• Nenhum resultado encontrado

PARADIGMÁTICAS NO PENSAMENTO DO DIREITO

3 PASSADO, PRESENTE E PERSPECTIVAS DE FUTURO DO SINCRETISMO ENTRE PROCESSO DE CONHECIMENTO E

3.3 O SINCRETISMO COMO NOVO PARADIGMA DA RELAÇÃO ENTRE COGNIÇÃO E EXECUÇÃO

3.3.2 O processo sincrético nos Juizados Especiais Cíveis Federais e nos Juizados Especiais da Fazenda Pública

A sistemática da relação entre tutela cognitiva e tutela executiva, prevista na lei que disciplina os Juizados Especiais Federais (Lei n. 10.259, de 12 de julho de 2001) e na que dispõe sobre os Juizados Especiais da Fazenda Pública (Lei n. 12.153, de 22 de dezembro de 2009), deve ser vista como um bom exemplo de processo sincrético e de busca pela mais ampla concretização da efetividade processual.

Os Juizados Especiais Cíveis Federais são aqueles aos quais compete, conforme o art. 3º da Lei n. 10.259/2001, “processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças”.214 Já aos Juizados Especiais da Fazenda Pública compete, de acordo com o art. 2º da Lei n. 12.153/2009 “processar, conciliar e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos”.215

No que tange à execução das obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa, o art. 16 da Lei n. 10.259/2001, determina que o cumprimento do acordo ou da sentença, com trânsito em julgado, será efetuado mediante ofício do Juiz à autoridade citada para a causa, que será acompanhado de cópia da sentença ou do acordo.216 O art. 12 da Lei n. 12.153/2010 repete, literalmente, tal dispositivo.217

214 BRASIL. Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001.Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais

Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10259.htm>. Acesso em: 19 de fevereiro de 2011.

215 Id. Lei nº 12.153, de 22 de dezembro de 2009.Dispõe sobre os Juizados Especiais da Fazenda

Pública no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12153.htm>. Acesso em: 19 de fevereiro de 2011.

216 Id.. Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001. Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais

Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10259.htm>. Acesso em: 19 de fevereiro de 2011.

217 Id. Lei nº 12.153, de 22 de dezembro de 2009.Dispõe sobre os Juizados Especiais da Fazenda

Ao comentar o art. 16 de Lei n. 10.259/2011, J. E. Carreira Alvim e Luciana Gontijo Carreira Alvim Cabral observam que o dispositivo caminha em sintonia com a tendência do moderno direito processual de sincretizar o processo de conhecimento com o processo de execução, evitando que a parte vencedora, após ter percorrido todo um processo para obter o reconhecimento de seu direito, tenha que se submeter a novo processo para vê-lo satisfeito. Ressalte-se que, em conformidade com o disposto no artigo sob comento, a execução da sentença ou do acordo é feita mediante simples ofício dirigido pelo juiz à autoridade citada para a causa com a respectiva cópia para que se cumpra.218

Em se tratando de obrigação de pagar quantia certa, por sua vez, o art. 17 da Lei n. 10.259/2001 determina que após o trânsito em julgado da decisão, o pagamento deverá ser efetuado no prazo de sessenta dias, contados da entrega da requisição, por ordem do magistrado, à autoridade citada para a causa, na agência mais próxima da Caixa Econômica Federal ou do Banco do Brasil,

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12153.htm>. Acesso em: 19 de fevereiro de 2011.

218 ALVIM, J. E. Carreira; CABRAL, Luciana Gontijo Carreira Alvim. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Federais Cíveis. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2010, p. 234-235. Em comentários ao art. 16 da

Lei n. 10.259/2001 e ao art. 12 da Lei n. 12.153/2009, Alexandre Freitas Câmara pontua que, não cumprida a obrigação no prazo, começa a correr multa diária no cumprimento da obrigação, bem como, deverá o juiz determinar a prática dos atos necessários à efetivação da sentença, com o fito de obter resultado prático equivalente ao do adimplemento da obrigação. Neste caso, o autor recorreu à aplicação subsidiária dos arts. 461 e 461-A do Código de Processo Civil brasileiro. Além disso, Alexandre Freitas Câmara observa que o magistrado deverá impor à autoridade que tem o dever de praticar os atos necessários à efetivação do comando contido na sentença a multa prevista no parágrafo único do art. 14 do Código de Processo Civil. Por fim, cumpre observar a interessante crítica apresentada pelo autor: “Não posso deixar de dizer, porém, que me parece lamentável ter de se fazer um estudo, ainda que breve, a respeito do sistema de execução de sentenças condenatórias dirigidas à Fazenda Pública (ou a outras entidades públicas). Em um Estado Democrático de Direito, o mínimo que se espera da Administração Pública é que cumpra as decisões judiciais. É absurda a ideia de que em um Estado Democrático seja necessário ao Estado-juiz intimar o administrador público para que cumpra a sentença condenatória. Esse cumprimento deveria ser voluntário, e o que se pode augurar é que o Brasil chegue, um dia, a um estágio de desenvolvimento de suas instituições estatais que permita afirmar que as decisões judiciais são respeitadas. A teimosia das autoridades públicas (de todas as esferas, seja qual for o partido político que esteja no Poder) em não cumprir as decisões judiciais é uma manifestação de subdesenvolvimento cultural e político que, espero, possa ser brevemente superado (embora tenha de confessar não ter muita esperança de que isso venha, realmente, a mudar)” (CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados especiais cíveis estaduais, federais

independentemente de precatório.219 O art. 13 da Lei n. 12.153/2010 segue semelhante caminho.220

J. E. Carreira Alvim e Luciana Gontijo Carreira Alvim Cabral afirmam que essa é uma regra que foi sustentada pelo professor Carreira Alvim, juntamente com a quebra de todos os privilégios do Poder Público, num dos primeiros encontros de que participou, na cidade de Recife, acerca dos Juizados Especiais Federais. Com efeito, tais autores asseveram que o pagamento por meio de precatório, embora tenha previsão constitucional, é um dos maiores acintes cometido pelo Poder Público em face do direito de seu credor, pois, depois de vencer a demanda, e dependendo do valor, fica à espera da benevolência do Poder Executivo em alocar recursos para atender ao pagamento.221

Seguindo semelhante linha de raciocínio, Alexandre Freitas Câmara observa que o dispositivo sob comento apresenta uma sensível diferença em relação ao sistema executivo comum em que é demandada a Fazenda Pública, já que, como regra geral, essa execução se faz através do famigerado precatório.222

Deve-se ressaltar ademais que, de acordo com o § 2º do art. 17 da Lei n. 10.259/2001, em caso de descumprimento da requisição de pagamento, o magistrado determinará o sequestro do numerário suficiente ao cumprimento da decisão.223 Em semelhante sentido caminha o § 1º do art. 13 da Lei n.

219 BRASIL. Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001.Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais

Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10259.htm>. Acesso em: 19 de fevereiro de 2011.

220 Id. Lei nº 12.153, de 22 de dezembro de 2009.Dispõe sobre os Juizados Especiais da Fazenda

Pública no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12153.htm>. Acesso em: 19 de fevereiro de 2011.

221 ALVIM, J. E. Carreira; CABRAL, Luciana Gontijo Carreira Alvim. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Federais Cíveis. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2010, p. 235-236.

222 Cumpre conferir o posicionamento de Alexandre Freitas Câmara acerca da sistemática

constitucional dos precatórios: “[...]. O precatório, tristemente famoso, é um mecanismo executivo que é usado no Brasil e em pouquíssimos outros lugares do Planeta. Trata-se de um mecanismo odioso, por força do qual o Estado pode até mesmo começar a pagar seu débito, reconhecido em sentença, dois anos depois do trânsito em julgado da sentença. Veja-se, aliás, que ele estará aí começando a pagar, pois esse pagamento pode ser feito em até quinze anos! Assim, em tese, é possível que o credor só veja seu crédito satisfeito dezessete anos após o trânsito em julgado da sentença, o que é inteiramente despido de qualquer razoabilidade. Registro, ainda, que estou aqui apresentando o sistema do ponto de vista teórico, uma vez que na prática é comum o Estado, simplesmente, não pagar a dívida a que se refere o precatório” (CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados especiais cíveis

estaduais, federais e da fazenda pública: uma abordagem crítica. 6. ed. Rio de Janeiro: Lumen

Juris, 2010, p. 253-254).

223 BRASIL. Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001.Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais

12.153/2009.224 Alexandre Freitas Câmara ressalva que falam as leis em “sequestro” quando, em verdade, querem se referir ao “arresto”, que consiste na medida de apreensão de bens destinada a assegurar a efetividade de uma execução por quantia certa. Sendo assim, uma vez não cumprida a requisição de pagamento, o juiz da causa determinará a apreensão da verba necessária para que ele seja efetuado.225

Pelo exposto, nota-se que a adoção do processo sincrético, nos Juizados Especiais Cíveis Federais e nos Juizados Especiais da Fazenda Pública, possui um “plus” de efetividade processual (afora a que já é inerente ao sincretismo processual), uma vez que, por meio da previsão de requisição de pagamento, foge à sistemática dos precatórios (que vêm sendo, em verdade, utilizados como instrumentos de inefetividade no que tange ao cumprimento de decisões judiciais).      

3.3.3 O Projeto do novo Código de Processo Civil brasileiro e as

Outline

Documentos relacionados