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O Projeto Araribá no PNLD

A coleção Projeto Araribá tornou-se a mais adotada pelos professores de História, através do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em sua edição 2008, em todo o território Nacional.

Informações obtidas através da Revista Carta Capital, n.º 464 de 03/10/2007, p. 31. A opção por utilizar dados advindos do meio jornalístico, neste caso, se deve à indisponibilidade dos mesmos no site do FNDE e as

153 inúmeras tentativas, em vão, de conseguir as informações sobre quantidade de obras de História negociadas nas diversas edições do PNLD através de contatos telefônicos com serviço de atendimento do Ministério da Educação e do envio de mensagens por e-mail. Em resposta a uma solicitação feita por nós, o professor Holien Gonçalves Bezerra, um dos coordenadores da equipe de Pareceristas de História das edições do PNLD que ocorreram entre 1999 e 2005 nos disse que um dos grandes problemas enfrentados por aqueles que querem pesquisar o livro didático tem sido a falta de informações prestadas pelo Ministério da Educação.

Nesta edição, O PNLD contou com a participação de dezenove coleções didáticas de História aprovadas pelos pareceristas que produziram o Guia do Livro Didático conforme consta na tabela abaixo85.

Ranking das editoras na oferta de coleções didáticas de História no PNLD 2008

Editora Número de coleções no PNLD 2008

1.º. Ática 4

2.º. Scipione 3

2.º. FTD 3

3.º. Moderna 2

3.º. Positivo 2

3.º.Edições Escala Educacional 2 3.º. Saraíva Livreiros e Editores 2

4.º. Quinteto Editorial 1

Total 19

Tabela construída a partir do Guia de livros Didáticos 2008.

Entretanto, como pode ser observado na tabela anterior, o número elevado de coleções não expressa uma grande variedade de empresas atuando neste mercado editorial. Nos últimos anos grandes grupos empresariais nacionais e estrangeiros vêm ampliando a participação no setor gerando uma oligopolização deste ramo do mercado editorial. Como as

85 Diferentemente das outras coleções que participaram desta edição do PNLD, os próprios editores detém os direitos autorais da coleção que é anunciada como uma obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna.

154 editoras Ática e Scipione pertencem ao grupo Abril, sete coleções que equivalem a 36,8% das opções de escolha dos professores são disponibilizadas por uma mesma empresa86. Em uma pesquisa na internet constatamos que a Quinteto Editorial87 está vinculada à Editora FTD. Assim, as duas editoras participam com quatro obras aprovadas, ficando em segundo lugar no Ranking controlando 21,5 % das coleções aprovadas. Neste caso, os dois grupos editoriais responsáveis pelo primeiro e segundo lugares detém quase 60% das obras de História disponibilizadas para escolha dos professores das séries finais do Ensino Fundamental.

A editora Positivo que divide o terceiro lugar com a editora Moderna é braço editorial do Grupo Positivo que mantém negócios na Europa, África, Japão, México e Brasil e é o maior grupo nacional de educação privada. O Positivo também é um dos líderes no setor de informática e possui uma diversidade de produtos na linha gráfico-editorial88. A Saraiva Livreiros e editores é uma empresa que incorporou as editoras Formato, Atual Editora e Saraíva. Empresa de capital aberto, a Saraiva livreiros apresenta aos seus acionaistas propósitos ousados e agressivos de atuação no mercado conforme se vê transcrito neste trecho.

Estratégias da Editora

• Construir um catálogo completo e renovado;

86 “Em fevereiro de 2004, o Grupo Abril adquiriu a Editora Ática na totalidade, inaugurando uma nova fase na história da empresa, passando a fazer parte da Abril Educação. No início de 2005, a Editora passou a funcionar no prédio do Edifício Abril, na Marginal do Tietê.” (http://www.atica.com.br/quemsomos/ acessado em 30/06/2007)

“Após mais de um ano de negociações, que envolveram grupos editoriais nacionais e estrangeiros, a Editora Abril86 adquiriu, em fevereiro de 2004, os ativos financeiros da Vivendi,

tornando-se a sócia majoritária da Editora Scipione.”

(http://www.scipione.com.br/institucional/conhecascipione/conhecascipione.aspx acessado em 30/06/2007)

87 Não conseguimos informação se existe fusão, incorporação de uma pela outra ou algum tipo de associação. Entretanto, a obra Navegando pela História é comercializada pela FTD. No site da Abrelivros a sede das duas empresas é anunciada no mesmo endereço e os telefones de contato são os mesmos. O e-mail da Quinteto Editorial tem como provedor a FTD. http://www.abrelivros.org.br/abrelivros/texto.asp?id=3&Texto=quinteto (acessados em 30/06/2007). Além disto, o representante da empresa FTD e Quinteto na diretoria da Abrelivros,

gestão 2006 e 2007 é o mesmo.

(http://www.abrelivros.org.br/abrelivros/texto.asp?id=3&Texto=quinteto acessado em 30/06/2007)

155 • Promover divulgação agressiva, alcançando os mais importantes mercados: a adoção dos livros no Brasil é decidida pelos professores;

• Desenvolver uma relação de parceria com autores;

• Aproveitar as vantagens das sinergias existentes entre as linhas editoriais, diluindo gastos fixos;

• Acompanhar as inovações tecnológicas, assim como oportunidades de aquisições & alianças estratégicas (Ex.: Formato Editorial - Agosto/2003).

http://www.saraivari.com.br/port/perfil/estrategias_editora.asp acessado em 30/06/2007.

A Edições Escala Educacional é uma das empresas do Grupo Escala89 que atua no setor editorial em diversos segmentos. Dentre as suas publicações estão impressões voltadas para temáticas como agropecuária, artesanato, culinária, animais, cultura, ciência, esoterismo, educação etc. A empresa anuncia gerar 1100 empregos diretos e 300 indiretos. No segundo semestre de 2007, 51% das ações da Escala passaram para o controle do grupo espanhol Anaya que, por sua vez, pertence à francesa Hachette Livre, um dos principais grupos do mercado editorial mundial90. Cabe ressaltar que a transação descrita aconteceu depois que as escolhas e as negociações entre FNDE e Editoras para o PNLD 2008 já haviam se encerrado.

A Editora Moderna, que nos interessa particularmente por ser detentora dos direitos autorais e responsável pela edição do Projeto Araribá, foi incorporada pelo grupo espanhol de comunicação Santillana91, que atua na Europa, América Latina e Estados Unidos. Além de responsável por uma coleção didática que se propõe a trabalhar na superação das deficiências de leitura dos estudantes brasileiros - a Editora Moderna também divulgou os dados do Pisa no Brasil através da publicação Conhecimentos e atitudes para

a vida – Resultados do Pisa 2000 - em 2003 e que apontaram os problemas de

compreensão leitora e letramento dos estudantes brasileiros, fomentando a

89 http://www.escala.com.br/grupo.asp acessado em 30/06/2007

90 Com a transação, Anaya/Hachette Livre passa a ser detentor de 51% de participação da Escala Educacional, e o Grupo Escala, por sua vez, passa a ter 49% do controle da Editora Larousse do Brasil, que pertencia ao grupo franco-espanhol. A Hachette Livre também adquiriu o Grupo Editorial Patria, uma das mais tradicionais empresas do ramo no México.http://www2.uol.com.br/canalexecutivo/notasemp07/emp110920072.htm acessado em 13/09/2007

156 necessidade de intervenção pedagógica e de materiais didáticos apropriados para a temática.

Neste contexto, cabe destacar como a empresa do grupo Santilhana atuou em duas frentes. Por um lado, divulgando resultados de avaliação sistêmica que apontam deficiências no campo da leitura e, por outro, oferecendo um material didático que anuncia estratégias de superação do problema. Além disso, cabe registrar que no último semestre de 2007, durante o polêmico episódio sobre a qualidade dos livros de História utilizados nas escolas públicas, protagonizado por meio de diversos órgãos da imprensa brasileira, vieram à tona uma série de críticas e denúncias em relação à Coleção Projeto Araribá - História e aos métodos utilizados pela editora Moderna para alcançar a liderança no mercado.

Dentre as denúncias destacaremos duas que nos pareceram mais recorrentes. Primeiramente, a contratação dos serviços de consultoria do ex- ministro da educação Paulo Renato de Souza92 que havia deixado a pasta recentemente - sem cumprir um período de quarentena - o que supostamente trouxe informações privilegiadas que em tese beneficiaram de forma irregular a contratante93. Em segundo lugar, a suposta partidarização da Coleção Projeto Araribá que apresenta de modo explícito a defesa de um dos programas sociais do governo Lula.