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Muitas empresas costumam precificar seus produtos considerando os custos fixos em suas formações. Esse critério é extremamente preju- dicial à empresa, visto que, além de tornar o cálculo completamente distorcido, acarreta ainda a perda de competitividade dos produtos. Existem dois métodos básicos de custeamento dos produtos.

GUIA PRÁTICO DE FORMAÇÃO DE PREÇOS

1. Custeio por absorção

Método essencialmente contábil, obrigatório para finalidades fiscais no setor industrial, tem como objetivo principal a mensuração dos resultados da empresa, considerando os custos das mercadorias ou matérias-primas a partir de dados históricos de estoque. Para tanto, são empregados os métodos do custo médio ponderado ou do PEPS (Primeiro item que Entra é o Primeiro que Sai). Como veremos adian- te, em formação de preços, os custos a serem considerados são os de reposição, não históricos contabilmente. Nesse sistema, além dos custos das matérias-primas e Mão de Obra Direta, indiscutivelmente custos diretos, também a Mão de Obra Indireta (MOI) industrial e as demais Despesas Indiretas de Fabricação (DIFs), que não podem ser identificadas diretamente a cada produto, são custeadas e levadas a seus preços por meio de mecanismos de rateio.

Esse rateio leva em conta, normalmente, o número de unidades produzidas de cada item ou o custo da mão de obra direta sobre cada produto.

Assim, por esse método, todos os custos indiretos da empresa são rateados aos produtos, de modo que as suas margens são oneradas por custos e despesas inerentes a todo o processo produtivo. As em- presas que utilizam essa sistemática na precificação costumam ratear todos os seus custos fixos, não apenas os de produção, mas também os administrativos, a cada produto, adotando algum método aleatório de distribuição, normalmente o percentual de faturamento de cada um, sobre o total da empresa.

2. Custeio direto

Trata-se de um método de apropriação de custos essencialmente ge- rencial, proibido em termos fiscais, que considera apenas aqueles diretamente ligados aos produtos vendidos, ou seja, os custos vari- áveis. Por esse critério, podemos apurar a margem de contribuição, que indica de maneira imediata qual é a contribuição direta de cada produto/serviço aos resultados finais da empresa.

 MC = PV – CV 

ou seja, margem de contribuição = preço de venda – custos variáveis. % MC = (MC/PV) × 100

Perceba a diferença entre os conceitos: através da margem de con- tribuição, podemos identificar produtos mais ou menos lucrativos, sem a utilização de critérios de rateio totalmente discutíveis. Por exemplo, por que alocar ao preço do calçado vendido numa loja de shopping o custo do contador terceirizado, ou do aluguel do local? Se isto for feito, os preços tendem a subir de tal modo que sua competi- tividade será cada vez menor.

É evidente que esses custos devem ser cobertos, só que através da margem de contribuição de todos os produtos. É só pensar no seguin-

te: será que o mercado é receptivo a margens únicas para produtos diferentes? Logicamente, não! Cada produto deve ter percentual de margem de contribuição que o mercado assimile e não simplesmente aquela resultante do acréscimo de um fator multiplicador sobre o custo da matéria-prima. Pense bem nisso!

Além disso, a utilização do critério de rateio dos custos fixos na formação dos preços de venda pode levar a conclusões extremamente erradas e perigosas ao seu negócio. Veja o exemplo a seguir e tire suas conclusões.

Definimos, aleatoriamente, os faturamentos de cada produto, que são derivados dos respectivos preços de venda e quantidades comercializa- das. A seguir, indicamos todos os custos variáveis associados a cada um, ou seja, os impostos diretos de venda, os custos respectivos de cada ma- téria-prima, também chamado de CMV (custo da mercadoria vendida) e, finalmente, os outros custos variáveis, tais como comissões.

A diferença entre o faturamento e a soma das parcelas de custos variáveis aponta a margem de contribuição de cada produto e dela ex- traímos o percentual respectivo, ao dividirmos a MC em reais pelo fa- turamento correspondente. Nossa análise deve parar neste estágio, em que sabemos que possuímos três produtos com elevada contribuição ao resultado global da empresa. Como se vê, cada um tem uma par- ticipação importante na diluição do custo fixo total de R$70.000,00.

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Essa análise é denominada custeio direto e identifica a contribuição gerada por cada produto ao resultado total da empresa.

Exemplo

Suponhamos que uma empresa venda apenas três produtos e que os resultados de cada um sejam assim representados:

(valores em R$ mil)

Produtos A B C Total

Faturamento bruto 100 120 80 300 Impostos diretos (18) (22) (14) (54) Custo das matérias-primas (40) (65) (45) (150) Outros custos variáveis (4) (6) (4) (14) Margem de contribuição 38 27 17 82 Margem de contribuição (%) 38 22,5 21,3 27,3 Custos fixos (70) Lucro líquido 12

Vamos agora complementar essa análise de resultados, introduzin- do os custos fixos e rateando-os a cada produto, por meio do critério de custeio por absorção.

Exemplo

(valores em R$ mil) Produtos A B C Total Faturamento bruto 100 120 80 300 Impostos diretos (18) (22) (14) (54) Custo das matérias-primas (40) (65) (45) (150) Outros custos variáveis (4) (6) (4) (14) Custos fixos (23) (28) (19) (70) Lucro líquido (15) (1) (2) 12

Este rateio é feito segundo diversos critérios, todos sem uma ra- zão mais concreta! Neste caso, os custos fixos totais da empresa, no valor de R$70, foram rateados na proporção do volume faturado por produto.

Assim, o produto A, que representa 33,3% do faturamento, tam- bém arcará com um “peso” de 33,3% dos custos fixos, ou seja, R$23. A mesma interpretação foi dada aos demais produtos. Os três pro- dutos têm margem de contribuição positiva e, por critério de custeio direto, deverão ser mantidos em continuidade na linha. Pelo critério de absorção, os produtos B e C deveriam ser alvo de modificações em suas precificações, pois apresentam resultados negativos.

Repare que, pelo custeio por absorção, não calculamos a contribui- ção, mas sim o “lucro líquido” de cada produto, o que por si só já denota um erro importante, pois o lucro é da empresa e não do produto, que apresenta margem, já que o custo fixo é de toda a empresa e não associá- vel, na maior parte das situações, a um produto ou serviço específico.

Vejamos algumas hipóteses adotadas e suas possíveis consequên- cias:

Reações Consequências

Aumento de preços Perda de mercado e queda nos lucros Negociação com

fornecedor

Sem resultados efetivos

Redução de comissão Efeitos na satisfação dos funcionários/queda nas vendas Eliminação de produto Não diluição do custo fixo e prejuízo

A última hipótese, de eliminação dos produtos B e C da linha, se adotada, reverterá o lucro líquido atual de R$12.000,00 para um pre- juízo de R$32.000,00, pois os custos fixos permaneceriam existindo, talvez em escala menor, mas a margem do produto A não seria su- ficiente para suportá-los. Fica claro que a adoção do custeio direto e, consequentemente, da margem de contribuição é essencial para um correto trabalho de precificação e análise dos resultados de sua empresa. Além das vantagens expostas, a identificação da margem de contribuição permite, com muita facilidade, a análise do ponto de equilíbrio operacional.

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