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Razões ou motivações da (não) participação

1.2. Planeamento como instrumento técnico da política do ordenamento do

1.2.4 Participação pública no planeamento

1.2.4.3 Razões ou motivações da (não) participação

A participação pública é uma questão de hábito, de aptidão, habilidade, de interesse e de oportunidade, um meio de autoexpressão ou mesmo de passatempo. Algumas razões típicas podem ser elencadas, com contribuições de HILLMAN (1964), BEIERLE e CAYFORD (2002), CREIGHTON (2005), MORPHET (2011).

Razões ou motivações da participação

 Orgulho cívico

 Boa vontade e consciência social

 Companheirismo e sentimento de força decorrente da convivência com outras pessoas, ou de sua manipulação

 Válvula de escape para excesso de energia

 Desejo de prestígio

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 Necessidade de relações, nos negócios ou na vida profissional. Razões da não participação

 Falta de dinheiro

 Insuficientemente informado (desconhecimento do processo por deficiente divulgação, dificuldade acesso a informação/documentação)

 Complexidade das questões - Linguagem demasiado técnica e pouco acessível

 Falta de interesse/apatia

 Falta de tempo

 Pouca socialização

 Receio das represálias

 Planeamento visto como um processo burocrático, não encorajando o envolvimento

 Impressão de ser inútil o esforço por os problemas parecerem insolúveis

 Relutância em arriscar-se, ser diferente ou considerado um reformador

 Oportunidades de participação nem sempre bem definidas para serem apreendidas pelo individuo inexperiente

 Satisfeito com a decisão dos peritos – não tem contributo efetivo a dar para os resultados finais

 Conhecimento insuficiente ou inexperiência para participar

 Hora e localização dos encontros

 Estilo

 Falta de confiança no processo.

1.2.4.4 Mecanismos e meios de envolvimento público

PRETTY (1995), baseando no modelo de ARNSTEIN (1969) propõe 7 níveis de envolvimento público, partindo da participação manipuladora para a auto-mobilização. De uma participação passiva, em que as comunidades participam para ser dito o que foi decidido ou já aconteceu, a uma participação interdisciplinar, que busca perspetivas múltiplas e faz uso de processos sistémicos e estruturados de aprendizagem; no último nível, as pessoas participam tomando iniciativas independentemente de instituições externas para alterar os sistemas.

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Para BEIERLE e CAYFORD (2002), a participação pública como contínuo pode ser sistematizada quatro categorias: informar o público, ouvir o público, engajar na resolução de problemas (definir o problema, as alternativas para a sua solução e os critérios de avaliação) e desenvolver acordos. A informação pública por si só não corresponde a participação pública.

São vários meios de envolvimento público, sendo que alguns são mais informativos outros mais deliberativos, alguns sistematizados no quadro 4. Os métodos participatórios apenas devem ser escolhidos quando os objetivos do processo estiverem claramente articulados, o nível de engajamento apropriado aos objetivos identificados e os Stakeholders a incluir no processo selecionados. Da mesma forma que deve ser adaptado ao contexto de tomada de decisão, incluindo socioculturais (ALLEN, W.; KILVINGTON, M., HORN, C. 2002; REED, 2008). Por exemplo, métodos que requerem leitura e escrita devem ser evitados em participantes iliterados (REED, 2008).

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Quadro 4 - Mecanismos e meios de envolvimento público

Meios Descrição

Workshops Públicos

Reunião de um grupo de pessoas que têm como objetivo discutir ou analisar um determinado assunto de forma interativa, alargados às várias partes interessadas para, em conjunto, com a finalidade de se conhecer e perceber as suas perspetivas e opiniões, ao mesmo tempo que se encoraja e potencia a geração de contributos efetivos, capaz de conduzir ao desenvolvimento de ideias construtivas. Normalmente acontece num ambiente de diálogo informal, informado e alargado.

Fóruns de grupos de interesse

Partes interessadas podem participar em reuniões ou diálogos para obter imputs sobre os pontos de vista de pessoas que expressam um interesse na questão em análise. As reuniões podem ter vários formatos (por exemplo, audiências públicas).

Internet

Criação de uma página Web para informar o público, podendo ter funções colaborativas.

Brochuras Panfleto ou folheto de informação ao público. Deve ter mensagens claras, linguagem simples e ter qualidade.

Painel de cidadãos

Grupo de 12 cidadãos escolhidos aleatoriamente, com reuniões rotineira (ex. quatro vezes por ano) para analisar e discutir problemas e tomar decisões. Funcionam como caixas-de-ressonância para as autoridades governamentais.

Conferência de Consenso

Grupos de cidadãos com variados fundos se reúnem para discutir problemas numa base científica e técnica. Consiste em 2 etapas:

1) reuniões com especialistas, discussões, trabalhando no sentido do consenso (envolve um pequeno grupo de pessoas);

2) conferência durante o qual as principais observações e conclusões são apresentadas para os meios de comunicação e públicos em geral.

Júris populares

Grupo de 12-20 cidadãos escolhidos aleatoriamente reúnem ao longo de vários dias para deliberar sobre uma questão: numa primeira fase são informados sobre o assunto, ouvem depoimentos de testemunhas e interroga-os; depois discutem o assunto e chegam a uma decisão. Normalmente encontram-se vários dias, a fim de deliberar e produzir uma decisão ou recomendações.

Exposições

Exposição de documentos do plano para consulta e registo de comentários/sugestões. Deve acontecer em áreas públicas, locais acessíveis. É aconselhável e útil ter um

staff, dando mais informação e encorajando as pessoas a participar e deixar

sugestões. Documentação com linguagem clara.

Questionários Recolha de informações junto de cidadãos (por amostragem), em que as mesmas perguntas são feitas aos indivíduos pesquisados: Pode ser realizado por entrevistador presencialmente, telefone ou correio. As questões devem ajustar-se ao público-alvo. Grupos Focais Discussão de um determinado tópico, envolvendo 6-12 indivíduos selecionados com

objetivo de cumprir critérios específicos, a fim de amplamente representarem um segmento especial da sociedade. Único encontro cara-a-cara estruturado para ser informal e para estimular a discussão aberta entre os participantes. A discussão é facilitada por um moderador.

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Os processos participativos precisam de tempo, esforços de organização, base legal, recursos, comprometimento político, comunicação e compromissos claros. Frequentemente, os fatores financeiros são apontados como limitativos ao desenvolvimento de mecanismos de envolvimento público mais alargado. Porém, segundo CREIGHTON (2005) o real custo da decisão não é quanto tempo e quão caro é alcançar a decisão, mas sim quanto tempo leva e quanto custa resolver o problema. Se considerarmos o custo total do projeto ou programa desde seu início até a sua satisfatória implementação, a participação pública normalmente permite ganhar tempo e dinheiro.

UN-HABITAT (2009:109) estabelece as seguintes condições e caraterísticas para uma participação bem-sucedida:

 compromisso na liderança municipal, incluindo a política

 uma política nacional e um quadro legislativo que estimula níveis mais elevados de governo

 apropriados arranjos políticos capaz de assegurar a coordenação e capacidade para assunção de responsabilidades

 envolvimento amplo e inclusivo de todas as partes interessadas, com múltiplos canais de participação;

 processo aberto, justo e responsável pelos resultados que são compreensíveis, transparentes

 oportunidades de participação que podem influenciar a tomada de decisão

 priorização e estabelecimento da sequência de ação

 distinção entre a curto e o longo prazo

 planeadores qualificados capazes de realizar uma mediação/facilitação independente e flexível

 ferramentas adequadas para a forma e finalidade de processo participativo

 esforço voluntario

 apoio e colaboração com organizações da sociedade civil

 métodos de aprendizagem para organizar e capacitar os pobres

 processos de monitoramento e avaliação de resultados para manter progresso atual e aprender com experiência

 relações mais estreitas na lei e na prática entre planeamento urbano e multissetorial de gestão e planeamento de uso do solo.

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1.2.5 Papel dos agentes públicos e dos privados no planeamento

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