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SANTOS, Rogério Ribeiro dos1 A minha participação e vivência no Projeto Observatório da Educação

com Foco em Matemática e Iniciação às Ciências – OBEDUC2 me propiciou

experimentar sentimentos que reiteram a certeza de que projetos como esse podem melhorar a qualidade da Educação. Digo isso principalmente porque ele engendra de forma mais articulada e sólida as vivências que levam em consi- deração o ensino, a pesquisa e a extensão, envolvendo educadores e alunos em todos os níveis.

Em parceria com a UNEMAT-UFMT-UNESP e escolas da rede esta- dual de MT e SP, participei do encontro do OBEDUC na cidade de Ilha Sol- teira, na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP (30, 31/05 e 01/06 de 2014), nas dependências do Departamento de Física e Química, onde foi possível socializar as experiências nos grupos de traba- lho e discutir Questões Sociocientíficas (QSC). Neste texto, narro a pesqui- sa que apresentei nesse evento.

A cidade de Rondonópolis, onde foi vivenciada a pesquisa, é um muni- cípio polo do Estado de Mato Grosso, localizado geograficamente na região sul do Estado, situado a 215 Km da capital, Cuiabá, com uma área de 4.159,122 Km², sendo 129,2 Km² de zona urbana e 4.029,922 Km² de zona rural. A escola parceira do OBEDUC, Daniel Martins de Moura, locus do trabalho desenvol- vido, atende o Ensino Fundamental (3º Ciclo), Ensino Médio Regular e Ensino Médio Semestral no período noturno.

Mesmo reconhecendo alguns avanços quanto à política, estrutura e valorização profissional, o contexto da escola e dos professores não é dife- rente da maioria dos que enfrentam alguns entraves pedagógicos inerentes ao cenário educacional em todo o país, tais como: rotatividade de profissio- nais da Educação, dupla e tripla jornada, resistência de alguns docentes ao uso das novas tecnologias de informação (TICs), a formação continuada,

1 Professor da Educação Básica do Estado de Mato Grosso/SEDUC-MT. Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT/Campus de Rondonópolis. Especialista em Gestão e Educação Ambiental. Professor Formador do Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação/SEDUC- MT – CEFAPRO.

2 Programa: Observatório da Educação - Edital: 038/2010/CAPES e INEP - Resultado da parceria entre a CAPES e INEP, foi instituído pelo Decreto Presidencial nº 5.803, de 08 de junho de 2006. Disponível em http://www.capes. gov.br/educacao-basica/observatorio-da-educacao. Projeto Observatório da Educação com Foco em Matemática e Iniciação às Ciências - Coord: Profa. Dra. Lizete Maria Orquiza de Carvalho - UNESP.

dificuldades no planejamento coletivo, entre outros. A maioria dos alunos que estuda nesta escola reside na Vila Operária e bairros adjacentes. Grande parte desses bairros apresenta carência de infraestrutura básica como redes de esgoto, água tratada, saúde, segurança, coleta de lixo e área de lazer. A maior parte dos alunos são adolescentes e jovens que apresentam um quadro de vulnerabilidade social.

A experiência aqui narrada se refere à problemática das plantas tóxicas, seus usos e costumes, ou seja, um tema que se insere no contexto de uma QSC problematizada e contextualizada por meio de um projeto de pesquisa desen- volvido com alunos do Ensino Médio da E. E. Daniel Martins de Moura.

O objetivo desse projeto era oportunizar aos alunos a iniciação cien- tífica, em especial, na área das Ciências da Natureza. Para isso, foi criado

um grupo de pesquisa intitulado GP Biocenose,3 que investigou o índice de

frequência de plantas tóxicas na comunidade escolar, o conhecimento das pessoas sobre essas plantas e as informações da comunidade para prevenção de possíveis intoxicações.

O grupo era composto por 12 alunos e três professores (Matemática, Língua Portuguesa e Biologia), e as reuniões ocorriam aos sábados pela manhã quando iniciamos com aulas de introdução à filosofia da ciência e metodologia do trabalho científico. Fazíamos, ainda, nesses encontros, toda a sistematização do projeto, incluindo as anotações no caderno de campo, relatórios mensais, coletas de dados por meio das entrevistas e os registros fotográficos.

Para realizar a pesquisa (2012), foram utilizados dados de origem bibliográfica e também dados coletados na pesquisa de campo realizada pelo grupo. A coleta de dados geralmente era feita em duplas, as quais visitavam casas de quadras pré-estabelecidas de acordo com o critério de proximidade com a escola, e quadras de bairros vizinhos devido à centralização da escola. Essa entrevista consistia em um questionário com perguntas relacionadas ao conhecimento sobre plantas tóxicas e possíveis intoxicações. Além disso, uma tabela com dezoito plantas tóxicas com seus respectivos nomes popula- res era mostrada como referência para o levantamento. Na imagem a seguir, um momento da pesquisa de campo.

Figura 1 – GP – Biocenose em campo coletando dados com os moradores da Vila Operária – Rondonópolis - MT (2012)

Fonte: Rogério Ribeiro dos Santos. Acervo particular, 2012.

A pesquisa produziu informações que sensibilizaram a comunidade es- colar e a população em geral sobre as espécies de plantas tóxicas locais, por meio do conhecimento científico sistematizado, cujo objetivo era a prevenção de acidentes, principalmente com crianças. Nesse processo, professores e alu- nos da escola tornaram-se multiplicadores desse conhecimento com o intuito preventivo, além da iniciação, por parte dos discentes, à alfabetização e letra- mento científico, vinculando teoria e prática como ferramenta de aprendizagem e produção de conhecimento.

Penso que a utilização da pesquisa como uma ferramenta pedagógica no Ensino Médio foi importante porque buscou inserir o educando no mundo científico e o fez compreender a ciência em outras dimensões, tais como: a epistemológica, a filosófica e outras acepções que lhe possibilitou investigar, descobrir e produzir conhecimentos que podem servir para melhorar a qualida- de de vida das pessoas.

Nessa direção, deve-se considerar também a não neutralidade da ciên- cia, sua possibilidade intrínseca de falseamento, internalizando seu vocabulá- rio, compreendendo o senso comum, além de sua relevância para a produção do conhecimento científico. Entretanto, a maior dificuldade nesse processo investigativo foi articular os professores das áreas para um trabalho inter- disciplinar, além de conciliar o horário dos encontros com alguns alunos que tinham outros compromissos como cursos técnicos e outros que trabalhavam meio período.

Apesar de alguns entraves, o que ficou em destaque na socialização des- sa pesquisa para a comunidade escolar, realizada no espaço do Projeto Sala do

Educador4 e nas reuniões de pais e mestres, foi a apropriação de alguns concei- tos científicos por parte dos alunos durante as apresentações, propiciando, des- sa maneira, uma visão mais holística da ciência, contrapondo-a à fragmentação do conhecimento, além de discutir suas relações com o trabalho, a cultura, o conhecimento e a tecnologia.

Um ponto relevante da pesquisa foi utilizar os dados coletados para confec- cionar um banner de divulgação científica e uma cartilha, elaborada, publicada e distribuída na comunidade local, contendo informações sobre plantas tóxicas com o intuito de fornecer orientação mínima necessária sobre o assunto abordado, além de transmitir conhecimentos básicos sobre as plantas tóxicas mais comuns na região. Por meio dessa cartilha, as pessoas poderiam evitar, ou mesmo minimizar, intoxica- ções causadas por esse tipo de planta. Na imagem a seguir, a cartilha.

Figura 2 – Cartilha sobre as plantas tóxicas

Fonte: Rogério Ribeiro dos Santos. Acervo particular, 2012.

Penso, então, que criar essa cartilha, pode mostrar às pessoas que é per- feitamente possível conviver com tais plantas. Afinal, o que o projeto visava não era a retirada dessas plantas, mas sim alertar as pessoas sobre como deviam se prevenir do envenenamento causado por elas, apenas tomando algumas me- didas simples de cautela. Como a maioria dos casos ocorre acidentalmente, informações sobre o cuidado são suficientes para evitar novos casos de intoxi- cação por plantas tóxicas.

4 Sala do Educador - lócus de reflexão, estudo e aprendizagem docente. A Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso implantou em 2004 o projeto Sala do Educador, cujo princípio está fundamentado no fortalecimento da formação continuada de professores na perspectiva de instituir a escola como espaço de aprendizagem docente. A Sala do Educador teve sua implantação coordenada pela SEDUC e CEFAPROS, estes, tiveram que orientar e acompanhar na estruturação e organização do projeto na escola. Por ser um projeto cujo foco é a formação continuada, o mesmo busca capacitar os professores no próprio local de trabalho, a escola, contexto onde as atividades pedagógicas acontecem realmente, na sala de aula, na biblioteca, no pátio, nas relações, no coletivo de professores, colegas, alunos, ou seja, com todos os segmentos da escola e do seu entorno. Disponível em <http:// www.seduc.mt.gov.br/conteudo.php?sid=376&cid=9584&parent=0>. Acesso em 01 out. 2014.

ESCOLA ESTADUAL DR. EMANUEL PINHEIRO