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Este movimento se constituiu como uma proposta mística, representado na história das religiões especialmente pelas idéias do espanhol Miguel de Molinos (1628-1697). Nascido em

44 Schalkwijk (2000) recomenda uma literatura especializada no movimento Moraviano, que inclui muitos

autores e pesquisadores desse campo de estudos. Ver o ensaio O Conde e o Avivamento Morávio: Um Ensaio

Saragoça, de família nobre, foi educado em Colégio Jesuíta de São Paulo. Sua proposta religiosa correlaciona-se em muitos pontos com a dos Pietistas, sendo considerado por isso próximo do Protestantismo. Molinos tinha um estilo de vida contemplativo, dedicando a vida a conviver com pessoas, que dele necessitassem, sem qualquer tipo de ganho financeiro, ou reconhecimento institucional. Sacerdote ocupou a função de confessor em Roma e era considerado um diretor espiritual das almas. Sobre seus auspícios de aconselhador estavam o Cardeal Benedetto Odescalchi (1611-1689), que se tornou Papa e a Rainha Cristina da Suécia (1626-1689).

Em 1673 Molinos escreveu o método para o aperfeiçoamento espiritual “Il Guida

Spirituale” no qual expunha suas idéias místicas. Este guia teve um largo alcance, atingindo

não só pessoas das camadas mais abastadas socialmente, como outras em situação diversa. Alguns monges tomavam as instruções de Molinos como uma modalidade de aproximação com o sagrado, divulgando sua proposta em várias instituições religiosas da época. Molinos enfrentou a Inquisição, pela primeira vez, acusado pelos Jesuítas e Dominicanos, que viam em sua popularidade, perigo de cismas na Igreja. Porém o caso foi encerrado até que começou a se tornar um líder religioso, com pessoas ao seu redor, que seguiam sua orientação referente às práticas espirituais e as crenças que as fundamentavam.

Nas concepções religiosas de Molinos o homem deve caminhar para o aperfeiçoamento espiritual, cuja finalidade última é a suprema comunhão com Deus. A vontade espiritual do homem deve ser anulada nesse processo, submetendo-se inteiramente aos desígnios de Deus. A vida do ho mem em seu contexto social deve se pautar por um modelo sustentado em atos de amor e fé. A quietude era uma prática religiosa de silenciar o próprio desejo, para que o fiel pudesse ouvir a vontade de Deus. O homem deveria se esforçar para isso, aprendendo a contemplar, e a desenvolver uma atitude de passividade e paciência diante de Deus. Esse comportamento de busca deveria ser preponderante nas atividades humanas, sobretudo diante dos anseios e prazeres mundanos. Assim, conforme o homem conseguisse, por esse tipo de postura religiosa, anular sua vontade pessoal e egoísta, rumaria para uma santificação, advinda do contato cada vez mais íntimo e próximo à divindade. Portanto a realidade de seus atos por meio do método da quietude seria o sinal da santificação e aproximação do divino.

Como um líder carismático, Molinos foi se tornando cada vez mais alvo de acusações de heresia. Entre as acusações que lhe faziam estavam as de que aconselhava os cristãos a abandonar os sacramentos, o confessionário e a Igreja. Desse modo sua obra literária e religiosa, passou por considerações negativas, diante do clero, que a via como blasfema difamadora da doutrina, com idéias perniciosas e ofensivas à moral cristã. Os escritos de Molinos foram entregues à Inquisição para serem queimados, e sua condenação foi feita pelo Papa Inocêncio XI na Bula Coelistis Pastor de 1687. Os seguidores desse movimento, que eram muitos, foram denominados pela Igreja de Iluminados, e comparados às pessoas que viviam a experiência de êxtase religioso como prazer condenável. Para desacreditá-lo, discursou-se sobre seu não batismo, o que para a época era uma acusação grave, comparável ao crime, dado o terror que se espalhava com a “Santa Inquisição”. Mesmo tendo morrido na prisão e silenciado em suas orientações, várias edições do Guia Espiritual circulavam na Europa, difundindo seu pensamento e sua proposta de prática religiosa, durante vários séculos. A prática religiosa pautada no silêncio, renúncia às necessidades imperativas e imediatistas, busca de contato direto com a divindade, cultivo de processo de santificação e iluminação, faz da proposta de Molinos um modelo contemplativo de misticismo, próximo à atitude devocional, praticada no Protestantismo.

A essa altura pergunta-se qual o sentido de uma experiência religiosa mística contemplativa no Protestantismo, tendo em vista que caminhava para propostas de práticas religiosas vinculadas ao cuidado dispensado a vida mundana voltado à organização social e comunitária? A perda do paraíso e a tentativa de resgate, ao menos parcialmente, contribui para o surgimento das missões e em certo sentido, o movimento de colonização religiosa. Ora, o mito do paraíso funda-se em uma concepção de homem envolto na ordem divina em que os primeiros seres humanos eram acompanhados diretamente por Deus conforme afirma Azzi (1987 p.85-86). Porém, ao perderem o Éden, a relação com a alteridade representada pela divindade, criou o distanciamento necessário, para que reconhecessem a estrutura hierárquica como fundamental e o respeito a ela, pois era essa a condição básica para a proteção divina na terra. A graça implicava em fidelidade e dependência permanentes, ou seja, “as realizações humanas só teriam sentido desde que mantivessem contínua referência a matriz”. A contemplação pode ser pensada como a tentativa de habitação do paraíso, mesmo que de forma passageira. Este parece ser um dos significados da contemplação: a manutenção dessa

relação direta entre o sagrado e o fiel é um ritual que funciona como disparador da esperança do paraíso e de sua fagulha presentificada na experiência religiosa. Ajusta o homem mundano ao homem espiritual, criando um sistema cultural que é simultaneamente individual e coletivo, estando permeado pelas necessidades sociais de um contexto em permanente mudança.

Pode-se encontrar um representante do Protestantismo contemplativo na pessoa de Eli Staley Jones (1884-1972), missionário metodista americano, que esteve na Índia, sofrendo influência da filosofia e das práticas religiosas desse país. Formou-se em advocacia na Faculdade de Asbury, Wilmore, Kentucky em 1906. Missionário na Índia dedicou-se ao trabalho de evangelização no modelo Gospel, voltado às camadas mais desfavorecidas da população, respeitando o sistema cultural daquele pais e mostrando que havia muitos modos de se alcançar o sagrado, não necessariamente modelados pela cultura ocidental, da qual se originava. Sua atitude chamou a atenção das castas mais elevadas da sociedade indiana, sendo convidado a proferir palestras nas universidades. Escreveu obras literárias nas quais, a imagem de Cristo, era encontrada em símbolos orientais. Essas se transformavam em obras populares, best-sellers e leituras referenciais de seminários.

Jesus era visto por Stanley Jones como um homem que esteve a serviço de todos os povos, como filho Universal. Fundou a partir de suas experiências culturais ocidental e orientais, o chamado Ashram Cristão e espalhou essa proposta por vários lugares, incluindo Os Estados Unidos e Canadá, território que percorreu de forma missionária. Pregava e realizava conferências, preconizando reconciliação entre o homem e Deus, entre o homem e o homem e entre o homem e si-mesmo. Jones fez muitas tentativas de diplomacia entre os povos em guerra, como Japão e Estados Unidos, sendo muito respeitado por sua postura. Foi amigo de Mahatma Gandhi, influenciando homens como Martin Luther King para construir uma postura de resistência pela não violência. Do ponto de vista de Stanley Jones, cada denominação religiosa poderia manter sua própria identidade, sem ferir a outra, em uma proposta de paz e respeito mútuo.