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A industrialização começa com o nascimento do capitalismo. Este sistema econômico movimenta o processo de industrialização, que se desenvolve nos centros urbanos tendo como efeito a urbanização. Embora as cidades preexistam à industrialização são por ela modificadas mediante o crescimento e a planificação, que caracterizam o desenvolvimento da realidade urbana.196 Com isso, a industrialização, por transformar a realidade, é a força indutora das mudanças na sociedade.

Por meio da industrialização é possível tecer explicações para as transformações sociais. Ao incrementar os processos culturais, econômicos e políticos, ao estimular a grande concentração demográfica e ao promover a especialização e a interdependência das atividades humanas, a industrialização cria uma realidade social nova, que nasce ao nosso redor, denominada de sociedade urbana.197

Essa sociedade urbana propicia circunstâncias capazes de atrair empresas industriais. As empresas se instalam perto de fontes de energia, de meios de transportes, de matérias-primas e de mão-de-obra, além dos consumidores. Com isso resultam as cidades, centros industriais. As cidades dividem-se, conforme ensina Henri Lefebvre,198 em zonas industriais e zonas residenciais dos dirigentes econômicos, dos políticos e dos operários, além de serem fontes de capitais disponíveis e locais onde esses capitais são gerados.

O fundamento da concentração das atividades econômicas, em centros urbanos, segundo Alaor Caffé Alves,199 reside na possibilidade de redução de custos unitários de produção e na distribuição nas cidades do que em outras localidades. Isto decorre de vantagens decorrentes da urbanização, como aquelas oferecidas aos agentes econômicos, conhecidas como economias de localização e de

196 LEFEBVRE, Henri. Direito à Cidade, p. 11.

197 ALVES, Alaor Caffé. Planejamento metropolitano e autonomia municipal no direito brasileiro, p. 103-4.

198 LEFEBVRE, Henri. Op.,cit., p. 15.

urbanização resultantes da interação e adição do processo produtivo organizado de modo a alcançar a máxima utilização dos fatores de produção envolvidos no processo, cuja finalidade é obter baixos custos de produção e o desenvolvimento de bens e serviços (economia de escala).

Assim, quanto maior o grau de urbanização, maiores são as possibilidades produtivas de um país e maior é a eficiência do processo de geração de bens e serviços; e os níveis médios de produtividade e de renda, bem como mais diversificada é a estrutura do consumo.200

Essa situação faz da cidade o local ideal de produção e distribuição dos bens e serviços para um determinado espaço territorial. Segundo Alaor Caffé Alves, a cidade torna-se o centro de atração, servindo como ponto de convergência desse espaço territorial. A cidade passa a ter funções e proporções incomuns antes nunca praticadas. Passa a concentrar cultural, econômica e socialmente toda uma região e, não raro, todo o espaço nacional. Os núcleos urbanos, resultado da industrialização e da urbanização, expandem-se de forma a provocar a união, em uma só tessitura urbana, de mais de uma comunidade distinta, e cada uma pertencente à área administrativa diversa. Esse processo ultrapassa a esfera local, das cidades isoladas, e passa a ser visto sob o enfoque regional ou nacional, dependendo das características que apresenta.201

Ainda, conforme o autor, as questões urbanas decorrem da própria situação de desenvolvimento do país. Pela importância e grandeza, essas questões somente podem ser tratadas nacionalmente, como no caso das questões econômicas. Todavia essas questões se apresentam de maneira mais definida e apurada nos núcleos urbanos formados por comunidades distintas, unidos pela urbanização, criando situações críticas que se agravam ainda mais em virtude da grande concentração populacional.

Devido ao crescimento desordenado dos núcleos urbanos, surgem questões que se apresentam como grandes desafios para as administrações, principalmente nas médias cidades e naquelas oriundas do resultado da união de mais de uma comunidade distinta. Tais como:

200 ALVES, Alaor Caffé. Planejamento metropolitano e autonomia municipal no direito brasileiro, p. 104.

a) Ocupações ilegais e loteamentos irregulares, sem infraestrutura básica, em áreas preservadas, e dificuldade de intervenção do serviço público, sendo necessária a implantação de infraestrutura de serviço que atenda as demandas sociais como saneamento ambiental, habitação social e regularização fundiária;

b) A utilização inadequada do solo urbano, mesmo na cidade formal, devido ao crescimento acelerado e à falta de planejamento, necessitando da intervenção pública para revitalizar essa área e regularizar a utilização e ocupação do solo;

c) Falta de política de criação de condições de adensamento, dentro da cidade de determinada região com o objetivo de solucionar questões de moradia, saneamento ambiental, acessibilidade e mobilidade e uso e ocupação do solo;

d) A falta de mobilidade urbana, necessitando de uma política para assegurar mobilidade às pessoas com deficiência e com capacidade reduzida, adequar o transporte de cargas e de passageiros e a prestação de serviço de transporte público de qualidade, além de incentivos a um transporte alternativo;

e) A deterioração do capital imobiliário mediante as contínuas alterações nas funções dos edifícios e no sistema viário, com o qual há uma exclusão sócioespacialde parcela da população;

f) Problemas com sustentabilidade ambiental, devido à saturação do meio ambiente por meio do uso econômico dos recursos naturais, como a água, necessitando de uma política de preservação e definição, da fiscalização das áreas verdes; bem como de uma política de incentivo à utilização de energia renovável no sistema de transporte; g) Problemas com saneamento básico, necessitando da implantação de

uma política que assegure a todos o acesso à água potável e algumas condições de higiene como o tratamento de esgoto, a limpeza urbana, o manejo de resíduos sólidos e drenagem das águas pluviais;

h) Necessidade de política unificada de resíduos sólidos, que viabilize destinação adequada aos resíduos, ampliação da coleta seletiva;

i) Necessidade de uma política voltada aos recursos hídricos, visando à melhoria da qualidade do abastecimento de água, de preservação e reutilização das nascentes e cursos de água;

j) Necessidade de um cadastro metropolitano unificado, senão nacional, de informações sobre a demanda de moradia, sobre redes de energia elétrica, de telefonia, de gás, de águas pluviais, de iluminação pública, do transporte público, de TV a cabo, entre outros, com a finalidade de atender melhor a população que necessita desses serviços;

k) Necessidade de demonstrar capacidade de mobilizar grandes aportes financeiros ou potenciais técnicos;

l) Necessidade de implantação de política visando a fortalecer economicamente os Municípios integrantes da Região, de acordo com as suas especificidades;

m) Necessidade de tratamento dos cemitérios, evitando comprometimento do lençol freático que alimenta os corpos de água de determinada região ou bacia hidrográfica; e

n) Deficiência de uma administração unificada, incapaz de criar soluções em nível metropolitano frente à multiplicidade de governos locais que agem na região.

Essa realidade fática necessita de reconhecimento jurídico para que possa ser transformada. O ordenamento jurídico deve conferir legitimidade à ação estatal, no intuito de solucionar as referidas questões. Para tanto, essa legitimidade deve ser conforme a complexidade das questões.