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III. A PROPOSTA ATUAL

3.2. O QUE REALMENTE ENVOLVE A QUESTÃO DA RELAÇÃO ENTRE AÇÃO E PENSAR

A aporia com a qual estamos lidando presentemente ao investigar a questão da relação entre pensar e agir, a saber, o dualismo entre lógica e moral, embora pareça insuperável para o esforço reflexivo, não se dá na concretude dos fatos. Em outras palavras, o conflito entre lógica e moral pode e mesmo exige ser resolvido para a ciência porque ele é resolvido na vida. Na vida, a ação voluntária é ao mesmo tempo ideal e material, sujeita à lógica e à moral. A solução desse problema, todavia, é realmente impossível caso se considere moral e lógica com se o faz habitualmente, ou seja, como significando entidades fixadas pelo pensar.

O próximo passo a ser dado por nossa investigação filosófica se destina a revelar o verdadeiro sentido da relação que se estabelece entre moral e lógica, pensando essa relação de modo alternativo a como se faz habitualmente, mas em estreita consonância com os dados da realidade a nós acessíveis, de modo a tomar o que é dado por si, sem a ele nada acrescentar ou tolher. Esse é o sentido da dialética blondeliana, a qual nos referíamos anteriormente: o estudo de hipóteses explicativas antagônicas, buscando compreender nos fenômenos, a que elas dizem respeito, o que não pode ser negado para determinar o que elas possuem de contraditório. Em outros termos, ir do que é hipotético ao que é necessário.

Para tanto, seguindo as indicações blondelianas, começaremos pelo estudo da lógica reflexiva, mais especificamente das noções lógicas, objetivando explicitar o que realmente implicamos quando as formulamos. Procuraremos responder a três questionamentos: a) como tomamos consciência das noções lógicas e qual a sua real gênese? b) Como e por que isolamos as noções lógicas de suas origens vitais? c) Como essas noções lógicas se dirigem à ação e servem à vida moral?

3.2.1. A Gênese das Noções Lógicas

Anteriormente nos referimos ao sentido real do princípio de contradição, mais especificamente, ao fato de que a contradição não se dá de fato. Ora, isso poderia sugerir que esse princípio encontraria nos fatos uma ocasião indireta de seu dar-se: como a contradição não pode ser observada nos fatos, consequentemente, nos fatos se observa a não contradição. Com efeito, a contradição diz respeito a uma oposição radical entre duas proposições ou juízos, regulada por uma lei específica, a lei de (não) contradição, segundo a qual entre proposições ou juízos contraditórios se um é verdadeiro o outro é necessariamente falso e vice-versa. Aparentemente, essa lei seria apenas a transcrição (uma máxima), do fato de que a contradição não existe de fato, como se a verdade e a falsidade de um enunciado pudesse ser traduzida, respectivamente, como a existência ou não existência de uma entidade. Assim, se o princípio de contradição traduz uma lei de regulação da realidade, então, aparentemente, esse princípio é abstraído da própria realidade, ou seja, do fato de que os fatos não comportam contradição. A lei formal seria, então, uma representação fiel da lei do real, uma abstração de uma lei concreta.

Todavia, observando mais atentamente os dados dessa questão, o procedimento que leva à última conclusão não é absolutamente válido. Fundamentalmente, a estratégia que faz corresponder real e formal, ou seja, que faz o formal ser interpretado como uma abstração do real, não se sustenta, porque, para tanto, deveríamos dizer que a contradição entre enunciados corresponderia a uma relação entre entidades contraditórias, o que factualmente, como se disse, é impossível. A valência real do princípio de (não) contradição não é que a não contradição se dá nos fatos, mas que a contradição não se dá de fato, porque os fatos são simplesmente o que são, ou seja, sem quaisquer relações de oposição. Portanto, a respeito do princípio de contradição é necessário sustentar que, apesar de seu sentido real, ele não pode ser abstraído dos fatos: “os fatos não podem nem o produzir, nem o sugerir, nem mesmo ser a ocasião direta

ou indireta de sua aparição na consciência” (Principe élémentaire, p. 371). Mas, o que dizer a respeito de outros princípios como o de identidade?

De modo semelhante à contradição, a identidade não se realiza no mundo, nem de forma a priori, nem a posteriori. Blondel dirá que ele “é um princípio acósmico” (Principe élémentaire, p. 371). Com efeito, o princípio de contradição, como o princípio de identidade ou qualquer outro princípio lógico, funcionam como leis formais, aplicáveis a uma infinidade de casos especiais, ao modo da aplicação de um juízo universal a casos particulares. Assim, por exemplo, o princípio de identidade pode ser enunciado, ao modo leibniziano, da seguinte forma: “os indiscerníveis são idênticos”. Ora, a aplicação desse princípio à realidade deve significar que toda vez que entidades sejam tão semelhantes a ponto de não poderem ser de nenhum modo distintas, elas serão idênticas. Entretanto, como ocorre com o princípio de contradição, mais uma vez é impossível que o princípio de identidade seja dado factualmente. É impossível que os fatos possam reproduzi-lo concretamente porque é impossível que se deem entidades, no plural, indiscerníveis.

O que se diz do princípio de contradição e do princípio de identidade se pode dizer de qualquer outro princípio lógico: leis lógicas não se dão nos fatos. A lei lógica que necessariamente me obriga a opor o juízo “alguma maçã é vermelha” a outro juízo como “Alguma maçã não é vermelha” não ocorre nos fatos. A maçã é o que é e isso é tudo. Os fatos são simplesmente, sem nenhuma iniciativa opositiva. As leis lógicas dizem respeito não aos fatos, mas a nossas afirmações e negações que pretendem dizer respeito aos fatos, aos nossos juízos.

Não obstante, os fatos são algo para mim, compõem minha consciência distinta e, assim sendo, submetem-se ao influxo das leis lógicas que traduzem seu funcionamento. Por um lado, não há como negar que a nossa consciência distinta exista, que ela intenciona algo além de seu estado atual, além de si mesma, independentemente de que esse algo se realize de fato ou não. Por outro, também não há como negar que a consciência distinta sempre atual, que se dá sempre se atualizando, não exista senão como ação de produção de sentido, regulada por leis que permitem a inteligibilidade do percebido e que são a expressão de seu modo de funcionamento. Em verdade, produzir sentido é perceber inteligivelmente; é sair da apatia e da indiferença em relação aos dados percebidos; é organizar a percepção, desde seus estados mais primitivos, de modo lógico; é discriminar o que se percebe.

Em suma, a consciência é o lugar de intersecção entre as leis do pensar e o que é pensado. De fato, a consciência é como que a síntese de ambos. A existência da consciência distinta, que é sempre a consciência de uma oposição, de uma discriminação, de uma relação,

é prova de que existe uma coação necessária entre o pensar e o que é pensado. Sem a novidade do que, não sendo originariamente consciência, é revelado na consciência fazendo-se fato para ela, não haveria modo de explicar sua capacidade de discriminar, opor e relacionar. Mas, a consciência distinta aí está: relacionando, opondo e discriminando, segundo leis próprias de funcionamento que, por sua vez, não seriam nada se a apatia e a indiferença não fossem tão estranhas a essa mesma consciência distinta; que, enfim, não seriam nada se a coação entre o pensado e as leis do pensar não se desse como o que é: condição da consciência distinta.

Mas não acabamos de afirmar que os princípios lógicos são acósmicos? Como entender que o que é pensado — os fenômenos vividos ou dados da vida — e o que parece ser a lei do pensar — a lógica — se relacionam e se relacionam necessariamente já que a consciência distinta existe? Como no seio da heterogeneidade qualitativa dos dados da vida, que a consciência reconhece em suas luzes e trevas, introduzem-se as noções lógicas de contraditório, contrário, outro, relativo e tantas outras possíveis?

Uma resposta a essa questão não pode ignorar a complexidade dos elementos do problema aí envolvido. De uma parte, afirmar simplesmente que as noções lógicas são a condição a priori do pensar, deixa o dualismo que estamos procurando superar intocado e o acesso à moral e sua materialidade comprometido. Além disso, afirmar que os princípios lógicos são abstraídos da realidade, a posteriori, como representação de leis que existem concretamente, contraria o fato de que tais princípios não se dão de fato.

Para explicar como as noções lógicas se introduzem na experiência, no nosso viver, é preciso considerar o ponto de contato entre pensar e vida. É preciso partir do ponto onde o que é pensado é reconhecido como imanente à representação que dele se faz e, ao mesmo tempo, como transcendente e mais rico que essa representação, já que ela não mostra dele senão aspectos, parcialidades. É preciso partir do ponto onde se reconhece que a parcialidade do pensar é experienciada. É preciso partir da vida, da consciência em ato — pensamento em ato —, onde se dá em realidade a síntese entre o que é pensado e as leis do pensar, e procurar responder à pergunta que versa sobre a gênese das noções lógicas que as traduzem. É preciso explicar a genealogia vital das noções lógicas.

De fato, a perspectiva desse problema deve ser revolucionada. Sua solução exige uma atitude filosófica engajada na vida. O que isso significa? Significa adotar, como ponto de partida, uma reinterpretação revolucionária da filosofia como tarefa. A filosofia não é o esforço por representar a realidade ou por fundamentar a adequação entre pensar e ser, como se ser e pensar pudessem ser significados impunimente a partir de uma perspectiva que os opõem na

forma do dualismo subjetividade-objetividade. Diversamente, é preciso interpretá-la como uma tarefa, como um projeto de vida.

Limitados pelas dimensões do texto que é objeto de nossa presente leitura, não teríamos como explicar pormenorizadamente como poderíamos interpretar a filosofia como tarefa. Não obstante, as luzes que o anterior estudo do Le point de départ nos forneceram são de grande apoio. De que tarefa estamos falando? Da tarefa de fazer uso do pensar reflexivo para elucidar o que Blondel chama de prospecção e, assim, contribuir para que a ação realize mais perfeitamente seus fins.

Como já tivemos ocasião de observar, a prospecção é um conhecimento direto e imediato que acompanha nossa ação e que permite que ela possa ser realizada sem necessidade de envolver a cada decisão e ato uma análise exaustiva de todas as suas condições. É o conhecimento espontâneo de que dispomos no próprio momento da ação. A reflexão ou especulação, por sua vez, é um conhecimento teórico, abstrato e representativo da ação, que nos permite traduzi-la em ideias, que podem ser comunicadas. É preciso compreender, entretanto, que a reflexão não é um fim em si mesmo, mas um meio de levar uma inteligência sempre maior à prospecção. Tornando a prospecção inteligível, a reflexão permite que essa última seja enriquecida e se potencialize em sua capacidade de aperfeiçoar a realização da ação. Isso fazendo, não só a prospecção se expande em sua aptidão operativa, como também a reflexão se transforma. Iluminando a prospecção, a reflexão também é enriquecida em sua inteligência da ação. Em suma, por esse processo prospecção e reflexão são mutuamente beneficiadas, em favor último da realização da ação e, consequentemente, do progresso da vida em direção a sua consumação — como veremos adiante —, que se faz por meio da ação.

Compreendendo que a especulação — e que a lógica reflexiva, que constitui a sua essência e cuja essência, por seu turno, é o princípio de contradição — não se fecha em si mesma, mas se abre na direção da elucidação da prospecção e do progresso da vida, compreender-se-á que a origem das noções lógicas deve ser buscada levando em conta o próprio destino da reflexão. Evite-se, a todo custo, pensar isoladamente reflexão e lógica, por um lado, e prospecção, por outro, e se abrirá um caminho promissor de superação de qualquer dualismo envolvido na relação entre pensar e agir, lógica e moral.

Partindo dessa nova perspectiva, Blondel é capaz de esclarecer a gênese das noções lógicas, que fundamentalmente funcionam como leis lógicas de oposição: “Porque, espontaneamente, cremo-nos capazes de modificar as coisas, adquirimos a ideia de que elas poderiam ser outras” (Principe élémentaire, p. 372). O modo em que isso ocorre é o seguinte: de um lado, nosso automatismo psicológico insere seu dinamismo na engrenagem dos fatos; de

outro lado, o choque entre nossos desejos e exigências nos dá a consciência de que temos uma capacidade relativa de mudar os fenômenos, de adaptá-los mais ou menos às exigências de nossa atividade, ao mesmo tempo, determinada e determinante. Assim, não é de modo a priori que “nos conhecemos desejosos e capazes de agir sobre as coisas” (Principe élémentaire, p. 372). Diversamente, “nós afirmamos retrospectivamente que um possível, diferente do real, foi possível e se conserva concebível. Assim, após nossa iniciativa prática e de nossa ação, ao mesmo tempo, serva e senhora” (Principe élémentaire, p. 372).

Em suma, são as tendências originais, os postulados práticos,122 as exigências de nossa ação que nos permitem conceber a vida lógica. As regras do pensar e as ideias possuem sua gênese primeira na ação. As coisas e os atos não são para nós simplesmente diferentes uns dos outros de modo abstrato, mas na medida em que se assimilam à nossa ação. A oposição diz respeito ao sentido que as coisas e os atos possuem em relação ao nosso destino, em relação à tarefa que o pensar descobre como própria: “Isto significa que o princípio mesmo da ideia da contrariedade não está nas coisas, não está no conhecimento especulativo originariamente e imediatamente, mas na determinação subjetiva de nossa atividade” (Principe élémentaire, p. 372). Porque escolhemos, porque subjetivamente nos decidimos e agimos, porque nada do que é para nós nos é indiferente, mas participa da dinâmica de nosso viver, contribuindo para seu progresso ou dificultando-o, as coisas e os atos aparecem para nós como organizados logicamente em relações de oposição.

Blondel exemplificará a gênese de algumas noções. A noção de oposição, por exemplo, seria o resultado do choque dos múltiplos princípios (motivos e moventes) ou fenômenos que solicitam nossa ação, formando diante da reflexão um todo sistemático, no qual alguns destes princípios aparecerão como coerentes em relação aos outros e ao nosso destino último e outros não. Quando um deles é escolhido e realizado é como que oposto a todos os que não o foram, formando um todo sistemático. Assim, o ato realizado confere aos fatos uma fixidez tal que constitui a base de onde surgem as oposições lógicas.

O mesmo ocorre em relação aos princípios de contradição e de identidade. Com efeito, nenhuma oposição lógica poderia ser concebida sem a noção, ao menos implícita, da contraditoriedade. E como ela surge? Surge pela consciência da irreparabilidade do passado: o que foi realizado o foi para sempre, a favor ou contra a realização de nossa ação. Sua origem está na concepção da ação que era possível e foi consagrada no passado de modo irreparável. Uma vez realizada, a ação é posta para sempre. Já a noção de identidade, por sua vez, surge da

122 Remetemos às explicações que fizemos na introdução sobre o sentido de “postulado prático” para a

ação de escolher, precisar e realizar uma intenção singular, que se distingue das outras. Nas palavras de Blondel:

Para ter consciência de que uma coisa poderia ser diversa, é preciso que tenhamos consciência de que nossa ação possui dois gumes. Para conhecer nossa ação, é preciso que, conscientes ao menos confusamente sobre o conflito entre nossas tendências e as exigências de nosso destino, nós nos encontremos em frente a uma opção que interessa nosso ser: em uma palavra nós temos a ideia do ser [identidade] e da contradição somente porque nós somos virtualmente postos em condição de resolver a alternativa da qual depende a orientação de nossa vida e nossa entrada no ser, alternativa, caso se possa dizer, “auto-ontológica” (Principe élémentaire, p. 374).

Em conclusão, não poderíamos melhor resumir o sentido do que queremos afirmar a não ser como o fez Blondel (Principe élémentaire, p. 374): “O emprego da razão especulativa está ligado solidariamente ao exercício real e atual da razão prática, que [...] lhe determina o sentido verdadeiro e o alcance legítimo”. As noções lógicas são produções ou projeções das leis de nossa ação no sensível e no inteligível.

Mas, porque as isolamos das suas condições orgânicas e que perigo há nisso? É o que se procurará discutir em seguida.

3.2.2. Por que isolamos as Noções Lógicas de sua Origem Vital

As noções lógicas possuem uma origem vital. A exemplo do princípio de contradição, princípio fundamental da lógica reflexiva, elas possuem um sentido original e real:

O sentido original e real do princípio de contradição é de estabelecer que o que teria podido ser e se incorporar, pelo que fazemos, ao que somos (héxis)123,

foi para sempre excluído (stérēsis), sem que o que é assim excluído deixe de servir para pensar distintamente o que foi escolhido e feito, deixe de alimentar o esforço do conhecimento e da execução, e de determinar moralmente o ato realizado e o agente mesmo. Mas, se nós consideramos unicamente a partir de fora o resultado aparente ou os fatos que parecem externos à nossa ação, então tudo se resume a uma questão de sim e de não (katáfasis ou apóphasis); e, perdendo de vista a elaboração interna do resultado e a complexidade das

123 As transliterações apresentadas nesta tese são nossas. Geralmente, os textos originais blondelianos

relações que subsistem sob a ideia da contraditória excluída, nós substituímos estas relações viventes pela simplicidade artificial do conceito e da palavra (Principe élémentaire, p. 374).

Nesse trecho fundamental, Blondel introduzirá quatro noções que nos darão a chave de compreensão de todo o texto: héxis, stérēsis, katáfasis e apóphasis. A síntese que somos, o resultado nunca definitivo e perpetuamente mutável de nossa ação, para a qual contribui todos os elementos que nos constituem, Blondel chama de héxis. A héxis é cada agente particular, é a ação que é cada agente particular. Ora, ao agir, é preciso realizar algumas possibilidades e excluir outras. Uma vez tendo agido, o que foi excluído o foi para sempre. Nesse sentido, a ação é posta de modo eterno.

Entretanto, as possibilidades não realizadas não deixam, por isso, de também contribuírem para o que nós somos. É por isso que a esse algo excluído Blondel chamará de stérēsis, privação. Nós somos o resultado de nossa ação, mas nossa ação não leva a marca apenas do que foi escolhido e realizado, mas também do que não o foi. Em outras palavras, a héxis não é só o resultado de tudo o que foi escolhido e atuado, mas também de tudo o que foi preterido. A héxis que somos nós, assim, não pode ser compreendida segundo uma lógica artificial que resume toda ação a uma questão de sim e de não entre possibilidades, ou seja, de katáfasis e apóphasis (afirmação e negação). A lógica que a explica é aquela do terceiro incluso, da stérēsis ou da privação.124 A equacionalização da questão é bem mais complicada do que uma explicação baseada em uma analogia com a aritmética daria conta. Em suma, somos a síntese do que realizamos e do que nos privamos de realizar. A explicação do que somos deverá levar em conta a lógica da stérēsis ou da privação. Não há como propor aproximações legítimas do concreto sem considerá-la.

Procuraremos aprofundar seu sentido mais adiante. Por ora, é preciso saber que não são comuns compreensões baseadas no uso da lógica da stérēsis, do terceiro incluso. Geralmente, a base das compreensões é sustentada por uma pura lógica opositiva, abstrata ou reflexiva.

124 Desde a “Première notule”, datada de 5 de novembro de 1882, como um projeto esquemático do que

será a futura tese de Blondel sobre a ação — cuja edição crítica foi organizada e publicada por Simone D’Agostino (1993) em sua tese doutoral intitulada D’atto all’azione. Blondel e Aristotele nel progetto de “L’Acion” (1893) — , o termo stérēsis aparece notadamente como central para o que Blondel chamará de filosofia da ação, sendo a noção que expressa o fundamento da lógica do terceiro incluso. Com efeito, em suas linhas centrais pode-se ler: “La doctrine de Action fonde la logique du tiers admis. Cf. Mét. Λ. II. 1069 b.6 — Des 2 contraires aucun ne subsiste (stérēsis) (une idée réalisée n’est pas la même, que, seule, avant l’acte, avant d’avoir été opposé et préférée à une autre idée)” (D’AGOSTINO, 1993, p. 441). Partes dessa nota serão transcritas em Le principe élémentaire d’une logique de la vie morale (Cf. Principe élémentaire, p. 383).

Blondel chamará a lógica que se resume ao puro pensar abstrato de “logologia” (Principe élémentaire, p. 375).

A logologia tem servido de alimento para muitas ontologias, consistindo em se tomar as coisas e suas relações pela linguagem e suas regras. Por exemplo, segundo Blondel, Aristóteles