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A palavra “propiciação” (hilasterion - i(lasth/rion) está no centro da doutrina de Paulo acerca da morte de Cristo (Rm 3.24,25), “Através da morte de Cristo, o homem é liberto da morte; ele é absolvido de sua culpa e justificado; é efetuada uma reconciliação, pela qual a ira de Deus não precisa mais ser temida. A morte de Cristo salvou o crente da ira de Deus, de modo que ele não mais espera pela ira de Deus, mas pela vida (1 Ts 5.9) . A culpa e a condenação do pecado foram carregados por Cristo; a ira de Deus foi propiciada”. Sobre a ira de Deus ver (Rm 1.18; 1.32; 2.5, 12; 6.23).

Um reconhecimento total do caráter propiciatório, substitutivo, da morte de Cristo não tem que permitir-nos negligenciar ou menosprezar a doutrina de que a morte de Cristo, como uma demonstração do amor divino, está designada a atear uma reação amorosa nos corações dos homens. O objetivo e o caráter substitutivo da morte de Cristo como a demonstração suprema do amor de Deus deve resultar numa transformação de conduta executada pelo poder restritivo desse amor. Aqueles que reconhecem e admitem este amor têm que submeter-se ao seu poder controlador; porque Cristo morreu por todos, os homens não devem mais se dedicar à satisfação de seus próprios desejos, mas a ele, que, por amor a eles, morreu e ressuscitou (2 Co 5.14,15). A influência moral da morte de Cristo sobre as vidas dos homens não deve ser ignorada, porque se tem abusado deste ensino e erroneamente feito dele a verdade central da expiação. O amor de Cristo manifestado em dar-se a si mesmo como um sacrifício a Deus deve ser imitado através de se andar em amor (Ef 5.2). O exemplo de total humildade de Cristo em submeter-se em perfeita obediência a Deus, mesmo essa obediência levando a morte na cruz, deve ser emulada pela conduta humilde de seus discípulos em seus relacionamentos uns com os outros (Fl 2.5 e ss). O significado propiciatório, substitutivo, os benefícios do qual devem ser recebidos, pela fé, como uma dádiva de graça; mas a influência subjetiva de sua morte, em despertar a reação de amor nos corações dos homens, não pode ser nem negada nem ignorada. Há tanto uma significação objetiva como uma subjetiva na morte de Cristo.

REDENTORA

Palavras usadas no grego clássico e helenístico denotam que houve um preço pago para resgatar o homem que estava sob o penhor da escravidão. Tito 2.14 (lutroō – lytróomai

- lutro/omai) “para nos remir”; Mc 10.45 (lutron - lu/tron) “em resgate de muitos”; 1

Tm 2.6 (antilutron - a)nti/lutron) “em resgate por todos”. “O uso de anti sugere substituição. A morte de Cristo foi um resgate-substitutivo”. Rm 3.24,25 (apolutrosis -

a)polu/trwsij) “mediante a redenção” (Ef 1.7). 1 Co 6.19,20 (agorazo - a)gora/zw)

“fostes comprados por preço”. Gl 3.13 (exagorazo - e)cagora/zw) “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (cf. 4.4,5).

“Morris resume adequadamente a doutrina da redenção, incluindo ambos os grupos de palavras”:

(a) O estado, para fora do qual o homem deve ser redimido. Isto é semelhante à escravidão, que o homem não pode romper; assim a redenção contém a intervenção de uma pessoa de fora, que paga o preço que o homem não pode pagar.

(b) O preço que é pago. O pagamento de um preço é um elemento necessário na idéia da redenção; e Cristo pagou o preço de nossa redenção.

(c) O estado resultante do crente. Isto se expressa num paradoxo. Somos redimidos para a liberdade, como filhos de Deus; mas esta liberdade significa escravidão a Deus. A questão total desta redenção é que o pecado não mais tem domínio. Os redimidos são aqueles que foram salvos para fazerem a vontade de seu Mestre”.

REDENTOR – HO RHUÓMENOS - o( r(uo/menojo( r(uo/menoj – go’el o( r(uo/menojo( r(uo/menoj 48 [p. 578, 595-597] No Novo Testamento, Jesus é tanto o “Resgatador” quanto o “Resgate”; os pecadores perdidos são os “resgatados”. Ele declara que veio “para dar a sua vida em resgate (gr.

Lutron - lu/tron) de muitos” (Mt 20.28; Mc 10.45). Era um “livramento [gr. Apolutrosis]

efetivado mediante a morte de Cristo, que libertou da ira retribuitiva de Deus e da penalidade merecida do pecado”. Paulo liga a nossa justificação e o perdão dos pecados à redenção que há em Cristo (Rm 3.24; Cl 1.14, apolutrosis nestes dois textos). Diz que Cristo “para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Co 1.30). Diz também que Cristo “se deu a si mesmo em preço de redenção [gr. Antilutron] por todos” (1Tm 2.6). O Novo Testamento demonstra claramente que Ele proporcionou a redenção mediante o seu sangue (Ef 1.7; Hb 9.12; 1Pe 1.18,19; Ap 5.9), pois era impossível que o sangue dos touros e dos bodes tirasse os pecados (Hb 10.4). Cristo nos comprou (1 Co 6.20; 7.23, gr. Agorazo) de volta para Deus, e o preço foi o seu sangue (Ap 5.9).

“E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador (Go’el = rhuómenos - r(uo/menoj), e desviará de Jacó as impiedades” (Rm 11.26).

“E é dessa forma que todo o Yisra’el será salvo. Como diz o Tanakh: De Tziyon virá o Redentor (Go’el), ele afastará a impiedade de Ya’akov”. (Rm 11.26) - Novo Testamento Judaico de David Stern. Romanos 11.26 é uma citação de Is 59.20.

“Usou a justiça como couraça, pôs na cabeça o capacete da salvação; vestiu-se de vingança e envolveu-se no zelo como numa capa. Conforme o que fizeram lhes retribuirá: aos seus inimigos, ira; aos seus adversários, o que merecem; às ilhas, a devida retribuição. Desde o poente os homens temerão o nome do Senhor, e desde o nascente, a sua glória. Pois ele virá como uma inundação impelida pelo sopro do Senhor. O Redentor (Go’el) virá a Sião, aos que em Jacó se arrependerem dos seus pecados”, declara o Senhor” (Is 59.17-20 - NVI).

“Virá o Redentor (GO’EL) a Sião e aos de Jacó que se converterem, diz o SENHOR” (Is 59.20).

Charles Ryrie na Bíblia Anotada faz o seguinte comentário sobre este último texto: “Em seu segundo advento Ele (Go’el) julgará Seus inimigos (v.v. 17-19) e trará salvação a Israel (v.v. 20,21; Rm 11.26,27). A palavra aqui traduzida por Redentor (Is 59.20) significa Parente Resgatador; i.e., alguém que tem laços de sangue com aqueles que resgata, o que indica a necessidade da encarnação (Hb 2.14-16)”.

QUEM É O GO’EL?

Era tanto o Parente Remidor como também o Parente Vingador (Nm 35.12-19). A Bíblia Vida Nova49 traz o seguinte comentário:

“Era o costume do parente próximo de um injustiçado reivindicar justiça por este: isto era uma garantia de que sempre haveria alguém interessado em trazer o malfeitor à punição. A lei do refúgio era a maneira de Deus preservar este costume contra o Vingador (Go’el) injusto e cruel”.

O Senhor providenciou seis (06) cidades de refúgio nas quais, as pessoas culpadas de homicídio acidental, podiam buscar proteção com segurança, protegendo-se do Vingador do Sangue até serem julgadas (Nm 35.11,12).

“Se o Vingador do Sangue (Go’el) achar o homicida fora dos termos da cidade de refúgio e matá-lo, não será culpado do sangue” (Nm 35.27).

A palavra GO’EL – Vingador do sangue vem do verbo “retribuir” que também significa “redimir” no sentido de comprar algo de volta pelo preço do resgate. Jesus tanto é o Parente Remidor como também é o Parente Vingador.

Stanley M. Horton diz:50

A Bíblia emprega a metáfora do resgate ou da redenção para descrever a obra salvífica de Cristo. O tema aparece muito mais freqüentemente no Antigo Testamento que no Novo. O tema aparece muitas vezes no Antigo Testamento, referindo-se aos ritos da “redenção”! No tocante às pessoas ou bens (cf. Lv 25; Rt 3 e 4, que empregam a palavra hebraica ga’al). O “Parente redentor” funciona como um go’el. O próprio YAHWEH é o Redentor (heb. Go’el) do seu povo (Is 41.14; 43.140, e eles são os redimidos (heb. ge’ulim, Is 35.9; 62.12). O Senhor tomou medidas para redimir (heb. padhah) os primogênitos (Êx

49 SHEDD, Dr. Russel P. Bíblia Vida Nova. São Paulo: Edições Vida Nova, 1976, p.189. 50 Stanley M. Horton. Teologia Sistemática. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p.356,357.

13.13-15). Ele redimiu Israel do Egito (Êx 6.6; Dt 7.8; 13.5) e também os remirá do exílio (Jr 31.11). Às vezes Deus redime um indivíduo (Sl 49.15; 71.23); ou um indivíduo ora, pedindo a redenção divina (Sl 26.11; 69.18). Mas a obra divina na redenção é primariamente moral no seu escopo. Em alguns textos bíblicos, a redenção claramente diz respeito aos assuntos morais. Salmos 103.8 diz: “Ele remirá a Israel de todas as suas iniqüidades”. Isaías diz que somente os “remidos”, os “resgatados”, andarão pelo chamado “O Caminho Santo” (Is 35.8-10). Diz ainda que a “filha de Sião” será chamada “povo santo, os remidos do Senhor” (Is 62.11,12).

REDENÇÃO

“O cristianismo não é um circulo, com um só centro, mas, sim, uma elipse, que tem dois focos – as doutrinas da Redenção e do Reino de Deus” (Albrecht Ritschl).

A redenção consiste do processo de RESTAURAR, ao proprietário original, algo que ele perdeu ou vendeu. Apokatástasis.

Em o Novo Testamento, a forma nominal da palavra grega “apokathistemi” (restaurar) é usada apenas uma vez em Atos 3.21 (a)pokata/stasij-Apokatástasis). A palavra significa literalmente estabelecer algo novo em sua ordem original. Esta palavra era usada no mundo secular grego para indicar a volta do legítimo proprietário à posse de sua casa ou fazenda.

Quando a alma é redimida, é então restaurada a Deus.

O corpo será redimido: “... aguardando a adoção de filhos, a REDENÇÃO do nosso corpo” (Rm 8.23).

A terra será redimida: “... até ao RESGATE da sua propriedade...” (Ef 1.14).

Toda a redenção envolve purificação. A Bíblia reconhece apenas dois agentes purificadores: um é o sangue, e o outro é o fogo.

O Ponto de Vista reformado da Redenção: 51

“A cosmovisão reformada se distingue das demais em alguns pontos fundamentais. Primeiro, ela estabelece a autoridade suprema das Escrituras, entendida como a revelação da mente de Deus ao homem como único ponto de partida para a construção de uma cosmovisão essencialmente cristã. Em segundo lugar, ela oferece um escopo integral não- dualista para a formação de uma cosmovisão a partir da união dos três aspectos fundamentais da revelação bíblica, a tríade criação-queda-redenção. E por último salientamos a visão reformada plena da soberania de Deus sobre a criação e o escopo integral da queda e a redenção total de Deus, em Cristo Jesus”.

“Na tradição reformada a graça restaura a natureza, ou seja, o escopo da salvação de Cristo não se aplica apenas à dimensão espiritual do homem, mas à criação toda” (O planeta Terra e todo o Universo).

A redenção envolve a alma, o corpo e a terra toda:

Rm 8.23: “E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo”.

Ef 4.30: “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção”.

Mt 19.28: “E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel” (no Milênio).

Lc 22.29,30: “Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, para que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel” (no Milênio).

As duas grandes palavras proféticas são: 1. Regeneração;

2. Redenção.

A história inteira da humanidade pode ser contada com apenas três palavras:

1.

Geração;

2.

Degeneração;

3.

Regeneração.

A Regeneração consiste do processo de restaurar, ao seu estado original, algo que sofreu um processo de Degeneração.

O termo “regeneração” aparece apenas duas vezes no Novo Testamento (Mt 19.28; Tt 3.5). No evangelho de Mateus, tem um sentido escatológico, referindo-se à restauração de todas as coisas. Certamente a renovação do indivíduo faz parte da restauração universal. Na epístola de Tito, tem um sentido individual e fala da renovação de cada pessoa, bem como da transformação da personalidade humana. Porém, em ambos os casos o agente dessa transformação, é o Espírito Santo.

“Mateus 19:28: “E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel”.

“Regeneração, um novo nascimento. O termo era comum no Estoicismo para as restaurações periódicas do mundo natural. Também era usada em sentido escatológico,

especialmente pelos judeus, para a renovação do mundo na época do Messias. Em Mt 19.28 a palavra é usada em sentido cósmico”.52

Regeneração. É o renascimento da criação. Agora, a criação geme e suporta angústia, mas será redimida do cativeiro quando Cristo voltar (Rm 8.19-22). Grandes mudanças topográficas ocorrerão (Zc 14.4,5,8,10; Is 35.1,2; 55.13). A natureza dos animais ferozes será transformada (Jl 2.22-27; Is 35.2,6,7; Ez 34.26,27), colheitas fracassadas somente ocorrerão para aqueles que deixarem de ir adorar em Jerusalém (Zc 14.16-19). A vida humana será prolongada, mas haverá mortes durante este período (Is 65.20), pois a morte, o último inimigo, só será destruída no final dos mil anos (1 Co 15.24-28; Ap 20.7- 14; Is 25.7,8). Como espiritualizar todas essas predições? Certamente serão cumpridas de maneira literal. Não é filosofia humana, mas, sim, a Revelação Divina, que projeta luz sobre o futuro.

TRIUNFANTE

A morte de Cristo obteve triunfo sobre todos os poderes cósmicos (Cl 2.15). Ele está reinando até que todos os inimigos sejam postos debaixo de seus pés: (1 Co 15.24,25). Seja regentes políticos como Pilatos ou Herodes; ou sejam poderes angelicais, todos estão derrotados na vitória de Cristo na cruz (Cf. Cl 2.15). Há também a vitória escatológica quando a Pedra esmiuçará a estátua (Dn 2) e encherá a terra (Dn 2.35,44,45). O Parente Vingador – Go’el [gr. rhuómenos - r(uo/menoj] tomará vingança e remirá Israel e sua terra. Para Israel, Jesus é o Parente Remidor, para os seus inimigos Ele é o Parente Vingador. (A Pedra esmiuçará a estátua que representa todos os reinos gentios). Ora, o último inimigo a

ser destruído é a morte. Pois se lê: Todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. Mas,

quando diz: Todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos (1 Co 15.24-28). Será estabelecido o Reino de Deus - no qual tanto Israel como a Igreja e os Gentios - as nações justas (o trigo) terão parte no Estado Eterno. E todos serão chamados Povos de Deus: “Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos (no grego está no plural, laoi\-laoí); o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus” (Ap 21.3).

52 ROGER, Cleon e RIENECKER, Fritz. Chave Lingüítica do Novo Testamento Grego. 1ª ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 1985, p. 486.

No documento TEOLOGIA BÍBLICA DO NOVO TESTAMENTO BENTES (páginas 72-78)

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