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1.1 A REPÚBLICA E O REPUBLICANISMO NO BRASIL

1.1.4 Questões atuais do republicanismo

Desde fins do século XX, especialmente após a queda do Muro de Berlim, em 1989, ou o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991, eventos que marcam o fim da Guerra Fria e intensificam o processo da globalização, o debate em torno das questões da liberdade tem se intensificado.

Processo, inclusive, que coincide temporalmente, com a redemocratização da sociedade brasileira a partir de 1985, quando, também por aqui, a liberdade ganha centralidade no processo político. Por certo, diante das especificidades do nosso desenvolvimento e das demandas sociais, políticas e econômicas, o embate em torno da liberdade terá

características próprias, enfatizando as demandas sociais para recuperar o tempo perdido, pressionando o sistema de poder a responder – mesmo que lenta e contraditoriamente – aos reclames populares.

Vitoriosa, naquele momento, uma visão liberal cujas linhas mestras estão postas em um texto de 1819 de Benjamin Constant51 (1767 – 1830), intitulado Da liberdade dos antigos comparada à dos modernos. Nele, no que nos importa aqui destacar, o escritor francês,

apontava a soberania do cidadão na vida coletiva na Antiguidade, sobretudo nas questões públicas, apesar do limitado espaço conferido à esfera privada. Ao passo que os cidadãos modernos têm como seu espaço consagrado o privado, sendo o público um lócus para a representação, onde alguns – os representantes – organizam os assuntos coletivos. Como destacou Constant (2015, p. 3):

[...] entre os antigos o indivíduo quase sempre soberano nas questões públicas, é escravo em todos seus assuntos privados. Como cidadão, ele decide sobre a paz e a guerra; como particular, permanece limitado, observado, reprimido em todos seus movimentos; como porção do corpo coletivo, ele interroga, destitui, condena, despoja, exija, atinge mortalmente seus magistrados ou seus superiores; como sujeito ao corpo coletivo, ele pode, por sua vez, ser privado de sua posição, despojado de suas honrarias, banido, condenado, pela vontade arbitrária do todo ao qual pertence. Entre os modernos, ao contrário, o indivíduo independente na vida privada, mesmo nos Estados mais livres só é soberano em aparência. Sua soberania restrita quase sempre interrompida; e, se em épocas determinadas, mas raras, durante as quais ainda é cercado de precauções e impedimentos, ele exerce essa soberania, é sempre para abdicar a ela.

Segundo Constant (2015), essa inversão foi causada pelo aumento demográfico e da extensão dos Estados modernos, em comparação às repúblicas e monarquias da Antiguidade; à abolição da escravidão e ao desenvolvimento da atividade comercial. Posição que ecoa aquela que já havia sido defendida por Montesquieu (2007), para quem, a república depende de que prevaleça o interesse público e que existam homens virtuosos, o que, nas condições dos séculos XVII e XVIII, com o crescimento do comércio e das riquezas e as dimensões populacionais e territoriais dos Estados, entre outros elementos, diversificavam os interesses e impediam a emergência do bem comum.

É possível registrar que a ideia de soberania tem como pano de fundo a liberdade

51 Henri-Benjamin Constant de Rebecque (1767 – 1830), foi pensador liberal-conservador francês.

Inspirava-se na Inglaterra e defendia a democracia representativa. Opositor de Napoleão Bonaparte, Benjamin Constant, como era conhecido, defendia a existência de um poder Real neutro, que impediria tendência autoritárias nos outros três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário (CONSTANT, 2015).

individual. Aliás, esse aspecto merece destaque na perspectiva liberal, apresentada como liberdade negativa. Como explica o filósofo Isaiah Berlin (2009, p. 149), “[...] o desejo de liberdade é, em primeiro lugar, o desejo de indivíduos ou grupos de não sofrer interferência de outros indivíduos ou grupos”.

É importante observar que numa perspectiva que abraça a ideia de que a única forma de relação do indivíduo com o espaço público é restringir a liberdade aos direitos individuais ou civis, perdem significação as discussões sobre participação política e virtude cívica. É, no entanto, exatamente no sentido de recuperar o debate sobre a esfera pública, como espaço de ação privilegiada dos cidadãos, que o republicanismo se assenta (BIGNOTTO, 2004).

Coloca-se, assim, a liberdade dentro de uma perspectiva positiva, como um espaço de participação e decisão dos cidadãos como ativos membros da comunidade e, portanto, das escolhas públicas. Como destaca Bignotto (2004), é reestabelecida a relação entre liberdade e ação no espaço público, modificando, dessa maneira, o seu impacto no que diz respeito ao funcionamento e finalidade das instituições públicas, e, ainda, uma nova percepção em temas que são caros ao republicanismo como a questão da virtude, assim:

[...] retomada da associação entre liberdade e ação dos cidadãos na cena pública e pelos desdobramentos que essa maneira de formular o problema da liberdade provocaram, tanto no tocante à natureza das instituições republicanas quanto em temas como o da virtude e o da história (BIGNOTTO, 2004, p. 20).

Pettit (1999, p. 271, tradução nossa) amplia ainda mais essa questão ao afirmar que:

A concepção negativa de liberdade como não interferência e a concepção positiva de liberdade como autodomínio não são as únicas ideias disponíveis de liberdade; uma terceira alternativa é a concepção de liberdade como não dominação, que requer que ninguém seja capaz de interferir sob bases arbitrárias – ao seu prazer – nas escolhas de uma pessoa livre52.

Para Pettit (1999) a não dominação, no entanto, não se atinge por meios individuais, e sim por meio da ação política, sendo sua maneira prioritária de conquista via o aparato estatal. O que implica a necessidade de um Estado que esteja a todo momento em

52 “The negative conception of freedom as non-interference and the positive conception of freedom as self-

mastery are not the only available ideals of liberty; a third alternative is the conception of freedom as non- domination which requires that no one is able to interfere on an arbitrary basis – at their pleasure – in the choices of the free person” (PETTIT, 1999, p. 271).

contato com seus cidadãos – pelos mais diversos meios – para que as ideias e interesses das pessoas sejam continuamente percebidos na ação do aparelho estatal.

Essas questões refletem uma preocupação de que a construção da liberdade pelos seres humanos só se dá por meio da política, da ocupação do espaço público, com o estabelecimento de instituições políticas que, surgindo no meio da disputa e do conflito, inerentes que são ao poder, garantam que essa arena pública seja a garantidora das liberdades, num processo que Arendt (2011) denomina de constitutio libertatis e que, ao mesmo tempo, garante que os poderes sejam efetivamente tornados públicos.

Nesse contexto, é preciso considerar a ideia de igualdade, visto que, sem ela, a interação e influência dos cidadãos nas decisões públicas seriam dadas de forma diferenciada. Como destaca Bignotto (2004, p. 24) ao analisar a obra de Pettit (1999):

Decorre do princípio de igualdade assim interpretado que o republicanismo de Pettit é fundamentalmente comunitário. As pessoas envolvidas em perseguir a liberdade como não-dominação só poderão fazê-lo em conjunto, já que qualquer alteração no equilíbrio do poder será sentida por todos os outros. Trata-se, pois, de um bem, que só pode ser adquirido em comum, contrariamente ao que ocorre com valores como a utilidade ou mesmo a felicidade.

Bignotto (2008, p. 104) enfatiza, em outro momento e por caminho inverso, o valor da igualdade, ao afirmar que “[...] o sentimento de desigualdade entre os cidadãos é, [...], um dos motores mais poderosos das transformações que alteram os corpos políticos”.

Cardoso (2000) destaca que o republicanismo é o locus privilegiado da igualdade em seus vários âmbitos, não tão somente o político, ao afirmar que tanto conceitual quanto historicamente são colocadas questões que almejam um processo de democratização da economia, da sociedade e da cultura, algo que se constrói por meio do processo de universalização de direitos e da ampliação da participação política dos cidadãos.

Coloca-se, pois, o republicanismo, conforme a perspectiva defendida por Cardoso (2000), como uma reivindicação de apropriação do espaço público pelos cidadãos de forma a expandir a República, para além de seus aspectos jurídicos formais, para o âmbito do social, do político, do econômico e do cultural.

Dentro dessa perspectiva, a retomada histórica da tradição do humanismo cívico pode contribuir para a discussão das atuais temáticas do republicanismo. Uma primeira questão central é a da origem dos regimes políticos e, dentro dela, “[...] o caráter puramente humano dos regimes e suas estruturas e, assim, conceder uma importância capital para o papel humano na criação das diversas organizações políticas. [...]” (BIGNOTTO, 2000, p. 59). O segundo aspecto é a questão da participação, da relação, se quisermos, entre os cidadãos e as cidades, a vida ativa, a ideia da “[...] defesa da liberdade como liberdade de fazer coisas e não apenas como um direito abstrato [...]” (BIGNOTTO, 2000, p. 61-62).

O republicanismo valoriza de forma intensa a participação dos cidadãos na vida pública, nos espaços coletivos, na discussão do bem comum, como forma, inclusive, superior àqueles que se refugiam nas 'tiranias da intimidade', para usar expressão consagrada por Sennett (1988) que ao discorrer sobre a relação entre o público e o privado afirma:

Uma res publica representa, em geral, aqueles vínculos de associação e de compromisso mútuo que existem entre pessoas que não estão unidas por laços de família ou de associação íntima: é o vínculo de uma multidão, de um “povo”, de uma sociedade organizada, mais do que o vínculo de família ou de amizade (SENNETT, 1988, p. 16).

O tema da presença pública, da participação pública, do bem comum, coloca, assim, outros aspectos caros ao republicanismo, quais sejam: as questões da educação, da virtude política ou cívica, das instituições e das leis e da história e seu papel.

Elemento atual das preocupações do republicanismo, mas que tem raízes no pensamento dos humanistas cívicos do renascimento, é o papel da educação. Como destaca Bignotto (2000), essa tem um papel central na construção de valores que reconheçam a todos o conjunto de direitos estabelecidos nas sociedades, uma dimensão universal que será colocada contemporaneamente pelos republicanistas.

Bignotto (2013, p. 186-187), destacando mais uma vez o valor da educação para o republicanismo, enfatiza o papel de Montesquieu nesse aspecto, ao afirmar que “Montesquieu inaugura uma questão que, desde então, estará no coração do republicanismo francês, até sua consolidação no final do século XIX: como educar os homens para viver em um regime que se baseia na liberdade e na igualdade”.

A virtude política ou cívica diz respeito às relações dos cidadãos com as instituições políticas das quais eles participam como membros de uma república e não, por certo, aos valores morais esposados por alguém. Com efeito, quando se trata dessa questão, está se tendo como preocupação central na vida coletiva a temática do interesse comum.

No que tange ao papel das leis e instituições, presença constante nos debates do republicanismo, tem se reconhecido o seu caráter histórico, mas, de forma conjunta, como aspecto central para a garantia das liberdades, da virtude e da participação dos cidadãos na república. Como destaca Barros (2013), ao analisar a obra do republicano inglês do século XVII, James Harrington (1611 – 1677), a liberdade numa república é tributária do governo das leis e das instituições, somente assim a virtude será praticada e construída, enquanto que um governo que é refém das paixões acabará por desaguar na tirania. Não sem razão aqueles que defendem a república, tais como Aristóteles e Tito Lívio, a definem como o governo das leis.

Ainda neste breve sumário das questões centrais colocadas pelo republicanismo atual, apresenta-se o papel da história. No processo de construção da tradição republicana. Como destaca Bignotto (2013, p. 10):

Em grande medida, é tarefa dos pensadores atuais investigar a natureza dos problemas políticos do nosso tempo, servindo-se de um manancial fornecido pela tradição, mas, ao mesmo tempo, indo além dele na tarefa de fazer do republicanismo uma filosofia adequada à nossa época. Como está demonstrado na obra de Hannah Arendt, é possível, recorrer ao passado para pensar com ele, sem correr o risco de ser dominado pela nostalgia por outras épocas. [...].

Assim, a história é elemento central para iluminarmos o caminho que as diversas tradições do republicanismo percorreram, bem como as relações que estabeleceram entre si, com a tomada de temáticas que, decerto atualizadas, estiveram presentes, nos debates e disputas políticas em torno das questões levantadas pelos autores e em cada processo histórico. Para além de uma arqueologia das ideias e proposições políticas, se pretende, portanto, apontar como elas se lançaram além de seus limites temporais e geográficos.

tem sido dirigidas diversas críticas ao longo do tempo. Segundo Bignotto (2013), podemos sumariar essas críticas nos seguintes aspectos: a ideia de liberdade política que se adota é muito mais afeita à sociedade dos antigos que a dos modernos, referenciando- se essa propositura no já mencionado artigo de Constant (2015); também no campo da virtude política ou cívica, padeceria o republicanismo de uma visão que não é adequada às sociedades contemporâneas, aqui sustentando-se em visão de Montesquieu (2007), que apontava como o crescimento da população e o aumento do comércio e da riqueza, com a consequente divisão em classes das sociedade, como impeditivo para a virtude, e, por último, a afirmação de que não presta a devida atenção – não reconhecendo a sua preponderância – ao fator econômico.

Mais do que rebater as críticas, ou mesmo reconhecer alguns de seus méritos, como o destaque que o republicanismo dá ao elemento político, procuramos localizar as contribuições variadas, que foram dadas por essa tradição aos processos políticos ao longo do tempo. Interessando-nos, em especial, buscar nessa trajetória elementos que colaborem para um melhor entendimento da história da república brasileira e sua construção de um Sistema de Integridade Nacional, de acordo com a proposição deste trabalho que as entidades da sociedade civil organizada, que contribuíram para a estruturação do SIN, pautam suas ações, mesmo que sem uma visão coerente e sustentada, pelo republicanismo, ou, ao menos, alguns de seus elementos centrais.

2 CAPÍTULO II: O PROBLEMA DA CORRUPÇÃO

A corrupção é um fenômeno, por óbvio, de abrangência internacional, mas que, para além disso, tornou-se, especialmente ao longo das últimas duas décadas, tema de crescente preocupação e atenção da opinião pública mundial. Notícias e análises sobre ela são ocorrências cotidianas nos meios de comunicação e nas redes sociais. Mais do que isso, no entanto, é tema de discussão e deliberação de organismos internacionais, de governos nacionais e subnacionais, de empresas, da sociedade civil organizada, dos institutos de pesquisa e das instituições de ensino superior e seus pesquisadores.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) tem, desde 1996, a sua Convenção Interamericana Contra a Corrupção, adotada pelo Brasil em 2002, a Organização das Nações Unidas (ONU) também possui uma Convenção contra a Corrupção, datada de 2003, ratificada pelo Brasil em 2005 e com entrada em vigor no ano seguinte. Para além dessas instituições internacionais das quais o Brasil faz parte, podemos ainda citar a União Africana (UA), que, em 2006, adotou a sua Convenção sobre Prevenção e Luta contra a Corrupção. Também a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) instituiu, em 1997, a Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais. Apesar do Brasil53 não ser membro da OCDE, aderiu à referida convenção em 2000. Cabe ainda

destacar que a União Europeia (UE) tem inúmeros acordos e decisões sobre o tema54.

No âmbito das organizações não governamentais internacionais (ONGIs), podemos notar

53 Em 30 de maio de 2017 o governo brasileiro formalizou seu pedido de associação à OCDE. A

Organização tem atualmente 35 países membros. Do continente americano apenas Canadá, Chile, Estados Unidos da América e México fazem parte da OCDE (OCDE, acesso em 25 jan. 2018).

54 Para apresentar a dimensão das decisões da UE sobre o tema, podemos elencar os seguintes

documentos: Convenção relativa à Luta contra a Corrupção em que estejam implicados servidores das Comunidades Europeias ou dos Estados membros da União Europeia; Criação do Grupo de Estudos Contra a Corrupção do Conselho da Europa; Convenção penal sobre a corrupção, do Conselho da Europa; Convenção relativa à luta contra a corrupção em que estejam implicados funcionários das Comunidades Europeias ou dos Estados-membros da União Europeia; Criação das regras comuns do Comitê de Ministros dos Estados Membros do Conselho da Europa contra a corrupção no financiamento dos partidos políticos e nas campanhas eleitorais; Convenção da UE relativa à proteção dos interesses financeiros das Comunidades Europeias; Política Global da União Europeia contra a corrupção; Convenção do Conselho da Europa relativa ao branqueamento, detecção, apreensão e perda dos produtos do crime e ao financiamento do terrorismo e Decisão-Quadro 2003/568/JAI do Conselho da Europa, de 22 de julho de 2003, relativa ao combate à corrupção no sector privado (RAIMUNDO, 2011; LOPES, 2011; BOMFIM, 2013; SIMÕES, 2013).

que a Transparência Internacional55, criada em 1993, que realiza inúmeros estudos e

pesquisas sobre o tema, sendo os mais conhecidos o Índice de Percepção da Corrupção (IPC), o Barômetro Global da Corrupção (BGC), e a Coalizão Amigos da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção56. A coalização reúne uma rede de organizações da

sociedade civil, criada em 2006, são 354 entidades de 93 países, que luta pela implementação integral do referido tratado.

Especificamente no Brasil, desde a Constituição Federal (CF) de 1988, mas especialmente nos últimos vinte anos, temos estabelecido uma série de parâmetros legais para a transparência pública e o combate à corrupção. A própria CF, em seu artigo 37, conforme já destacado, estabelece que os princípios constitucionais da administração pública são: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Ademais temos, na esfera legislativa, a Lei da Improbidade Administrativa – Lei 8.429/1992; a Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União – Lei 8.443/1992; a Lei das Licitações – Lei 8.666/1993; a Lei de iniciativa popular que transformou a compra de votos em crime – Lei 9.840/1999; a Lei que institui o Sistema de Controle Interno – Lei 10.180/2001; a Lei que tipifica o crime de Corrupção Ativa em transação comercial internacional e cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) – Lei 10.467/200257; Lei que institui a

Controladoria-Geral da União – Lei 10.683/2003; Decreto que cria o Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção – Decreto 4.923/2003; a Lei dos Portais da Transparência – Lei Complementar 131/2009; a Lei da Ficha Limpa – Lei Complementar 135/2010, também de iniciativa da sociedade civil organizada; a Lei de Acesso à Informação – Lei 12.527/2011; a Lei da Lavagem de Dinheiro – Lei 12.683/2012 (altera a Lei 9.613/1998); a Lei do Conflito de Interesses – Lei 12.813/2013 e a Lei Anticorrupção Empresarial – Lei 12.846/2013, que entrou em vigor no ano seguinte.

No campo mais diretamente organizacional, podemos ainda citar a criação e/ou fortalecimento de uma série de instituições, destaque-se: a Controladoria-geral da União58, e suas similares estaduais e municipais, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária

55 TRANSPARENCY INTERNATIONAL (acesso em 17 jan. 2018). 56 CONTAS ABERTAS (acesso em 27 jan. 2018).

57 Em 19 de agosto de 2019 o presidente Jair Messias Bolsonaro editou Medida Provisória que transferiu o

COAF do Ministério da Economia para o Banco Central e modificou sua denominação para Unidade de Inteligência Financeira (ESTADAO, 2019).

58 A CGU foi transformada no Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle por meio da Medida

Federal, os Ministérios Público Federal e Estaduais, os Tribunais de Contas da União, dos Estados e dos Municípios, a Receita Federal (RF) e o Conselho de Controle de Atividades Financeira.

No âmbito das organizações da sociedade civil no Brasil, podemos destacar: a Transparência Brasil59, criada em 2000, a Transparência Capixaba (TCap)60, de 2001, o

Instituto de Fiscalização e Controle61, de 2003, o Movimento de Combate à Corrupção

Eleitoral62, de 2002, a Articulação Brasileira Contra a Corrupção e a Impunidade63, de

2009, e a Amigos Associados de Ribeirão Bonito, de 1999, que em 2011 transformou-se em AMARRIBO Brasil64, e que articulou a construção e coordena uma rede de ONGs que

conta hoje com cerca de 230 entidades espalhadas pelo Brasil.

Para além das ações normativas, há também uma vasta produção acadêmica sobre o tema. São inúmeros livros, artigos, dissertações e teses que discutem o fenômeno da corrupção, suas causas, consequências, desenvolvimento, condições que favorecem ou dificultam sua ocorrência e formas de combate, entre outros elementos. Uma parte desse material será, certamente, analisada ao longo desse capítulo e nos posteriores.

Frente ao exposto, acreditamos que é possível perceber a dimensão que o fenômeno da corrupção, da preocupação, interesse e significação política, assumiu – ao longo das últimas décadas – seja no âmbito internacional, seja na sociedade brasileira. Dada a extensão e complexidade do tema, propomos neste capítulo abordar as principais teorias