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Projetos coletivos e as estratégias de implementação do uso das TIC nas escolas

4.2 Análises das entrevistas

4.2.4 Projetos coletivos e as estratégias de implementação do uso das TIC nas escolas

Tanto na observação de campo como na entrevista com os docentes fica claro que não há ainda em andamento nessas três escolas nenhum projeto institucionalizado descrito e previsto no PPP para a utilização das tecnologias. Em nenhuma escola os docentes fizeram um trabalho de reflexão sobre as concepções e finalidades que querem trabalhar em relação às TIC. O que se observou e constatou na fala dos sujeitos são projetos isolados ou no máximo formados por duplas ou trios de professores com habilidades para lidar com as TIC, que investem de coragem e levam os alunos ao laboratório para experimentar minimamente as suas potencialidade, sem contudo se orientar por uma proposta pedagógica objetiva.

A professora Ana Vega, confirma isso dizendo “laboratório de informática é isolado, na escola, ninguém sabe o que se passa aqui dentro, tem gente que nunca nem entrou aqui, eu mesmo é que tiro da minha cabeça o que fazer, a não ser assim quando elas sugerem alguma coisa, pedem pesquisa”. Nesse ponto a professora faz questão de frisar que, quando algum professor solicita uma pesquisa, ela atende prontamente, dessa forma não há trabalho coletivo nem uma discussão entre os docentes sobre essa possibilidade.

Para Paulo Vega o fim dos encontros coletivos semanais (reuniões pedagógicas) prejudicou bastante o desenvolvimento de projetos coletivos nas escolas municipais, pois os encontros não acontecem mais com a presença de todos os professores do turno, mas entre pequenos grupos que se encontram nos horários de projetos. Isso faz com que ao construírem propostas de trabalho utilizando a tecnologia, os projetos dos docentes nas escolas investigadas favoreçam muito mais o individualismo do que as ações que privilegiam uma maior colaboração entre os docentes, ou seja, a existência de um projeto coletivo entre eles

eu trabalho de manhã no ensino regular e os professores não se encontram mais. Acabou. Não tem tempo para nada; os horários do projeto são diferentes para cada professor. Eu acho que não tem condição nenhuma de uma escola desenvolver um projeto coletivo dessa forma. Quando se encontram no sábado é uma coisa extremamente específica mais administrativa que pedagógica e além do mais sábado é sábado. É, as pessoas andam conversando agora, os professores e a direção é no

horário de recreio, mas esse tipo de conversa não rende não (Paulo – professor da EJA da Escola Vega).

Porém esse mesmo professor revela que na modalidade EJA ainda permanecem os encontros coletivos às sextas-feiras, dessa forma os projetos que usam as TIC costumam envolver um grupo maior de professores. Contudo, o noturno, ainda não conseguiu elaborar uma proposta pedagógica específica para o uso da tecnologia, enquanto isso os professores da EJA seguem usando-a de uma forma transversal dentro dos projetos que desenvolvem no semestre. Na modalidade EJA, os professores trabalham com a pedagogia de projetos.

O professor Júlio Antares também coloca que a inclusão da informática na EJA “foi uma reivindicação do grupo, na nossa reunião de sexta-feira, a gente faz o planejamento junto elabora as estratégias junto.” (Júlio – professor da EJA da Escola Antares). Nessa escola, como na Escola Vega, os professores da EJA trabalham com a pedagogia de projetos. Com uma proposta de trabalho os professores Júlio Antares e César Antares estão iniciando uma experiência de uso do computador na perspectiva da alfabetização e do letramento. Mas ainda não construíram uma proposta pedagógica delineada com objetivos e ações previstas para a utilização da tecnologia, ela apenas perpassa o projeto como uma ferramenta auxiliar na alfabetização.

A professora Márcia Polaris destaca com clareza que é a própria organização do trabalho do professor na PBH que funciona como um empecilho para o desenvolvimento de um trabalho mais coletivo. As escolas ainda precisam discutir sobre como se organizarem de modo a privilegiar os encontros coletivos entre os professores e a partir daí construírem propostas de uso pedagógico das tecnologias,

eu não vejo ainda essa possibilidade de trabalho coletivo ...mas também a prefeitura que dificulta muito isso. A organização nossa é muito ruim para trabalhar A organização do trabalho do professor deixa a desejar na hora de fazer esse encadeamento , sabe , essa organização do processo de trabalho como falei no início ao horário de projeto, fim da reunião pedagógica, a questão do 1.5 .. acho que tudo isso não é uma coisa que facilite o trabalho coletivo dos professores (Márcia – professora do EF da Escola Polaris).

Essa professora ainda destaca a importância de levar as discussões sobre as modificações no processo de trabalho dos docentes para as instâncias de lutas e defesa da classe como sindicato da rede. Reconhecendo assim a necessidade da luta por mais autonomia para escola

nós temos conversado sobre isso na rede sempre que nos encontramos, em encontros, em assembléias da categoria estamos sempre discutindo. Tem que ter mudanças tem que conversar mais sobre isso coletivamente na rede como um todo. Não é organizado assim em escola nenhuma viu, tem ficar claro isso, é o professor de informática que vai com a turma... que leva a turma naquela sala. O professor referência não participa, não que eu saiba (Márcia – professora do EF da Escola Polaris).

A utilização das TIC é importante, mas sua efetiva utilização ainda vai demorar, até que se faça uma discussão mais profunda sobre a organização do trabalho nas escolas, levando ao fim esse modelo que privilegia a falta de flexibilidade, a compartimentação do trabalho e buscando um modelo mais flexível e menos excludente dos tempos e dos espaços escolares.

4.2.5 Considerações sobre o tempo e a intensificação do trabalho docente no uso das