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Os Projetos de Lei do Executivo com urgência Constitucional e demais formas céleres

1.2 O Executivo e o Legislativo: a função de legislar

1.2.2 Os Projetos de Lei do Executivo com urgência Constitucional e demais formas céleres

Outro mecanismo trazido pela Constituição atual e que também contribui para a maior participação do Executivo no processo legislativo é a utilização dos projetos de lei que tramitam com urgência constitucional.

Por meio desse dispositivo, é possível diminuir o tempo de apreciação, pelo Congresso Nacional, de propostas enviadas pelo Executivo.

Não se trata de um mecanismo novo, uma vez que já se encontra previsto no ordenamento nacional desde a Constituição de 1967. Pela atual redação, ele permite ao

Presidente fixar, unilateralmente, prazo para a deliberação de projetos de autoria do Executivo que tenha interesse em ver aprovado o mais rápido possível.

Entretanto, se durante o regime militar a ausência de manifestação pelo Congresso no prazo estipulado acarretava aprovação tácita da matéria, a atual redação constitucional alterou, para bem, essa previsão.

O artigo 64 e seus parágrafos, com as alterações promovidas pela Emenda Constitucional 32/01, trataram da matéria de forma bastante detalhada ao dispor que:

Art. 64. A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados.

§ 1º - O Presidente da República poderá solicitar urgência para apreciação de projetos de sua iniciativa.

§ 2º Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não se manifestarem sobre a proposição, cada qual sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão todas as demais deliberações legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham prazo constitucional determinado, até que se ultime a votação.

§ 3º - A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos Deputados far-se-á no prazo de dez dias, observado quanto ao mais o disposto no parágrafo anterior.

Percebe-se que a solicitação de urgência para a apreciação de matérias de interesse do Presidente da República altera significativamente o trâmite processual legislativo do Congresso Nacional.

Ao Parlamento é dado o prazo de 45 (quarenta e cinco) dias para apreciar a questão. Uma vez findo esse período, ocorre o sobrestamento das demais matérias na ordem do dia dos Plenários das Casas Legislativas, exceto as medidas provisórias que, se estiverem no seu prazo máximo de vigência antes da votação, ou seja, 120 (cento e vinte) dias, têm preferência na ordem de votação.

Pode-se citar também a iniciativa conferida ao Presidente da República para dispor sobre matérias de natureza orçamentária e tributária como mais um instrumento

trazido pela Constituição de 1988 que fortalece a participação do Executivo no processo legislativo.39

Houve ainda uma significativa redução da importância do Parlamento no processo orçamentário, uma vez que aos seus representantes tornou-se defesa a possibilidade de propor emendas ao orçamento ou criar gastos sem a indicação da respectiva receita correspondente, conforme será analisado mais detidamente no capítulo quarto.

Com isso, o Executivo assenhorou-se do procedimento de elaboração do orçamento, cabendo ao Legislativo apenas um papel residual na formulação das leis orçamentárias.

Além da urgência constitucional, há outras formas de se dar prioridade ao processo de formação de determinadas matérias legislativas.

Uma das possibilidades é a preferência de tramitação, que pode ser pedida pelo Presidente da Mesa, pelo Colégio de Líderes ou por qualquer parlamentar. Evidentemente, desde que respeitadas as urgências existentes.

A questão encontra-se disciplinada no artigo 159 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, aprovado pela Resolução 17, de 1989, e no artigo 311 do Regimento Interno do Senado Federal, aprovado pela Resolução 93, de 1970.

De acordo com ambos os regimentos, a preferência sobre determinada proposta será concedida mediante deliberação do Plenário, o que pode dar prioridade de votação à proposta que sequer esteja incluída na ordem do dia dos trabalhos.40

39 Conforme dispõe o artigo 165 da Constituição assim positivado: “Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual;

II - as diretrizes orçamentárias; III - os orçamentos anuais”.

40 A ordem do dia consiste na organização da pauta de votações, deliberada pela Mesa e pelas lideranças partidárias, e geralmente é disponibilizada com certa antecedência (de pelo menos uma semana), para que os parlamentares e suas assessorias possam analisar as matérias que serão votadas para, se for o caso, apresentarem emendas ao texto ou votarem pela sua aprovação ou rejeição.

À medida que são aprovadas as preferências, embora haja a aquiescência dos líderes partidários, nem sempre a matéria é de conhecimento de todos os parlamentares, motivo pelo qual a votação da preferência pode inviabilizar um conhecimento mais aprofundado da matéria que estão votando.

Dessa forma, não é raro que, ao tomar conhecimento da proposta no momento de sua votação, o parlamentar acabe aprovando-a ou rejeitando-a sem nem mesmo saber quais seriam seus benefícios ou malefícios quando inseridas no ordenamento jurídico.

Além da preferência, outra possibilidade de modificar o tramite legislativo normal é a da prioridade dos projetos, o que permite a sua inclusão na ordem do dia após a apreciação da matéria em regime de urgência.

Esse regime, por sua vez, não é o mesmo disciplinado no artigo 64 da Constituição, porquanto se refere ao pedido de urgência por iniciativa das próprias Casas parlamentares, sem a ingerência do Executivo no processo.

A questão encontra-se regulamentada no artigo 158 do Regimento da Câmara e consiste na dispensa de exigências regimentais para que a matéria seja inserida na ordem do dia justamente após a análise das matérias que tramitem em regime de urgência.

Em verdade, o regime de tramitação das matérias na Câmara dos Deputados encontra-se regulamentado no artigo 151 do seu Regimento Interno. Em seus incisos estão definidos os conceitos de matérias urgentes e prioritárias, bem como aquelas que devem ter a tramitação ordinária.41

41 Eis o inteiro teor do artigo 151 da Resolução 17, de 1989: “Art. 151. Quanto à natureza de sua tramitação podem ser: I - urgentes as proposições:

a) sobre declaração de guerra, celebração de paz, ou remessa de forças brasileiras para o exterior; b) sobre suspensão das imunidades de Deputados, na vigência do estado de sitio ou de sua prorrogação; c) sobre requisição de civis e militares em tempo de guerra, ou quaisquer

providências que interessem à defesa e à segurança do País;

d) sobre decretação de impostos, na iminência ou em caso de guerra externa; e) sobre medidas financeiras ou legais, em caso de guerra;

O Regimento Interno do Senado Federal não é taxativo como o da Câmara ao classificar urgências e prioridades, mas aplica, no caso, e por analogia, o disposto no Regimento da Câmara.

Todos esses demais procedimentos citados independem da vontade do Executivo e devem respeitar a urgência constitucional solicitada pelo Presidente da República.