• Nenhum resultado encontrado

Publicações sobre o ProUni: defesas e críticas

No documento 2017JaneKelly (páginas 44-46)

O ProUni traz, em sua trajetória e concepção, aspectos considerados por muitos como positivos e, por outros, negativos. Neste último caso, as críticas se efetivam pela compreensão de que o programa é fruto de uma lógica mercantil, de apoio e financiamento privado, que serve para fortalecer os laços particulares, enfraquecendo e deixando de lado os investimentos nas IES públicas.

Essas afirmações têm sido muito discutidas nos últimos anos e demonstram que o ProUni tem também suas fragilidades, sendo, por muitas vezes, controverso. Não há dúvidas de que estar situado na “fronteira entre o público e privado” o faz ser um programa a ser repensado periodicamente. (PEREIRA E SILVA, 2016).

No entanto, o acesso às IES públicas e estatais, no Brasil, também tem sido historicamente marcado pela seletividade desde sua criação. O acesso e a permanência também é fruto de pesquisas, contradições e grandes indagações. Geralmente, em cursos de alta concorrência, conquistam vagas em universidades estaduais e federais aqueles alunos que estudaram em escolas particulares e, assim, possuem subsídios – capital cultural – para participarem dos vestibulares e garantirem sua vaga. (BERTOLIN, 2013).

Moreira e Lulianelli (2016) elencam as dissertações e teses escritas no período de 2007 a 2012, no Brasil, que possuem por temática central o ProUni. Apontam que esses trabalhos estão “Entre o discurso da pseudodemocratização do acesso e o da inclusão”, marcando essa dualidade em que, por um lado, o ProUni é visto enquanto uma forte política

de expansão e, por outro, enquanto investimento privado para fins mercantis, caracterizando uma falsa democratização, segundo alguns autores. Esse texto demonstra um pouco das concepções que norteiam as discussões acerca do ProUni.

De um lado, temos a argumentação dos que acreditam que, mesmo em âmbito privado, o ProUni constitui a democratização do acesso e da inclusão de alunos de meios populares; por outro lado, há argumentos enfatizando que se trata de uma falsa democratização, – por isso, o prefixo pseudo acompanhado de democratização –, entendendo-se que, ao colaborar com o crescimento das universidades privadas, o Estado está incentivando práticas mercantis, neoliberais, e dando força para a transformação da educação em uma mercadoria.

Moreira e Lulianelli (2016) apontam que, logo após a instituição do ProUni, em 2005, muitos artigos sobre o Programa começaram a ser publicados em periódicos; no entanto, somente a partir de 2007 é que começaram a surgir pesquisas de tese.

Utilizando o descritor “ProUni”, Moreira e Lulianelli (2016) localizaram 26 teses no período de 2007 a 2012, disponíveis na base de dados da Capes. A maioria das produções eram provenientes dos cursos de pós-graduação em Educação.

Sobre o conteúdo das teses, os autores destacam que:

A exploração inicial da temática, nas teses, permite afirmar, seguramente, que todas tratam da oposição público versus privado, assunto recorrente nos debates educacionais brasileiros relacionados à Educação Superior. (MOREIRA; LULIANELLI, 2016, p. 103).

Nota-se que, inicialmente, as produções acadêmicas foram norteadas pela discussão em torno da fronteira entre o público e o privado, que constitui o ProUni.

As críticas ao programa partem, então, desse embate: o investimento em espaços privados. O sociólogo Wilson Mesquita de Almeida, em entrevista para a Revista Carta Capital, publicada em 19 de dezembro de 2014, aponta que os incentivos fiscais oferecidos às universidades privadas, por intermédio do ProUni, constituíram pequenas universidades em grandes grupos de educação com ações comercializadas até mesmo na Bolsa de Valores. Sua preocupação se dá, então, em refletir sobre a qualidade do ensino e da educação oferecidos nesses espaços. Wilson chama tais instituições de privadas lucrativas, a fim de diferenciá-las das instituições comunitárias, confessionais, fundações e autarquias municipais, em que o lucro não é revertido aos proprietários.

A preocupação está em considerar que a educação pode estar sendo convertida em mercadoria e que não se tenha nenhum controle sobre a qualidade que se oferece nessas instituições. Estudiosos e acadêmicos ressaltam também que tais ações e programas não

constituem ações efetivas de resolução dos problemas da Educação Superior no País, sendo então uma maquiagem aos problemas sociais.

Trabalhos mais recentes buscam, para além da contradição existente no ProUni, a compreensão da condição dos estudantes bolsistas (BROCCO, 2015): como esses alunos têm se mantido, como avaliam o programa, quais as melhorias sugerem etc. Autores como Faceira, 2006; Anhaia e Neves, 2016; Marques e Silva, 2016 veem no ProUni uma forma de democratização do acesso, em virtude de seus alcances, mas têm, também, consciência dos seus limites.

Faceira (2006) aponta ainda que

Pensar o ProUni como política de inclusão social é ressaltar o significado dessa categoria teórica (“inclusão social”) como sinônimo do resgate da cidadania, da plenitude dos direitos sociais, da participação social e política dos indivíduos (cidadãos) em todos os aspectos da sociedade. Isto é, a inclusão social é caracterizada pelo exercício da cidadania plena ou emancipatória, pela participação social, política e cultural, além do acesso aos direitos básicos. Nesse sentido, a efetivação de uma política pública voltada à inclusão social no ensino superior implica na garantia do acesso e permanência do aluno, na equidade de oportunidades e na efetivação da democratização do espaço escolar. (FACEIRA, 2006, p. 1603- 1604).

A autora destaca a importância de se pensar o ProUni enquanto uma política de inclusão social, consolidando a premissa de equidade de oportunidades aos alunos oriundos de classes populares.

É dentro dessa perspectiva que se estrutura esta pesquisa, compreendendo que o ProUni possui seus limites e que, por vezes, é controverso, no entanto, é uma política que tem apresentado avanços significativos ao contexto da Educação Superior brasileira: tem transformado a trajetória de alunos de classes populares, que veem no programa a oportunidade de estabelecer relações concretas com o saber e de oferecer melhores condições de vida a si e aos seus familiares.

No documento 2017JaneKelly (páginas 44-46)