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CAPÍTULO 1 CIÊNCIA NA POLÍTICA – EVIDÊNCIAS, FATOS E CONTRIBUIÇÕES

1.1 SOBRE A VALIDADE DA AUTORIDADE CIENTÍFICA

Há cerca de dez anos, alguns conservacionistas britânicos iniciaram um debate a respeito de uma perspectiva teórica conhecida como “Evidence Based Policy”, que teve como origem a valorização do uso de evidências empíricas no campo da Medicina britânica aplicada e passou a ser revindicada também para a conservação ambiental (Sutherland et al, 2004). Segundo estes autores,

Before the evidence-based revolution in medicine, ‘experts’ produced guidelines for the management of particular conditions, which were sometimes based on research evidence, but could also be based entirely on an individual experience or opinion. We are guilty of providing similar advice in conservation (Sutherland et al, 2004:306).

Estes autores se preocupam com o uso generalizado de práticas de conservação baseadas apenas no senso comum ou em experiências anteriores, sem que o conhecimento científico de práticas mais adequadas seja difundido e utilizado. Eles defendem a criação e disponibilização de um repositório de informações científicas empiricamente comprovadas sobre conservação (através de websites), que permita a comparação de experiências e esteja sujeita a revisões sistemáticas, devendo ser usadas no suporte da prática da conservação e na elaboração de políticas públicas.

No campo das áreas protegidas (APs), foco principal deste trabalho, essa perspectiva teórica é adotada por Cook et al (2009), ao analisarem a administração de mais de mil APs na Austrália e verificarem o uso de “evidence-

based knowlegde” na prática da administração dessas áreas. O resultado, segundo eles, é que em pelo menos 25% das avaliações de efetividade do manejo, os gestores indicaram insuficiência de evidências científicas que os ajudassem na administração dessas áreas. Segundo os autores,

Data are often absent in reserves, because of the prohibitive cost of monitoring; consequently, most methods for assessing management effectiveness are based on conservation practitioners’ experience (Cook

et al, 2009: 181).

Para Cook et al (2009), a falta de evidências científicas comprovadas prejudica o bom manejo dessas APs, e é papel das agências governamentais que administram essas áreas mudar esse quadro.

(…) it is a false economy to protect natural areas while failing to adequately support the practitioners trying to manage them. Without sufficient evidence to support decision making by conservation practitioners, it is optimistic to believe the best conservation outcomes will be achieved (Cook et al, 2009: 185).

Porém, em se tratando de APs espalhadas pelos mais diversos biomas do planeta, em diferentes contextos institucionais, políticos e sociodemográficos, falar em uniformização de evidências científicas para manejo e conservação dessas áreas parece impossível, ou talvez até equivocado. Dessa maneira, o papel do pesquisador que trabalha em uma AP se torna ainda mais especial, por possibilitar este possa contribuir com aquele refúgio em particular, que possui atributos únicos, através de sua pesquisa.

O sociólogo da ciência e antropólogo Latour (1997), em sua abordagem epistemológica, advoga a existência de uma categoria de descobertas ou invenções que chama não de evidências mas de “fatos científicos”. São aqueles construídos coletivamente, através da contribuição de vários cientistas através do tempo, e tidos como conhecimentos tácitos, como por exemplo, a estrutura em dupla hélice do DNA. Nesse sentido, as APs também podem ser vistas como potenciais geradoras de fatos científicos, ou evidências empíricas. Para as ciências ambientais, a teoria dos corredores ecológicos, por exemplo, é um fato científico: quanto mais conexas as áreas remanescentes de vegetação

seu entorno (maior resiliência), tanto do ponto de vista da oferta de refúgio para as espécies que ali se abrigam quanto para a manutenção do fluxo gênico, que, segundo outro fato científico, quanto maior, melhor é a chance de adaptação e sobrevivência das espécies, devido à maior variabilidade genética. Sem dúvida, as APs têm papel preponderante no avanço do conhecimento em disciplinas como a Ecologia ou a Bioquímica, entre outras, basta lembrar das estimativas do que ainda há para ser descoberto somente em número de espécies, por exemplo, como será abordado no Capítulo 2.

Porém, a obtenção de evidências empíricas ou fatos científicos em campos epistemológicos relativamente novos, como a Ecologia, pode não ser tão comum, sobretudo quando se trata do conhecimento científico sobre organismos e interações ainda desconhecidas por qualquer cientista e que se encontram em permanente evolução há bilhões de anos.

Dessa maneira, há autores que, sob a perspectiva da sociologia

ambiental construtivista, desconfiam da simples aplicação de conhecimento científico e evidências empíricas em práticas e legislações ambientais. Yearley

(2005), por exemplo, afirma que a visão de cientistas não é isenta de parcialidade,

está sujeita a generalizações e julgamentos dos fenômenos estudados, os quais, aliás, são realizados muitas vezes através de instrumentos, que podem conter erros ou aproximações. Além disso, os cientistas podem ser levados a acreditar em determinados resultados que corroboram uma teoria a qual eram previamente adeptos. Nas palavras do autor,

The frontier of things which count as factual observations tends to shift as scientific ideas change so that what, at one time, would have been regarded as hypothetical images from a new and experimental form of microscope for example come later to be regarded as unproblematic observations. (…) At a practical level, it is generally impossible for scientists to collect all the information they would like before having to decide on a theoretical interpretation. Scientists’ theoretical beliefs are not fully decided by the factual evidence available to them (Yearley,

2005:120).

Yearley (2005) ainda destaca uma dificuldade a mais enfrentada especialmente por ecólogos para que atinjam o consenso, constituído por um grau

de incerteza ainda maior, dada a natureza dos fenômenos estudados por esse campo científico. Segundo o autor,

There is less consensus in ecological science than in many other areas of natural science so that the interpretation of ecological information is especially which stems from the fact that they are dealing with large-scale fenomena addressed by those other parts of natural science, technology and engineering that operate with closed systems where all the leading variables can be closed monitored and controlled (Yearley, 2005:127). Realmente, a obtenção de consenso entre cientistas que estudam o uso sustentável de recursos (ou common assessments) por exemplo, pode ser muito difícil, pois a cada novo problema de escassez significa aprender sobre um novo sistema. Além disso, dada a complexidade dos sistemas biológicos e físicos envolvidos, é inevitável recorrer a abordagens reducionistas, levando a necessidade de se descobrir um ponto ótimo de exploração através de tentativas e erros. Do mesmo modo, grandes níveis de variação natural dos recursos podem mascarar os efeitos da sobrexploração, que, em sua fase inicial, não é detectável, até que se torne severa ou irreversível (Ludwig et al, 1993). Sobre a obtenção de consenso, os autores afirmam:

Legislation concerning the environment often requires environmental or economic impact assessment before action is taken. Such impact assessment is supposed to be based upon scientific consensus. For the reasons given above, such consensus is seldom achieved, even after collapse of the resource (Ludwig et al, 1993:17).

Finalmente, Morin (2005) nos mostra que não existe, na realidade, um “fato puro”. A atividade científica consiste o tempo todo numa operação de seleção, de eliminação de fatos que não são pertinentes, quantificáveis ou julgados como contingentes. Logo, uma teoria científica é também fruto de escolhas, de períodos históricos, de momentos políticos, de condições econômicas, enfim, é uma construção social, em permanente transformação. Nesse sentido, é necessário abandonarmos o conceito de progresso linear das teorias científicas, e, além disso, perceber que a ciência tem necessidade de introduzir em si mesma a “reflexividade” em relação a suas práticas. O

conhecimento do conhecimento científico comporta necessariamente uma dimensão reflexiva, que deveria vir do interior do mundo científico (Morin, 2005).

A reflexividade significa, então, uma avaliação epistemológica, própria de cada área de pesquisa, em relação ao que é o “conhecimento” e sobre os desdobramentos do trabalho científico para a sociedade

(Nonato, 2012).

A chamada questão ambiental, com seu caráter interdisciplinar, se destaca na convocação dos cientistas à reflexividade, pois a ciência tem sido associada tanto às causas da degradação ambiental quanto à busca de soluções para a sua proteção (Fischer, 2000). Consequentemente, a problemática ambiental acelerou o aprofundamento das discussões em torno da neutralidade da ciência, da democratização do conhecimento científico e da necessária participação da sociedade civil na elaboração de políticas de caráter difuso

(Nonato, 2012).

Mas como elaborar políticas públicas de conservação ou estimular tomadas de decisão nessa seara? Devemos sempre desconfiar dos resultados científicos e esperar pela comprovação de evidências ou o estabelecimento de consensos, mesmo que leve muito tempo? A questão é a urgência com que os principais desafios ambientais, como a extinção de espécies, por exemplo, se colocam, sobretudo quando consideramos a velocidade com que a degradação ambiental avança, comprometendo até mesmo a sobrevivência de alguns modos de vida tradicionais de maneira definitiva, tornando a miséria uma condição permanente para esses povos.

É preciso avançar na percepção desse caráter reflexivo que os campos científicos envolvidos na questão ambiental exigem, pois muitos cientistas, analisados sob a perspectiva da sociologia da ciência, ainda insistem em advogar pela existência de uma fronteira entre o “científico”, o “não científico” e o “político”. Porém, essa delimitação é muito fluida ou até inexistente (Nonato,

Em seu estudo sobre a comunidade científica da Região Norte do Brasil e sua contribuição para o Desenvolvimento Sustentável local, por exemplo,

Nonato (2012) verificou a qualidade da articulação entre a ciência regional e as

políticas públicas. Nas entrevistas realizadas com cientistas da região, os argumentos dominantes como justificativa para a desarticulação entre os resultados científicos e as políticas públicas regionais, foram a “falta de interesse” ou a “falta de conhecimento” do poder público com relação à ciência desenvolvida na Região Norte. Contudo, como aponta a autora, a falta de conhecimento ou de interesse da comunidade científica em relação aos assuntos do poder público não foi questionada ou sequer mencionada nas respostas.

Efetivamente, a maior ou menor contribuição da comunidade de pesquisa depende da quantidade de recursos, mas, principalmente e essencialmente, da perspectiva política envolvida na construção social das pesquisas científicas e das tecnologias (Nonato, 2012:243).

O ecólogo Dr. Thomas M. Lewinsohn, professor do Instituto de Biologia da UNICAMP, afirma que, muitas vezes, a oportunidade de pesquisadores contribuírem diretamente com a elaboração de políticas públicas é circunstancial, como quando surge um momento político favorável. Já o engajamento do pesquisador é uma questão também de personalidade, de disposição, além das circunstâncias. (Prof. Dr. Thomas Lewinsohn, entrevista realizada em

10/06/2014)

A questão, talvez, esteja em como fazer ciência, ou seja, na prática cotidiana dos cientistas, que, em geral, elaboram suas hipóteses nos laboratórios para então as testarem no campo. Inverter a forma de se fazer pesquisa e partir também de hipóteses surgidas no campo para então investigá-las nos laboratórios talvez traga oportunidades de uso do conhecimento gerado na prática da conservação, mesmo que seja apenas in loco. Isso exigiria um pouco mais de envolvimento dos pesquisadores com os locais onde desenvolvem seus estudos, assim como com os prováveis desafios ambientais que estes locais enfrentam. No

muito latente de que isso ocorra. Não se trata de defender aqui que a pesquisa em APs seja exclusivamente dedicada à solução de questões práticas e que esta opere em função da demanda dos órgãos gestores dessas áreas. Sabemos da importância que a pesquisa independente exerce para o desenvolvimento científico e para o fortalecimento das instituições acadêmicas. Sugerimos apenas um equilíbrio, no qual, na medida do possível, as pesquisas conduzidas em APs também considerem em seus escopos questões colocadas como desafios para a manutenção dessas áreas e para a sobrevivência das espécies ali abrigadas. No caso brasileiro, uma consulta ao plano de manejo de nossas APs, por exemplo, pode trazer muitas informações a respeito destas questões.

1.2 CONTRIBUIÇÕES CIENTÍFICAS EM MARCOS

CONSERVACIONISTAS NO BRASIL

Advogando em favor da contribuição que o conhecimento científico pode conferir às políticas públicas, podemos destacar alguns marcos conservacionistas bem sucedidos, em termos de legislação ambiental no Brasil, que contaram com o peso decisivo de cientistas em sua elaboração.

O primeiro deles é a criação de Estações Ecológicas, categoria de UC destinada principalmente à pesquisa científica, além da preservação de ecossistemas e de ações voltadas para a educação ambiental. Sua criação se iniciou durante o mandato de Dr. Paulo Nogueira Neto, professor emérito e fundador do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da USP. Segundo ele:

“Foi criado, nos anos 1970 e na metade dos anos 1980, um total de 26 estações ecológicas, das quais 20 foram efetivamente implantadas e as outras seis ainda estão à espera de verbas e ações para sua efetivação, embora as respectivas áreas já estejam reservadas. Como Secretário (Federal) do Meio Ambiente (1974-1986), participei ativamente dessas atividades. É sempre difícil falar daquilo que a gente fez, mas pelo seu alcance (3.200.000 hectares) e pelas finalidades de pesquisa foi, ao que parece, o primeiro grande programa brasileiro e mesmo mundial que uniu, em larga escala, a pesquisa científica e a conservação da natureza.” (Nogueira Neto in Joly & Bicudo, 1999)

Empossado em 1974, Dr. Paulo esteve por mais de doze anos à frente do primeiro cargo público federal dedicado exclusivamente à conservação ambiental no Brasil, a Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA), então ligada ao Ministério do Interior. Nesse período, criou, por exemplo, Estações Ecológicas como as de Juréia-Itatins/SP, em 1979 e a de Anavilhanas/AM, em 1981, hoje um Parque Nacional. Dr. Paulo dispensou especial atenção às APs durante seu mandato, registrado inclusive em seu diário na época:

13/05/1980 - Soube que a FINEP [Financiadora de Estudos e Projetos] alegou que a SEMA quer dinheiro para comprar terras. Isso teria levado ao corte [de orçamento] em nosso pedido. É um absurdo fazer tal alegação. Como fazer pesquisas ecológicas e biológicas sem adquirir terras e evitar que ecossistemas únicos sejam destruídos? É uma ignorância total do que seja a Natureza e a necessidade de salvá-la. Gastam milhões em equipamentos e não se importam em proteger para sempre áreas naturais, que ao contrário dos equipamentos só aumentam em valor com o tempo (Nogueira Neto, 2009:386).

Em seguida, destaca-se a elaboração do próprio Capítulo de Meio Ambiente da atual Constituição Federal brasileira, outorgada em 1988. Elaborado em meio a uma atmosfera de redemocratização do país, o Capítulo VI, Artigo 225 foi redigido com a participação direta de cientistas. O grupo de pessoas responsável pela elaboração do Capítulo foi liderado pelo deputado paulista Fábio Feldmann, único candidato, em 1986, a ser eleito com uma plataforma ambiental. Além de Feldmann, advogado, o grupo que o assessorou mais de perto e foi responsável pela redação do Capítulo era composto, basicamente, por poucos integrantes e colaboradores, dentre eles o jornalista Randau Marques, um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Jornalismo Científico (SBJC), ligada ao Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPq), a bióloga Emília Rutkowski, professora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, e os biólogos João Paulo Capobianco, idealizador do Instituto Socioambiental (ISA), fundado em 1994, e Carlos Alfredo Joly, professor do Instituto de Biologia também da Unicamp, idealizador e atual coordenador do Programa BIOTA/FAPESP, criado em 1999.

Havia também outros colaboradores que contribuíam mais à distância, principalmente em São Paulo, como Dr. Paulo Nogueira Neto, José Pedro de Oliveira Costa, arquiteto, primeiro secretário nomeado para a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Clayton Ferreira Lino, arquiteto e atual Presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), além de um grupo de trabalho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), organizado justamente com o intuito de auxiliar na elaboração do Capítulo de Meio Ambiente, coordenado pelo professor Aziz Ab´Saber, da USP, e pelo Prof. Ângelo Machado, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (Joly, C. A, entrevista realizada em 17/03/12).

O uso de certas terminologias na escrita do Capítulo de Meio Ambiente como “processos ecológicos”, “função ecológica”, “patrimônio genético” ou “ecossistemas naturais” demonstra a influência das chamadas ciências da vida na sua elaboração. Muitos dos profissionais que assessoraram de perto sua redação atuavam em áreas de vanguarda dentro da pesquisa acadêmica, trabalhando com paradigmas científicos atuais para a época, no campo da Ecologia de Ecossistemas e da Biologia Evolutiva, por exemplo, que foram claramente transportados para o conteúdo dos princípios apresentados nesse Capítulo VI. Talvez seja essa uma de suas principais virtudes. Segundo Carlos Joly:

“Quando a gente definiu que indicaríamos alguns biomas como biomas muito ameaçados, para serem considerados patrimônio nacional, e, portanto terem um tratamento diferenciado, para cada indicação você tinha que escrever toda uma justificativa. Então, delimitar a Amazônia, ou o Pantanal, a Serra do Mar ou a Mata Atlântica, você tinha que justificar, escrever um “arrazoado” que era o que o Fábio ia usar para convencer os demais membros da Subcomissão de Seguridade, Meio Ambiente e Consumidor de aquilo deveria ficar. Então era muito mais esse o nosso papel. (...) Sem dúvida, foi muito importante para convencer os demais deputados o fato de você ter um conjunto de pesquisadores que estavam suportando, apoiando essas ideias. Por isso que a gente fazia aquelas... Ah, por que usar “processos ecológicos”, e escrevia todo um arrazoado. Na hora que o Fábio apresentava isso na Subcomissão, ele era questionado: “ah, mas por quê? O que isso quer dizer exatamente?”Aí, então, ele tinha o que a gente tinha escrito para justificar, para defender. Algumas vezes, não muitas, a gente participou de reuniões com

deputados também da Subcomissão, e depois algumas dessas reuniões foram com a frente parlamentarista quando saiu da Subcomissão e foi para a plenária” (Joly, C. A, entrevista realizada em 17/03/12).

O então deputado Fábio Feldmann organizou duas excursões de campo, a fim de ilustrar o conteúdo científico do texto defendido no Capítulo e mostrar os principais problemas ambientais para os deputados constituintes.

“O Fábio convenceu a comissão a fazer visitas in loco, então a Subcomissão [de deputados] veio, ou pelo menos uma parte dela veio a São Paulo, descemos por Cubatão, fomos para Ubatuba, o almoço foi lá na Casa da Farinha [comunidade quilombola, no interior do Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Picinguaba, Litoral Norte paulista], depois seguimos de Ubatuba para Angra dos Reis para ver a usina e terminava a visita ali. Teve uma outra visita que foi feita ao Pantanal. A ideia era mostrar in loco os problemas e por que a gente estava colocando aquelas áreas como diferenciadas em termos de tratamento”

(Joly, C. A, entrevista realizada em 17/03/12).

Esse parece ter sido um marco histórico importante no qual é possível observar o interesse e a participação efetiva de cientistas na elaboração de políticas públicas conservacionistas. Era também um momento especial da trajetória política brasileira, no qual os movimentos sociais, inclusive o ambientalista, podiam se expressar livremente e buscar representação política. Era natural que os ambientalistas se aproximassem da academia, pois, ao contrário de outros movimentos sociais, a questão ambiental é intrinsecamente ligada à ciência porque suas preocupações nasceram de problemas descobertos por cientistas (Yearley, 2005). Isso é muito evidente no movimento ambientalista britânico, por exemplo, onde as mais renomadas sociedades conservacionistas nasceram do desenvolvimento da História Natural como disciplina, originando organizações como a Royal Society for Nature Conservation (RSNC) ou a The

British Trust for Ornithology, entre outros clubes e associações naturalistas, tanto

que a categoria de AP mais comum naquele país é designada “Sites of Special

1.3 CONTRIBUIÇÕES CIENTÍFICAS EM MARCOS