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4.3 Programas de Ação Afirmativa

4.3.3 Programa de Inclusão Social da USP (INCLUSP)

A USP, responsável pelo maior vestibular do Brasil, seleciona anualmente cerca de 10.000 candidatos para os seus 243 cursos de graduação. Visando ampliar o acesso e a permanência de estudantes da rede pública em seus cursos, a USP criou no ano de 2006 o Programa de Inclusão Social da USP (INCLUSP), combinando inclusão social com mérito estudantil.

Para ser beneficiado com o INCLUSP, o estudante deve ter cursado todo o ensino médio na rede pública e os benefícios ocorrem antes, durante e após o vestibular. Antes do vestibular, o aluno já é beneficiado com a isenção da taxa de inscrição; durante o vestibular, pode somar até três bônus na nota; e, após o

ingresso como aluno da USP, pode contar com bolsas de apoio e incentivo para auxiliar sua permanência na universidade.

Na primeira etapa do vestibular, como ação direta na seleção, são concedidos bônus de 3% em cada uma das fases. O aluno pode ainda receber um bônus de até 3%, qualificado pelo seu desempenho no Programa de Avaliação Seriada da USP (PASUSP), e outro, de até 6%, decorrente do bônus FUVEST, que substitui a nota do ENEM, podendo somar, dessa forma, até 12% de pontuação acrescida em sua classificação no vestibular. (USP, 2010)

Nos três últimos anos, os percentuais de alunos da rede pública aprovados na USP foram de 24% (2008), 30,01% (2009) e 25,64% (2010), o que representa uma média de 26,55% (USP, 2010). Porém, o número de candidatos aprovados devido ao benefício do INCLUSP contribui pouco para essa participação percentual de alunos provenientes da rede pública na USP. Analisando especificamente os resultados do INCLUSP, Pimenta et al. (2008, p. 3) afirmam que “o bônus teve papel determinante para a aprovação de 333 candidatos em 2007 e 375 em 2008” e apresentam graficamente esses resultados, conforme demonstrado na Figura 18.

Figura 18 – Impacto do INCLUSP no ingresso de alunos na USP – 2005-2008

Fonte: Pimenta et al. (2008, p. 3)

Considerando as quase 10.000 vagas anualmente ofertadas pela USP para os seus cursos de graduação, verifica-se que o impacto do INCLUSP ainda apresenta resultados bastante inexpressivos, com percentuais médios de 3,5%.

Como se observa ao longo desse capítulo, o Brasil tem evoluído na busca de políticas públicas de inclusão na área do ensino superior que atendam aos anseios da população de menor poder aquisitivo, e tem conseguido apresentar avanços nesse sentido. Não obstante haver críticas relacionadas, principalmente, à qualidade associada às vagas criadas a partir da implantação das políticas, os números que resultam dessas políticas representam um avanço significativo no acesso ao ensino superior, embora que ainda distante do pretendido pelo governo ao anunciar o PNE em 2001.

5 POLÍTICA DE INCLUSÃO SOCIAL DA UFRN

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte é uma instituição de ensino superior pública, mantida pelo Ministério da Educação e organizada sob a forma de autarquia15 de regime especial16. Sua criação ocorreu em 25 de junho de 1958, por meio da Lei Estadual nº 2.307, tendo sido federalizada pela Lei nº 3.849, de 18 de dezembro de 1960.

Porém, de acordo com Ramalho (2007, p. 2), a preocupação com o acesso e a inclusão de alunos oriundos da rede pública nos seus cursos, somente veio acontecer na UFRN no início da década passada:

A relação entre o acesso e a inclusão dos estudantes provenientes da rede pública ao ensino superior, da universidade pública, é um tema que entrou na agenda política acadêmica da UFRN em 2003. Até então, pouca atenção se dava ao fato da universidade matricular em seus cursos, majoritariamente, a cada ano, alunos egressos da rede privada de ensino. Igualmente, pouca atenção vinha sendo dada aos fatores que possibilitam ou dificultam a inclusão ou permanência bem sucedida dos aprovados aos cursos superiores. A UFRN, a exemplo do que vem ocorrendo em outras IES do país, passou a concentrar esforços para promover a inclusão social de alunos pertencentes a grupos historicamente privados de uma educação de qualidade. Dentre os esforços dessa IES para viabilizar o acesso e permanência de estudantes provenientes da rede pública de ensino nos seus cursos de graduação, se destaca o Argumento de Inclusão (AI).

A partir desse interesse acadêmico e institucional, o tema da inclusão passou a ser objeto de estudo do grupo de docentes pesquisadores responsáveis pela Comissão Permanente do Vestibular (COMPERVE) da UFRN, tendo como suporte para a ampliação da discussão teórico-metodológica a parceria firmada com professores da Universidade de Paris 8, Alain Coulon, Ridha Ennaffa e Bernard Charlot. (RAMALHO, 2007)

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Entidade administrativa autônoma, criada por lei com personalidade jurídica de direito público, patrimônio próprio e atribuições estatais específicas para realizar os fins que a lei lhe atribuir. (TESOURO NACIONAL, 2011)

16 Aquela a que a lei instituidora conferir privilégios específicos e aumentar a sua autonomia comparativamente

Cabe ressaltar que, mesmo antes da implantação do AI na UFRN, que aconteceu a partir do ano de 2005, ou seja no Processo Seletivo (PS)17 2006, os

alunos da rede pública já ocupavam mais de 30% das vagas oferecidas, conforme apresentado no Quadro 13.

Quadro 13 – Histórico de matrículas nos vestibulares da UFRN – 2003-2010

Fonte: COMPERVE (2010, p. 8)

A seguir serão apresentadas as principais políticas de inclusão implantadas pela UFRN.

5.1 Políticas gerais de acesso

Além do AI, outras políticas de inclusão desenvolvidas pela UFRN com foco no acesso aos seus cursos de graduação, podem ser destacadas: isenção da taxa de inscrição do vestibular, cursinho gratuito de preparação para o vestibular, e seminários de integração com as redes de ensino médio (pública e privada).

A isenção da taxa do vestibular inicialmente era concedida a candidatos que pudessem comprovar uma situação econômico-financeira desfavorável no momento da inscrição do vestibular. Após a inscrição, a Secretaria de Assuntos Estudantis (SAE) da UFRN promovia uma série de visitas aos candidatos, visando

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A UFRN so e te passou a usa o te o Vesti ula o a o de , ua do o o eu o Vesti ula . Até então, os exames vestibulares da UFRN eram chamados de P o essos Seletivos .

averiguar a veracidade das informações prestadas. Além de ser um processo demorado, tornava-se dispendioso em função da necessidade de deslocamento da equipe de assistentes sociais para realizar as visitas.

A partir de estudos desenvolvidos pela COMPERVE, a isenção passou a ser concedida àqueles candidatos que aliassem a condição socioeconômica desfavorável a uma capacidade potencial de sucesso no vestibular. A condição socioeconômica é considerada como atendida se o aluno fosse proveniente da escola pública, e sua capacidade potencial de sucesso foi definida como um indicador composto pela medição de seu desempenho nas disciplinas de Português e Matemática nos dois primeiros anos do ensino médio.

Essas definições foram homologadas pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE) e, anualmente, o Conselho Superior de Administração (CONSAD) determina o número de isenções que serão concedidas para o vestibular. Atualmente são concedidas 7.000 isenções para um público de, aproximadamente, 12.000 alunos provenientes de instituições da rede pública de ensino médio. Essas vagas são distribuídas entre todas as escolas públicas, proporcionalmente à quantidade de inscrições de alunos dessas escolas. Cada candidato concorre apenas com os demais candidatos que concluíram o ensino médio na mesma instituição que ele, evitando que critérios diferentes de medição de desempenho adotados por instituições diferentes possa prejudicar essa concorrência.

Outra política de inclusão implantada foi o Programa Complementar de Estudos para Alunos do Ensino Médio (PROCEEM), que objetiva ampliar as condições de acesso de alunos de escolas públicas à UFRN, por meio de um cursinho gratuito oferecido para a preparação de candidatos ao vestibular. É uma das ações inseridas na política institucional de inclusão social e passou a fazer parte das ações do processo de consolidação do REUNI. O cursinho oferece aulas de todas as disciplinas do vestibular, e essas aulas são ministradas por alunos da própria UFRN.

A procura pelo cursinho tem crescido consideravelmente, tendo passado de cerca de 700 alunos distribuídos em 14 turmas no ano de 2008, para aproximadamente 1.000 alunos em 20 turmas no ano de 2009, ano em que foram aprovados 127 candidatos no vestibular da UFRN. Para se inscrever, o candidato

precisa comprovar que estuda ou que concluiu o ensino médio em uma instituição pública de ensino. (UFRN, 2009)

Também visando à inclusão social, a UFRN, por meio da COMPERVE, promove seminários de integração com as redes de ensino médio (pública e privada). A COMPERVE realiza esses seminários no início de cada ano letivo, para os quais são convidados representantes e professores de todas as instituições de ensino médio do estado. Os principais temas abordados são: informações gerais sobre o vestibular realizado no ano anterior, evolução do número de vagas e da taxa de matrículas, comparação do número de inscritos e de matriculados da rede pública e da rede privada, políticas de inclusão da UFRN, análise de questões das provas do vestibular, desempenho dos candidatos e das escolas, e orientações para o próximo vestibular.

Após a realização do seminário geral, são realizados seminários específicos por área (Ciências Naturais e Matemática; Ciências Humanas; Linguagens), para discussões a respeito da matriz curricular. Dessa forma, a UFRN tem buscado contribuir com o aprimoramento e a melhoria da qualidade do ensino médio, o que virá a impactar diretamente no desempenho dos alunos nos próximos vestibulares.