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Capítulo I Contexto de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa em Cabo Verde

1. O sistema educativo cabo-verdiano

2.1. Os desafios impostos pela forte presença da LM

2.2. O estatuto da Língua Portuguesa no processo de ensino-aprendizagem em Cabo verde

3. O ensino da escrita 3.1. Nos programas

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1. O sistema educativo cabo-verdiano

Este primeiro capítulo trata do enquadramento do ensino da Língua Portuguesa e, particularmente, do ensino da escrita em Cabo Verde. Contudo, antes de proceder a esse enquadramento, dedicarei algum tempo e espaço para explicar como é que se organiza e como funciona o nosso sistema educativo.

A minha reflexão está orientada para o esclarecimento do que se passa no contexto em estudo, a nível das interferências da Língua Materna, o estatuto confiado à Língua Portuguesa no processo de ensino, e, especificamente, vou passar em revista as atividades de escrita propostas nos programas, nos manuais escolares e nos módulos. O objetivo é contribuir para uma melhor compreensão de como se processa, neste arquipélago, o ensino da escrita e da escrita em português.

Alvo de uma recente reestruturação, o nosso sistema de ensino está organizado em Educação Pré-escolar (com início aos quatro anos), Ensino Básico (com início aos seis anos) que compreende três ciclos, o Ensino Secundário que abrange dois ciclos e o Ensino Superior.

Na estruturação anterior, o Ensino Básico (EB) compreendia um total de seis anos de escolaridade, organizado em três fases, cada uma das quais com dois anos de duração. A primeira fase (1º e 2º anos) abrangia atividades com finalidade propedêutica e de iniciação, a segunda (3º e 4º anos) era de formação geral e a terceira fase (5º e 6º anos) visava o alargamento e o aprofundamento dos conteúdos com vista a elevar o nível de instrução.

O Ensino Secundário tinha a duração de seis anos, organizando-se em três ciclos de dois anos cada: um 1°ciclo ou Tronco Comum (7º e 8º anos); um 2° ciclo (9º e 10º anos) com uma via geral e uma via técnica; um 3º ciclo (11º e 12º anos) de especialização, quer para a via geral quer para a via técnica.

Em Cabo Verde, as crianças entram para a escola aos seis anos de idade, depois da frequência ou não do Ensino Pré-escolar onde a língua de trabalho, normalmente, é a Língua Cabo-verdiana (LCV) que cede lugar ao Português, essencialmente, nos momentos destinados à leitura de histórias por estas se encontrarem escritas em Português.

Os jardins de infância são da responsabilidade das autarquias, pessoas singulares que adaptam espaços como garagens ou moradias tanto nas cidades como no meio rural para esse fim. Muitas crianças têm o seu primeiro contacto com a escola aos seis anos de

10 idade, altura em que vão para o primeiro ano, uma vez que a frequência do Ensino Pré- escolar é facultativa.

A atual reestruturação dos dois primeiros subsistemas provocou a deslocação dos professores do Secundário para o Básico. Condicionados pelo regime de mobilidade, os professores do Ensino Secundário têm turmas de Língua Portuguesa também no 5º ou 6º ano de escolaridade que eram da responsabilidade exclusiva dos professores afetos ao Ensino Básico.

Não obstante esta nova estruturação, não houve alterações no que diz respeito aos programas, manuais, módulos e professores do 7º ao 12º anos. Assim, para os efeitos que me interessam nesta tese, tomo todo o subsistema do Ensino Secundário, na sua anterior estruturação. Importa ainda salientar que o Ensino Secundário se subdivide em duas vias: a geral e a técnica para a qual pode seguir tanto o aluno pré-universitário como aquele que não pretende prosseguir os estudos superiores, escolhendo uma área de sua preferência, a fim de obter uma formação profissional.

Apesar de considerar, neste trabalho, a anterior estruturação do sistema de ensino, convém explicitar a atual organização tanto do subsistema do Ensino Básico como do Ensino Secundário.

No que ao EB diz respeito, nos termos do nº 1 do artigo 14º do Decreto-legislativo nº 02/2010 de 7 de maio, que revê as Bases do Sistema Educativo (BSE), a educação básica em Cabo Verde é universal, obrigatória e gratuita. Com a duração de 8 (oito) anos de escolaridade, o EB, compreende três ciclos sequenciais, sendo o 1º de quatro anos, o 2º e o 3º de dois anos cada, organizados da seguinte forma:

a) no 1º ciclo (1º ao 4º anos), o ensino é globalizante, da responsabilidade de um professor único, que pode ser coadjuvado em áreas especializadas;

b) no 2º ciclo (5º e 6º anos), o ensino organiza-se por áreas

interdisciplinares de formação básica e desenvolve-se

predominantemente em regime de docente por área;

c) no 3º ciclo (7º e 8º anos), o ensino organiza-se segundo um plano curricular unificado, integrando áreas vocacionais diversificadas, e desenvolve-se em regime de um docente por disciplina ou grupo de disciplinas.

Os objetivos específicos de cada ciclo integram-se nos objetivos gerais do Ensino Básico, sendo que, em cada ciclo, privilegia-se a aquisição de competências específicas. Assim, são as seguintes as competências que se privilegiam em cada ciclo:

11 a) 1º ciclo, o desenvolvimento da linguagem oral e a iniciação e progressivo

domínio da leitura e da escrita, das noções essenciais da aritmética e do cálculo, do meio físico e social e das expressões plástica, dramática, musical e motora;

b) 2º ciclo, a formação humanística, artística, física e desportiva, científica e tecnológica e a educação moral e cívica, visando habilitar os alunos a assimilar e interpretar crítica e criativamente a informação, de modo a possibilitar a aquisição de métodos e instrumentos de trabalho e de conhecimento que permitam o prosseguimento da sua formação, numa perspetiva do desenvolvimento de atitudes ativas e conscientes perante a comunidade e os seus problemas mais importantes;

c) 3º ciclo, a aquisição sistemática e diferenciada da cultura moderna, nas suas dimensões humanística, literária, artística, física e desportiva, científica e tecnológica, indispensável à orientação escolar e profissional que possibilite o ingresso na vida ativa e o prosseguimento de estudos.

Quanto ao Ensino Secundário, o seu acesso é facultado a alunos que tenham completado com aproveitamento o Ensino Básico. Tem a duração de quatro anos e organiza-se em dois ciclos sequenciais de dois anos cada, nos termos seguintes:

a) um 1º Ciclo (9º e 10º anos) da via do ensino geral, que constitui um ciclo de consolidação do Ensino Básico e orientação escolar e vocacional; b) um 2º Ciclo (11º e 12º anos) com uma via do ensino geral e uma via do

ensino técnico.

No final de cada ciclo do Ensino Secundário, o aluno pode seguir um curso de formação profissional, inicial ou complementar, nos termos e condições a definir em diploma próprio.

O nível do Ensino Secundário compreende ainda um ano complementar profissionalizante, ao qual podem aceder alunos da via técnica que tenham concluído com aproveitamento o 12º ano e que pretendem obter uma especialização em determinada área de atividade profissional.

Entre os objetivos do Ensino Secundário, há que destacar o seguinte: “Promover o domínio da escrita da língua materna cabo-verdiana, bem como da língua portuguesa, reforçando a capacidade de expressão oral e escrita3.” A propósito, convém realçar que

a LM não faz parte da grelha curricular do Ensino Secundário. Desta forma, não há

12 possibilidades de promoção da sua escrita nem o seu domínio, o que, de resto, acontecendo, potenciaria o desenvolvimento das competências do aluno na sua L2.

Diagrama 1 - Sistema Educativo Cabo-verdiano

Fonte: http://www.minedu.gov.cv/index.php?option=com_content&view =article&id=1091&Itemid=840, acedido em 12 de dezembro de 2018

Conforme se pode verificar pela leitura do Diagrama 1, 7º e 8º anos fazem parte do Ensino Básico. Entretanto, trata-se, como referido, de uma restruturação muito recente do sistema educativo. Assim, considero nesta investigação, por um lado, os manuais existentes e os programas que os potenciam, e, por outro, inquirição dos professores que lecionam turmas do 7º ao 12º anos de escolaridade.

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