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CAPÍTULO 5. DESAFIOS PARA A REGULAÇÃO DO FINANCIAMENTO

5.2. Horizontes para mudanças no sistema normativo brasileiro de financiamento

5.2.2. Horizontes no âmbito do poder legislativo: PEC 182/07 e Projeto de Lei n.º

5.2.2.1. Proposta de Emenda à Constituição n.º 182/07

A PEC 182/07, até a data de publicação desta dissertação, já foi votada em dois turnos na Câmara dos Deputados, e foi encaminhada para discussão e votação por parte do Senado Federal253, tendo sido recebida por esta Casa em 20 de agosto de 2015254.

253 Conforme rito estabelecido pelo art. 60, § 2º da Constituição Federal, a proposta de emenda constitucional

deve ser discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.

254 É digna de nota a polêmica que envolveu a votação de primeiro turno da PEC 182/07 na Câmara dos

Deputados, que culminou, inclusive, com impetração de mandado de segurança contra ato do Presidente da Câmara perante o STF (MS 33.630 DF) por 61 (sessenta e um) deputados. O mandado de segurança foi impetrado contra ato do Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ao colocar em votação, em 27.5.2015, a Emenda Aglutinativa nº 28 à Proposta de Emenda Constitucional nº 182/2007, não obstante a rejeição, pelo Plenário, no dia anterior, da Emenda Aglutinativa de nº 22, ambas relativas à constitucionalização do financiamento privado de campanhas políticas. Relata a inicial, que, debatida a reforma política na Câmara dos Deputados, em Comissão própria, teve esta seus trabalhos encerrados, por deliberação dos líderes partidários, em 25.5.2015, antes da votação do Relatório Final. Novo texto, preparado por Relator designado para o Plenário, o Deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), Presidente da Comissão Especial dissolvida, teria sido apresentado em 26.5.2015 aos parlamentares para votação individualizada, item por item. Um dos pontos específicos desse Substitutivo, referente ao financiamento de campanha, seria o acréscimo de um § 5º ao art. 17 da Constituição Federal, com expressa permissão aos partidos políticos de recebimento de doações de recursos ou bens de pessoas físicas ou jurídicas. Submetida, contudo, ao Plenário, em 26.5.2015, a Emenda Aglutinativa nº 22/2015, que unia ao Substitutivo – em que previstas doações de pessoas físicas e jurídicas apenas aos partidos políticos – proposta contida na Emenda nº 5/2015, em que facultado, ainda, o financiamento de pessoas físicas e jurídicas aos candidatos. Segundo a impetração, o Presidente da Câmara, autoridade apontada como coatora, teria informado ao Plenário que a votação dessa Emenda Aglutinativa tornaria prejudicado o exame das propostas anteriores (Substitutivo e Emenda nº 5/2015). Ainda a teor da peça de ingresso, rejeitada a Emenda Aglutinativa nº 22 pelo Plenário da Câmara dos Deputados em 26.5.2015, no dia seguinte, 27.5.2015, foi submetida à votação – e aprovada - nova Emenda Aglutinativa ao Substitutivo, a de nº 28, de autoria do Deputado Celso Russomano, autorizando o financiamento privado de pessoas físicas e jurídicas aos partidos políticos e o financiamento privado apenas de pessoas físicas aos candidatos. Com base nesses dados, os impetrantes apontaram três inconstitucionalidades: (i) violação do art. 60, § 5º, da Constituição Federal, que prevê que a matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa; (ii) violação do art. 60, I, da Constituição Federal, porquanto a Emenda Aglutinativa nº 28 teria natureza material de uma nova proposta de emenda à Constituição, a exigir número mínimo de subscrições (1/3), não observado; e, (iii) violação do art. 60, § 4º, II e IV, da Constituição Federal, no tocante ao tema das cláusulas pétreas, presente a ADI nº 4650/DF, ajuizada nesta Suprema Corte pela OAB com o objetivo de questionar o financiamento empresarial de campanhas diante dos princípios republicano e democrático, e do direito à igualdade. Nos pedidos, os impetrantes requereram que fosse deferida liminar

inaudita altera pars, para que fosse imediatamente suspensa até o julgamento final de mérito do mandado de

segurança a tramitação da PEC 182/2007, preservando-se o direito líquido e certo dos impetrantes em não ter que participar de deliberação sobre proposição conduzida de forma evidentemente inconstitucional. No mérito, requereu-se a procedência da ação e concessão em definitivo da segurança para que a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 182/2007 seja arquivada, preservando-se o direito líquido e certo dos impetrantes em não ter que atuar na discussão e votação de proposição conduzida de forma evidentemente inconstitucional. A relatora do caso, Ministra Rosa Weber, não reputou presentes os requisitos necessários à concessão da liminar,

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A PEC 182/07 tem por objeto reformar as instituições político-eleitorais, alterando os artigos 14, 17, 57 e 61 da Constituição Federal, e criar regras temporárias para vigorar no período de transição para o novo modelo, acrescentando o art. 101 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Suas principais disposições, nos moldes como foi aprovada pela Câmara dos Deputados, são: permitir doações de pessoas físicas ou jurídicas a partidos e apenas de pessoas físicas a candidatos, nos limites da lei; proibir a reeleição para os cargos executivos; limitar o acesso aos recursos do fundo partidário e aos programas gratuitos de rádio e televisão aos partidos que tenham elegido pelo menos um representante no Congresso Nacional na eleição anterior; estabelecer a fidelidade partidária para todo detentor de mandato eletivo, mas facultando a desfiliação nos trinta dias após a promulgação da Emenda Constitucional, sem prejuízo do mandato e desconsiderada a alteração do quadro partidário para fins de distribuição dos recursos do Fundo Partidário e acesso gratuito ao tempo de rádio e televisão; reduzir as idades mínimas para o exercício de mandatos eletivos, exceto para Presidente e Vice-Presidente da República; reduzir os requisitos para a apresentação de projeto de lei de iniciativa popular; estabelecer que as Resoluções e atos normativos do TSE só terão eficácia após decorridos dezoito meses da data de sua vigência; determinar a impressão e confirmação do voto pelo eleitor na urna eletrônica; vedar a reeleição para os mesmos cargos nas Mesas da Câmara e do Senado; estabelecer condições específicas de elegibilidade para policiais e bombeiros militares.

No que tange ao tema do financiamento político, o texto aprovado pela Câmara traz as seguintes disposições:

Art. 1º O art. 17 da Constituição Federal passa a vigorar acrescido dos seguintes §§ 5º, 6º e 7º:

“Art. 17. (...)

§ 5º É permitido aos partidos políticos receber doações de recursos financeiros ou de bens estimáveis em dinheiro de pessoas físicas ou jurídicas.

§ 6º É permitido aos candidatos receber doações de recursos financeiros ou de bens estimáveis em dinheiro de pessoas físicas.

§ 7° Os limites máximos de arrecadação e gastos de recursos para cada cargo eletivo serão definidos em lei.”

afastado o reconhecimento da invocada inconstitucionalidade, em exame preliminar da controvérsia. Reiterou sua compreensão, externada em vários julgados, à luz da independência e harmonia dos poderes da União proclamadas no art. 2º da Lei Maior, de que a interferência do poder judiciário na pauta política do poder legislativo só se justifica na presença de manifesta inconstitucionalidade, que em juízo de delibação não reputo demonstrada.

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(...)

Art. 3º O art. 17 da Constituição Federal passa a vigorar acrescido do seguinte § 8°: “Art. 17. (...)

§ 8º O direito a recursos do fundo partidário e de acesso gratuito ao rádio e à televisão previsto no § 3º deste artigo é reservado exclusivamente aos partidos que tenham concorrido, com candidatos próprios, à eleição geral para a Câmara dos Deputados e eleito, pelo menos, um representante para qualquer das Casas do Congresso Nacional”.255

Até a publicação do presente estudo, a PEC 182/07 ainda não havia sido apreciada pelo Senado Federal. Paralelamente a ela, tramita em estágio ainda mais avançado o Projeto de Lei n.º 5.735/13, que, em 10 de setembro de 2015, foi encaminhado pela Câmara dos Deputados à análise de sanção presidencial, nos termos do art. 66256 da Constituição Federal. Conforme previsto no §3º do art. 66257 da Carta Magna, a Presidente da República terá o prazo de 15 (quinze) dias para decidir se sancionará ou se vetará o Projeto de Lei, sob pena de, no seu silêncio, ser considerado sancionado.