• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 E STADO DA A RTE EM M ETODOLOGIAS DE D ESENVOLVIMENTO DE J OGOS

3.6 Processos e Modelos para Desenvolvimento de Jogos Sérios

Jogos sérios abrangem o conteúdo de instrução/ treinamento com algum nível de jogabilidade e representação de processos ou sistemas do mundo real. Entretanto, eles podem variar na inclusão de atividades que compreendem o planejamento e implementação destes itens e na ênfase para uma destas áreas. A seguir são apresentados: os modelos SG-ISD e de referência de Greenblat, e três processos, um baseado em RUP, outro baseado no design centrado no usuário, e o terceiro, unificando instrução, jogo e simulação.

3.6.1 Modelos de criação de jogos e simulações

O modelo de design de jogos e simulações SG-ISD (Simulation- Games Instructional

Systems Design) apoia a integração entre o processo de desenvolvimento de sistemas

educacionais e de desenvolvimento de jogos (Kirkley, Tomblin e Kirkley, 2005). Ele integra elementos do modelo ADDIE, desenvolvimento em cascata, design interativo e prototipação, entre outros modelos para fornecer apoio para criação de jogos sérios, que é composto por cinco fases: (1) Avaliação formativa: que inclui análise, conceito, projeto e garantia de qualidade; (2) Especificação do projeto técnico; (3) Implementação do protótipo; (4)

Modding: modificação dos jogos existente por meio da inclusão de novas entidades, recursos

ou novos cenários (em um ambiente de autoria); assim é possível alterar o cenário, os objetivos de aprendizagem e a avaliação; e (4) Avaliação somativa (Kirkley, Kirkley e Heneghan, 2007). Como limitação, não há especificação para os requisitos de M&S, apenas jogo e instrução. Isso pode impactar na fidelidade física e funcional que o modelo vai ter, e posteriormente dificuldade para avaliar o desempenho do aprendiz, caso o comportamento do sistema ou processo do mundo real for modelado inadequadamente por causa da falta de planejamento da simulação.

Um modelo de referência para jogos e simulações foi criado por Greenblat, e é composto de cinco fases: (1) Configurar os objetivos e parâmetros: descrição do assunto, objetivos de aprendizagem, aprendizes e operadores, contexto de uso e recursos (tempo, dinheiro, etc.); (2) Desenvolver modelo: descrição das metas, atividades e recursos, e suas interações; (3) Definir detalhes sobre a representação: definição nível de abstração, intervalo de tempo, interação dos aprendizes, ligação dos elementos do modelo com o elementos do jogo, formas de representação do modelo (cenários, regras, procedimentos, fatores externos,

imagens e símbolos visuais); (4) Construir e modificar: implementação do protótipo e testes; e (5) Preparar para uso: descrever manual do aprendiz (apud Van Der Zee, Holkenborgb e Robinson, 2012). Esta metodologia é um modelo de referência para jogos e simulações, porém ela não aborda a modelagem da simulação nem a avaliação do desempenho do aprendiz e do jogo em si, que são requisitos para obter e equilibrar fidelidade da simulação e aprendizagem eficaz a jogabilidade.

Apesar dos títulos destes modelos conter simulações, a ênfase é para criação de jogos.

3.6.2 Processos de desenvolvimento de jogos sérios

Um processo para desenvolvimento de jogos sérios foi criado para área de saúde (Rodrigues, Machado e Valença, 2010) baseado no processo RUP, adicionando as disciplinas de Projeto pedagógico-educacional e Game design. Este modelo é composto de quatro fases (Concepção, Pré-Produção, Produção e Pós-Produção) e possui 10 disciplinas, incluindo sete disciplinas de criação: (1) Análise de mercado; (2) Projeto pedagógico-educacional; (3)

Game design; (4) Projeto técnico; (5) Implementação; (6) Testes: alfa com os

desenvolvedores e beta com os aprendizes; (7) Distribuição; e três disciplinas de apoio: (8)

Gerência de configuração e mudanças: monitoramento; (9) Gerência de projeto:

gerenciamento de riscos, plano e recursos; (10) Ambiente: apoio para processos e ferramentas de auxílio ao desenvolvimento. A avaliação (testes betas) é realizada quanto a reação do aprendiz à facilidade do uso do jogo e aprendizado (por meio de formulário). Entretanto, a metodologia estava na fase inicial de Concepção; necessitando ser utilizada e avaliada por completo, além do próprio jogo sério.

O processo de desenvolvimento de jogos sérios é uma metodologia baseada no design centrado no usuário e no framework de quatro dimensões (The Four-Dimensional

Framework) (Freitas e Jarvis, 2006), que descrevem os elementos chaves do cenário de

aprendizagem: aprendiz (demografia, preferências, grupo, habilidades), contexto (lugar, acesso e apoio tecnológico), pedagogia (ciclo de aprendizado) e representação (imersão, fidelidade e nível de interatividade). O processo baseado neste framework possui quatro fases principais que são iterativas e não lineares: (1) Analisar: perfil do aprendiz, necessidades de aprendizado e requisitos de projeto centrado no humano; (2) Especificar avaliação; (3)

Investigar adequação: se jogo sério satisfaz a necessidades de aprendizado e os requisitos de

projeto centrado no humano; e (4) Especificar solução de aprendizagem e do jogo sério. Como limitações esta metodologia é focada na análise e especificação dos elementos

necessários para construir jogos sérios sem detalhar as outras fases do desenvolvimento (implementação, testes, execução, avaliação, validação) (Freitas e Jarvis, 2006). Além disto, não oferece apoio para a modelagem da simulação.

O processo de design instrucional sério Synergy (Becker e Parker, 2012) combina em um modelo unificado as disciplinas de design de jogo, design instrucional e design da simulação em nove fases de desenvolvimento: com seis fases sequenciais: (1) Descobrir: analisar tarefa, identificar lacunas de desempenho, aprendizes e contexto, definir objetivos de treinamento e de desempenho; (2) Pesquisar e preparar: definir extensão e limites do sistema, coletar dados; (3) Planejar: mensagem, estratégia educacional, interface, jogabilidade e mecânica do jogo, estrutura do programa, avaliação do desempenho do aprendiz e do jogo sério; (4) Criar modelo conceitual: planejar documentos; (5) Criar modelo operacional: programar; (6) Testar: realizar playtesting (pessoas executam o jogo sério e fornecem

feedback) e postmortem; e três paralelas as outras: (7) Criar protótipo e realizar playtesting;

(8) Validar, realizar avaliação formativa e revisar; e (9) Verificar, realizar avaliação

somativa e revisar. Este processo unifica instrução, jogo e simulação, entretanto não

especifica artefatos e pessoas envolvidas. Em relação à M&S, aborda a V&V, criação de um modelo conceitual e operacional mas sem detalhar os elementos de simulação física, lógica e distribuída. Não há apoio também para o desenvolvimento das avaliações.

3.6.3 Limitações das metodologias de desenvolvimento de jogos sérios e requisitos de integração jogabilidade-aprendizado-simulação

As metodologias de design de jogos sérios focam na integração jogabilidade e aprendizado, podendo ser classificadas em quatro grupos (Marklund, 2013): (1) Aprendizagem em jogabilidade: as metodologias tentam responder como o conteúdo de aprendizado pode ser vinculado e traduzido em elementos (engajamento, motivação, desafio, etc.) e mecânica de jogos (linear, experimentação livre), que garantam um aprendizado eficiente. Elas consideram que elementos de jogo em si podem não garantir a aprendizagem, e assim incluem a ligação aprendizado-mecânica do jogo para definir e planejar a aprendizagem. (2) Jogabilidade em aprendizagem: as metodologias tentam responder como o design do jogo deve se encaixar no contexto educacional, considerando os aspectos sociais e o contexto ao redor. Elas consideram o contexto educacional e que o processo de ensino- aprendizagem pode estar fora do jogo, de forma que o aprendiz tem que discutir, analisar e refletir em sala de aula sobre o conteúdo apresentado e a experiência obtida no jogo. (3)

Jogabilidade primeiro: as metodologias visam criar um bom jogo (com verossimilhança e precisão ao conteúdo) e um cenário engajador (com interatividade e experiência). Elas consideram o jogo como um ponto de partida para o aprendiz se interessar e discutir sobre o conteúdo. São similares às de “jogabilidade em aprendizagem” mas com mais ênfase em que o jogo seja uma introdução ao assunto. (4) Aprendizado primeiro: as metodologias focam o conteúdo de aprendizagem e adicionam jogabilidade apenas como um atrativo, muitas vezes sem criar produtos de sucesso, que geralmente são apenas softwares instrucionais com elementos de gamificação. Desses grupos, as abordagens bem-sucedidas equilibram jogabilidade e conteúdo de aprendizagem (Engström et al., 2011). Entretanto, é necessário analisar o contexto em que os jogos criados serão utilizados para escolher a melhor metodologia de design. Além disto, é necessário também a unificação e integração com a modelagem da simulação, dado que o jogo sério representa e simula um sistema ou processo real (Becker e Parker, 2012).

Nesta seção foram apresentadas cinco metodologias de desenvolvimento de jogos sérios, conforme é apresentado no Quadro 3.7. De forma geral, as representações e simulações de processos e sistemas do mundo real não são detalhadas nelas. A ênfase é dada ao design instrucional e design do jogo, com a inclusão de atividades no processo de desenvolvimento, mas sem uma forte integração delas. Esta integração deve ser realizada pela equipe de desenvolvedores e designers, e sem apoio de como isto pode ser alcançado. Apenas uma destas metodologias unifica instrução e jogo com a simulação (processo Synergy). Entretanto, ela não oferece apoio para o desenvolvimento dos artefatos, nem especifica as atividades realizadas por cada pessoa das equipes multidisciplinares. Também não há referência para como devem ser desenvolvidas as avaliações (de desempenho dos aprendizes e do jogo sério) e a não há detalhes da modelagem e simulação física, lógica e nem distribuída.

3.7 Processos de Produção de Artefatos referentes às Áreas de