o status de “uma das versões atuais do ritual que caracteriza a passagem dos estudantes da educação básica para a educação superior”. Essa modalidade de seleção abre oportunidade para a oferta de cursinhos seriados, que tiram das escolas o protagonismo da preparação dos alunos para o vestibular.

Cabral Neto e Ramalho (2004) apontam como vantagens do vestibular seriado, entre outras:

 a perspectiva de o candidato realizar as provas ao longo do Ensino Médio e, ao mesmo tempo, ser informado sobre o seu desempenho, passa a orientar o seu comportamento no decorrer do processo seletivo;  a escola passa a ser informada sobre o desempenho de seus alunos, permitindo o planejamento de ações para corrigir falhas no decorrer do processo;

 ocorre uma aproximação entre a Universidade e o Ensino Médio, criando a possibilidade de recuperação dos conteúdos nos quais os alunos apresentaram baixo desempenho; e

 na medida em que as escolas do Ensino Médio passam a conhecer as informações geradas pelo processo seletivo e que o conteúdo desse processo seja objeto de análise e de estudo, esse processo passa a subsidiar um conjunto de estratégias que favorecem um avanço qualitativo do Ensino Médio.

Por outro lado, o vestibular seriado também apresenta desvantagens, dentre as quais Cabral Neto e Ramalho (2004) destacam o aumento significativo da carga de trabalho das comissões de vestibular e o considerável aumento dos custos do processo seletivo, quando comparados aos custos do vestibular tradicional.

Schlichting, Soares e Bianchetti (2004) afirmam que em meados da década de 1980 a busca por formas mais democráticas para equacionar a difícil relação candidato/vaga foi motivo de intensos debates no meio acadêmico. Naquela ocasião, já era discutida pelo CESGRANRIO e pela UnB a possibilidade de utilizar processos seletivos que avaliassem os alunos ao longo do ensino médio. Os autores apresentam as primeiras experiências de vestibular seriado realizadas no Brasil:

No período entre 1992 e 1995, a [sic] CESGRANRIO conseguiu autorização ministerial para implementar o Sistema de Avaliação Progressiva para Ingresso no Ensino Superior (SAPIENS). Em 1995, a Universidade de Brasília (UnB) reinicia seus estudos sobre alternativas ao vestibular e implanta, em 1996, o Programa de Acesso ao Ensino Superior (PAS). Ainda em 1995, a Universidade Federal de Santa Maria desencadeia o Programa de Ingresso ao Ensino Superior (PEIES), e essa modalidade de processo seletivo passa a ser discutida e adotada por outras instituições do meio universitário. (SCHLICHTING; SOARES; BIANCHETTI, 2004, p. 116)

O Quadro 11 a seguir apresenta outras instituições que utilizaram o vestibular seriado no Brasil.

Quadro 11 – Exemplos de IES que utilizaram o vestibular seriado

Fonte: Schlichting, Soares e Bianchetti (2004, p. 126)

Dentre as IES que optaram por essa modalidade de acesso, conforme se verifica no Quadro 12, encontram-se a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade de São Paulo (USP), duas das maiores IES do país.

O Programa de Avaliação Seriada da UnB (PAS/UnB) foi criado há mais de 15 anos com a finalidade de incentivar o acesso ao ensino superior ao estudante do Ensino Médio de forma gradual e progressiva. O PAS/UnB é composto de três avaliações, realizadas ao término de cada série do Ensino Médio, as quais constituem os seus Subprogramas (triênios). Cada avaliação determina uma etapa do respectivo Subprograma, em que a nota final configura-se na soma das notas das três etapas. Para participar do PAS/UnB, o aluno deve estar regularmente matriculado na 1ª série do Ensino Médio, em escola pública ou particular, cuja modalidade de ensino seja regular, de três anos completos, ou na 2ª série, em escola com estrutura curricular de quatro anos completos para se inscrever na 1ª Etapa de um Subprograma do PAS. Caso o candidato já esteja na 2ª série do curso

regular, no primeiro caso, ou na 3ª série, no segundo, e ainda não esteja inscrito no PAS, mesmo assim poderá inscrever-se na segunda etapa. Nesse caso, à primeira etapa do Subprograma será atribuída a nota zero.

Os matriculados na Rede Pública do Distrito Federal estão dispensados do pagamento da taxa de inscrição, e os bolsistas da rede particular podem solicitar a isenção. No primeiro semestre de cada ano letivo, 50% das vagas oferecidas para cada curso de graduação da UnB destinam-se aos candidatos aprovados pelo PAS realizado no semestre anterior. É importante frisar que o participante do PAS não está impedido de concorrer também pelo vestibular tradicional. (UNB, 2010)

No caso específico da USP, o Programa de Avaliação Seriada da USP (PASUSP), destina-se apenas aos alunos que cursaram toda a sua educação básica (ensinos fundamental e médio) em escolas da rede pública. O PASUSP foi criado com a finalidade de ampliar a presença da USP nas escolas públicas do estado de São Paulo, de forma que os alunos dessas escolas passem a vislumbrar a continuidade de seus estudos em uma universidade pública de qualidade e gratuita como uma possibilidade concreta. Nos seus dois primeiros anos, de 2008 e 2009, o PASUSP aprovou 117 e 260 candidatos, respectivamente. Nesses dois anos, o número de candidatos inscritos foi de 12.821 e 9.717, o que significa que o percentual de alunos que obtiveram sucesso com a política de inclusão foi de cerca de 1% em 2008 e 2,7% em 2009, números bastante inexpressivos frente ao contingente de alunos oriundos da rede pública no Estado de São Paulo. (USP, 2010)

Segundo informações divulgadas no site Vestibular Seriado, são vinte e quatro as IES que atualmente utilizam o PAS no Brasil, distribuídas nas unidades da federação conforme demonstrado no Quadro 12.

Quadro 12 – IES que utilizam o PAS atualmente no Brasil

Unidade da Federação Quantidade de IES que utilizam o PAS IES que utilizam o PAS

Amazonas 1 UFAM

Alagoas 1 UFAL

Distrito Federal 1 UnB

Goiás 1 UEG Minas Gerais 8 UFV UEPG UFLA UFJF UNIUBE

UNIMONTES UFVJM

UFU

Pará 2 UEPA UFPA

Paraíba 1 UFPB

Pernambuco 1 UPE

Paraná 1 UEM

Piauí 1 UFPI

Rio Grande do Sul 2 UFPel UFSM

Roraima 1 UFRR

Sergipe 1 UFS

São Paulo 2 FAAP USP

Total 24

Fonte: Elaborado a partir de www.vestibularseriado.com.br (2010)