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CAPÍTULO 3 PESQUISADORES EM ÁREAS PROTEGIDAS DO LITORAL NORTE DE SÃO PAULO – O BIOTA/FAPESP E O PESM

3.2 O PROGRAMA BIOTA/FAPESP

O Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo, conhecido como Programa BIOTA/FAPESP, é um repositório de projetos de pesquisa relacionados à biodiversidade paulista que abrange e integra os mais importantes centros de pesquisa do Estado, envolvendo centenas de pesquisadores e possibilitando a construção conjunta do panorama atual da biodiversidade de São Paulo. Seu principal objetivo é inventariar e caracterizar a biodiversidade paulista, definindo mecanismos para sua conservação, seu potencial econômico e sua utilização sustentável. (http://www.biota.org.br/?page_id=3714)

O Programa, criado oficialmente em 1999, tem hoje quinze anos de existência, e tem continuidade prevista pelo menos até o ano de 2020, tendo contribuído para a formação de dezenas de pós-graduandos e resultando em centenas de publicações, nacionais e internacionais. Nasceu da experiência de um de seus idealizadores e atual coordenador, o Professor Dr. Carlos Joly (IB/UNICAMP), à frente de um cargo administrativo da SMA, durante a década de 1990. Nesse período, a SMA criou o Programa Estadual para Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade (PROBIO/SP), tentando envolver pesquisadores e acadêmicos na elaboração de políticas públicas para a conservação no Estado. No entanto, não houve o envolvimento esperado destes atores, por falta de interesse ou, talvez, por receio das frequentes descontinuidades de recursos e de direcionamento político, inerentes a muitos programas governamentais no Brasil. De volta à universidade, o Professor Carlos Joly fez o caminho inverso, mobilizando pesquisadores através da oportunidade de fazer pesquisa continuada, com financiamento da FAPESP, para que os resultados pudessem alimentar as políticas públicas de conservação no Estado, de acordo com as diretrizes preconizadas pela Convenção da Diversidade Biológica (CDB).

Em 1996, a Coordenação de Ciências Biológicas e a Diretoria Científica da FAPESP organizaram uma discussão com lideranças da comunidade científica, na qual ficou muito claro o interesse dos pesquisadores na elaboração de um Projeto Especial de Pesquisas em Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade no Estado de São Paulo, inicialmente denominado “BIOTASP/FAPESP”, que organizasse o conhecimento acumulado e que este fosse disponibilizado de maneira que todos tivessem acesso. Segundo Joly in

Joly & Bicudo (1999).

Com o apoio da Coordenação de Ciências Biológicas da FAPESP (...), e utilizando a experiência adquirida em 1995 no planejamento, estruturação e implantação do Programa Estadual para Conservação e Uso Sustentável do Biodiversidade (PROBIO/SP) da SMA, optamos por montar um Grupo de Coordenação para o BIOTASP/FAPESP (Joly in

Joly & Bicudo, 1999:X).

O Professor Dr. Thomas M. Lewinsohn (IB/UNICAMP), pesquisador experiente em avaliações e consultorias para órgãos governamentais que integrou este grupo de especialistas, lembra que, desde o início, até mesmo para que fosse aprovado pela Diretoria Científica da FAPESP, o Programa BIOTA/FAPESP já contemplava como uma das formas de aplicação de seus possíveis resultados a contribuição para políticas públicas de conservação estaduais (entrevista

realizada em 10/06/2014). Mas para o Professor Dr. Naércio A. Menezes (Museu

de Zoologia/USP), membro da Coordenação de Ciências Biológicas da FAPESP e um dos responsáveis pela apresentação do Programa à Diretoria Científica desta agência na época, esse compromisso não estava posto desde o início, tendo surgido muito mais tarde (entrevista realizada em 25/04/2014). Talvez esse objetivo, que não é o principal nem o único do Programa (http://www.biota.org.br/?page_id=3714), não estivesse tão explícito em seus documentos e propostas de criação, mas estava presente com certeza nas intenções de seus principais idealizadores.

Uma das principais expectativas pessoais do Professor Thomas Lewinsohn com relação ao Programa, era provocar uma mudança cultural na maneira de se fazer pesquisa em biodiversidade. Até então, os pesquisadores

trabalhavam apenas de maneira isolada ou em grupos muito restritos de especialistas, dentro de áreas específicas como zoologia, botânica ou bioquímica, sem a preocupação de integrar resultados de outras pesquisas que pudessem revelar um contexto mais amplo dos fenômenos estudados.

Experiências anteriores como a participação do Professor Thomas Lewinsohn em discussões internacionais que apontavam nessa mesma direção de integração de diferentes componentes de biodiversidade (seja de especialidades, de táxons ou escalas de estudo) nas pesquisas em Ecologia e outras ciências ambientais, fortaleceram os argumentos dos cientistas para que esse fosse adotado como modo operante do Programa BIOTA/FAPESP, onde as pesquisas se complementariam tentando mostrar um retrato maior da biodiversidade paulista. A bagagem que este pesquisador trazia consigo mostrava a importância estratégica de elaborar um programa com essas características “para fazer os especialistas pensarem de outra forma sobre isso, porque sem essa mudança de visão e de engajamento, não se faria absoltamente nada.” O Professor Thomas Lewinsohn lembra ainda que, em se tratando de um país megadiverso como o Brasil, esse desafio é ainda maior, pois as lacunas de informação básica, como nossa lista de espécies, por exemplo, ainda são enormes.

Esse grupo de lideranças científicas consultado foi responsável por preparar um diagnóstico sobre o nível de conhecimento biológico acumulado para cada grupo taxonômico no Estado, de microrganismos a mamíferos e angiospermas, incluindo a lista de pesquisadores que trabalham com cada grupo e a infraestrutura instalada para a conservação ex situ (museus, herbários, coleções, arboretos, jardins botânicos) e in situ (unidades de conservação). Além dessa tarefa, o grupo deveria organizar, dentro de um ano, um workshop para sintetizar as informações produzidas e definir a estrutura e a forma de implementação do Programa BIOTA/FAPESP. Nessa reunião, também foram criadas uma homepage e uma lista de discussão, definindo a internet como principal ferramenta de comunicação e integração dos dados.

Para o workshop, intitulado “Bases para a Conservação da Biodiversidade do Estado de São Paulo”, realizado em 1997, em Serra Negra/SP, foram convidados tanto pesquisadores acadêmicos como técnicos da SMA. Também participaram consultores estrangeiros com experiência em estruturação, implantação e operacionalização de sistemas geográficos de informação e de bancos de dados em biodiversidade nos seus respectivos países (por exemplo, CONABIO México, ERIN Austrália e INBIO Costa Rica). Dentre os consensos obtidos podemos destacar a adoção da CBD como documento norteador de referência; a divulgação imediata na internet das listas de espécies do Estado, mesmo que incompletas ou que precisassem ser corrigidas; o uso de GPS em todos os estudos realizados dali em diante e a padronização de uma ficha de coleta, contendo um conjunto de dados obrigatórios e iguais para todos os grupos taxonômicos (ver um exemplo da ficha em Apêndice 1).

O resultado final foi a elaboração de um conjunto de projetos temáticos articulados entre si, que passaram pela avaliação da acessoria ad hoc da FAPESP e de assessores do exterior. Mais de 90% dos pareceres internacionais recebidos consideraram o BIOTASP/FAPESP um projeto viável e de alta qualidade. Dezoito projetos temáticos articulados foram protocolados pela FAPESP, envolvendo ao todo 140 pesquisadores doutores, 10 pós-doutorandos, 60 doutorandos, 50 mestrandos e 30 bolsistas de Iniciação Científica vinculados à UNESP (Araraquara, Assis, Botucatu, Jaboticabal, Rio Claro e São José do Rio Preto); UNICAMP; USP (São Paulo, ESALQ, FFCL Ribeirão Preto, Escola de Engenharia de São Carlos); UFSCar; UNISANTOS; UNIARA; SMA (Instituto de Botânica, Instituto Florestal, Instituto Geológico, CETESB, Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais, PROBIO/SP); Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Instituto Biológico e Instituto Agronômico de Campinas); INPE e ONGs (Fundação Tropical de Pesquisas e Tecnologia “Andre Tosello”, Instituto Socioambiental - ISA e Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural). Quase todos os projetos foram aceitos (Joly in Joly & Bicudo, 1999).

No final de 1998, estes projetos começaram a ser aprovados e, em Fevereiro de 1999, três anos após a primeira reunião de lideranças da comunidade científica para discutir o assunto, o Conselho Superior da FAPESP aprovou a criação do Programa BIOTA/FAPESP – O Instituto virtual da

Biodiversidade. Oficialmente lançado no dia 25 de Março de 1999, o Programa

foi criado com uma duração prevista e 10 anos. Segundo Joly in Joly & Bicudo

(1999),

A transformação do BIOTASP – uma iniciativa da comunidade científica desenvolvida em colaboração com a Diretoria Científica da FAPESP e com a Secretaria de Meio Ambiente (SMA) (através do PROBIO/SP) – no

Programa BIOTA-FAPESP permitirá que o processo de articulação da

comunidade tenha continuidade, ampliando a integração entre pesquisadores e entre instituições, de forma a otimizar a utilização de recursos (Joly in Joly & Bicudo, 1999).

Essa era a oportunidade de realizar pesquisa continuada de longa duração que permitisse fazer um levantamento exaustivo da biodiversidade do Estado, mas cujo resultado, fruto da integração e do trabalho conjunto de diferentes especialidades das ciências ambientais, pudesse alimentar as políticas públicas estaduais de conservação. Como primeiro produto desse esforço conjunto de conclusão do diagnóstico sobre o status do conhecimento da biota paulista acumulado até então, foi publicada a série “Biodiversidade do Estado de

São Paulo, Brasil: síntese do conhecimento ao final do século XX”, dividida em

sete volumes.

O Programa BIOTA inspirou a FAPESP a criar outros dois programas de pesquisa avançada em áreas ambientais estratégicas eleitas por esta agência: o Programa de Bioenergia (BIOEN), criado em 2008 e o Programa de Mudanças Climáticas Globais10 (PFPMCG), criado em 2009. Os bons resultados obtidos pelo Programa BIOTA tanto em termos de publicações de alto nível e capacitação de recursos humanos, como na transferência de conhecimentos para o

10

Programa ao qual esta pesquisa está vinculada, através do Projeto Urban Growth, Vulnerability

and Adaptation: Social and Ecological Dimensions of Climate Change on the Coast of São Paulo (Projeto Clima), Componente 3 - Mudanças Ambientais Globais e Políticas Públicas Locais: Riscos

aperfeiçoamento da legislação ambiental do Estado de São Paulo, levou o Conselho Superior da FAPESP a renovar o apoio ao Programa até 2020.

Na sua primeira fase, o BIOTA/FAPESP apoiou 95 grandes projetos de pesquisa, que descreveram mais de 1.800 novas espécies (entre vertebrados, invertebrados e microrganismos), adquiriu e arquivou informações sobre mais de 12.000 espécies e disponibilizou online o acervo das 35 principais coleções biológicas brasileiras (SpeciesLink), além de já ter acumulado centenas de publicações, entre artigos, livros e atlas, além da criação de uma revista eletrônica indexada pela Thomson Reuters ISI (Biota Neotropica). O Programa BIOTA/FAPESP criou também o subprograma BIOprospecTA, focado na identificação, caracterização e transferência para o setor produtivo de novas moléculas ou processos oriundos da biodiversidade com potencial de uso econômico, prevendo que parte dos royalties sejam aplicados na conservação.

(FAPESP a).

A adesão de pesquisadores ao Programa é voluntária e tem fluxo contínuo, isto é, pode ser feita em qualquer período do ano, em diferentes modalidades de recursos (Auxílio à Pesquisa Regular-APR, Projeto Temático-PT, Jovem Pesquisador em Centros Emergentes-JP) e passa pela avaliação da coordenação do Programa, composta atualmente por seis pesquisadores, docentes de universidades paulistas. Em seguida, o projeto é avaliado, como todos os demais submetidos à FAPESP, em sistema de assessores ad hoc. Uma vez aceito, o pesquisador se compromete a participar das reuniões de avaliação do comitê científico internacional e demais reuniões científicas internas do Programa que visem à integração de suas pesquisas (Castro, 2011). O pesquisador do Programa BIOTA/FAPESP também se compromete a utilizar uma ficha de coleta padrão (Apêndice 1) do Programa (igual para todas as áreas do conhecimento e organismos) inclusive com informações georreferenciadas, e posteriormente, a inserir e disponibilizar esses dados preenchidos no sistema

online do Programa (http://sinbiota.biota.org.br/). Com isso, todos os dados

levantados e analisados por pesquisadores de diferentes níveis de especialização, instituições e áreas de conhecimento em todo o Estado, são inseridos,

armazenados e disponibilizados através de um banco de dados digital público, o

SinBiota (Castro, 2011).

Em 2011, o Programa BIOTA/FAPESP publicou um número especial da revista eletrônica Biota Neotropica com a lista oficial de espécies do Estado de São Paulo. Integram este volume as listas de fanerógamas, pteridófitas, briófitas, todos os grupos de vertebrados, e 30 grupos de invertebrados.

Parte deste conjunto de dados, que concentra quase 14 anos de pesquisa ininterrupta, foram sintetizados para serem usados na formulação de políticas públicas estaduais de conservação. Entre 2006 e 2008, pesquisadores do BIOTA/FAPESP utilizaram mais de 151 mil registros de 9.405 espécies, além de parâmetros estruturais de paisagem e nove índices biológicos de mais de 92 mil fragmentos de vegetação nativa do Estado, para elaborar, em conjunto com gestores e técnicos do Instituto Florestal (SMA), a publicação intitulada “Diretrizes

para conservação e restauração da biodiversidade do Estado de São Paulo”. Esse

estudo identifica áreas prioritárias para restauração e conservação da biodiversidade no Estado e tem sido adotado pelo governo estadual como ferramenta para aperfeiçoar políticas públicas de conservação (FAPESP b).

Segundo o Professor Naércio Menezes, esse estudo foi o primeiro e mais importante resultado aplicado do Programa BIOTA/FAPESP às políticas públicas conservacionistas do Estado, elaborado a pedido do então Secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Sr. Francisco Graziano Neto (2007- 2010), que pediu à FAPESP estudos sobre a definição de áreas prioritárias para conservação e restauração ambiental que pudessem ser destinadas a ações de compensação ambiental no Estado. Segundo o questionário aplicado a pesquisadores do Programa BIOTA/FAPESP que trabalharam em Núcleos do PESM e aos seus gestores, esta publicação também é considerada por ambos como o melhor resultado do Programa em seus primeiros dez anos de existência.

Atualmente, há 23 instrumentos legais estaduais, dentre decretos e resoluções, elaborados com base nos resultados do Programa, como por exemplo, o zoneamento agroambiental para o setor sucroalcooleiro do Estado de São Paulo (Joly et al, 2010) e a criação de novas UCs.

No Brasil, os bons resultados do Programa levaram outros estados como Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul a desenvolverem iniciativas similares. No âmbito nacional, o Programa inspirou outros como o PPBio e o Sisbiota, ambos do CNPq. O desenvolvimento do Programa BIOTA/FAPESP também teve reconhecimento internacional, estabelecendo projetos de cooperação e editais de chamadas conjuntas com agências de fomento a pesquisas estrangeiras como a norte americana Nacional Science Foundation (NSF) e a britânica National Environmental Research Council (NERC).

Estas iniciativas, somadas às avaliações periódicas dos resultados do Programa feitas por pareceristas estrangeiros e às publicações internacionais feitas por pesquisadores vinculados ao BIOTA/FAPESP conferiram um status de referência internacional ao Programa. O BIOTA/FAPESP foi convidado para ser um dos programas a participar da elaboração de chamadas internacionais sobre o tema biodiversidade vinculadas ao Fórum Belmont (Belmont Forum), um grupo formado por algumas das principais agências financiadoras de projetos de pesquisa sobre mudanças ambientais no mundo, entre as quais a FAPESP. O objetivo do fórum, coordenado pelo International Group of Funding Agencies for

Global Change Research (IGFA), é buscar mudar os rumos da colaboração

internacional em pesquisa sobre mudanças ambientais por meio de chamadas conjuntas de pesquisas, concentrando esforços (humanos e financeiros) em pesquisas relacionadas às mudanças ambientais globais, integrando centros de pesquisa, cientistas de diversas áreas e colaboradores que pesquisam temas comuns em escala global (http://www.fapesp.br/6900, acesso em 20/12/13).

Outro resultado do reconhecimento internacional do Programa BIOTA/FAPESP é a nomeação de seu principal idealizador e atual coordenador, Professor Carlos Joly, como co-chair do Painel Multidisciplinar de Especialistas (MEP) do Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). Fundado em abril de 2012, com sede na Alemanha, este organismo intergovernamental é independente e aberto a todos os países membros das Nações Unidas, tendo como um dos objetivos fortalecer o uso do conhecimento científico nas tomadas de decisão, apontar necessidade de

construir ou aperfeiçoar acordos ambientais multilaterais que envolvam biodiversidade ou serviços ecossistêmicos, incorporando também o conhecimento tradicional como elemento indispensável à governança global para esses temas. O IPBES também inclui em seu escopo o desenvolvimento de capacitação profissional (capacity building) tanto de recursos humanos como de instituições, no intuito de melhorar a qualidade da elaboração de diagnósticos sobre o status da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos em diferentes escalas, especialmente as locais e nacionais, os quais, posteriormente, serão integrados para a elaboração de diagnósticos regionais. A previsão para elaboração de um documento semelhante em escala global é 2018. Na Sessão Plenária do IPBES realizada em dezembro de 2013, na cidade turca de Antalya, foram estabelecidos o marco conceitual, o programa de trabalho, o documento que define parcerias estratégicas da plataforma e sua estratégia de comunicação. (http://www.biota.org.br/?p=4566 acesso em 26/12/13).

Assim, o Programa BIOTA/FAPESP se tornou referência no plano nacional e internacional de programa acadêmico que conseguiu permear algumas políticas públicas voltadas à conservação ambiental, sobretudo com relação ao tema biodiversidade. Isso foi possível porque conseguiu, de fato, elaborar pesquisa integrada entre diversas áreas ligadas ao tema biodiversidade, mostrando uma mudança cultural no modo de fazer pesquisa nessa área, permitindo que os estudos pudessem revelar um contexto mais amplo dos fenômenos estudados e tornando mais plausível uma possível aplicação.

“Nesses quinze anos, acho que toda uma geração de pesquisadores que foi formada, que se formou no decorrer do BIOTA, realmente se formou dentro de uma outra mentalidade sim. Eu acho que você vê projetos que, dentro ou fora do BIOTA, são de uma escala maior, que têm um nível de integração maior, eles envolvem mais gente, e têm uma preocupação de ter um âmbito de estudo e de análise bem mais abrangente. E isso é um efeito do BIOTA dentro de São Paulo e fora, porque muita gente que participou do BIOTA foi para outros lugares. E o Biota teve um efeito de demonstração e de referência importantíssimo para todo Brasil.”

(Professor Thomas Lewinsohn, entrevista realizada em 10/06/2014)

Porém, como se verificou através da pesquisa empírica realizada no presente estudo, essa possibilidade de incorporar resultados à elaboração de

políticas públicas estaduais de conservação da biodiversidade não é uma posição unânime entre os pesquisadores vinculados ao Programa. Entre os pesquisadores do BIOTA/FAPESP que responderam ao questionário, ainda há aqueles que acreditam que não é desejável que pesquisadores que trabalham em APs contribuam efetivamente para a conservação dessas áreas, e há também aqueles que não gostariam que suas pesquisas fossem utilizadas na gestão/manutenção das UCs onde trabalharam, embora seja minoria.

3.3 PESQUISADORES DO PROGRAMA BIOTA/FAPESP NO PESM