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Capítulo VI Análise comparativa dos dados

3. Questões práticas a serem equacionadas

3.1. Programas

A nível de materiais que servem de suporte ao processo de ensino-aprendizagem, mais concretamente, programas e manuais escolares, foi possível, ao longo da análise efetuada a tais documentos, perceber, por exemplo, que:

- o Programa de Língua Portuguesa do 7º e 8º anos de escolaridade, datado de setembro de 2012, funciona a título experimental até à presente data. E com a recente reestruturação do sistema de ensino, não foi alvo de qualquer alteração a não ser no título (vd. Anexo 1), ou seja, foi acrescido ao título, a seguir à identificação, 7º e 8º Ano, a referência: (3º Ciclo do E.B.) o que demonstra que as mudanças ocorrem sem que se acautelem todas as variáveis em causa, ou seja, além da decisão de optar pela integração

19 As provas nacionais de acesso ao Ensino Superior foram realizadas apenas em 2015. Não são conhecidos

os dados dessas provas e não se repetiu a experiência.

A Universidade de Cabo Verde é a única instituição de Ensino Superior no país que sempre realizou provas de acesso, mas acaba de abandonar tal prática.

147 desses dois níveis no subsistema do Ensino Básico, também se faz presente a necessidade de se proceder a uma avaliação para validar ou não o programa em funcionamento. Ao contrário do esperado, efetuou-se esta única alteração apenas na capa do documento.

- já o Programa do 9º e 10º anos, datado de setembro de 2011, para além de ser também uma versão experimental, como se pode verificar (vd. Anexo 2), em vigor há precisamente nove anos, continua, igualmente, por validar.

- o Programa do 11º e 12º da Área de Humanística (disciplina de Português) e o do 11º e 12º das Áreas de Ciência e Tecnologia e Económico-Social (disciplina de Comunicação e Expressão), presume-se que esteja validado e seja efetivo, mas não se pode precisar há quanto tempo por não estar datado.

Além da falta de avaliação para a consequente validação, nota-se a inexistência de uma política que promova estudos que apontem as melhorias a serem integradas, mudanças de práticas e reequacionamento de medidas que já podem estar desfasadas da realidade ou são incompatíveis com o nosso contexto.

Além disso, as sucessivas tentativas de revisão curricular deviam passar também pela avaliação ou pelo menos validação dos programas que foram completamente esquecidos.

A par dos problemas acima mencionados, em todos estes programas, ou seja, do 7º e 8º, 9º e 10º, 11º e 12º anos afloram-se, apenas, os problemas de ensino que afetam o sistema cabo-verdiano. Não se nota a preocupação em apontar os caminhos para se chegar a uma solução cabal para as questões já identificadas.

Partindo do pressuposto que as autoridades conhecem esses problemas e os responsáveis pela elaboração dos programas também, era expectável que esses documentos fossem concebidos para ajudar a colmatar as lacunas detetadas não só em termos de metodologia adotada no ensino da Língua Portuguesa, como também da necessidade de uma maior valorização da Língua Portuguesa, já que perante a necessidade de valorizar a Língua Materna, tem-se criado imensos ruídos em relação à nossa Língua Segunda.

A Língua Portuguesa é considerada um veículo de aprendizagem transversal, sem a qual a compreensão dos conceitos matemáticos e/ou científicos, de uma forma geral, ficam por fazer, caso não lhe seja dada a devida importância como nossa língua oficial e de ensino.

148 Estando o aluno dividido entre duas línguas, a materna, na qual constrói a sua identidade, fala, pensa e sonha e a sua Língua Segunda, na qual é obrigado a ler e a escrever embora fale e pense na primeira, indubitavelmente, é um exercício que exige um treino e preparação, cuidadosamente, planeados.

No que ao programa do 7º e 8º anos diz respeito, é de referir, ainda, que foi concebido para servir estes dois níveis, anteriormente considerado 1º ciclo e tronco comum, a partir do qual o aluno seguia a via geral ou técnica conforme a sua preferência. No entanto, tal decisão foi alvo de revogação pelas razões expostas a seguir, conforme se pode verificar no Programa de 7º e 8º anos:

o Plano de Estudos e Fundamentação de 15 de Abril de 2008, o 1º ciclo deixa de ser o tronco comum, por se considerar prematura a possibilidade de opção entre as vias geral e técnica colocada no final deste ciclo, para se transformar num ciclo de informação e sensibilização, entendendo-se por tal o reforço dos conhecimentos práticos para a vida em sociedade e a sensibilização para a problemática das situações actuais . (Programa de 7º e 8º anos, pág.3)

É de salientar quetal restruturação e a integração, mais recente, destes dois níveis no subsistema do Ensino Básico, como já se referiu, anteriormente, não provocou qualquer alteração no programa.

Sendo a Língua Portuguesa o tal veículo que permite ao aluno uma maior participação, envolvimento e afirmação como ser autónomo e atuante nas questões práticas da vida em sociedade, é merecedora de uma maior atenção e investimento tanto a curto, como a médio e longo prazos.

Na verdade, de acordo com o que vem plasmado no programa do 7º e 8º, a disciplina de Língua Portuguesa é reconhecida como:

veículo de todas as aprendizagens, instrumento indispensável de comunicação e suporte da aquisição de conhecimentos em todos os domínios, tem como papel fundamental incentivar tanto a comunicação oral como a escrita, aprontando a inserção do aluno na vida social, impulsionando a educação para a cidadania, cooperando na formação de um bom utilizador da língua, capacitando-o a ser um comunicador com sucesso, capaz de construir a sua identidade através da linguagem para poder agir com e sobre os outros. Programa 7º e 8º, pág. 3

149 Não obstante tal reconhecimento à Língua Portuguesa, tem-lhe sido dispensado um espaço (tempo) tão exíguo que o aluno fica impossibilitado de desenvolver as competências necessárias a ponto de ser considerado um bom comunicador.

Entretanto, não se fica por aí quando a questão tem que ver com a importância da nossa língua de ensino:

Os objectivos do ensino da Língua Portuguesa, pela condição que ocupa no contexto nacional, deve centrar-se na compreensão e produção de unidades comunicativas, pelo que se reveste da maior importância a produção de textos orais e escritos adequados aos contextos comunicativos em que se realizam, tendo em consideração todos os elementos intervenientes, designadamente, os referentes a espaços, interlocutores, tipos de textos, realizações linguísticas e estratégias de comunicação. Programa 7º e 8º idem.

Na verdade, no que à produção de textos orais e escritos diz respeito, espera-se que o aluno produza mais do que lhe é ensinado e desconsiderando todo o contexto envolvente. Não obstante a importância reconhecida à Língua Portuguesa pela condição que ocupa na nossa sociedade, a qualidade da produção quer oral quer escrita não é o expectável no entender dos professores.

No que ao processo de ensino-aprendizagem diz respeito, é também de referir que não se tem em conta as observações acima mencionadas, bem como o estatuto do Português em Cabo Verde, a importância ou o perfil de entrada e de saída dos estudantes de qualquer subsistema dado o nível de produção normalmente a estes associado. E mais, os programas não refletem as preocupações levantadas quando se trata de metodologias e conteúdos mais consentâneos com a realidade descrita nos próprios documentos.