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QUADRO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR COM BASE NOS DADOS DO CENSO

2 CONTEXTO E MARCO NORMATIVO DO ENSINO SUPERIOR PÓS LDB

2.1 QUADRO ATUAL DO ENSINO SUPERIOR COM BASE NOS DADOS DO CENSO

CENSO DE 2012

Segundo dados do Censo da Educação Superior 2012 - Resumo Técnico (BRASIL, 2014), elaborado pelo INEP, 2.416 IES declaram e finalizaram o Censo 2012, indicando 304 públicas e 2.112 privadas. Em termos percentuais, os números são expressivos: 12,6 % das IES são públicas e 87,4% são privadas.

Os números refletem o panorama do ensino superior no Brasil e apontam para o crescimento e a consolidação das IES privadas no segmento educacional. As categorias administrativas das IES são classificadas em: I - universidades; II - centros universitários; e III - faculdades integradas, faculdades, institutos ou escolas superiores.

As universidades caracterizam-se pela oferta regular de atividades de ensino, de pesquisa e de extensão, atendendo ao que dispõem os artigos 52, 53 e 54 da Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 19969. De modo genérico, a LDB, em seu Art. 52, afirma que as universidades são instituições pluridisciplinares de formação de quadros profissionais de educação superior, de pesquisa e de extensão e que se caracterizam pela “produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural quanto regional e nacional”.

Em 15 de abril de 1997, foi publicado o Decreto n° 2.207 que criou a figura dos centros universitários (instituições não universitárias com autonomia para criar cursos de graduação) e citou, pela primeira vez, as entidades mantenedoras com fins lucrativos que estão submetidas à legislação que rege as sociedades mercantis (BERTOLIN, 2009).

Do número total de IES, em relação à Organização Acadêmica, o Resumo Técnico de 2012 aponta que 193 são universidades, 139 são centros universitários, 2.044 são faculdades

9 Decreto n° 3.860. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/DecN3860.pdf>. Acesso em: 11

jan. 2013

instituições sem detalhar quantas são públicas ou privadas. Somente os Institutos Federais (IF) e Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), que somam 40 IES públicas e de âmbito federal (INEP, 2014).

Há uma variação positiva do número de IES, em todas as organizações acadêmicas, no período de 2009 a 2012. Predominam as faculdades, com participação de 84,6% no ano de 2012, em seguida aparecem as Universidades, com participação de 8,0%, e os centros universitários, representando 5,8% das IES. Por último, aparecem os IFs e os Cefets, com 1,7% (Resumo Técnico, 2012, p. 50).

Essa realidade aponta para inúmeros desdobramentos, uma vez que a educação é, conforme a CF de 1988, dever do Estado e direito do cidadão (BRASIL, 1988). Ao mesmo tempo, a CF, apesar do marco representativo do direito universal, possibilita a atuação da iniciativa privada pelo exposto no artigo 209: “O ensino é livre à iniciativa privada”. E, no seu artigo 213, estabelece que recursos públicos também seriam destinados às escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, comprovadamente sem fins lucrativos (SILVA; SILVA, 2012).

Luiz Antônio Cunha (2007) esclarece que na LDB reconhece, “pela primeira vez na legislação brasileira, a possibilidade de lucro para as instituições privadas de ensino: as particulares, no sentido estrito, definidas, implicitamente, por oposição às instituições privadas sem fins lucrativos (comunitárias, confessionais e filantrópicas)”.

Ao se referir à expansão das IES, Sguissardi e Silva Júnior (2001, 2005) traçam um panorama histórico e político que se inicia a partir da Reforma do Estado10 e argumentam que há um “processo político de ajuste institucional, com origem no Estado moderno, para a conformação do ser social e de suas atividades, assim como para a produção de uma nova cultura” (2005, p. 24). Enfatizam a importância da universidade para o desenvolvimento de um país e elencam diversos motivos que justificariam uma nova lei que regulamente o ensino superior, dentre esses destaca-se:

g) a falta de efetiva regulação e controle das prestadoras privadas desse serviço público essencial, o que tem contribuído para sua expansão desenfreada, sem a esperada e necessária qualidade, e para a mercantilização progressiva do saber universitário;

10 Os autores se referem à Reforma do Estado levada a cabo no governo FHC com foco na restrição da esfera

pública e ampliação da privada. Ver BRESSER PEREIRA, Luís Carlos, (1996). Crise econômica e reforma do Estado no Brasil: para uma nova interpretação da América Latina. São Paulo: Editora 34.

h) a ausência da pesquisa e a baixa qualidade do ensino, especialmente nas quase duas mil instituições privadas de ensino superior do país (2005, p. 22).

No contexto apresentado por esses autores, a LDB não tem alcance para efetivamente atender à questão do que deveria ser contemplado com a reforma da lei acerca da educação superior. Não se trata apenas de promover o acesso ao ensino superior, mas de efetivamente garantir um ensino de qualidade em suas múltiplas dimensões, incluindo o tripé ensino, pesquisa e extensão. Os autores apontam que, a despeito dos números serem expressivos em relação à abertura de cursos ou instituições, não se encontra respaldo na qualidade do ensino e notadamente na ausência do desenvolvimento da pesquisa e da extensão.

No caso da IES Alfa, tais fatores não podem ser assumidos em sua totalidade. Tendo em vista a IES que está sendo analisada, pois, ao mesmo tempo em que se encaixa nessa perspectiva da expansão desenfreada, também tem envidado esforços na produção de pesquisa, em especial nos programas de pós-graduação em nível de especialização e mestrado.

A seguir apresenta-se o Gráfico 1, que mostra o número de IES por categoria administrativa e a evolução das matrículas na educação superior nos setores público e privado. Notadamente se acentua o crescimento das IES no setor privado, considerando que majoritariamente na categoria administrativa “faculdades”, que são privadas, tornando aguda, em muitos casos, a existência apenas do ensino em detrimento da pesquisa e da extensão, conforme apontam Sguissardi e Silva Júnior (2001, 2005).

GRÁFICO 1: Percentual do número de Instituições de Educação Superior e percentual do número de matrículas, por Organização Acadêmica - Brasil - 2012 Fonte: Brasil. MEC/Inep. Gráfico elaborado pela Deed/Inep.

A LDB possibilitou e estimulou o crescimento das Faculdades com oferta única ou pouca oferta de cursos e de pequeno porte, pela prerrogativa do estabelecimento de variados tipos de IES. Os dados do Resumo Técnico de 2012 apresentam dados relativos à Organização Acadêmica e Matrículas e faz uma ressalva de que

Apesar de o percentual de 84,6% das IES corresponder a faculdades, essa organização acadêmica representa apenas 28,8% do total de matrículas nos cursos de graduação. Por outro lado, as universidades são 8,0% do total de IES, mas detêm a maioria das matrículas da graduação, ou seja, as universidades têm uma média de matrículas superior a todas as outras organizações acadêmicas (Resumo Técnico, 2012, p. 50)

Apresenta ainda a relação entre o tamanho da IES e o volume de matrículas. 58,6% das IES possuem até 1.000 alunos matriculados, das quais 92% são privadas. Por outro lado, apenas 6,2% das instituições têm mais de 10.000 matrículas, com 42% de IES públicas e 58% de IES privadas. A Tabela 1 apresenta percentual do número de matrículas de graduação presencial, por categoria administrativa e organização acadêmica, segundo a região geográfica.

TABELA 1: Percentual do número de matrículas de graduação presencial, por Categoria Administrativa e Organização Acadêmica, segundo a Região Geográfica - Brasil - 2012

Fonte: Brasil. MEC/Inep. Gráfico elaborado pela Deed/Inep.

Em relação ao número de docentes em exercício, no aspecto relativos à forma de contratação, por Regime de Trabalho, o Gráfico 2 apresenta os dados de contratação por Tempo Integral, Parcial e Horista nas IES privadas e públicas.

GRÁFICO 2: Evolução do número de funções docentes em exercício, segundo o regime de trabalho - Brasil - 2009-2012

Fonte: MEC/Inep. Gráfico elaborado pela Deed/Inep.

Quanto à forma de contratação docente na IES privada, acentua-se que a contratação mais frequente nas IES do setor privado é do professor horista, ou seja, aquele que é remunerado pelas horas de trabalho em sala de aula.

Para as funções docentes, segundo a categoria administrativa realçam as diferenças entres as redes pública e privada com relação ao regime de trabalho. Observa-se uma desproporção do número de funções docentes em regime de trabalho em tempo integral nas redes pública e privada. Enquanto na rede privada as funções docentes em tempo integral mantêm-se estáveis, na rede pública observou-se uma variação positiva mais acentuada entre 2009 e 2012 em um patamar mais elevado. Apesar de o número de horistas ter diminuído nas instituições privadas, esse regime de trabalho ainda prevalece. Ao contrário, na rede pública os horistas representam a minoria dos contratos de trabalho (Resumo Técnico, 2012, p. 73)

Em relação à titulação docente, o Gráfico 3 ilustra que enquanto nas IES privadas, os maiores percentuais são para o Mestrado e, nas instituições públicas federais, concentram-se no Doutorado. Os percentuais atuais nas IES privadas são os seguintes: 36,7% especialistas, 45,5% mestres e 17,8% doutores. Nas IES públicas, os percentuais apresentados nas federais são de 13,5% especialistas, 28,6% mestres e 57,8% doutores.

GRÁFICO 3: Percentual de funções docentes, por Categoria Administrativa, segundo o grau de formação - Brasil - 2012

Fonte: MEC/Inep. Gráfico elaborado pela Deed/Inep.

A expansão do setor deixa evidente que a educação superior no Brasil tem sido encarada pela iniciativa privada como um negócio promissor. Vale (2012) sugere que é preciso “atentar para a extrema heterogeneidade desse novo empresariado, que continha desde proprietários de escolas e colégios até alguns empreendedores, os quais se voltam para o atendimento de uma demanda que o Estado não acolhia”.

Cunha (1988, p. 322), citado por Vale (2012), afirma que “capitais tradicionalmente aplicados no ensino de 2º grau, capitais recém-investidos em cursinhos e capitais de outros setores de atividade transferiram-se para a exploração do promissor mercado do ensino superior”.

Atualmente, está em curso uma mudança importante que tem sido a formação de grandes oligopólios, configurada pela compra/fusão das IES privadas e pela abertura de capitais dessas empresas nas bolsas de valores. A esse respeito, Ruas (2012) argumenta que

A mercadorização da educação superior brasileira, que tem como essência a lógica do mercado, impulsiona, cada vez mais, empresários, hoje conhecidos como a nova burguesia de serviços educacionais, interessados em ampliar seus negócios na área educacional, a investir maciçamente no setor educacional. São investidores, nacionais e internacionais, que passam a encarar a educação superior no Brasil como um mercado promissor e altamente lucrativo, provocando movimentos de ampliação, aquisição e fusão das Instituições de Educação Superior (IES), formando grandes oligopólios que passam a concentrar boa parte do alunado do país (RUAS, 2012, p. 2).

Da forma como ocorre atualmente no ensino privado, a educação superior é conduzida num cenário em que predominam o ensino e “onde o financiamento ocorre com a participação ativa do consumidor de serviços educacionais, numa clara definição da educação como mercadoria” (MANCEBO, 2010, p. 75).

Apoiado nos dados do Resumo Técnico 2012 do INEP buscou-se evidenciar a expansão do setor privado num dado período, bem como situar o campo do trabalho docente. Atualmente o segmento privado configura-se não apenas como um campo de investimento do capital como também se insere em sua universalização dos investimentos. A existência de números tão expressivos em termos do crescimento do setor enseja a pesquisa da atividade do trabalho docente nesse campo em movimento.

A seguir é apresentada a trajetória da IES Alfa sendo enfatizada a gestão praticada e, em especial, é destacado o Campus Beta, por ser o local onde foi realizada a observação da atividade de trabalho da professora Melissa.