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A análise das margens de produtos importados segue a mesma lógica vista até agora para os nacionais. A grande diferença é a carga tributária de importação e os custos alfandegários. Essa carga de impostos incide “em cascata”, ou seja, o cálculo de um imposto depende dos demais, o que eleva fortemente os custos de importação.

Além dos custos diretos incidentes sobre os produtos importados, existe uma taxa especial que muitas vezes pode ser considerada, ou seja, a carta de crédito obtida em um banco. Trata-se de instrumento garanti- dor para o exportador de que terá a certeza de receber o valor da venda.

Essa carta de crédito tem um custo para o importador que não foi con- siderado nos exemplos que se seguem, pois normalmente os processos de importação envolvem vários itens e a taxa cobrada é válida para o total a ser pago, ou seja, não incidindo diretamente sobre um item. Quando o valor cobrado pelo banco for um percentual do custo FOB, esse valor pode perfeitamente constar na planilha de análise de preços e margens de con- tribuição dos produtos importados.

É muito importante para as empresas que atuam no setor importador destinar uma rubrica de custos fixos para a carta de crédito. A seguir,

CAPÍTULO 4 – CÁLCULO DA MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO A PARTIR DO PREÇO...

consideraremos o exemplo de um produto importado com a finalidade de ser revendido, sem nenhum tratamento industrial e sem direito a cré- dito de IPI na venda; portanto, tratamos o IPI como custo efetivo.

Como o tratamento tributário de PIS e COFINS é diferenciado, de acordo com o regime tributário em que a empresa se encontre, apre- sentaremos o mesmo exemplo, refletindo os dois regimes tributários principais: Lucro Real e Lucro Presumido.

Exemplo – Produto importado Lucro Presumido Produto C

(valores em R$)

Nominal Prazo Real

Preço de venda 800,00 30 784,31 Custo mercadoria FOB (200,00) 0 (200,00) Frete (8,00) (8,00) Seguro da carga (2,08) (2,08) Custo mercadoria CIF (357,14) (357,14) Imposto de importação (30%) (107,14) (107,14) IPI (15%) (69,64) (69,64) ICMS Importação (18%) (127,81) (127,81) PIS Importação (1,65%) (8,62) (8,62) COFINS Importação (7,6%) (39,72) (39,72) Despesas armazenagem (2,25%) (8,04) (8,04) Despesas alfândega (5,79) (5,79) Débito ICMS Adicional (18%) (16,19) (16,19) PIS sobre a venda (0,65%) (5,20) (5,20) COFINS sobre a venda (3%) (18,00) (18,00) Frete de entrega (2,00) (2,00) Comissão (2%) (16,00) (16,00) IRPJ (1,2%) (9,60) (9,60) Contribuição Social (1,08%) (8,64) (8,64) Margem de contribuição (R$) 122,28 106,60 % Margem de contribuição 15,3% 13,6% Custo financeiro mensal 2%

Seguem as explicações para cada componente de custo de impor- tação.

Custo FOB

 : Preço do produto no local de embarque. Como o

valor é pago em dólares, mesmo que se obtenha um prazo elás- tico de pagamento, este não deverá ser deflacionado, ou seja, trazido a valor presente. Isto ocorre porque não existe uma cer- teza absoluta sobre a paridade real/dólar, por ocasião da data de pagamento ao fornecedor. Evidentemente, poderá haver um ga- nho financeiro nessa compra; entretanto, por questão de segu- rança no cálculo, recomenda-se não utilizá-lo. Evidentemente, deve-se considerar a conversão cambial US$/R$, para calcular o custo nominal em reais. No exemplo consideramos a paridade US$1,00 = R$2,00 apenas para facilitar a compreensão.

Frete

 : Quantidade × peso unitário × tarifa de frete

Seguro

 : (Custo FOB + Frete) × alíquota variável de seguro da

carga

Custo CIF

 : Custo FOB + frete aéreo + seguro da carga

Imposto de importação (II)

 : (Custo CIF) × alíquota variável de

imposto

IPI

 : (Custo CIF + Imposto de importação) × alíquota variável de

imposto

ICMS Importação:

  (CIF + II + IPI + COFINS + PIS) / (1-%ICMS)

× %ICMS

PIS Importação:

  % PIS × (( CIF × (1+%ICMS × ( %II+%IPI ×

(1+%II))) / (( 1 – % PIS – % COFINS) × (1 – %ICMS))))

COFINS Importação:

  % COFINS × ((CIF × (1+%ICMS × (%II+%IPI)

× (1+%II))) / ((1 – % PIS – % COFINS) × (1 – %ICMS))))

Despesas de armazenagem

 : (Custo CIF) × % taxa aleatória

Despesas de alfândega

 : Custo de despachante + Infraero + ca-

patazia + frete rodoviário até o local de destino (valor foi apenas digitado, sem cálculos)

Os demais componentes já foram detalhados nos exemplos ante- riores.

O débito adicional de ICMS foi calculado através da diferença entre os valores de venda e os referentes ao processo de importação.

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Neste exemplo a empresa teria direito a se creditar do IPI da importa- ção, situação específica a empresas industriais ou distribuidores.

Se a empresa estiver no regime do Lucro Real, os cálculos são os seguintes, referentes à mesma importação:

Exemplo – Cálculos referentes à importação no caso de regime do Lucro Real

Produto C

(valores em R$)

Nominal Prazo Real

Preço de venda 800 30 784,31 Custo mercadoria FOB (200) 0 (200) Frete aéreo (8,00) (8,00) Seguro da carga (2,08) (2,08) Custo mercadoria CIF (357,14) (357,14) Imposto de importação (30%) (107,14) (107,14) IPI (15%) (69,64) (69,64) ICMS Importação (18%) (127,81) (127,81) PIS Importação (1,65%) (8,62) (8,62) COFINS importação (7,6%) (39,72) (39,72) Despesas armazenagem (2,25%) (8,04) (8,04) Despesas alfândega (5,79) (5,79) Débito ICMS adicional (18%) (16,19) (16,19) PIS adicional (1,65%) (4,58) (4,58) COFINS adicional (7,6%) (21,08) (21,08) Frete de entrega (2) (2) Comissão (2%) (16) (16) Margem de contribuição (R$) 144,07 128,38 % Margem de contribuição 18% 16,4% Custo financeiro mensal 2%

Em relação ao modelo anterior, apenas são acrescidas as parcelas de PIS e COFINS adicionais, que são calculados através da multi- plicação do preço de venda pelas respectivas alíquotas, no regime

de Lucro Real, diminuindo-se as parcelas pagas antecipadamente no processo de importação.

Para maiores detalhes, consulte, entre outros sites que tratam do tema, www.danitoste.com

Exportação

Estabelecer preços competitivos na exportação, analisando correta- mente as margens de contribuição, é questão prioritária e que deve ser analisada cuidadosamente.

Além dos fatores de custo já abordados, algumas questões reque- rem mais amplo estudo, entre outras, o perfil dos concorrentes de mercado, as características do mercado consumidor, as taxas de câm- bio que vigorarão na operação de venda, se as vendas podem ser con- sideradas apenas residuais ou devem ser tidas como representativas no total da empresa exportadora.

Existem, basicamente, duas modalidades distintas de formação de preços na exportação:

1. Modelo baseado no preço do produto no mercado interno. 2. Modelo baseado no custo do produto a ser exportado.

Na primeira abordagem adota-se o preço básico praticado no país, expurgando-se as parcelas de impostos e contribuições isentas na ex- portação.

Atualmente são isentos na exportação ICMS, ISS, IPI, PIS e CO- FINS, ao passo que os demais tributos são incidentes normalmente.

Além da isenção dos débitos de ICMS e IPI, vale ressaltar que os créditos provenientes desses impostos, gerados na aquisição das ma- térias-primas componentes dos produtos fabricados, possibilitam a sua contabilização e utilização normal, sendo compensados com os débitos gerados nas vendas locais.

Outra particularidade da exportação é a possibilidade de apuração de crédito de PIS e COFINS, gerados nas compras das matérias-primas para fins industriais. Essa operação se concretiza via crédito presu- mido de IPI, em valor equivalente ao valor pago dessas contribuições

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nas compras de matérias-primas nacionais, produtos intermediários e materiais de embalagem utilizados na produção para exportação.

Este cálculo será feito da seguinte forma:

a) avalia-se qual o percentual de receitas de exportação sobre a receita operacional total da empresa produtora e exportadora. b) aplica-se o percentual obtido em a para definir o total de insu-

mos adquiridos passíveis de obtenção de crédito.

c) multiplica-se o valor obtido em b por 5,37%, obtendo-se o cré-

dito presumido de IPI a ser recuperado.

Resumindo, podemos calcular esse crédito pela aplicação da fór- mula abaixo:

Onde:

 RBE  = Receita bruta de exportação  ROB = Receita operacional bruta  MP  = Matérias-primas

 MPI  = Matérias-primas intermediárias  ME  = Materiais de embalagem

 MNV  = Materiais utilizados na produção, mas não vendidos.

5,37% = Percentual constante, correspondente a duas etapas de in- dustrialização com pagamento de PIS e COFINS.

Esse benefício depende de uma série de circunstâncias para ser utilizado, o que requer a consulta à área contábil acerca de sua im- plementação.

Devem ser ainda computados alguns custos específicos da expor- tação, tais como o frete entre a fábrica e o porto ou aeroporto, o segu- ro interno de deslocamento da mercadoria até o local de embarque, despesas portuárias ou aeroportuárias, despesas com despachante e a comissão do agente exportador, quando pertinente.

Poderíamos considerar a tabela a seguir como representativo de um modelo de preço na exportação, a partir do preço praticado inter- namente, considerando que a empresa opera sob o regime do Lucro Presumido: (R$/unidade)

Nominal Prazo Real

Preço interno sem IPI e com ICMS

de 18% 1.000 0 1.000 Isenção do ICMS (180) (180) Isenção do COFINS (30) (30) Isenção do PIS (6,50) (6,50) Preço interno sem ICMS/PIS/COFINS 783,50 0 783,50 Matéria-prima com IPI de 10% (400) 30 (392,16) Crédito ICMS (12%) 43,64 43,64 Crédito de IPI 36,36 36,36 Crédito presumido de PIS/COFINS 21,48 21,48 Frete fábrica-porto (3) (3) Seguro interno fábrica-porto (2) (2) Despesas portuárias (5) (5) Despesas com despachante (2) (2) Comissão do agente externo

(4% sobre o FOB) (31,34) (31,34) IRPJ (1,2%) (9,4) (9,4) CSSL (1,08%) (8,46) (8,46) Margem de contribuição R$ 423,78 431,62 % Margem de contribuição 54 55

Custo financeiro mensal: 2 % Paridade Cambial: US$1 = R$2 Preço FOB US$ = 783,50/2 = US$ 391,75

Seguem as explicações para os valores. Preço sem IPI e com ICMS de 18%: dado

Isenção do ICMS: preço interno com ICMS × 18% Isenção do COFINS: preço interno com ICMS × 3% Isenção do PIS: preço interno com ICMS × 0,65%

CAPÍTULO 4 – CÁLCULO DA MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO A PARTIR DO PREÇO...

Crédito do ICMS (12%): considerada a compra por empresa situa- da no Sudeste, em outro estado do Sudeste. O cálculo é o seguinte:

[Custo da matéria-prima / (1 + % IPI)] × % ICMS = (400/1,10) × 12%

Crédito de IPI: 400 – (400/1,10)

Crédito Presumido de PIS/COFINS: Consideramos que a empresa tem a possibilidade de aproveitar este crédito e que 100% da Receita Operacional é derivada de vendas ao mercado externo. Utilizando a fórmula do cálculo, temos:

Frete Fábrica – Porto: dado (frete total/número de unidades transpor- tadas)*

Seguro Interno Fábrica – Porto: dado (seguro total/número de unida- des transportadas)*

Despesas Portuárias: dado (despesas/número de unidades transpor- tadas)*

Despesas com despachante: dado (despesas/número de unidades transportadas)*

Comissão do agente externo (4% sobre o FOB): percentual alea- tório, indicando o valor pago ao agente. Normalmente, esta taxa é calculada sobre o preço FOB faturado ao importador.

Imposto de Renda Pessoa Jurídica e CSLL são cobrados normal- mente na operação de exportação, nas mesmas bases do Lucro Presu- mido, incidentes no segmento industrial.

Na avaliação anterior consideramos a matéria-prima adquirida no próprio Brasil. Se, ao contrário, sua procedência fosse de outro país, mantendo-se a finalidade de exportação do produto acabado, a empresa poderia usufruir do regime de drawback .

Por esse regime aduaneiro, lembrando o modelo de importação contido na página 67, os impostos pagos na importação, ou seja, Im- posto de Importação, IPI e ICMS, seriam dispensados. Apenas a título de complementação, também o Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante, que representa 25% do frete marítimo interna- cional, também não incidiria na importação. A sequência de cálculos seria a mesma do exemplo exportador anterior.

A modalidade de formação de preços baseada no custo segue a mesma lógica apresentada no próximo capítulo, quando se apura o preço a partir da margem de contribuição objetivada.

CAPÍTULO 5

Cálculo do preço de venda a partir

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